Campo do Ghetto Nuovo
A presença de judeus no Veneto, especialmente na Lagoa de Veneza, é muito anterior à criação do conhecido gueto. Já em 1386 havia uma pequena comunidade em Mestre, e judeus de outras partes da Itália e da Alemanha, esta última chamada Ashkenazis. Ashkenaz foi o nome dado, em hebraico medieval, à região do Reno, a região de onde vieram precisamente os judeus asquenazes. A comunidade judia imediatamente se distinguiu por uma importante utilidade financeira. Os mercadores venezianos não confiavam nos chamados Monti di Pietà, uma série de fundações religiosas cristãs surgidas na Idade Média. Essas fundações ou institutos, que apareceriam muito tarde em Veneza, forneciam pequenos empréstimos de dinheiro, porém não contavam com a confiança da nobreza veneziana e ricos mercadores da cidade, que preferiam usar judeus como intermediários financeiros para emprestar, às vezes para fins de usura, grandes quantidades de capital financeiro. Para a Igreja Católica, que tinha certa influência na República, a usura era um pecado grave, enquanto isso não era verdade para a comunidade judaica de Veneza.
O bairro judeu, conhecido por ghetto ebraico, mais antigo e mais bem preservado do velho continente encontrou hospitalidade no bairro de Canareggio.
Ainda hoje, caminhando pelas "calli", você encontrará muitos judeus que são facilmente reconhecíveis pelo chapéu típico ou pelo quipá trabalhado à mão e usados como um sinal de distinção e temor a Deus.
Sinagoga em Veneza
A presença judaica em Veneza, assim como nas demais comunidades, se deu por motivos comerciais. As relações com as comunidades locais eram intensas, mesmo que os judeus fossem relegados a uma área bem definida, o gueto, onde tinham os portões trancados durante a noite por ordem do governo da Sereníssima. A criação do gueto de Veneza teve um propósito puramente pragmático. A fobia pelos judeus da época não foi a principal razão para a implantação do gueto em Veneza, ao contrário do gueto de Roma, que foi construído em 1555. Em Roma o Estado papal estabeleceu o gueto principalmente para converter os judeus romanos, o que não foi alcançado. Em Veneza os judeus tinham liberdade de culto, mas certamente mesmo entre os venezianos havia o preconceito que em muitas cidades e vilas da Europa havia contra as várias comunidades judaicas. O gueto foi criado no bairro de Cannaregio, e a origem da palavra deriva do fato de que antes, naquele bairro onde ele teria surgido, havia uma fundição de cobre, e portanto do italiano getto, sinônimo de fundição, passando a "ghèto" no dialeto local.
Para se entender como um estrangeiro era tratado em Veneza, a ideia de gueto não difere muito da ideia de fondachi, obviamente levando em conta as diferenças e propósitos necessários. Os armazéns eram edifícios, alojamentos para comerciantes estrangeiros, que muitas vezes tinham funções de armazém, mas sobretudo com o propósito de manter sob controlo a presença estrangeira na cidade, ainda que esta presença fosse temporária, visto que era composta principalmente por comerciantes. Em 1797, com a chegada de Napoleão e a queda da República, o gueto também foi aberto definitivamente, deixando de existir.
Veneza acolheu os numerosos grupos de judeus, gente errante, que foram expulsos de suas terras de origem. No início de 1700, havia nove sinagogas no gueto que os venezianos chamavam de escolas, semelhantes aos locais de culto das irmandades cristãs. Devido às perseguições nazistas durante a última guerra, os judeus diminuíram consideravelmente, mas ainda hoje esta comunidade é muito ativa em Veneza através de suas instituições religiosas e administrativas.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS