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segunda-feira, 26 de agosto de 2024

O Imigrantes Italianos no Rio Grande do Sul e o Talian

 

Imigrantes italianos na colheita do café nas fazendas de São Paulo


Os imigrantes italianos, que chegavam aos portos brasileiros, naqueles difíceis anos da grande emigração, diferente dos imigrantes de outras nacionalidades, como por exemplo os alemães e os poloneses, não guardavam entre si uma identidade nacional. Entre os vários grupos de procedências, os imigrantes italianos não tinham nem a língua em comum.

Falavam diversos dialetos, muitas vezes incompreensíveis entre eles e tinham particularidades culturais, históricas, usos e costumes também muito diferentes. A maioria deles era composta de analfabetos ou muito baixa escolaridade. Quase ninguém conhecia a língua italiana, para eles considerada uma língua estrangeira. 

Essa dificuldade de comunicação entre eles ficou mais evidente nas colônias do sul do Brasil, especialmente aquelas do Rio Grande do Sul, localizadas no meio da densa mata, sem estradas e longe de centros habitados. Os casamentos entre jovens das diversas proveniências criava dificuldades de comunicação entre as famílias. 

Já quando embarcados nos lentos navios puderam sentir essa dificuldade logo nas primeiras longas viagens através do oceano, onde estavam confinados centenas de italianos de várias procedências, falando dialetos do norte e do sul do país. A variedade de dialetos italianos era tal que algumas vezes a mesma palavra era falada de maneira diversa bastando para tal atravessar um rio ou a divisa entre os "paesi". 

Nas colônias gaúchas por estarem muito isoladas, foram, aos poucos, aperfeiçoando uma nova língua, misturando palavras e modos de dizer das várias regiões italianas de proveniência presentes nas colônias. Foi assim que surgiu uma nova língua denominada de Talian, falada por todos os italianos e descendentes que moravam no Rio Grande do Sul e, gradativamente, para aqueles de Santa Catarina e Paraná.

O talian não é mais um dialeto, como pode parecer aos menos avisados ou mal intencionados. Trata-se de uma verdadeira língua, com sua gramática própria, com centenas de livros, e até alguns dicionários, já publicados. Passado os primeiros anos os jornais de Caxias já traziam histórias escritas em talian, que muito divertiam os primeiros imigrantes e seus descendentes, como as peripécias no Brasil do famoso personagem Naneto Pipeta, autoria do frei Aquiles Bernardi e publicada em capítulos semanais pelo jornal Staffetta-Riograndense. 

O talian foi a língua de integração nas colônias italianas gaúchas. Ainda hoje é falada pela maior parte da comunidade italiana dos três estados sul-brasileiros, onde, inclusive, algumas centenas de programas semanais de rádio vão ao ar falando nessa língua. Alguns municípios a instituíram como a segunda língua da cidade, patrimônio cultural a ser preservado e é ensinada nas escolas municipais. 

A língua italiana no entanto era conhecida e falada pelas pessoas mais cultas, mais viajadas, principalmente, aquelas que moravam nas cidades maiores. Nas colônias ela era usada esporadicamente, quase sempre em recepções e encontros oficiais onde estavam presentes autoridades italianas. O talian por sua vez era a língua usada pela população de descendência italiana no seu dia a dia e pela grande  importância era a língua oficial nas colônias, falada, ou compreendida, também por brasileiros nativos, descendentes de escravos e imigrantes de outras nacionalidades.   

Os imigrantes que se fixaram em São Paulo, que trabalhavam nas grandes fazendas de café, também sentiram a dificuldade que era se comunicar com seus compatriotas, pois cada um tinha uma proveniência e falavam dialetos diferentes.

Como não estavam confinados em uma colônia somente de italianos e o acesso à pequenas cidades vizinhas era muito mais fácil, não precisaram criar uma nova língua e assim passaram a aprender o italiano. Rapidamente os seus dialetos de origem, custodiados lá na Itália durante séculos, foram sendo abandonados e falar em dialeto se tornava a cada dia motivo de zombaria. Falar dialeto passou a ser sinônimo de colono pobre, ignorante.

Segundo dados fornecidos pelo IBGE entre os anos de 1884 e 1939 entraram no Brasil mais de 4 milhões de imigrantes, onde os italianos representavam o maior número deles, superando inclusive os portugueses. Na primeira onda prevaleceram os camponeses de origem veneta que se estabeleceram nas colônias do sul do país e onde se tornariam proprietários rurais. 



Imigrantes italianos na colheita do café



A segunda onda foi constituída por imigrantes provenientes das regiões centro norte da Itália, com predomínio os de origem veneta e de camponeses do sul da Itália. Foram assentados nas grandes fazendas de café do interior de São Paulo para trabalharem como operários diaristas. O regime de trabalho que encontraram era somente um pouco melhor do que o da escravidão. Eles não podiam adquirir as terras onde trabalhavam e, aqueles mais fortes e resilientes, que não desistiam do sonho americano, para conseguirem sobreviver, após o término do contrato e do pagamento de todas as dívidas contraídas junto ao fazendeiro, passaram a morar em lotes de terras adquiridos no contorno das cidades e vilas vizinhas das fazendas. Estes encontraram a forma de se manterem, trabalhando nas pequenas fábricas e no comércio. Muitos deles, mais preparados, trabalhavam durante o dia nas fábricas para um patrão, e à noite, por conta própria, em diversos serviços como consertos, costuras, pequenas manufaturas e artesanatos. Muitas das atuais grandes fábricas da rica região do interior paulista tiveram início com o suor desses trabalhadores de duplo expediente.