Antonio era um homem de aparência forte, olhar determinado, de um azul-claro e penetrante. Ele havia perdido a esposa há três anos na Itália, devido a uma grave doença e, como não conseguia mais sustentar sua família, decidiu emigrar para o Brasil em busca de uma vida melhor. Com 57 anos, com seus quatro filhos, ele deixou a pequena vila onde moravam, no interior de Treviso, e embarcou em um navio rumo ao Brasil. A viagem no Adria foi longa e cansativa. Eles enfrentaram mau tempo, doenças e a falta de privacidade a bordo. No entanto, Antonio nunca perdeu a esperança de encontrar um lugar onde pudesse dar um futuro melhor aos seus filhos. Depois de 22 dias de viagem, eles finalmente chegaram ao Porto do Rio de Janeiro, onde foram direcionados para a hospedaria da ilha das Flores. A hospedaria era um lugar grande e assustador para as crianças. Elas nunca tinham visto tantas pessoas juntas em um só lugar, todas falando línguas diferentes e com hábitos estranhos. O primeiro contato com as comidas servidas no Brasil não foram muito agradáveis para eles. Ao verem farinha de mandioca servida à mesa da hospedaria, ficaram contentes pensando ser queijo ralado, que não comiam há bastante tempo. Quando provaram aquelas insípidas raspas tiveram a primeira desilusão culinária no país. Mas, o fato que mais chamou a atenção de todos eles, além das belezas naturais e a exuberância vegetal da ilha, foi a quantidade de pessoas de pele escura que encontravam no porto, fato nunca visto por eles. Antonio se manteve firme e não deixou que o medo tomasse conta de sua família. Ele sabia que ainda teriam que enfrentar muitos desafios, mas não desistiria de seus sonhos. Depois de alguns dias, eles foram liberados da hospedaria e seguiram em outro navio em direção ao porto de Paranaguá e deste, de trem, até a cidade de Curitiba, onde chegaram a meados de janeiro de 1891. A cidade era bem diferente daquilo que haviam imaginado. Como a capital do estado do Paraná, era grande, movimentada e muito barulhenta para eles. Antonio sabia que teriam que se adaptar e fazer o melhor que pudessem. Com as economias que haviam trazido da Itália, obtida com a venda da casa em que moravam e de outros bens, Antonio adquiriu um terreno grande, com uma antiga moradia, na periferia da cidade, em uma colônia onde já estavam morando muitas dezenas de outros imigrantes italianos e gradualmente foram aumentando e melhorando a residência. Antonio era um ótimo carpinteiro e sempre conseguia bons trabalhos nas casas das famílias mais ricas da cidade. Essa profissão ele tinha herdado dos seus antepassados os quais, por diversas gerações, a exerceram trabalhando para as famílias nobres das províncias de Belluno e Treviso. Era um trabalho duro e cansativo, principalmente naquela época onde tudo era feito manualmente, sem auxílio de máquinas, mas ele não reclamava. Em pouco tempo seu trabalho já estava sendo reconhecido e muito procurado na cidade. Fazia tudo com amor e dedicação, sempre pensando no futuro de seus filhos. Os anos passaram e os filhos foram crescendo. Francesco, o filho mais velho, começou a ajudar o pai na carpintaria e logo também se tornou um exímio carpinteiro, fazendo jus a tradição da família. Juntos abriram a própria fábrica de móveis, portas e janelas, durante muitos anos com ótima clientela. Se casou com uma bela moça, também ela italiana de nascimento e tiveram 8 filhos. Giovanni, o segundo filho de Antonio, abriu um pequeno armazém que vendia secos e molhados, atendendo a freguesia com uma pequena carroça de um cavalo. Ele também se casou com uma moça de uma família italiana que chegou com a família dez anos antes dele e do casamento vieram cinco filhos. As duas filhas de Antonio, Rosa e Chiara, muito prendadas, desde a chegada no Brasil, sempre se dedicaram ao pai e irmãos, cuidando dos serviços da casa e da pequena plantação da qual tiravam grande parte do sustento da família e o que sobrava vendiam pela vizinhança. Quando atingiram a maioridade, logo se casaram com rapazes filhos de famílias de imigrantes italianos como eles e se mudaram para outros bairros da cidade, onde também constituíram duas numerosas famílias. Em 1935 Giovanni faleceu tragicamente devido um acidente de trabalho e Francesco ficou com a carpintaria, a transferindo para outro bairro da cidade. A pequena casa de madeira foi demolida, por volta da década de 1940, quando um dos filhos do Giovanni, o mais novo deles ainda solteiro, que havia estudado contabilidade e já trabalhava em uma importante casa bancária, decidiu construir uma casa de alvenaria para viver com sua mãe viúva. Foi um esforço financeiro de alguns anos, mas a nova casa ficou bem bonita e ao gosto da sua mãe. Antonio faleceu de morte natural em 1925, com a idade de 92 anos, deixando uma numerosa descendência. Ele foi um homem forte, corajoso e determinado, que nunca desistiu de seus sonhos. Sua história é um exemplo de amor e perseverança, que inspira as gerações que vieram depois dele.
Conto de
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS