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sexta-feira, 5 de setembro de 2025

A Emocionante Imigração Italiana

 



A Emocionante Imigração Italiana

“Os mais fracos, os mais medrosos, não emigram, não navegam nos mares, deixando para trás a pátria e a família, mas, em geral, aqueles para quem a vida é uma batalha e a alma é forte o suficiente para lutar mesmo em condições mais difíceis”.



As notícias sobre uma possibilidade para sair da miséria, que então grassava nos campos italianos, se espalharam como um verdadeiro rastilho de pólvora, por toda zona rural italiana, fazendo com que a emigração passasse a se organizar rapidamente em uma rede do tipo parental. 

Na segunda metade do século XIX, os homens deixaram de emigrar sozinhos para destinos distantes, mas sim agora eram acompanhados por todo o núcleo familiar e ao qual, muitas vezes, também aderiam os vizinhos e partiam em grupos. 

Em 1878 foram 2.000 emigrantes vênetos que  desembarcaram no Brasil, dez anos mais tarde,  esta cifra atingiu 72. 000. Esse rápido aumento deveu-se ao maior atrativo que o Brasil passou  a exercer sobre a emigração italiana após a abolição da escravidão em 1888, quando o extenso e pouco povoado império brasileiro, país de dimensões continentais, passou a recrutar ativamente migrantes, tanto para compensar a falta de mão de obra, outrora representada por escravos provenientes da África, como para ocupar e proteger as grandes extensões de terras desabitadas nos estados do sul do país. O Império brasileiro precisava proteger o seu território dos países vizinhos que dividiam fronteira. 

De família em família, de vila em vila, a Itália testemunhou o êxodo de aldeias inteiras, que abandonaram o campo e se dirigiram em massa para o porto de Gênova, na esperança de encontrar melhor sorte no exterior. Poucas foram as famílias italianas que não se viram direta ou indiretamente envolvidas nesse fenômeno, especialmente aquelas da região do Vêneto.

Para entender por que a emigração atingiu tais dimensões, devemos antes de tudo entender o contexto de vida no qual viviam tantos italianos  que queriam escapar e assim poderemos chegar a identificar as forças que dificultaram ou que  favoreceram a emigração.

Certamente, um fator relevante de atração foi representado pelo desejo de ascensão social daquele pequeno agricultor, ou artesão, que durante séculos viveu em total submissão ao dono da gleba, com poucos direitos e muitos deveres de quase total servidão, onde o lema era: trabalhar duro, obedecer e calar sempre. Em primeiro lugar, estava a possibilidade de, com a emigração, se tornarem proprietários da sua própria terra, o que para a maioria dos camponeses representava a recompensa por todo o seu trabalho e para os que pertenciam à uma classe um pouco mais privilegiada, uma forma de consolidar sua condição social. 

Também tiveram importância as inúmeras histórias contadas pelos agentes de emigração contratados pelas companhias de navegação e também pelos relatos de emigrantes que retornavam para a Itália, que falavam de uma terra próspera onde todos poderiam alcançar rapidamente melhores condições sociais. As cartas de chamada enviadas pelos primeiros emigrantes aos seus familiares e amigos contando da fartura em que agora viviam, foram atrativos muito fortes. A América rapidamente tornou-se assim o grande El Dorado, a "terra do ouro e da felicidade". Esses dois fatores, combinados com a falta de perspectivas de uma melhoria das condições de vida a curto prazo no país, levaram à difícil decisão de emigrar.

Em Genova, a bela capital da Ligúria, de 1876 a 1901, a média anual de passageiros que de lá  embarcavam para atravessar o oceano era de 76.960 pessoas, número esse que nos dá a entender a extensão da pressão demográfica que naqueles anos sofria e afogava aquela cidade. Os emigrantes que lá chegavam, maltrapilhos, mal lavados e com hábitos interioranos, eram quase sempre vistos como estrangeiros em seu próprio país e não contavam com nenhum meio de proteção, mesmo após a promulgação da lei de 1901. 


Totalmente à mercê das ávidas agências de navegação, os pobres camponeses à espera da partida, eram ludibriados e amontoados em pequenos hotéis, pensões e pousadas vizinhas ao porto, parceiros que eram das companhias de navegação,  estabelecimentos nos quais se pagava pela alimentação e hospedagem. Eram locais onde as condições de higiene deixavam muito a desejar. Nos anos seguintes, os emigrantes eram amontoados em dormitórios com lotação bem acima de suas capacidades, porém, com ambientes  um pouco mais higiênicos. Além de explorarem o transporte de migrantes, os armadores passaram então a lidar com o lucrativo mercado de remessas de valores dirigidos para a Itália, cujo fluxo controlavam e que passaram a usar como capital para investir na compra de novos navios e modernizar a frota italiana. Portanto, pode-se dizer que o mercado de remessas de dinheiro dos emigrantes para seus familiares que ficaram na Itália, financiou parcialmente o desenvolvimento das companhias marítimas italianas.

Também acontecia, não raro, que as companhias marítimas fossem ao mesmo tempo agências de emigração e que estas tivessem laços econômicos estreitos com as câmaras de comércio italianas, como na Argentina, onde eram muito ativas, sobretudo graças às atividades dos armadores da Ligúria, que já em 1869 lá se estabeleceram com a companhia de navegação Italo Platense. Deste quadro promíscuo de agências de emigração e companhias marítimas, pode-se entender que o êxodo italiano para o continente americano representou uma verdadeira fonte econômica com amplo potencial de ganhos e como tal contribuiu para enriquecer uma grossa fatia de empresários.

Como costuma acontecer quando os ganhos de um setor se tornam tão atrativos, a competição tornou-se mais acirrada, especialmente quando a Itália começou a se interessar pelo destino de seus emigrantes. A classe política conservadora e próxima aos grandes latifundiários acusou os agentes e armadores de serem os instigadores do êxodo e de fazerem seus cidadãos viajarem em condições desumanas, repovoando o campo.

Quando a lei foi finalmente promulgada em 1901, pôs fim à controvérsia entre os dois grupos, dando razão ao mais poderoso; os critérios para o recrutamento de emigrantes foram então deixados nas mãos das companhias de navegação, mas ao mesmo tempo foram impostas mais algumas restrições para proteger os emigrantes durante a viagem. 







segunda-feira, 25 de abril de 2022

As Quatro Fases da Imigração Italiana

 

Vademecum dei viaggi fra Italia e l'America del Sud



Para fins de estudo, podemos dividir a imigração italiana em quatro grandes fases, distribuindo-as no tempo, de acordo com seu aparecimento.

A primeira fase podemos facilmente situar entre os anos de 1875 até o último ano do século XIX. Nos primeiros anos ela se direcionou para os países mais desenvolvidos e ricos na própria Europa, como a França e a Alemanha. Países esses nos quais, já de longa data os italianos encontravam trabalho, principalmente, durante os meses de inverno, com pouco trabalho na lavoura. 

Era a chamada "immigrazione golondrina", em analogia aqueles pássaros migratórios que, todos os anos migravam e  retornavam para as suas casas. 

O número de novos emigrantes foi rapidamente aumentando e gradativamente os tradicionais países europeus de migração não tinham mais condições de absorver tanta gente. 



Imigrantes na Hospedaria




Assim, foi necessário encontrar outros países, mesmo localizados mais distantes, do outro lado do oceano, que naqueles tempos passavam por grande desenvolvimento econômico com uma crescente necessidade de mão de obra. 

Assim fluxo migratório italiano passou a se dirigir para os  jovens países da América do Sul, especialmente o Brasil e a Argentina. Alguns poucos foram atraídos para América do Norte. 

Através de movimentos organizados, muitas vezes subsidiados pelos governos desses países,  os italianos foram emigrando. Também um grande número deles saíram de forma clandestina da Itália,  viajando por conta própria, seguindo a grande onda, rumo ao tão sonhado el Dorado.

Nessa época, influenciados pela enganosa propaganda de recrutamento, o Brasil era considerado a "terra della cuccagna", o local onde todos ficariam ricos em pouco tempo. 

Para eles a cucagna nada mais era que um futuro melhor para si e para seus filhos, a possibilidade real para se tornarem proprietários  de  um pedaço de terra e não mais dividirem a colheita com um patrão.

Logo ao desembarcarem na terra prometida caíam na realidade e se davam conta do ardil usado pela propaganda de recrutamento.  

Calcula-se, com base nos registros das grandes  companhias de navegação e nos arquivos daqueles países que receberam esses imigrantes, que cerca de 5 milhões de homens, mulheres e crianças italianas nesse periodo deixaram definitivamente a Itália.

Número muito grande em relação a população total da Itália, que nesse período estava entorno de 30 milhões de habitantes. Quase 15% da sua população!


Imigrantes na Hospedaria da Ilha das Flores no Rio de Janeiro



Os fatores que levaram a esse verdadeiro êxodo, segundo Deliso Villa, somente comparado aqueles dos hebreus em sua fuga do Egito, foram principalmente aqueles de natureza sócio econômicos, em um país pobre, recém unificado, que não mais conseguia dar uma vida digna para os seus cidadãos.

Entre uma guerra civil sanguinosa, especialmente, os vênetos preferiram o caminho da emigração como forma de protesto, deixando para trás as terras onde nasceram, as suas pequenas casas, os seus amigos e entes queridos, para na maior parte das vezes, nunca mais tornarem a vê-los.  

A segunda fase compreende o período entre os anos de 1900 até 1914, quando eclodiu a I Grande Guerra Mundial. Entre esses anos deixaram a Itália um número calculado de 9 milhões de pessoas, o equivalente aproximadamente a um quarto da população total do país.

Nessa fase predominaram os emigrantes do centro sul da Itália, expulsos de suas terras devido inúmeros fatores, entre eles o empobrecimento cada vez maior do campo e, sem encontrarem uma alternativa de trabalho no setor industrial, ainda incipiente, foram obrigados a emigrar.

A terceira fase está situada no período compreendido entre o fim da primeira guerra mundial em 1918 e o início da segunda grande guerra em 1939. 

Essa fase se caracterizou por oscilações da economia de vários países europeus e americanos, o crack da bolsa de 1929 e a ascensão do fascismo, com a sua política contrária a emigração, fez com que se arrefecesse o fluxo de saída dos italianos para países extra europeus.

A tentativa grotesca de expansionismo fascista, nos moldes imperialistas já obsoletos, se caracterizou por movimentos migratórios de milhares de italianos em direção ao norte da África. 

Na Europa, a emigração italiana ficou restrita principalmente à França e à Alemanha, para onde se dirigiram em milhares após o fim dos conflitos da primeira grande guerra. 

Nesse período de vinte anos, segundo estimativas oficiais, cerca de 3 milhões de italianos abandonam o país. 

A quarta fase é aquela qua se seguiu ao fim da segunda grande guerra em 1945 até 1970, período no qual a Itália e todo o mundo experimentou profundas mudanças econômicas sociais e políticas. 

Nesses 25 anos voltou a crescer o fluxo emigratório italiano, especialmente de habitantes do sul do país, região que demorou um pouco mais para acompanhar o crescimento econômico da Itália pós guerra.

Os destinos preferidos nesse período foram para os tradicionais países da Europa: França, Alemanha, Suiça e Bélgica. Aqueles fluxos destinados para além do oceano seguiram para os países sulamericanos e agora também para a Austrália.

Nesse período os dados oficiais estimam que cerca de 7 milhões de italianos deixaram o país.

Em cem anos à partir da unificação italiana, deixaram o país cerca de 30 milhões de pessoas, que se estabeleceram em novas terras, fixando-se em diversas partes do mundo e após um período inicial de grandes dificuldades e provações a grande maioria deles encontrou a tão sonhada cucagna

Hoje os italianos e seus descendentes espalhados pelo mundo já somam mais de cem milhões de pessoas, um número total maior que a população atual da Itália.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS