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sexta-feira, 14 de maio de 2021

Criada a Itália Partem os Emigrantes



O fenômeno emigratório na Itália acorreu com um atraso de vinte anos em relação a maioria dos países europeus. O grande êxodo coincidiu com o nascimento do país chamado Itália. Com a unificação italiana desapareceram os pequenos mercados locais dando lugar ao mercado único e aberto à concorrência com outros países. A Itália, ainda muito débil, não estava preparada para esse confronto. 

Na ocasião da unificação a Itália apresentava um balanço negativo da sua economia. Existia uma população, ainda em fase de crescimento, de 26 milhões de habitantes, mas, o país era totalmente desprovido de matérias primas. A industrialização tinha apenas acabado de chegar. 

A agricultura ainda era muito atrasada, fazendo uso de métodos de cultivo arcaicos e já superados. O analfabetismo atingia mais de 80% da população italiana. O país sofria de antigas pragas e doenças que a atingiam desde a muito tempo, como por exemplo a malária que matava a cada ano mais de 40.000 pessoas; a pelagra que atingia 100.000 "italianos". Faltavam estradas, escolas, hospitais, moradias, ferrovias e tantas outras necessidades  básicas para uma vida mais digna. O governo do novo país, para fazer frente as sempre crescentes necessidades do estado, gravava a população com impostos e taxas cada vez maiores. 




Em 1866 quando o Vêneto foi unido ao reino italiano a região já se encontrava em graves dificuldades. Estava em terceiro lugar como região agrícola do país e também era a mais atrasada de todo norte da Itália. Não era uma região onde predominavam os trabalhadores rurais diaristas, pois, de uma população de 2,8 milhões de habitantes, existiam 516 mil pequenos proprietários. 

Os problemas do Vêneto não se iniciaram com a a sua anexação à Itália, era um problema muito mais antigo, da época da República Sereníssima, três séculos e meio atrás, quando Veneza se viu alijada das grandes e lucrativas rotas marítimas, com a circunavegação da África e a descoberta da América. 

Os nobres venezianos e os ricos burgueses para manterem as suas fortunas, tiveram que se voltar para as suas propriedades rurais do interior da região. Eles eram pessoas, que na sua maioria não amavam a terra, moravam na cidade e contratavam administradores para cuidarem das suas plantações e receber os lucros obtidos. Tinham pouco envolvimento com a vida da propriedade rural e a usavam como um local de laser, para passarem algum tempo longe do fervilhar das cidades, onde verdadeiramente residiam. Para eles o que interessava era somente a renda obtida. 

Diferente da vizinha região da Lombardia onde a agricultura foi se transformando em indústrias, dando prioridade para a criação de gado, a produção de leite, de manteiga e queijos, enquanto o Vêneto ainda estava estagnado, com uma visão arcaica das potencialidades do campo. A terra produzia tão somente o necessário para matar a fome dos pobres agricultores arrendatários e contentar os patrões proprietários das terras. Prevalecia no Vêneto uma cultura rural mista, sem especializações, onde o agricultor se limitava a produzir todos os anos as mesmas culturas habituais, utilizando-se de velhas e obsoletas ferramentas de lavoura herdadas dos avós. 

As causas do atraso da agricultura vêneta reside justamente aqui,  e os diversos males que atingiram os trabalhadores da terra são consequências de uma sociedade sem visão, que não criava, que não arriscava, que não se renovava. Era, com raras excessões, uma sociedade atrasada e imóvel. 

Algumas culturas, dependendo das estações do ano, até conseguiam dar algum alívio aos produtores, como a criação do bicho da seda, a cultura do tabaco e a fabricação caseira de tecidos, esta última se constituindo no berço de uma futura indústria têxtil regional. No Vêneto não surgiu um  desenvolvimento capitalista do campo, parecido com aquele da Lombardia. Não apareceram proprietários rurais com uma visão empresarial do campo que o transformasse em uma empresa agrícola, que fosse administrada como uma fábrica. 

Por sua vez, a zona montanhosa era onde se encontrava o ponto mais fraco de toda a Região, nela os males que afligiam a economia vêneta eram elevados ao extremo. Ali uma grande população vivia em uma economia de subsistência onde as safras eram quase sempre deficientes e de pouca qualidade. Os lotes cultiváveis então disponíveis  eram fracionados ao máximo, cabendo à cada família de agricultores arrendatários uma pequena porção de terra insuficiente para gerar renda. 

Os rios e as torrentes de montanha, até então ainda não tinham recebido as melhorias de proteção necessárias, como por exemplo a construção das suas margens para a contenção das cheias, falta essa que provocava periodicamente grandes alagamentos e desmoronamentos que devastavam as plantações e até mesmo vilas inteiras. 

Foi justamente dessas montanhas do Vêneto, privadas de recursos, onde a fome já rondava muitos lares, que partiram as primeiras levas de emigrantes em direção ao Novo Mundo.