Barco fluvial Garibaldi no porto do rio Caí
A massiva emigração da Itália no final do século XIX coincidiu com a demanda por emigrantes por parte do Brasil, um país vasto, pouco povoado e pouco coeso. Uma parte dos que chegaram ao Brasil vindos da Itália foi direcionada para o Rio Grande do Sul, a região mais ao sul e negligenciada do país. Nesta zona montanhosa, em uma área florestal e desabitada, aproximadamente do tamanho do Vale do Pó, foram delimitadas quatro zonas coloniais, exclusivas para os os imigrantes provindos da Itália, onde mais de cem mil indivíduos, em sua maioria do Veneto, se estabeleceram entre o final do século XIX e o início do século XX.
Eram agricultores, artesãos, trabalhadores braçais, muitos analfabetos, todos falantes dos diversos dialetos em uso em suas regiões de origem, que foram praticamente deixados à própria sorte. Para sobreviver, tiveram que se defender de animais selvagens, desbravar a floresta, construir casas, iniciar cultivos, abrir estradas e criar uma rede comercial. A solidão fortaleceu a união desses colonos, que ainda hoje preservam todas as peculiaridades dos primeiros chegados, começando pelo idioma: o "Talian", uma língua por eles criada no Rio Grande do Sul, com predominância do dialeto veneto, misturado ao português, que deu origem a uma língua única.
Este é um caso raro na história das migrações, não apenas italiana: um grupo social que se integrou perfeitamente ao Brasil, representando hoje a elite, mas mantendo as características de sua terra natal, especialmente do Veneto. A odisseia dessa comunidade foi acompanhada de perto pelas autoridades diplomáticas italianas. Suas relações, publicadas na época pelo Ministério das Relações Exteriores, são como testemunho direto e dramático de uma página de heroísmo e sofrimento da qual ambos, Itália e Brasil, podem se orgulhar. Foi no Brasil que a região do Veneto escreveu uma das suas páginas mais gloriosas.
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