Chegada a hora do embarque, o movimento era intenso no porto e o barulho de vozes, ordens gritadas e apitos, em torno do vapor, deixavam muito nervosos os emigrantes, que se amontoavam para não perderem a chamada.
No barco seguiam as ordens recebidas dos marinheiros encarregados e se dirigiam em grupos aos porões fétidos e sufocantes da terceira classe a eles destinados, onde os esperavam catres com palha, onde ficariam amontoados e sem nenhuma privacidade.
Algumas famílias, para não serem dividas, voltavam dos porões e optavam em viajar na coberta do navio, ao descoberto, onde ali, pelo menos, podiam viajar juntos e respirar um ar melhor. Viajando na coberta do vapor suportaram frio intenso e calor sufocante, além dos perigos dos fortes ventos durante as frequentes tempestades em alto mar, principalmente ao cruzarem a linha do equador.
No início da grande emigração os barcos eram ainda muito lentos, não passando de velhos e despreparados navios veleiros ou mistos veleiro-vapor, geralmente usados para transporte de cargas e ligeiramente adaptados para transportar seres humanos. Depois, mais tarde, vieram aqueles navios somente à vapor, com caldeiras alimentadas à carvão, estes no entanto também eram quase sempre navios de transporte de cargas, como carvão e cereais, que foram adaptados às pressas para levar pessoas.
A situação higiênica à bordo e a comida servida eram muito precárias. Às vezes chegava a faltar comida para atender à todos os passageiros. Sem nenhum conforto viajavam junto com animais vivos, que viriam a ser abatidos para servirem de alimentação durante a viagem. Os regulamentos em vigor na Itália, para o transporte de emigrantes, era indigno de um país civilizado. O transporte desses milhares de passageiros que queriam embarcar era resolvido com uma desumana exploração dos emigrantes.
Houve certamente uma conivência muito grande entre as autoridades do governo italiano e a recém criada indústria armadora do país. Até então, este serviço de transporte marítimo da Itália era bastante inexpressivo em relação a outros países europeus da época e cresceu graças ao transporte de milhões de emigrantes. Nesse período as autoridades competentes estavam mais preocupadas com os interesses das companhias do que com o sofrimento dos emigrantes.
Sem cuidados de higiene e de um médico à bordo, o perigo de epidemias era constante e, de fato, inúmeras ocorreram, dizimando centenas de vidas, quase sempre de crianças e idosos, cujos corpos eram então jogados ao mar, para o horror das suas famílias.
A lembrança da grande travessia ficou indelevelmente marcada na memória dos nossos antepassados, persistindo até hoje nas narrativas dos seus descendentes. Foi sem dúvida o episódio mais marcante na vida desses pioneiros.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
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