Inúmeras
são as causas desse verdadeiro êxodo Vêneto que, no período de aproximadamente
cem anos, esvaziou vilas e cidades, um fenômeno jamais visto nos tempos
modernos.
A
grande emigração vêneta fez com que milhares de homens, mulheres e crianças
tivessem que abandonar desordenadamente e sem auxílio do governo, a terra natal
para, procurar trabalho e melhores condições de vida em lugares distantes e
pouco conhecidos.
Em
primeiro lugar, devemos levar em conta a somatória de fatores locais vênetos,
ocorridos nos últimos cinquenta anos finais do século XIX, os quais, muito
contribuíram para romper o relativo equilíbrio existente, agravando a já tão
difícil vida de milhares de pobres agricultores, diaristas e pequenos artesãos.
A
população vêneta, como de toda a Europa, devido a melhoria das condições de
higiene, principalmente com uma maior redução da mortalidade infantil,
experimentou nesse período um aumento importante e nunca conhecido.
A
agricultura vêneta nesta época, que antecedeu a grande emigração, era muito
atrasada. Durante centenas de anos muito pouco foi acrescentado em novas
técnicas, desde a introdução da batata e do milho nos séculos anteriores,
produtos estes que contribuíram, ainda no governo da Sereníssima República de
Veneza, para manter a população vêneta mais ou menos equilibrada. Pelo atraso
em que se encontrava, não conseguiu suportar a concorrência de produtos
importados de outros países, principalmente dos Estados Unidos da América, que
chegavam por preços mais baixos.
Uma
série de desastres naturais, também se abateu sobre todo o Vêneto neste
período, com secas, inundações, granizo e pragas, contribuindo para agravar a
já deficiente produção agrícola vêneta e a consequência foi a fome e doenças
carenciais como a pelagra.
O
atraso da Itália em geral, e do Vêneto em particular, também ficava evidente no
que diz respeito a industrialização, movimento que só apareceu na região em
fins do século XIX, ainda que timidamente, não oferecendo trabalho suficiente
para aquela mão de obra expulsa do campo.
A
"independência" do Vêneto, ocorrida em 1866, que da esfera do poder
austro-húngaro desde o fatídico 1775, passou, então, a fazer parte do Reino da
Itália, comandado pela piemontesa Casa de Savoia, criou inúmeros problemas em
toda a região. Entre eles a proibição de uso das terras da Igreja, fonte de
sustento de grande número de pequenos agricultores, criadores de gado e
lenhadores, os quais com o seu trabalho, tiravam daqueles locais o sustento
para suas famílias. Também a criação de impostos abusivos, que puniam sempre os
mais fracos, tornando-os cada vez mais pobres. Entre esses odiosos impostos
estavam a taxa sobre o volume de grãos moídos, que era cobrado diretamente no
moinho e a taxa sobre a venda de sal.
O
confisco das terras da Igreja pelo Reino da Itália, também criou um grande
atrito na região do Vêneto, onde a presença de católicos era a maioria. O
desentendimento entre Igreja e Estado durou até próximo ao período republicano.
O
tipo de relacionamento entre o capital e o trabalho, ainda herança da era
medieval, onde o patrão, dono da terra, detinha o controle quase total do
empregado, ao qual, sem leis específicas de proteção, só restava calar sempre,
obedecer sempre.
A
vontade de libertação do jugo do patrão, exercido ainda de forma medieval,
juntamente com a fome crônica que grassava na região, com a falta de
perspectivas para o futuro e, posteriormente, a ação desonesta de angariadores
de mão-de-obra e divulgadores do "el dorado" brasileiro, foram, sem
dúvidas, as causas mais próximas da grande emigração vêneta para o Brasil.
Dr.
Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim
RS
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