Pelagrosário de Mogliano Veneto |
Esta é doença endêmica que se fez notar
inicialmente em algumas partes do Vêneto, ainda no final do século XVIII, para
depois, rapidamente, se espalhar por quase todo o território.
Em 1776, a autoridade responsável pela
saúde da Sereníssima República de Veneza publicou um decreto em que dava conta
dessa nova situação e alertava as autoridades, dizia:
“Os
efeitos perniciosos que poderão causar prejuízo para a saúde dos mais pobres, especialmente
aqueles habitantes da zona rural do Polesine, Padovano e Veronese, devido a
alimentação com sorgo turco imaturo e de má qualidade, em grande parte,
colhidos de terrenos alagados pelas enchentes e aluviões, fazem necessário uma
maior vigilância e atenção desta autoridade para prevenir as ameaçadoras
doenças que poderão surgir com tais hábitos”.
Recorte de Jornal Il Contadino de Treviso ano 1882e em destaque a notícia do número de casos de pelagra naquela província vêneta |
Presume-se que as autoridades
venezianas já estavam pensando nesta doença e nas implicações à saúde do povo,
quando proibiram o comércio e a moagem de milho deteriorado. As primeiras
investigações oficiais que se tem notícias aconteceram em 1805, quanto o Vêneto
estava sob o domínio do governo austríaco, as quais exortavam os médicos a
fazerem estudos e observações sobre o progresso da doença no departamento de
Treviso.
Grupo de Pacientes Internados no Pelagrosário |
Na ocasião eles chegaram a conclusão
que a causa da doença era devido a qualidade do alimento ingerido pelas
populações mais pobres, o que não foi aceito por muitos estudiosos que
afirmavam que a etiologia era de origem tóxica.
As duas correntes de pensamentos, a
carencialista e a toxicológica, dividiram o pensamento dos estudiosos da época
até 1883 quando foi criado o primeiro pelagrosário italiano, na cidade de
Mogliano Veneto, Província de Treviso. Os pacientes ficavam internados durante muitos meses, até anos, e o tratamento utilizado consistia de uma boa alimentação, rica em proteinas animais. Para isso o pelagrosário dispunha de um grande rebanho de gado de leite e de corte, além de um enorme galinheiro.
Pátio Interno do Pelagrosário com crianças e adultos de ambos os sexos internados |
Em 1935 com o isolamento da chamada
vitamina PP (pelagra preventing fator) uma substância que não é assimilável
pelo organismo na ausência de niacina, triptofano e vitaminas B2 e B6, todos
presentes nas carnes, ovos e leite, ficou finalmente demonstrado a etiologia da
pelagra.
Manifestações Cutâneas da Pelagra |
A pelagra é uma doença que se apresenta
clinicamente com três fases: cutânea,
intestinal e nervosa. Atualmente ela é conhecida pelo nome de doença dos 3
D, pelos seus três principais sintomas que começam com a letra D.
São eles:
1.
na
fase inicial Dermatite, com o
aparecimento de manchas cor escura na pele, eritema, pele seca e áspera,
seguido mais tarde pelo aparecimento de crostas.
2.
Na
segunda fase aparecem as Diarreias,
acompanhadas de sangramento intestinal e vômitos.
3.
Na
terceira e irreversível fase aparecem as alterações mentais com alterações da
conduta e do comportamento, seguindo para a Demência.
Paciente Acometido de Pelagra |
Para se ter uma ideia das condições
alimentarias do Vêneto no período anterior à grande emigração, atualmente ela é
uma doença pouco comum, mesmo nos países onde a miséria é endêmica e os casos encontrados
estão relacionados especialmente com o alcoolismo crônico. Os vênetos se alimentavam
quase que exclusivamente da polenta, por volta de 3 kg de polenta ao dia. A
falta de proteínas da carne dos ovos ou do leite criavam uma situação crônica
insustentável de falta da vitamina B.
Exemplo de Ficha Clínica de Um Paciente Internado de 8 anos de idade no ano de 1895 |
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
Um comentário:
Havia (ou há?) uma doença com características semelhantes a esta, o beribéri, causada pela falta da vitamina B1 (tiamina). O meu avô materno fazia parte de uma tropa que saiu de Recife em direção do Acre nos primeiros anos do seculo XX. O navio teve que retornar o rio Solimões, altura da foz do rio Purus em face de a tropa ter contraído beribéri.
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