Portal de entrada do bairro Santa Felicidade em Curitiba
As primeiras colônias no estado do Paraná, destinadas exclusivamente para receber os imigrantes italianos, que em grandes levas chegavam, foram criadas na zona litorânea paranaense, muito próximas a Paranaguá e ao seu porto, na esperança de exportação futura de produtos agrícolas com destino à Europa. Foram as Colônias de Alessandra e Nova Itália ambas de propriedade particular, subvencionadas pelo governo imperial do Brasil.
De propriedade do empreendedor italiano Sabino Tripotti, que obteve um contrato com o império para trazer milhares de pequenos agricultores italianos e suas famílias para o Paraná, a Colônia Alessandra foi fundada em fevereiro de 1872 mas, por diversos motivos teve vida muito curta.
Localizada em terrenos alagadiços, de má qualidade, não muito adaptados para as culturas que os imigrantes estavam acostumados na Itália, somados com o tipo de clima do local, muito quente e abafado, onde proliferavam insetos causadores de doenças, desconhecidos pelos recém chegados, foram fatores que dificultaram o progresso do empreendimento.
Um outro fator que contribuiu para o falimento da colônia foi a não construção de uma estrada de ferro que a ligaria até o porto, e que constava como uma cláusula principal do contrato quando da criação da colônia.
O empreendedor italiano, de fama algo duvidosa, alegou que haviam falhas no contrato pois, este não especificava quem era o responsável pelas despesas iniciais até o definitivo assentamento dos imigrantes. Conseguiu que o contrato fosse reescrito, mas por erro de cálculos, o valor a ser pago pelo governo diminuía em cinquenta porcento, obrigando uma série de racionamentos na colônia, entre eles o de alimentos aos colonos, que muitas vezes passavam fome.
Essas repetidas falhas, que tornavam bastante precárias as condições de vida dos colonos, fizera com que se revoltassem, alguns protestos surgindo ainda na Itália, contra os agentes e administradores de Tripotti. O contrato finalmente acabou por ser rescindido pelo governo estadual, que sequestrou todos os bens, ficando os imigrantes abandonados até a sua transferência para o município de Morretes e Porto de Cima onde o governo do estado criou a Colônia Nova Itália.
Esta nova colônia contava com treze núcleos de assentamentos, espalhados por Morretes e Porto de Cima. Os assentamentos de América de Cima, América de Baixo, Rio do Pinto, Sesmaria, Anahaia, Rio Sagrado, Sitio Grande e Nossa Senhora do Porto, esses oito ficavam todos eles no município de Morretes.
No município de Porto de Cima estavam mais cinco assentamentos: Esperança, Cari, Ipiranga, Bananal e Marques.
Apesar da transferência, as condições de vida na nova colônia não eram melhores do que na anterior. O clima continuava igual, com muito calor úmido no verão, presença de doenças graves como a febre amarela e os terríveis insetos que atormentavam os colonos: mosquitos, moscas, bicho de pé.
O retardo na construção de pequenos abrigos para todas as famílias, a falta de alimento e agasalhos, o mau uso das verbas estaduais pelos responsáveis pela colônia, estavam levando o novo empreendimento pelo mesmo caminho trilhado pela colônia predecessora.
Segundo o contrato, cada um dos colonos após instalados nos seus respectivos lotes de terra, deveriam nos primeiros seis meses, além de plantar, desmatar uma determinada área de aproximadamente 400 braças quadradas, construir uma pequena casa, abrir caminhos nos limites dos seus lotes mantendo-os limpos e desmatados. Se não cumprissem o estipulado perdiam os melhoramentos e as parcelas já pagas.
Desconhecendo as culturas agrícolas da nova terra, os colonos contavam com a ajuda dos nativos e negros, antigos moradores dessas localidades, que os ensinava as técnicas da queimada, também forneciam alimentos e ajudavam na escolha da madeira para construção das casas.
Pelo contrato com o governo, os colonos imigrantes tinham liberdade para trabalhar por seis meses na construção da estrada de ferro, como forma de obter alguma renda extra. A grande demora na demarcação dos lotes e o assentamento definitivo, que dava direito ao trabalho alternativo de seis meses nas obras da ferrovia, fez com que muitos imigrantes ficassem sem qualquer tipo de renda, praticando uma pequena roça de subsistência.
A vida dos imigrantes nos variados assentamentos da Colônia Nova Itália, estava piorando cada vez mais, tornando-se insuportável em 1877, quando mais de oitocentas famílias, se encontravam na miséria, sem roupas e sem sementes para plantar.
O descontentamento sempre maior, era geral, alguns dos assentados ameaçavam retornar para Itália e outros, baseando-se ainda no contrato assinado com o governo, que dava direito de mudança de local caso não se adaptassem, exigiam a rápida transferência para outros locais do estado.
Ao governo do estado não restaram alternativas do que fornecer carroças para que os imigrantes subissem a Serra do Mar, em direção à capital, pela Estrada da Graciosa. Nos assentamentos ficaram algumas poucas famílias e algumas outras desistiram do sonho de fazer a América e retornaram para a Itália.
Os imigrantes haviam aprendido, com os viajantes que apareciam, que no planalto acima da Serra do Mar, a cerca de mil metros sobre o nível do mar, existiam terras de ótima qualidade, ao redor da capital paranaense. Também ouviram dizer que o clima era muito parecido com aquele que haviam deixado na Itália: estações bem definidas, com um verão agradável e inverno bastante frio.
Algumas dessas famílias imigrantes, por conta própria, adquiriram lotes de terras e foram se fixando nos arredores de Curitiba, como Santa Felicidade. Outros foram assentados em novas colônias que foram sendo criadas com o propósito de assentá-los definitivamente.
Essas diversas colônias deram origem a muitos bairros da capital como Santa Felicidade, Água Verde, Pilarzinho e Umbará. Também inúmeras localidades vizinhas a Curitiba receberam, num primeiro momento, os imigrantes italianos que deixavam a Colônia Nova Itália e depois, aqueles outros, que continuavam chegando em grande número, provenientes da Itália. Locais como São José dos Pinhais, Piraquara, Araucária, Campo Largo, Lapa, Cerro Azul e Colombo se tornaram bairros ou municípios.
Além das condições de salubridade do clima encontradas, a ótima qualidade das terras, água em abundância e a localização próxima de um grande centro consumidor, que era Curitiba, fizeram que essas novas colônias conhecessem um rápido progresso.
Segundo algumas estatísticas, por volta do ano de 1900 já viviam no estado do Paraná, mais de 30 mil italianos, assentados em catorze colônias etnicamente compostas unicamente por famílias italianas e mais vinte outras de população mista.