No final do século XIX, milhares de famílias italianas, do norte ao sul do país, enfrentavam dificuldades econômicas e sociais em um país pobre e muito atrasado, que as levavam a considerar a emigração como uma opção para recomeçar a vida em um novo país. No entanto, a decisão de emigrar não era fácil e envolvia muitos preparativos e desafios.
Em primeiro lugar, as famílias precisavam decidir se a emigração era a melhor opção para elas. Em muitos casos, a decisão era tomada em conjunto com amigos e parentes que já haviam emigrado e que podiam fornecer informações e orientações sobre o processo. No entanto, mesmo com essas informações, a decisão de deixar para trás tudo o que era familiar e começar a vida em um país desconhecido era uma escolha bastante difícil e muitas vezes carregada de muita emoção.
Uma vez tomada a decisão de deixar o país, as famílias precisavam se preparar para a grande viagem, primeiramente vendendo suas casas, quando as tinham e os poucos pertences. Muitas vezes, os imigrantes precisavam vender tudo o que tinham somente para comprar os bilhetes para a viagem e outros, em melhor situação fazer um pequeno "gruzzolo" para começar a vida do zero em um novo país. Isso incluía a venda de casas, terras, animais, móveis e outros pertences que pudessem gerar algum dinheiro.
Depois, as famílias passavam a se despedir dos amigos e parentes, que não viajariam, o que também não era fácil. Quase sempre, as despedidas eram muito emotivas e envolviam lágrimas e abraços, pois, sabiam, pelo menos interiormente, que não as veriam mais. A ideia de deixar para trás aqueles que amavam e que haviam feito parte de suas vidas por tanto tempo era uma das partes mais difíceis do processo de emigração.
Depois de se despedir dos amigos, parentes e também do pároco local, para receber a sua benção e garantir as orações para o sucesso na nova pátria, as famílias precisavam se preparar para a viagem em si. Isso incluía a obtenção de passagens de navio, o que muitas vezes era difícil e caro, especialmente para famílias com poucos recursos financeiros. Precisavam obter junto a prefeitura da sua cidade o passaporte para todos os membros da família que deixariam o país. Também as famílias precisavam embalar suas roupas e pertences que levariam, em malas e sacolas, muitas vezes com o auxilio de parentes e amigos.
Sobre o novo país que estavam prestes a ir morar pouco sabiam dele, a não ser o que os agentes de viagem propagavam, quase sempre não a verdade e pelos relatos dos amigos e parentes já vivendo em outros países. Não tinham meios de como se preparar aprendendo a língua e os costumes do novo país. Tudo isso ficava sem respostas o que deixava muitos deles bastante preocupados. Mas, desesperação, a fome, a necessidade de conseguir um trabalho para sustentar a família, eram motivos mais mais fortes para simplesmente seguir a corrente e deixar o destino na mão de Deus. A maioria desses pobres imigrantes, por serem analfabetos, não conseguiam nem saber bem certo para onde estavam indo e o pesadelo que deveriam enfrentar.
A emigração da Itália nas década finais do século XIX envolvia muitos preparativos e desafios para as famílias. Mesmo sabendo o que iriam encontrar, todas as dificuldades que teriam que passar, as famílias italianas decidiram emigrar em busca de uma vida melhor e contribuíram para a formação de novas comunidades e culturas ao redor do mundo.
A emigração italiana no final do século XIX foi motivada por vários fatores, incluindo dificuldades econômicas, políticas e sociais na Itália, além da promessa de oportunidades e uma vida melhor em outros países. A América do Sul, incluindo principalmente os três estados do sul do Brasil - Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, foi um dos destinos mais populares durante muitos anos para os imigrantes italianos na época.
No Brasil, os imigrantes italianos encontraram muitas oportunidades para trabalhar em áreas como agricultura, comércio e construção. No entanto, a adaptação à nova vida não foi fácil e muitos imigrantes enfrentaram desafios, como o choque cultural, a falta de recursos básicos, como médicos e padres, o isolamento em colônias no sul do Brasil, localizadas muito longe de cidades, em regiões de mata virgem.
Passado os primeiros anos no novo país, para lidar com esses desafios, aos poucos os imigrantes italianos foram se unindo em comunidades e associações de mútuo socorro, formando redes de apoio para ajudar uns aos outros, para manter sua cultura e tradições vivas. Essas comunidades italianas no sul do Brasil passaram a ser conhecidas por suas festas, comidas, danças e celebrações, que se tornaram uma parte importante da cultura de centenas de municípios por todo o Brasil.
Os imigrantes italianos também contribuíram para o desenvolvimento econômico da região onde estavam assentados, criando vilas, ricas cidades com a introdução de novas técnicas agrícolas e de produção, bem como habilidades em artesanato, comércio e outras áreas. Muitos italianos também se tornaram líderes em suas comunidades, ajudando a estabelecer escolas, igrejas e outras instituições.
Hoje, a influência da imigração italiana pode ser vista em todas as regiões do Brasil onde se estabeleceram, desde a arquitetura até a culinária e a música. As comunidades italianas continuam a manter suas tradições e celebrações vivas, e muitos descendentes de imigrantes italianos ainda se identificam com suas raízes e cultura.
A imigração italiana no Brasil no final do século XIX foi um importante capítulo da história do país. As famílias que emigraram enfrentaram muitos desafios e dificuldades, mas também encontraram oportunidades e novas comunidades. Sua contribuição para o desenvolvimento econômico e cultural das regiões onde viveram é um legado que ainda é sentido hoje.
Texto
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS