Benzedeira
Durante todo o período imperial o Brasil teve uma grande escassez de médicos com formação universitária, que continuou mesmo ainda quando já no período da república, e foi especialmente mais sentida no interior da província do Rio Grande do Sul, onde estavam instaladas as diversas colônias de imigrantes italianos.
Nos primeiros anos da imigração, quando alguém adoecia era tratado por membros da própria família, geralmente os mais idosos, usando chás e outros procedimentos apreendidos ainda quando na Itália, como algumas simpatias, e transmitidos oralmente nas várias gerações. Quase sempre se tratava de pequenos ferimentos, fraturas de costelas, intoxicações alimentares, doenças virais da infância ou mesmo as causadas por picadas de animais peçonhentos.
Quando o doente não melhorava ou a doença era mais grave como uma grande fratura de membros, eram levados para serem tratados pelo curandeiro, a benzedeira ou os chamados "giustaossi".
Curandeira
Mesmo anos depois, quando até já existiam médicos, se bem que estes estavam quase muito sempre distantes das colônias, o imigrante ainda continuava procurando o atendimento dos curandeiros, giustaosssi ou benzedeiras no lugar daquele do médico. Tinham muito mais confiança nos curandeiros do que nos verdadeiros médicos. Muitas vezes essa preferência era devido ao alto preço das consultas e dos tratamento que os médicos praticavam.
Outro fator que prolongou a escassez de médicos no estado é que o Rio Grande do Sul demorou mais que outros estados brasileiros para ter uma escola de medicina. Os poucos médicos formados que existiam, e somente se concentravam nas cidades maiores, eram quase sempre italianos, diplomados em universidades da Itália e que, por diversos motivos, resolveram seguir o caminho dos imigrantes para darem início as suas vidas profissionais.
A maioria deles depois de uma quase sempre breve experiência de trabalho no Brasil, retornavam para a Itália após alguns anos.
Os imigrantes italianos, principalmente pela ignorância, eram bastante sugestionáveis e místicos, acreditando em magias e benzimentos executados por charlatães, não só para o tratamento dos seus males como também para apaziguar o clima, obter boas colheitas, proteger os animais de doenças e as culturas de pragas.
Para ele as relíquias religiosas e também as imagens de santos tinham o poder de curar doenças e aliviar sofrimentos, mesmo as doenças físicas. Nos altares das benzedeiras era comum a presença de inúmeras imagens de santos da igreja católica (mais tarde associavam divindades do candomblé trazidas pelos negros) que, segundo esses curandeiros, ajudavam no processo de cura.
Nas colônias italianas do Rio Grande do Sul, todas localizadas em extensas regiões remotas do estado, desprovidas de estradas, circundadas por uma floresta densa, onde um vizinho morava bem distante do outro, nos primeiros anos os imigrantes italianos tiveram que enfrentar muitas dificuldades. Entre elas a necessidade de lidar com as doenças (muitas vezes já chegavam doentes após a longa viagem desde a Itália), as epidemias, a escassez de quase tudo e também com a insegurança.
Com a falta de médicos o recurso foi apelar para as benzedeiras e curandeiros, que já eram muito procurados pelos habitantes locais, os caboclos, negros e mestiços, que desde sempre se valiam deles nos momentos de dor.
Tomando as devidas proporções ainda nos dias de hoje essas crendices são muito populares entre os seus descendentes.
Pouco se sabia sobre as doenças e mesmo sobre o próprio corpo. Assim, a busca para a cura se fazia através de orações e de rituais trazidas do velho continente. Os imigrantes se tratavam na própria casa com benzimentos, chás e infusões aprendidas ainda na Itália ou com com os nativos brasileiros.
Entre os imigrantes italianos, quase sempre eram as mulheres que se destacavam nessas práticas de cura. Eram elas as responsáveis pelas rezas, pela escolha das ervas adequadas à cada doença e ministrarem os chás e infusões aos enfermos.
As mulheres, principalmente as mais velhas sempre exerceram um papel fundamental como verdadeiras guardiãs da memória da própria família e de outros membros do grupo. Eram elas as responsáveis por passar adiante as tradições.
Muito raramente este trabalho estava nas mãos dos homens.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS