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quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Uma Dança de Cores, Calor Familiar e a Promessa de Novos Começos

 



Novembro, frequentemente considerado o mês mais melancólico, exala uma beleza singular. A celebração dos Mortos proporciona uma atmosfera única, mas a perspectiva que minha avó me presenteava tornava aquele momento tudo, exceto triste. A explosão de cores, das tonalidades de vermelho ao amarelo intenso, com as folhas dançando como borboletas, cria um espetáculo de transição entre o fim de uma vida e o início de outra, nos campos já semeados de trigo.

A grama intensamente verde, o musgo nos troncos e nas sombras dos riachos, tudo parecia me preparar para o iminente Natal, um verdadeiro nascimento que amplificaria meus pensamentos. O céu era sulcado por pássaros desenhando voos encantadores, fazendo-me sentir parte daquele cenário maravilhoso.

O frio penetrante não me impedia de explorar, e as bochechas avermelhadas testemunhavam as aventuras vividas. O fogo aceso pela vovó, acompanhado do crepitar das chamas na lareira, tornava-se o centro daqueles dias. Novembro era um conto de fadas pintado com a escuridão das casas iluminadas pelo calor do fogo e o aroma convidativo de castanhas no fogão.

O amarelo da polenta, cuidadosamente trazido à mesa pela vovó, tornava-se um símbolo de bênção, como um raio de sol sobre a mesa. Eu comia aquele sol de farinha com gratidão, mergulhando-o em um pequeno molho ou acompanhado de um arenque defumado grelhado. A simplicidade desses momentos, com os mais velhos ao redor e o calor das brasas sob a mesa, criava uma riqueza única.

Não havia necessidade de mais nada naqueles dias, pois o calor humano e a partilha ao redor da mesa tornavam cada momento precioso. Novembro, longe de ser triste, revelava-se como um período de profunda conexão com os outros e consigo mesmo, preparando o terreno para o próximo mês, quando o nascimento encheria de alegria os corações de todos.

Com a chegada de dezembro, a atmosfera se impregnava de uma emoção tangível. Os dias ficavam mais curtos, mas cada instante estava impregnado de uma atmosfera única. A floresta próxima, testemunha silenciosa de nossos momentos, antecipava a grande festa da natureza. Enquanto o frio apertava a terra, nossa mesa transbordava de histórias e risadas.

O calor humano, como o fogo que queimava incessantemente, tornava-se o centro dos dias. Sentados ao redor da mesa, saboreávamos a polenta dourada como se fosse um raio de sol capturado e trazido diretamente para a nossa mesa. Não precisávamos de mais nada, pois nessa refeição simples encontrávamos a riqueza da união familiar.

As noites tornavam-se mais íntimas, iluminadas apenas pela luz tremeluzente das chamas. Os momentos passados com os mais velhos sob o calor das brasas tornavam-se tesouros de sabedoria e afeto. Novembro, o mês que muitos consideravam triste, revelava-se, para mim, um período de conexão profunda com os outros e comigo mesma.

E assim, enquanto o sol de farinha iluminava nossas noites, eu sentia crescer dentro de mim a expectativa, a promessa de um novo começo iminente. Novembro, com seu encanto envolvente, estava se preparando para dar lugar a dezembro, portador de novos nascimentos e de uma alegria destinada a encher todos os corações, assim como o presente de um nascimento esperado por todos.

Com a chegada de dezembro, a atmosfera se impregnava de uma emoção palpável. Os dias ficavam cada vez mais curtos, e as luzes natalinas começavam a decorar as casas, dando um toque mágico a cada canto. Enquanto o frio abraçava a natureza em um abraço gelado, o calor humano tornava-se ainda mais envolvente.

Os preparativos para o Natal começavam a tomar forma: a árvore enfeitada, os presentes escondidos sob sua imponente forma e o aroma envolvente de doces natalinos que invadia a cozinha. Era como se cada detalhe contribuísse para criar uma atmosfera de espera, de esperança.

Naqueles dias de dezembro, a intimidade familiar tornava-se ainda mais profunda. Sentados ao redor da mesa, com os olhares voltados para a árvore cintilante, compartilhávamos histórias, sonhos e a alegria de estar juntos. A polenta dourada do mês anterior transformava-se em iguarias natalinas, e o sol de farinha tornava-se a luz que iluminava o caminho para a festa.

Os dias escorriam entre o calor das casas e as ruas iluminadas. As luzes da árvore refletiam nos olhos cheios de expectativa, antecipando o momento mágico da meia-noite de Natal. Era como se tudo, desde a preparação da comida até as decorações cintilantes, convergisse em uma única celebração de compartilhamento e amor.

E então, quando os sinos anunciavam a meia-noite de Natal, a espera atingia seu ápice. Naquele momento preciso, um novo capítulo começou a ser escrito em nossa história familiar. Um pequeno milagre, um novo nascido, portador de esperança e alegria, fez sua entrada, presenteando a todos um coração cheio de emoções indescritíveis.

À medida que os primeiros flocos de neve começavam a dançar no ar, anunciando a chegada do inverno, a magia persistia. A paisagem transformava-se em um cenário de conto de fadas, onde a neve macia cobria delicadamente cada superfície. O calor das lareiras ganhava um significado ainda mais profundo, proporcionando não apenas conforto físico, mas também um refúgio acolhedor para os corações que buscavam abrigo do frio lá fora.

As tradições de inverno tornavam-se a cola que unia gerações. As histórias à luz das chamas perduravam, agora envoltas em mantos de neve e suspiros de ar gelado. O aroma de especiarias e chocolate quente pairava no ar, elevando o espírito de celebração. Era um momento em que as fronteiras entre o interior e o exterior se dissipavam, e o calor humano criava uma barreira contra o frio impiedoso.

À medida que dezembro avançava, os preparativos para a celebração de Ano Novo ganhavam vida. O som de risos e música enchia o ar, enquanto os fogos de artifício pintavam o céu noturno com cores vibrantes. Era um momento de reflexão e expectativa, uma transição suave para um novo ano repleto de possibilidades.

Enquanto as festividades ecoavam, o ciclo anual se completava. De novembro a dezembro, a jornada era uma ode à vida, à conexão e à renovação constante. A cada estação, uma nova camada de significado era adicionada à tapeçaria da existência, formando uma história que transcenderia as páginas do calendário, ecoando eternamente nas memórias entrelaçadas de uma família unida pelo calor do amor.

Janeiro chegava com a promessa de um recomeço. Enquanto o frio do inverno se intensificava, a neve pintava os campos de um branco sereno, transformando a paisagem em um cenário de conto de fadas. As pegadas frescas na neve eram trilhas de histórias que se desenrolavam a cada novo passo.

Os dias eram curtos, mas a luz do sol refletida na neve criava uma luminosidade mágica. A lareira continuava a queimar, proporcionando calor e conforto durante os longos dias de inverno. A família se reunia ao redor do fogo, compartilhando risadas e memórias enquanto o mundo lá fora estava envolto em um silêncio tranquilo.

O aroma de sopas quentes e pães frescos preenchia a casa, criando uma sensação acolhedora. Era o momento de desacelerar, de refletir sobre o ano que passou e de traçar planos para o futuro. Janeiro, com sua serenidade e calma, convidava à introspecção, preparando o terreno para os dias mais longos que viriam.

Com a chegada de fevereiro, a expectativa do iminente despertar da primavera começava a pulsar no ar. Os primeiros sinais de vida começavam a aparecer, mesmo que timidamente. Botões de flores rompiam a superfície congelada, anunciando a renovação da natureza. Era como se a própria terra estivesse prestes a despertar de um sono profundo.

O amor estava no ar, não apenas no sentido romântico, mas na forma como a natureza se renovava e se reinventava. Os pássaros começavam a cantar canções de esperança, e a luz do sol ganhava uma qualidade mais suave. Era o prelúdio da primavera, um despertar gradual que trazia consigo a promessa de dias mais quentes e cheios de vida.

Assim, o ciclo continuava, cada mês trazendo sua própria magia e transformando a narrativa da vida em uma tapeçaria rica e intrincada. A jornada através dos meses era uma dança entre as estações, cada uma contribuindo com sua própria beleza e significado, criando uma sinfonia que ecoava através do tempo.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS