segunda-feira, 19 de agosto de 2024

A Imigraçao Italiana para o Brasil no Século XIX


 

O movimento de migração em massa da Itália teve início por volta de 1860, quando muitos italianos começaram a se mudar para outros países europeus vizinhos. Aproximadamente uma década depois, essa migração se estendeu para as Américas, com destinos principais sendo os Estados Unidos, Argentina e Brasil. A grave crise economica vivida na Itália e a perspectiva de que o Novo Mundo poderia oferecer melhores condições de vida impulsionaram muitos a buscar novos horizontes. Entre o início do século XIX e a década de 1930, cerca de dez milhões de italianos deixaram seu país de origem.
Em 1875, o governo brasileiro oficializou a chegada de imigrantes, acolhendo homens e mulheres de mais de dezenas de países, todos em busca de uma vida melhor. Muitos desses imigrantes eram provenientes da Itália e encontraram seu novo lar na então Província de São Paulo, embora a maioria dos italianos tenha se dirigido para o sul do país, inicialmente o Rio Grande do Sul. O Brasil necessitava com urgência a mão-de-obra, especialmente devido à expansão das plantações de café, a necessidade de ocupar as vastas áreas desabitadas do sul do país e ao crescente movimento abolicionista que iniciou em 1871 com a Lei da Ventre Livre e culminou com a abolição da escravatura em 1888. Nesse período, houve intensos debates sobre como substituir o trabalho escravo por imigrantes assalariados. Ficou também decidido que os italianos que migrassem para o Brasil poderiam se dedicar a atividades em que tinham expertise.
O governo italiano se não incentivava diretamente a emigração, nada fazia para se opor a esse movimento, como uma forma de diminuir a grande pressão social, a qual poderia culminar em grande guerra civil. Os desempregados tinham prioridade para embarcar. O Brasil, em contrapartida, prometia aos imigrantes lotes de terra e outras oportunidades nas colônias agrícolas, criadas especialmente com esse fim, para iniciar uma nova vida.
A decepção não tardou a atingir os recém-chegados. Logo no desembarque começaram a se dar conta que as dificuldades que encontrariam seriam muito maiores do que haviam pensado. Aquele Brasil onde tudo era muito fácil, pintado pelos agentes de viagem, não existia e que para sobreviverem seria necessário muito trabalho e suor. A viagem de até 30 dias da Itália ao porto de Santos já era uma experiência difícil, algumas vezes até traumática para muitos. Os imigrantes eram transportados na terceira classe, nos porões de navios, muitos deles cargueiros mal adaptados para o transporte de passageiros,  barcos antigos e lentos, enfrentando quase sempre superlotação, comida de má qualidade e falta de assistência médica. Muitos desses imigrantes não sobreviviam à travessia, devido as epidemias que surgiam a bordo.
Inicialmente, o governo abrigava os imigrantes em transito, em alojamentos temporários. Em 1882, foi inaugurada uma hospedaria no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. No entanto, o local era pequeno e propício à disseminação de doenças. Por isso, tornou-se necessário construir uma nova instalação para atender à demanda crescente de estrangeiros. Em junho de 1887, a Hospedaria do Imigrante na Mooca começou a funcionar, com capacidade para abrigar 1.200 imigrantes. Em certas ocasiões, o local chegou a abrigar até 6.000 pessoas. Durante seus 91 anos de operação, quase três milhões de pessoas foram temporariamente acomodadas ali. Atualmente, o complexo abriga o Museu da Imigração.
No estado de São Paulo, a situação era um pouco melhor em comparação com o restante do país. Com os ganhos da colheita do café, alguns imigrantes conseguiram economizar dinheiro suficiente para comprar terras em cidades vizinhas as fazendas e até se mudar para a capital. O dinheiro acumulado e o espírito empreendedor de alguns desses imigrantes italianos foram fundamentais para o desenvolvimento industrial da cidade de São Paulo.
Entre os anos de 1870 e 1920, o Brasil acolheu aproximadamente 1,5 milhão de imigrantes italianos. O Estado de São Paulo foi o destino de quase um milhão deles, representando quase 70% do total.
De acordo com os arquivos da biblioteca do Memorial do Imigrante, entre 1880 e 1889, São Paulo recebeu 144.654 imigrantes provenientes da Itália. Sendo que em 1888, o Estado recebeu um total 91.826 novos imigrantes, dos quais 80.749 eram italianos. Em 1889, já havia preocupações sobre o excesso de imigrantes no país.
No ano de 1890, a cidade de São Paulo registrou a chegada de aproximadamente 64 mil imigrantes italianos. Durante o período da Segunda Guerra Mundial, entre os anos de 1939 a 1945, o governo italiano suspendeu a imigração subsidiada.
No início do século XX, havia quatro jornais em italiano circulando em São Paulo, e acredita-se que, em certo período, o italiano foi o idioma mais falado na cidade.
Estima-se que São Paulo ainda abrigue a terceira maior comunidade italiana do mundo, ficando atrás apenas de Nova York e Buenos Aires. Segundo dados da Embaixada da Itália divulgadas no ano de 2000, indicavam que haviam 25 milhões de italianos e seus descendentes no Brasil. Segundo estimativas do Consulado Italiano, no estado de São Paulo atualmente vivem 6 milhões de italianos e seus descendentes.


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