Até quase a virada do século XIX, quando em seus 25 anos finais teve início a grande emigração italiana, também no antigo Veneto, como nas demais regiões da Itália, a agricultura representava a principal economia do país.
Era ainda uma agricultura pobre na maior parte do país, pouco desenvolvida, praticada usando métodos ultrapassados, comuns nos séculos precedentes.
A mecanização dava os seus primeiros passos, substituindo a mão de obra de milhares de camponeses e o conceito de propriedade rural estava mudando rapidamente.
Os diversos trabalhos ligados ao mundo da agricultura e da pecuária de então, eram realizados por verdadeiros especialistas, que muitas vezes precisavam se deslocar entre as diversas propriedades para exercerem o seu mestier.
Aqueles que possuíam algum pedaço de terra trabalhavam em regime familiar, cada um de seus membros exercendo uma determinada função na divisão do trabalho. Mesmo esses, em alguma época do ano, precisavam contratar os serviços de um especialista em determinada área, que era chamado na propriedade.
Muitos eram esses trabalhos especializados, cuja arte era passada de pai para filho, muitas vezes a única herança deixada.
Esses indivíduos abandonavam as suas casas e famílias, iam em busca do trabalho, por vezes em locais bem distantes das suas vilas. Alguns deles como os caregheta também exerciam a sua profissão fora do país, emigrando por alguns meses, geralmente aqueles de inverno, retornando para casa na primavera. Percorriam a pé longas distâncias.
Os fabricantes de carroças e de rodas, conhecidos como carèr, tinham suas oficinas onde moravam, mas, também, muitas vezes, se deslocavam para onde eram chamados, ara um atendimento no campo.
O ferreiro especializado em ferrar cavalos, mulas e bois, conhecido por maniscalco, muitas vezes precisava se deslocar para as pequenas propriedades rurais, para exercer suas atividades.
O botàro, era o profissional que fazia também e consertava barricas e tonéis. Tinha uma oficina regular onde morava mas, as vezes, também precisava se deslocar até uma propriedade rural para fazer um reparo no fundo ou trocar os anéis de ferro de contensão de grandes tonéis, que não podiam ser removidos do local.
O ferèr ou feraro, profissional que trabalhava com o ferro, tinha uma oficina onde morava e se deslocava esporadicamente para atender algum conserto.
Dezenas de profissionais das mais diversas profissões circulavam regulamente pelas vilas, uns com trabalho garantido durante todo o ano e outros somente em determinados meses, obedecendo a uma regular sazonalidade.
Alguns exemplos desses profissionais sazonais: o stagnèr, o masciaro, o mazin, o piegorèr, o provin, o pastorelo, o giason, o casaro, o cestaro, o salarolo, o gratarole, o gripolaro.
Dicionário
Caregheta: artesão que fazia e reparava cadeiras
Carèr: artesão que fazia carroças e rodas
Maniscalco: artesão que fazia e colocava ferraduras
Botàro: artesão fazia e reparava barricas
Ferèr: artesão produtos de ferro
Stagnèr: artesão que soldava panelas
Masciaro: especialista matador de porcos
Mazin: o especialista em matar porcos
Piegorèr: tratador de ovelhas
Provin: artesão que media o teor alcoólico com o provin
Pastorelo: pastor
Giason: vendedor de gelo
Salarolo: especialista em salgar salames e outros alimentos
Gratarole: especialista em debulhar milho
Casaro: especialista em fazer queijos
Gripolaro: especialista em raspar as pipas depois de usadas
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
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