sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Italianos Imigrantes no Brasil e Argentina

Imigrantes na Hospedaria de São Paulo


Embora a Argentina tenha recebido a maior parte do fluxo de imigrantes da Itália para a América Latina, não se pode ignorar o fato de que, para muitos, nos últimos vinte anos do século XIX, a América tornou-se sinônimo de Brasil. Esta nação, de fato, graças aos seus grandes espaços onde a urbanização ainda não havia chegado e a demanda constante de mão de obra, tornou-se para muitos italianos o lugar para realizar o sonho de poder ser proprietários de terras: 

“A terra! Esse é o pensamento que dá febre em nossos colonos!"

O Brasil tornou-se assim, depois dos Estados Unidos e da Argentina, o terceiro destino preferido dos italianos rumo à América, tendo visto o movimento de 1.353.594 italianos entre 1820 e 1919.

Os primeiros italianos a chegar ao Brasil nas primeiras décadas do século XIX eram em sua maioria navegadores ou exilados políticos. A partir da década de 1830, inúmeros Mazzinianos também foram encontrados no Brasil e a Comissão de Emigração relata uma primeira tentativa de colonização por meio da força de trabalho italiana. Este projeto foi realizado pelo agente consular do Reino da Sardenha Enrico Schutel, que em 1836 concordou em instalar trinta famílias genovesas na zona litoral do Estado de Santa Catarina.

Porém, os anos que marcaram o início da imigração italiana para o Brasil foram os anos 1870: já com o primeiro censo brasileiro em 1872 foi possível rastrear a presença de cerca de 6.000 italianos no Império. A partir desse momento, teve início a onda imparável do êxodo italiano, que atingiu o seu ápice em 1891 com a entrada de 108.414 pessoas. Esse número representou 37% de todos os expatriados da Itália e 58% daqueles direcionados à América. Por outro lado, também para o Brasil, a imigração italiana representou a participação majoritária na imigração total, atingindo uma taxa de 79% do faturamento total. 




A pesquisa nos dados de entrada e saída mostra muitas discrepâncias, como costuma acontecer em pesquisas deste tipo, entre as análises feitas pelo país de partida e pela de chegada, muitas vezes porque os emigrantes saíram da Itália sem passaporte (através do qual o Reino estimou as unidades que saíram) ou partiram para o Brasil de portos estrangeiros, ou porque vieram de territórios que ainda não haviam sido anexados ao Reino da Itália, como o Friuli. No entanto, as estatísticas a este respeito estão de acordo quanto aos picos de aumento e diminuição do fluxo migratório: é possível encontrar um primeiro aumento significativo de chegadas em 1888, com a abolição da escravatura, com uma diminuição subsequente devido à promulgação do decreto Crispi de 1889, que proibia a emigração subsidiada, seguida de uma outra retomada logo após a revogação desse decreto e depois novamente uma diminuição, no início do novo século, ambos devido às novas medidas tomadas pelo governo italiano que limitaram a expatriação, decreto Prinetti de março de 1902, tanto pela crise que atingiu o setor cafeeiro no início do século XX como, inevitavelmente, também pelo forte atrativo que os Estados Unidos começavam a exercer. 
A migração italiana para o Brasil tem alguns pontos em comum com a da Argentina: ambos os países precisavam de mão de obra para o desenvolvimento do setor agrícola e ambos também precisavam aumentar a densidade populacional em uma grande extensão do país que ainda não conhecia a urbanização ou era habitada por povos indígenas.

Uma linha de ação da política migratória brasileira foi, portanto, colonizar as regiões do Sul do país, onde a densidade populacional ainda era muito baixa. Neste projeto os imigrantes do norte da Itália certamente desempenharam um papel central, assumindo um papel fundamental no processo que foi considerada de civilização, mas também assumindo o papel de engrenagem essencial no processo de progresso econômico e social do sul do Brasil. As imensas extensões de terras foram então divididas em lotes de 15 a 60 hectares e distribuídas aos recém chegados, que sob a supervisão de funcionários do governo nos locais tiveram a tarefa de desmatá-las e prepará-las para a produção agrícola. 

No caso da Argentina, os primeiros anos da colonização foram muito difíceis pela falta de vias de comunicação; porém, quando essa falta foi suprida e a natureza selvagem domada, a terra começou a dar frutos, vendo o surgimento de centros habitados mais estáveis e em alguns casos até a ascensão social dos colonos, que passaram de operários a senhores.

No entanto, outra parte da imigração para o Brasil foi desviada para outras regiões. De fato, houve áreas do Brasil onde o desenvolvimento do setor agrícola já havia ocorrido com a exploração da mão de obra de escravos africanos, como na região de São Paulo. A abolição da escravatura deixou essas regiões privadas da parte mais conspícua de sua força de trabalho e é nesse espaço vazio que entra a imigração italiana.
Para entender o grande êxodo de italianos para o Brasil, devemos primeiro entender como eles foram preencher e como, explorando esse vazio, um país ultramarino conseguiu atrair tantos italianos.

Estima-se que, entre os anos de 1875 e 1914, 74.000 italianos chegaram à região do Rio Grande do Sul. A eles foram atribuídos lotes de 15 a 60 hectares e que tiveram que trabalhar sob a supervisão de funcionários do governo brasileiro. De seus ganhos eram descontados o valor da passagem que lhes tinha sido adiantada e quaisquer outras possíveis dívidas, como aquelas contraídas para a compra de veículos e sementes. Embora a compra da propriedade em parcelas tenha sido fortemente desencorajada pelas políticas do governo e pelos proprietários de terras. No ano de 1920 já haviam 13.810 italianos proprietários de terras no estado do Rio Grande do Sul e 11.825 no estado de São Paulo.




Apesar desses números positivos, a maioria dos imigrantes, portanto, viu-se mais frequentemente empregada pelos proprietários das plantações de café e por aqueles que haviam sido senhores de escravos negros, cujos legados ainda conservavam. Daí os abusos sofridos pelos camponeses italianos, que não podiam ser protegidos por uma legislação inexistente sobre a proteção dos trabalhadores imigrantes, e que, portanto, recorreram aos representantes diplomáticos no local, obstruindo-os de árbitros.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS