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terça-feira, 30 de agosto de 2022

La Boje - A Revolta dos Camponeses do Vale do Rio Pó

 



A ebulição político-social que se seguiu imediatamente após a unificação da Itália, viu surgir diversos movimentos de protesto por todo o país, contra as dramáticas condições de vida e trabalho no campo. 

A rebelião dos camponeses e da sociedade rural ocorridas na Lombardia, mais propriamente nas províncias de Mantova e naquelas do Vale do Pò, nos anos 1884 e 1885, é considerada por muitos a data de nascimento do movimento campesino organizado na Itália.

Com o slogan criado a mais de cem anos, que dizia no dialeto local "La boje, la boje e de boto la va de fora", ou "borbulha, borbulha e de repente transborda", os camponeses do vale do rio Pó deram início a uma série de irados protestos, denunciando as dramáticas condições de vida e trabalho em que estavam vivendo.

O processo de unificação italiana, chamado de Risorgimento, não foi um movimento pacífico e durou alguns anos. No período ocorreram várias batalhas que deixavam um rastro de ressentimentos e ódio, aumentando a pobreza crônica em que já vivia a zona rural italiana.  A economia da península foi muito prejudicada em diversas regiões no novo país, aumentando o desemprego no campo.





No Vale do Pó, já na segunda década pós unificação, a agricultura, praticada com métodos usados nos séculos precedentes já obsoletos, foi atingida por uma grave crise depressiva, agravada pelo colapso internacional dos preços dos cereais. Os proprietários de terras além de exigirem do governo medidas protecionistas, reduziram significativamente os salários pagos no campo. As já precárias condições de vida dos pequenos agricultores pela pelagra crônica, se tornaram insustentáveis, com a fome rondando os lares mais humildes,  o que gerou a rebelião.

Os protestos tiveram início no ano de 1884 nas terras circundantes do rio Pó, o Polesine e dali se extendendo para outros locais de Mantova. O movimento contou com o apoio de sociedades de assistência e alguns jornais locais.

O surgimento de um protesto expontâneo e forte levou alarme aos proprietários de terras e às autoridades do governo, que se apressaram em dar ordens para que o movimento fosse imediatamente reprimido.

A resposta do governo não demorou a aparecer e o resultado foi que na noite de 26 de março de 1885, mais de 150 pessoas foram presas, acusadas por vários crimes, sendo que vinte dos revoltosos foram apontados por crimes graves, como ataques a instituições, massacre e saques.  

O julgamento dos camponeses presos teve início  na cidade de Veneza, para onde foi levado o processo coletivo, em 16 de Fevereiro de 1886, onde foram julgados os camponeses e os líderes organizadores do movimento rebelde "La boje". 

Esse foi o primeiro processo político da Itália pós unificação, e também um exemplo brilhante da imparcialidade dos juízes. O Tribunal de Justiça de Veneza em 27 de março de 1886 absolveu todos os réus. Segundo jornal da época que acompanhou o julgamento "O veredito foi recebido com ovações no tribunal e com manifestações de júbilo na cidade".

Não menos triunfal foi o retorno noturno dos absolvidos para Mantova, como relata a crônica do jornal La Favilla: 

"Milhares e milhares de pessoas esperavam na praça da estação, empunhando as bandeiras das associações de trabalhadores, bandas e fanfarras. O sino finalmente toca, o  trem vem a toda velocidade e gradualmente para na estação. As bandas tocam o hino do resgate, a multidão explode em aplausos, os libertos descem dos vagões e beijam seus parentes e amigos".

Como resultado do movimento rebelde, os proprietários  de terras concederam aos trabalhadores aumentos salariais de 10 a 15% dos praticados até então.