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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

O Roubo do Corpo de São Marco

Basílica de São Marco


Como os sarracenos haviam invadido Alexandria e todo o Egito, o imperador bizantino Leão V (813 -820) impôs às diversas regiões do império o veto absoluto, para qualquer um viajar ao Egito a negócios. 

A notícia se difundiu por toda a parte e chegou também aos venezianos: Giustiniano Partecipazio, que na época era o doge de Veneza, que confirmou a mesma ordem aos seus súditos. Mas, em janeiro de 828 cerca de dez navios venezianos, empurrados por ventos impetuosos, quase como se fosse a vontade divina, foram forçados a procurar refúgio em Alexandria. Entre os nobre que estavam embarcados estava os comerciantes Bono de Malammoco e Rustico de Torcello. Os dois se deram conta da difícil situação dos cristãos locais e das contínuas explorações sofridas de todos os bens materiais, e confidenciaram a Stauranzio e Teodoro, os guardiões de origem grega da igreja de São Marco, junto a qual repousavam os restos mortais do evangelista, o plano deles de roubar as santas relíquias para levá-las para um lugar mais seguro, a Veneza. Os dois guardiões tiveram uma dura e negativa reação temendo por suas vidas e de todos os cristãos do Egito, todavia, depois de muitas discussões e avaliações que duraram alguns dias, aterrorizados também pelas notícias sempre mais alarmantes acerca da violência e roubos perpetrados pelos Sarracenos, concordaram com o plano à eles proposto. 

Foi então decidido o dia do roubo do santíssimo corpo e, chegada a hora, os dois guardiães da igreja forçaram o túmulo de mármore. O corpo estava deitado em posição supino, completamente envolto em um manto de confecção síria, sobre o qual estavam afixados uns selos. O corpo foi retirado do manto e, em seu lugar, para retardar o quanto possível a descoberta do furto, foram colocadas relíquias de Santa Cláudia, retirada por sua vez de um  sarcófago vizinho. No momento que retiravam o corpo do evangelista se espalhou pela igreja, depois no quarteirão e enfim por toda a cidade um suave perfume de flores: os restos mortais foram colocados em uma cesta e primeiro coberta com folhas de repolho e outros vegetais e posteriormente com grande quantidade de carne de porco. Pegaram então a cesta e se dirigiram para o seu navio, mas eles imediatamente encontraram uma patrulha de homens sarracenos armados que alegaram querer controlar o conteúdo da cesta. A vista da carne de porco, que eles consideram impura, começaram a gritar "kanzir, kanzir" que significa precisamente "porco" e, cuspindo no chão em sinal de desgosto, se afastaram imediatamente. 

O grupo de cristãos então alcançou o navio e embarcaram imediatamente. Somente Teodoro decidiu não partir. Durante a viagem por mar o Senhor operou numerosos milagres através do corpo do santo, em particular salvou o navio de um naufrágio seguro durante uma tempestade e liberou um marinheiro possuído pelo demônio. 

A notícia da chegada a Veneza do navio que transportava as relíquias do santo se espalharam rapidamente e o próprio doge Giustiniano estava emocionado o suficiente para perdoar os responsáveis por ter desrespeitado seu édito sobre como lidar com os infiéis sarracenos. O doge disse: façam o retorno em paz e por terem trazido um tesouro tão grande não só não vou infligir nenhuma pena, mas até mesmo os chamarei de meus filhos. 

Apenas entraram no porto de Olivolo em Castello, foram recebidos pelo bispo Orso seguido de todos os representantes do clero, todos devidamente paramentados. O corpo foi então transportado no palácio do doge e colocado para repousar em um lugar do andar  superior. Foi decidido em seguida de construir uma basílica em honra do santo, o que foi feito pelo irmão do doge Giustiniano, Giovanni. 




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS