No arco de cem anos, entre 1876 e 1976, saíram da Região do Vêneto em emigração bem mais de três milhões de pessoas, de em um total nacional de 27 milhões. Com os dados disponíveis o Vêneto figura em primeiro lugar entre as regiões italianas pelo volume de emigrantes.
Na Província de Treviso não existem dados da emigração em todo esse período, no entanto, se sabe que entre 1876 e 1900, na virada do século, o número de trevisanos que tiveram que emigrar era cerca de um quarto da sua inteira população, sendo que os percentuais eram bem mais elevados nas zonas de planície.
Na segunda metade do século XIX, as condições de vida dos pequenos agricultores vênetos, sofreu uma sensível piora devido a uma série de fatores que ocorreram quase concomitantemente:
· O aumento natural da população, devido as melhores condições de higiene, especialmente durante o domínio austríaco do Vêneto e uma natalidade também muito alta;
· A diminuição da renda dos pequenos e médios agricultores, igual como estava ocorrendo em toda a Europa, provocada pela abrupta queda de preços dos produtos agrícolas, que estavam sendo importados à preços muito abaixo do custo de produção na Itália. Quebras seguidas de diversas colheitas por ação do clima, causando secas desastrosas, inundações nas planícies e aluviões nas montanhas. As doenças da lavoura com perda nas safras da uva e do bicho da seda.
· O aumento do desemprego especialmente devido a introdução de novas máquinas, apesar de ainda em ritmo lento, que passaram a substituir os trabalhadores braçais, os boias frias, nas lavouras. Importante também foi o crescente desaparecimento de antigos trabalhos.
Amplos extratos da população se encontravam abaixo do nível da subsistência, como atesta o grande número de doentes pela pelagra, doença causada pela falta de ingestão de vitaminas, que deveriam estar presentes na ingestão regular de carne, leite e derivados, em uma dieta muito pobre, quase que somente à base da farinha de milho, para a polenta. Essa doença estava disseminada por todo o Vêneto. Aos pequenos agricultores e os diaristas reduzidos à miséria só restava definhar ou fugir.
No século XIX os países sul americanos iniciaram uma política de colonização das suas imensas áreas de terras ainda disponíveis. Para tanto, recorreram à mão de obra europeia, uma força de trabalho a baixo custo, pois, naquele período a região passava por uma fase de grande desemprego.
A travessia do desconhecido oceano com destino para a América era carregada de incógnitas e de muitos imprevistos desde o porto de embarque. Retardos na partida, documentação insuficiente, excesso de burocracia, problemas com a promiscuidade e a superlotação da terceira classe. Ao desembarcarem outros problemas os aguardavam nos locais de recebimento: reclusão na quarentena, seguido de inúmeros exames médicos e interrogatórios pelos inspetores do governo local. Esses incômodos foram muito atenuados depois da segunda guerra mundial, quando da emigração dos vênetos com destino ao Canadá e Austrália. Se partia de maneira organizada e com todos os documentos regulares.
Depois dessas etapas, liberados da quarentena, não significava aos primeiros emigrantes a imediata possibilidade de um trabalho, como prometeram os recrutadores antes da partida. Os locais onde seriam assentados estava ainda à muitos quilômetros ao sul do porto de desembarque, necessitando de mais alguns dias de viagem em navios para poder alcança-los. Nesses portos deviam esperar ainda algum tempo pelos novos meios de transporte a eles destinados, como pequenos navios fluviais, trens ou longas e penosas marchas à pé ou em carroças puxadas por bois. até as colônias para onde tinham sido destinados. Nesse ponto ainda não era o fim da longa viagem, para alcançarem os lotes de terra, onde então iriam trabalhar, precisavam abrir o próprio caminho para atravessar a densa floresta, repleta de perigos e preenchida pelos sons de animais desconhecidos.
Uma vez chegados nas suas terras, a primeira providência à ser tomada era a construção de uma pequena cabana de troncos coberta por galhos de folhas da floresta, para se defenderem dos animais ferozes e das cobras que à noite rondavam o improvisado acampamento. A terra devia ser preparada para o cultivo e para tanto iniciavam um difícil trabalho para abater as milhares de grossas árvores que estavam sobre o terreno. Depois, com o fogo, transformavam a floresta em uma pequena roça na qual cresciam abundantes as primeiras colheitas. As cabanas eram aos poucos substituídas por grandes casas de madeira, cobertas por tabuinhas finas de madeira, as scandale, casas de estrutura sólida, suportadas por grossas pedras, que formavam o indispensável porão, um espaço grande e fresco para estocar a produção.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
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