terça-feira, 29 de maio de 2018

A Grande Emigração do Povo Vêneto




Mesmo depois das guerras de independência o Vêneto pouco mudou e continuava como nos séculos precedentes, uma terra de passagem para os exércitos em movimento. Quando estourou a guerra do ressurgimento, no ano de 1848, a região foi atravessada pelo exército austríaco que tentava responder ao ataque dos piemonteses na Lombardia e reprimir as insurreições que surgiam. 
A cidade de Vicenza, depois de feroz resistência, foi reconquistada em 10 de Maio. Por sua vez, sob o comando de Daniele Marin, a cidade de Veneza ainda iria resistir por mais um ano às tropas do general austríaco Radetzky, quando finalmente capitulou dizimada pela fome e pela cólera. 
A repressão do exercito austríaco foi feroz e continuou nos anos seguintes até 1866 quando o Vêneto passou a fazer parte do recém criado Reino da Itália. Essa anexação de todo o Vêneto, passando para as mãos dos novos governantes da Casa de Savoia, foi catastrófica para região. Veio agravar a sua já precária situação econômica, devido as duríssimas condições de vida impostas, com o advento de novas taxas. Estas gravavam, de forma mais intensa, as populações das zonas mais pobres, nas planície e nas montanhas, que até então viviam somente de uma agricultura de subsistência, ainda utilizando métodos antiquados de plantio, de muito já ultrapassados em outros países. 
O desemprego e a fome não tardaram a chegar e atingiram com intensidade os habitantes dessas zonas. A miséria, com as suas múltiplas faces, estava exposta nas praças das pequenas vilas e cidades, nos pátios das igrejas, onde se concentravam milhares de homens já sem esperanças, procurando desesperadamente por um eventual trabalho como diarista, para que pudessem alimentar as suas famílias. 



Emigrar foi a decisão que a maioria desses camponeses e pequenos artesões tomaram para assim garantir a sua sobrevivência e a da suas famílias. 
Nos anos finais do século XIX e nos primeiros do século XX o Vêneto conheceu a emigração em massa de uma grande parte de sua população, um verdadeiro êxodo até aquele momento não conhecido. 
Homens, mulheres e crianças partiam aos milhares, com a esperança de um dia, talvez retornarem, com destino, primeiramente, para os países europeus, vizinhos da Itália, muito mais ricos e industrializados, para trabalharem nas minas de carvão, nas estradas de ferro, nas fábricas e nos grandes empreendimentos de infraestrutura. 
Mas, o destino mais procurado naqueles anos era a América, que no imaginário popular era vista como a terra prometida para começar uma nova vida. 



A atenção de todos estava voltada para o tão sonhado Brasil, cantado em prosa e verso como “la tera de la cucagna”, e que naquele momento histórico era o destino mais desejado, mas, todos sabiam que seria uma viagem sem bilhete de retorno. 
Dados estatísticos relatam que entre os anos de 1880 e 1900 cerca de 300.000 pessoas, aproximadamente 10% da população total do Vêneto, deixaram a região como emigrantes, para nunca mais voltarem. Nas zonas da baixa planície estes índices chegaram até a 30% da população.



Esses desesperados emigrantes enfrentaram condições duríssimas na longa viagem de travessia do oceano desconhecido. Mais de um mês de navegação em situação precária, mal acomodados em navios de transporte de cargas, movidos à vapor, no início da emigração até mesmo à vela, precariamente adaptados para o transporte  de seres humanos, comendo mal e muitas vezes até passando fome. As epidemias eram frequentes à bordo e o número de óbitos bastante expressivo. 
Foi no Brasil que o povo vêneto escreveu uma das páginas mais gloriosas da sua história.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

Nenhum comentário: