segunda-feira, 7 de setembro de 2020

A História da Formação do Vêneto



O povoamento do que hoje conhecemos como Região do Vêneto teve início à partir do quinto milênio a.C. e intensificado durante a Idade do Bronze, primeiramente em torno da área montanhosa de Verona, ao longo da costa oriental do Lago de Garda e nas zonas próximas aos rios. 
Por volta do ano  1000 a.C. a civilização paleo-veneta inserida no território de Este desenvolveu uma cultura real que mantinha relações com outros povos que viviam em locais, alguns deles  muito distantes, tais como os gregos, os etruscos, os demais povos transalpinos e os celtas. 
Os antigos vênetos rapidamente alcançaram uma forte identidade étnica, cultural, política e para sua defesa, ainda  no século III a.C., se aliaram ao Império Romano para juntos enfrentarem as pressões exercidas pelos povos bárbaros que chegavam nos limites do Império e os ameaçavam. 
Foram aceitos pelos  romanos para exercer uma espécie de estado tampão nas vizinhanças das fronteiras do Império, e com  isso tentar impedir as invasões, que cada vez mais se anunciavam.
Esta aliança com Roma foi positiva e resultou em importantes obras de infra-estrutura, ordenamento e construção de centros urbanos. O Vêneto foi então completamente absorvido pelo Império Romano já no século I a.C., mas mesmo assim conseguiu manter intactas as suas características distintivas, pelas quais Roma sempre teve admiração e demonstrava grande respeito. 
Nos primeiros séculos d.C. quando as invasões germânicas se tornaram uma triste realidade, constituíram um duro golpe para os primeiros vênetos e também para os romanos. 
Após o impacto desastroso da invasão  Longobarda, nos séculos VI e VII, aconteceu um grande êxodo dos habitantes em direção a área lagunar veneziana, que oferecia maior proteção contra os invasores. O primeiro núcleo populacional da cidade de Veneza pode ser datado por volta dos séculos IX e X. Enquanto isso, no continente, amargavam as invasões e constantes assaltos dos húngaros que forçaram a população a erguer inúmeras fortificações defensivas, fenômeno este que logo deu origem a uma infinidade de novos estados e jurisdições autônomas e o feudalismo, o qual foi gradualmente desaparecendo após o renascimento comercial do século XII e o aparecimento de instituições municipais. Estes se uniram na "Liga Lombarda" que se opunha às várias tentativas de restauração de um império por parte de Frederico I, também  conhecido por Barbarossa que continuaram mesmo após a sua morte com a subida ao trono do filho Frederico II. 
Surgiram na terra firme, onde hoje estão as províncias da Região do Vêneto, vários nobres senhores feudais, tais como os "Da Romano, Da Camino, Da Carrara os d'Este. Estes nobres tiveram influência nas várias atuais províncias do Vêneto, tendo conquistado títulos de podestà ou capitães do povo. Esses estados independentes lutavam entre si, sozinhos ou com alianças de conveniência, para aumentarem os seus domínios e consequentemente assim a sua riqueza, as quais provinham da cobrança de impostos e de pedágios, taxas essas impostas aos comerciantes para dar a livre passagem de mercadorias por seus domínios.
Enquanto isso Veneza, tão logo conseguiu se desvencilhar do domínio do Império Bizantino, do qual esteve por muito tempo ligada, e que a tinha até então mantido como uma das suas províncias, reforçou um governo próprio, dirigido por um doge e, paulatinamente, a cidade foi expandindo o seu poder por todo o Mediterrâneo, chegando a controlar as ricas rotas marítimas de comércio com a antiga capital bizantina, conquistando e estabelecendo inúmeros portos na sua bacia oriental. 
As importantes conquistas comerciais venezianas acenderam as hostilidades com Gênova chegando, no século XIII, a uma guerra com esta forte cidade, pela hegemonia das rotas comerciais do Mediterrâneo. Nesse período as autoridades de Veneza voltou cada vez mais os olhos para as ricas e vizinhas terras localizadas no continente, governadas por diversas famílias de nobres. Veneza percebeu que com a conquista das terras localizadas no continente muito poderia aumentar a sua força e riqueza, contrabalançando aquelas possíveis perdas sofridas para o Império Otomano. Seguiu-se uma grande pressão diplomática e bélica de Veneza sobre os nobres senhores  que governavam essas terras, hoje as províncias do Vêneto. Algumas dessas ricas cidades passaram de livre e expontânea vontade para os domínios da Sereníssima, adquirindo assim maior proteção sob as asas do Leão de Veneza, enquanto outros, não se conformavam em ser subjugados, foram no entanto persuadidos pela força das armas venezianas.
Assim, já no início do século XV a República de Veneza se apresentava como a maior potência marítima da península, chegando a unificar todo o território do atual Vêneto sob a bandeira de S. Marco. Essa hegemonia veneziana deixou marcas em toda a região, um particular estilo comum que podemos identificar na cultura, na linguagem e na arquitetura das construções das cidades em terra firme e nas casas no campo. Em 1797 a República de Veneza foi derrotada e conquistada, invadida militarmente por Napoleão e logo passada para as mãos da do Império Austriaco, com o Tratado de Campoformio. Em 1866 Veneza sofreu um outro grande revés quando, após o resultado, muito mal explicado, de um referendum, passou às mãos dos Savoia, anexada ao Reino da Itália, pondo fim assim a mais de 800 anos de glórias e de grande esplendor da Sereníssima República de Veneza. 

Memorial Militar do Monte Grappa

O Vêneto desempenhou um papel muito importante durante os conflitos bélicos da grande guerra de 1915/18 quando a frente de batalha ítalo-austríaca, que inicialmente passava pelo planalto de Asiago,  pelos montes Dolomita até as colinas de Gorizia, teve que recuar abruptamente, após a derrota de Caporetto, em 24 de outubro de 1917, chegando a recuar até os pés do Monte Grappa e do rio Piave, onde foi com presteza organizada a resistência que levou à vitória contra os austríacos e alemães. A consolidação dessa linha de defesa em volta ao Grappa foi decisiva para o desfecho favorável do conflito, tendo o Rio Piave contribuído com suas águas para conter a avançada austríaca. 
Em memória aos fatos heróicos ali acontecidos, mais tarde foi criado o Memorial Militar do Monte Grappa, não esquecendo também dos numerosos outros monumentos erigidos em vários municípios da região, em memória daqueles milhares de combatentes que tombaram no grande conflito. 
O armistício que pôs fim a guerra  foi assinado em 3 de novembro de 1918 na Villa Giusti, em Pádua. A região também foi palco de batalhas da Segunda Guerra Mundial, mas, que não trouxeram para a região tanta devastação como os da primeira. Mesmo assim Treviso e Verona acabaram sofrendo pesados ​​bombardeios que causaram grandes destruições.  
A ocupação nazi-fascista foi muito dura e impiedosa para com toda a região, especialmente, à partir de 8 de setembro de 1943 com o anúncio do armistício com os Aliados e o fim da aliança militar da Itália com a Alemanha. 

Dr. Luiz Carlos Piazzetta
Erechim RS