Giovanni Marchetti era um agricultor humilde de uma pequena localidade de Mirabello, na província de Ferrara, Itália. Como muitos outros na década de 1880, ele via a América do Sul como uma terra de promessas. A Itália estava afogada em crises econômicas, e os campos áridos não produziam o suficiente para sustentar sua família. Giovanni, sua esposa Maria e seus dois filhos pequenos decidiram arriscar tudo e partir para o Brasil, onde lhes haviam prometido terras férteis e oportunidades de trabalho.
O início da jornada foi uma sucessão de desilusões. A carta que Giovanni escreveu durante a travessia é um testemunho de sua angústia. Ele descrevia como, no navio, as pessoas estavam "apertadas como sardinhas em lata". A morte rondava a embarcação: um menino de apenas cinco anos, saudável e cheio de vida, sucumbiu a uma febre. Outros oito passageiros estavam gravemente doentes. Gritos de dor e lamentos ecoavam incessantemente. A comida era quase incomível, e o pão, "duro como ferro", não amolecia nem com água.
Giovanni era um homem calmo por natureza, mas o tratamento desumano o enfureceu. A indignação tomou conta quando descobriu que haviam sido enganados pelos agentes de emigração. Pagaram por um lugar em um navio a vapor, mas foram colocados em uma embarcação à vela, que transformava a travessia em uma interminável provação. Ao chegarem a Marselha para uma escala, Giovanni e outros 100 emigrantes confrontaram os agentes responsáveis pela fraude. A revolta quase terminou em violência, mas a chegada das autoridades evitou o pior. Os culpados foram presos, mas a incerteza sobre o futuro permanecia.
Após semanas de sofrimento no mar, o navio finalmente chegou ao porto de Porto Vitória, no Brasil. A visão era desoladora: um local cercado por mata fechada, com poucas construções e nenhuma infraestrutura. Giovanni foi designado para trabalhar em uma colônia agrícola no interior da província de Santa Tereza, junto com dezenas de outras famílias italianas.
Os primeiros meses foram de luta incessante. Sem ferramentas adequadas e enfrentando um clima tropical opressivo, Giovanni teve de abrir espaço na floresta virgem para plantar. A malária e outras doenças eram companheiras constantes. Muitos vizinhos sucumbiram, mas Giovanni não desistiu. Ele trabalhou incansavelmente, com Maria ao seu lado, plantando as sementes que lhes dariam sustento no futuro.
Um dos momentos mais marcantes aconteceu no segundo ano de sua chegada. Após uma colheita particularmente bem-sucedida, Giovanni escreveu novamente à sua família que permanecera na Itália. "Hoje, senti o gosto da terra que sonhei. O milho está alto, e o trigo é dourado como o sol. A dor e o cansaço quase me fizeram desistir, mas agora vejo que fizemos a escolha certa. Não foi pela riqueza que viemos, mas pelo direito de sonhar com um futuro para nossos filhos."
Giovanni e Maria tornaram-se pioneiros respeitados na colônia. Suas terras floresceram, e eles ajudaram outros imigrantes recém-chegados a enfrentarem os desafios. Embora a saudade da Itália nunca tenha desaparecido, eles encontraram um novo lar no Brasil, onde construíram uma vida de trabalho árduo e dignidade.
A carta de Giovanni, escrita no momento mais sombrio de sua jornada, tornou-se um símbolo de sua resiliência. Anos mais tarde, seus descendentes a preservaram como uma relíquia, lembrando que a coragem de um homem pode transformar o desespero em esperança.
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