A partida
A emigração italiana foi um fenômeno social com múltiplas causas que aconteceu no período compreendido entre as últimas décadas do século XIX até a década de setenta do século XX. Ela se caracterizou por uma enorme dispersão geográfica pelo mundo. A agricultura italiana do século XIX, era praticada ainda com técnicas primitivas, nos moldes quase medievais, e se caraterizava por um enorme atraso em relação as nações mais desenvolvidas da Europa, vindo assim sofrer com as importações a preços baixos do trigo americano e de outros cereais, também pela concorrência de alguns países europeus no comércio do petróleo e do vinho.
A valise de cartão tem sido o símbolo da emigração. Antes dela era o "embrulho": um pedaço de pano, no máximo um xale, para embrulhar os poucos pertences para levar para o novo país. A palavra feixe é muito utilizada em sentido figurado: cobrir, vestir, envolver da melhor maneira uma pessoa com roupas, panos pesados e abundantes para fazer um feixe. Em algumas das fotos da grande emigração que foram publicadas é possível ver as mulheres "embrulhadas", são elas próprias uma bagagem, pois vestem mais roupas, em camadas, para não deixarem os seus pobres e portanto preciosos bens abandonados nos porões dos navios.
Tanto no embrulho, como na valise de cartão, havia todo um mundo a preservar: memórias da família agora distante, um bilhete para um parente ou companheiro da aldeia, às vezes uma carta de apresentação para alguém que, por sorte talvez poderia dar uma ajuda, alguma comida, um instrumento musical ... um mundo, na verdade.
A chegada
No paraíso terrestre prometido pelos agentes de emigração, na realidade, as coisas eram diferentes. Imediatamente após o seu desembarque na terra prometida, os imigrantes logo se deram conta que haviam chegado à América como ela era e não como haviam sonhado. As imagens do céu na terra que encheram os olhos e a mente encontraram pouca confirmação nas pesadas formalidades burocráticas a que foram submetidas e, pelo menos nos Estados Unidos, muitos foram os que foram rejeitados principalmente por sofrerem de alguma doença incapacitante.
Os que tinham permissão para entrar no país eram tratados e negociados como em uma feira de gado ou mercado de escravos. Nos Estados Unidos, além disso, medidas restritivas de vários tipos foram introduzidas ao longo do tempo para limitar a extensão das correntes migratórias. Portanto, além de aplicar constantemente rígidas regulamentações sanitárias durante o período de quarentena na Ilha Ellis, em 1917 lançaram o chamado Teste de Alfabetização, após vinte anos de ameaças nesse sentido, e, por meio do controle do analfabetismo, impuseram um efetivo freio da imigração. Posteriormente, no início dos anos 1920, as cotas de acesso foram estabelecidas por lei. Na prática, as autoridades de imigração determinavam o número de imigrantes que podiam entrar no país para cada nacionalidade no período de um ano.
Na Argentina e no Brasil, países que acolheram grandes massas de emigrantes italianos, até o desembarque não foi fácil. Do navio, o acesso ao continente era feito após o transbordo em barcos e pequenas embarcações. Na Argentina o último trecho de era feito em carroças puxadas por cavalos, enquanto no Brasil, do porto de Santos, chegava-se a São Paulo de trem. No Sul do país, como no Rio Grande do Sul, os imigrantes chegavam até as distantes colônias italianas recém criadas para recebe-los, subindo lentamente por caudalosos rios, como o Caí e o Jacuí, a bordo pequenos vapores, até os municípios próximos e a partir desses pontos enfrentavam a pé e carroças a penosa subida da serra que durava até três dias.
Uma vez chegados ao porto de desembarque no Brasil, as pessoas eram alojadas em estruturas de recepção o hotel e a Hospedaria para imigrantes, esperando que os contratantes viessem recebe-los. Os imigrantes que se destinavam ao Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, tiveram outros destinos, eram recebidos por funcionários da imigração que os acompanhavam até a colônia a que estavam destinados.
Os governos, dos países que recebiam imigrantes, forneciam informações gerais sobre os costumes e tradições locais, bem como a ajuda de algumas agências de emprego que, no entanto, funcionaram de maneira limitada.
O emigrante somente contava com a rede de familiares, amigos e conterrâneos que, já tendo vivido o êxodo, ou já estabelecidos, os orientavam nas diversas fases da sua expatriação e facilitavam a sua inserção no país de destino.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS