Espaço destinado aos temas referentes principalmente ao Vêneto e a sua grande emigração. Iniciada no final do século XIX até a metade do século XX, este movimento durou quase cem anos e envolveu milhões de homens, mulheres e crianças que, naquele período difícil para toda a Itália, precisaram abandonar suas casas, seus familiares, seus amigos e a sua terra natal em busca de uma vida melhor em lugares desconhecidos do outro lado oceano. Contato com o autor luizcpiazzetta@gmail.com
domingo, 7 de abril de 2024
Emigração Italiana na Romênia: Impacto Cultural e Contribuições ao Desenvolvimento Socioeconômico
terça-feira, 28 de novembro de 2023
A Saga Italiana nas Fazendas de Café de São Paulo: Uma História de Determinação e Sucesso
Os Imigrantes Italianos nas Fazendas de Café de São Paulo
Com o início da imigração subsidiada, nos anos 1884 até 1886, milhares de imigrantes europeus, especialmente, italianos foram introduzidos no estado de São Paulo, dando início a criação de um mercado de trabalho livre no Brasil.
Com os movimentos abolicionistas cada vez fortes, a proibição de trazer novos escravos e, logo depois, com a abolição da escravidão no país, com a Lei Áurea, o trabalhador europeu foi trazido para substituir aquela mão de obra escravizada, tão necessária para o surgimento da cultura cafeeira paulista e sua expansão para outros estados do Brasil.
Milhares de italianos do norte da Itália, a sua maioria composta por imigrantes originários da região do Vêneto, foram assentados pelo interior do estado, nas grandes fazendas de café.
Desde início os grandes produtores de café deram preferência em trazer esses trabalhadores acompanhados de suas famílias. Eram assentados nas grandes fazendas de café, empregandos no sistema de relação trabalhista conhecido como colonato. Daí surgiu o termo colono, a denominação dada a esses trabalhadores.
O colono era uma espécie de trabalhador que não trabalhava isoladamente em sim era inserido com todo o seu núcleo familiar. Quando então o fazendeiro contratava o colono estava na verdade contratando toda a sua família, com o seu chefe passando a ser o responsável na execução das tarefas diárias que deviam desempenhar.
Devido a proporcionalidade, os imigrantes que tivessem famílias maiores levavam vantagem sobre aquelas que tinham poucos membros, pois, poderiam cuidar de um maior número de pés de café e assim conseguirem permissão para usar uma maior extensão de terra para cultivar. Os ganhos dessas grandes famílias com os excedentes comercializados seriam maiores e teriam maiores chances de melhoria social. Assim ter uma família grande era uma estratégia do colono para aos poucos melhorar as suas condições de vida.
O colono era assim ao mesmo tempo um empregado assalariado, um trabalhador de subsistência, pois devia plantar para suprir a alimentação para a família, era também um produtor, um negociante de produtos agrícolas e um consumidor.
O colono e sua família estavam responsáveis pela limpeza do cafezal, da colheita do grão, do plantio de alimentos e também, podiam ser convocados para outros serviços da fazenda, os quais, conforme o seu contrato, podiam ser remunerados ou não.
Conforme o acerto que tinham com o fazendeiro, o colono recebia como pagamento pelo serviço de limpeza, um valor fixo em dinheiro, valor esse proporcional a cada mil pés de café que estivessem ao seu cuidado, isso por 3 a 5 vezes ao ano.
Na safra o colono recebia uma quantia em dinheiro, proporcional ao volume de grãos de café colhidos.
O colono podia usufruir de moradia gratuita e do uso de outras benfeitorias da fazenda. Plantava milho, arroz e feijão em locais determinados pelo fazendeiro e podia manter uma pequena horta ao redor de casa, criar alguns animais pequenos, como aves e porcos, e utilizar do pasto para umas poucas vacas e cavalos.
Essa produção independente fornecia o alimento para a sua família e o excedente era vendido ao fazendeiro ou nas vilas e cidades mais próximas da fazenda.
Erechim RS
quinta-feira, 16 de novembro de 2023
A Grande Viagem nas Entre Linhas das Cartas dos Imigrantes Italianos
Através dos seus bilhetes e das suas cartas podemos avaliar como foi a vida e a longa viagem dos emigrantes italianos para atravessar o grande oceano.
Por meio delas podemos hoje aquilatar os inúmeros sofrimentos enfrentados por aqueles pobres emigrantes, desde a saída das suas vilas de origem, os dias de angustiante de espera no porto para o embarque, os seus medos e temores pela travessia do grande oceano.
São notas, apontamentos, bilhetes e cartas redigidas quando ainda se encontravam em alto mar, no lento barco que os transportava para uma nova vida. Esses escritos nos relatam, além das peripécias da travessia, também as inúmeras frustrações e os problemas que encontraram quando da chegada ao destino final.
As cartas se tornaram rapidamente o grande elo de ligação do emigrante com os seus familiares deixados na Itália. A grande maioria deles não era alfabetizada e muito pouco usavam a escrita no seu dia a dia, se valiam de terceiros para mandar notícias aos seus entes queridos.
Através dessas correspondências podemos hoje compreender o difícil aprendizado que foi necessário para eles, tanto para os que emigraram como também para aqueles que ficaram em casa, a necessidade de se adaptarem com a leitura e com a escrita necessárias para os tramites burocráticos legais para emigrarem e depois, quando já na nova pátria, para enviarem as suas notícias e manterem o elo com a família, com os parentes e amigos que ficaram.
A necessidade de aprender o idioma corrente do país de adoção necessitou um grande esforço dos emigrantes. Esses esforços para a adaptação a nova pátria também fica evidenciado nas inúmeras cartas que enviavam, onde podemos constatar a contaminação progressiva da língua italiana, e mais frequente com os dialetos, com a inclusão de palavras da língua do país de adoção.
Os primeiros emigrantes que partiram da Itália, nos últimos vinte anos do século XIX, eram quase todos pequenos agricultores e artesãos que usavam somente os seus dialetos locais para se comunicarem.
A grande maioria era composta de analfabetos ou semianalfabetos, especialmente as mulheres. Muito poucos deles conheciam a língua oficial da Itália, até mesmo aqueles que não tinham emigrado. O ensino público era deficitário e as escolas muito escassas, especialmente nas pequenas vila do interior. A Itália naquela época era um país carente de recursos e ainda muito jovem, com uma língua nacional pouco difusa, usada pelas pessoas mais abastadas da classe dirigente, essas quase que totalmente concentrada nas grandes cidades ou entre o pessoal administrativo do país.
Alguns aspectos do longo e fadigoso percurso migratório dos emigrantes italianos podem ser avaliados pelas suas correspondências enviadas a partir de quando chegaram a sua nova pátria.
Muitos de seus escritos: cartas, bilhetes e apontamentos, o fizeram quando ainda estavam no porto, esperando pelo embarque ou durante os monótonos e intermináveis dias da longa viagem através do oceano.
Para aqueles que escolheram o Brasil, a dificuldade para enviar uma carta era muito grande. Os que foram para o Rio Grande do Sul estavam no meio do nada, abandonados nas grandes florestas do sul do Brasil e o correio ficava muito distante das colônias em que viviam. Para aqueles outros destinados às lavouras de café de São Paulo e Espírito Santo, apesar de encontrarem mais próximos de pequenas cidades, as dificuldades também eram grandes e o transporte dependia da vontade do fazendeiro.
Inúmeras cartas de imigrantes italianos para as suas famílias foram bem preservadas e chegaram até os dias de hoje. Nelas podemos entender os fatos ocorridos desde a partida no porto até a chegada na terra prometida. Ao contrário da literatura italiana da época, os escritos dos emigrantes foram ricos na descrição dos fatos ocorridos, particularmente, as condições de vida a bordo daqueles precários e lento navios.
Talvez por motivos políticos no período liberal e depois durante o fascismo, na literatura italiana muito pouco encontramos sobre essa grande aventura migratória, que no último lustro do século XIX e primeiros anos do século XX, envolveu milhares de italianos que, fugindo do seu país, se dirigiam em massa para terras distantes, localizadas do outro lado do oceano, para encontrar refúgio em países em desenvolvimento especialmente o Brasil, Argentina e Estados Unidos.
Duas únicas excessões a essa aparente falta de interesse, são as publicações de Edmundo De Amicis, com seu livro "Sull'oceano" e a de Luigi Capuana no livro "Gli americani di Ràbatto", este um testo preferentemente destinado para adolescentes, que descreve a vida dos imigrantes italianos que escolheram os Estados Unidos como a nova pátria.
O livro de De Amicis, no entanto, foi escrito como uma forma de reportagem jornalística, dando minuciosa atenção na descrição da sua viagem para a Argentina, no ano de 1884, em um navio de emigrantes italianos. A vida a bordo foi bem descrita, especialmente, aquela da terceira classe, onde estavam centenas de emigrantes.
Pela narrativa dos imigrantes em suas cartas e bilhetes para casa, podemos ver que a tão imaginada Mèrica, la terra della cucagna, não era mais que um sonho, uma fantasia repetida pelos, nem sempre honestos, recrutadores em suas vilas. A realidade encontrada nas terras do Novo Mundo era muito diferente daquilo que tinha sido oferecido antes da assinatura do contrato de emigração.
Erechim RS