A história da emigração italiana pode ser dividida em quatro fases: a primeira de 1876 a 1900; a segunda, do início dos anos 1900 até a Primeira Guerra Mundial; a terceira coincide com o período entre as duas guerras e finalmente a última fase vai do segundo pós-guerra até o final dos anos sessenta.
Cada fase é identificada por vários fatores econômicos, sociais e políticos. A primeira grande depressão mundial (1873-79) envolveu o colapso dos preços dos alimentos e a consequente política protecionista adotada pelo governo, atingindo duramente os agricultores. Isso levou milhares de pessoas a buscar maneiras de sobreviver fora da Itália. A combinação de crise política econômica e liberal, portanto, está na base da emigração italiana desse período.
A segunda fase da emigração, que vai do início dos anos 1900 até a Primeira Guerra Mundial, corresponde ao início do processo de industrialização na Itália.
A terceira fase coincide com o período entre as duas guerras mundiais: que vê a emigração em declínio acentuado devido à crise econômica mas também a algumas restrições legislativas instituídas por alguns países de imigração a um certo número de “admitidos”.
A quarta fase é caracterizada por um crescimento inicial da imigração, mas mais tarde nos anos sessenta ela se esgota.
Após a restrição de trinta anos favorecida pela decisão anti emigração fascista, a Itália mais uma vez alimentou novos fluxos migratórios, levando quase 7 milhões de pessoas para o exterior e trazendo 3,6 milhões de volta para casa.
A chave expansionista privilegiou as áreas latino americanas porque careciam de mão de obra e eram abundantes em terras onde existiam núcleos rurais inteiros que deram origem às colônias.
Até 1870 houve um despovoamento das áreas montanhosas do norte da Itália que se baseavam em pequenas atividades agrícolas e de pastoreio. Esses movimentos alimentaram a emigração transatlântica até atingir picos entre 1890 e 1900.
É claro que a emigração para a América do Sul foi estimulada pelos interesses dos estados e pelas companhias de navegação que cuidavam do transporte dos emigrantes. No Brasil não faltou terra para cultivar de fato, a oferta superou a demanda enquanto a Itália estava entre os países mais pobres e com maior índice demográfico.
Além do fator socioeconômico, havia também o político: os jovens eram obrigados a prestar o serviço militar, portanto, ao emigrarem, evitavam ser chamados.
Os agentes de emigração percorriam as aldeias em dias de feira ou mercado e descreviam o Brasil como o país da “Cuccagna” onde a renda seria segura. De qualquer forma, foram necessários bons motivos para sair e ao mesmo tempo esperanças, objetivos e expectativas ideais para poder alcançar. "Mérica" foi um grande mito que significava emancipação, redenção e liberdade. Para o Vêneto rural, esta fuga representou uma redenção social, pois o seu apego à comunidade e à família o fez que pudessem recriar e reafirmar o mesmo modelo cultural.
A emigração foi considerada tanto como elemento de conservação quanto como fenômeno de ruptura da ordem tradicional. Na realidade, no fenômeno da emigração coexistiram continuidade e mudança, tradição e inovação, conservação e transformação para a construção de uma nova ordem em relação à original. No final do século XIX, a emigração representou um elemento de transformação dos hábitos de consumo e alimentação tanto nos locais de êxodo como nos de partida.
E proprio grazie alle interviste fatte dal Professor Giovanni Meo Zilio ai discendenti di emigrati veneti è possibile ricostruire in parte la loro esperienza di esodo in Brasile. Os depoimentos não são vividos em primeira pessoa, mas os entrevistados contam o que os protagonistas viram anteriormente com seus próprios olhos: a descida, a viagem, o motivo da fuga, a colônia, o trabalho são apenas alguns dos temas presentes nesses contos.
O historiador Emilio Franzina, que trata da emigração para a América do Sul, destaca a importância das memórias autobiográficas e dos testemunhos diretos, pois são histórias seletivas onde a importância recai sobre objetos significativos, situações particulares e atmosferas, além das condições anteriores à partida.
Afetado o Veneto por todo tipo de calamidades: más colheitas e impostos excessivos; os camponeses ficaram com apenas uma perspectiva positiva: a fuga para o Brasil. Inicialmente foi necessário seguir as estradas clandestinas, geralmente por Marselha, pois o governo italiano tendia a impedir as saídas: só em 1876 é que a emigração foi oficialmente reconhecida.
E foi em 1876 que partiram os primeiros contingentes carregados de venetos, os mesmos que então entregaram ao mundo os filhos e netos que nos transmitiram suas histórias e suas vicissitudes por meio de depoimentos orais: as entrevistas. As fontes examinadas são entrevistas realizadas pelo professor Giovanni Meo Zilio que por vários anos lecionou literatura espanhola na Universidade de Veneza e Pádua e que nos anos 1996-1997 entrevistou os descendentes do Vêneto que partiram para o Sul do Brasil. A pesquisa de campo permite-lhe compreender a sua língua, cultura e tradição transmitidas pelos emigrantes venetos através de histórias. As entrevistas são divididas em perguntas e respostas entre o professor e o entrevistado, que são expressos em "Talian". O desenvolvimento linguístico e social ocorrido no Brasil é considerado de fundamental interesse. Os emigrantes trouxeram sua língua veneta para as terras a serem colonizadas com interferência da língua lusitana.
A principal língua falada pelos emigrantes do Vêneto assim que chegaram ao Brasil foi certamente essa mistura de dialetos venetos.
O dialeto é considerado uma língua falada em seu país através de jargões que não são estritamente linguisticamente corretos. Eram pessoas que vieram da região de Veneto, a maioria deles originalmente de áreas rurais, caracterizadas por um espírito rústico que tinha bases culturais e tradicionais ligadas às raízes camponesas.
Assim, a partir destes testemunhos em "Talian", procurei reconstruir o percurso migratório através da cultura e da língua, com o auxílio de material bibliográfico inerente à primeira vaga migratória, procurando depois amalgamar as informações que me permitiram fazer mais o retrato do tempo é explicativo.
Tudo isso foi possível também graças à ajuda do professor Antonio Diano que administra o arquivo histórico do Centro Interuniversitário de Estudos Venezianos, permitindo-me vasculhar o arquivo em busca de material útil para o tema escolhido, tentando assim ressurgir aqueles cassetes áudio, que me permitiram delinear os traços sociais, culturais e tradicionais dos descendentes de emigrantes venetos.
Muitos investigaram e escreveram sobre o assunto em questão e nos últimos anos temos presenciado a presença de inúmeros testemunhos a respeito. As análises que contam a vida dos emigrantes encontram quase sempre um julgamento comum, sobretudo pelo fato destes episódios terem ocorrido poucas décadas após o inquérito. Não faltaram testemunhos diretos e este fenômeno encontrou muitas vezes respostas unívocas que nos permitem traçar uma imagem homogénea sobre as vicissitudes enfrentadas pelos nossos emigrantes.
Estes atravessaram o oceano sofrendo na pele do início ao fim de sua aventura: a jornada, a inserção em um ambiente sociocultural com molde escravista, trabalho árduo, cultura, tradição e distanciamento da família. Mas são precisamente estes últimos que permitiram o desenvolvimento de uma economia rica e um progresso indubitavelmente positivo na sociedade
O emigrante veneto esbarra com aquele Brasil feito de surpresas e decepções, talvez mais surpresas do que decepções, pois em cada situação encontrou uma forma de se adaptar e aproveitar o pouco que lhe foi oferecido. Diante das piores condições, o emigrante procura não desanimar, pelo contrário, tem fé em Deus, segurança na família e garantia da terra.
Adaptou-se sem dificuldade, instalou-se. Ele não era um tolo. Ele não esperava grandes mudanças: devemos pensar que a maioria dos emigrantes eram camponeses, capazes de cultivar a terra e acostumados a cultivar ilusões. O Brasil não era a terra dos brinquedos, mas a esperança os sustenta em seu grande empreendimento.
1. Primeiros passos rumo ao Brasil
No final do século XIX, cerca de 6 milhões de italianos emigraram para o Brasil. Este país havia sido identificado como terra para atividades rurais. A imigração italiana experimentou entre 1887-1902 um fluxo de 900.000 pessoas que consideravam a América sinônimo de Brasil.Após 1902, o fluxo diminuiu devido à decisão do governo italiano de proibir a emigração subsidiada, após denúncias sobre a situação dos italianos que eram considerados escravos brancos nas fazendas.
Devemos então somar 3,5 milhões de unidades de 1901 a 1906, com picos anuais em 1905/1906 que ultrapassaram 700.000 unidades. Após o decreto, expedido pelo governo brasileiro em 6 de agosto de 1914, o fluxo de emigração diminuiu, pois foi impedida a emigração de pessoas sujeitas ao recrutamento militar.
A historiografia brasileira relata as mais variadas periodizações a respeito da imigração. A história da imigração é dividida em três fases a partir de 1877, data em que o primeiro grupo significativo de italianos chegou ao estado de São Paulo. O primeiro período vai até 1895: é a fase da imigração italiana em grande escala, na qual o imigrante convive com os escravos. O segundo período vai de 1895 a 1905: a imigração nesse período, porém, registrou um decréscimo e depois recomeçou no terceiro período: depois de 1905, com a introdução dos elementos portugueses e espanhóis.14 A emigração italiana para o Brasil teve um ' alto percentual de venezianos, que chegou a 47,68% do total; mesmo em algumas regiões do sul do Brasil chegou a 90%. Mesmo aqueles que chegaram mais tarde vieram principalmente do Vêneto e em particular de Vicenza e depois de Trentino, Tirol, Basilicata e Abruzzo.
O fim da escravidão coincidiu com a imigração em massa de italianos e os fazendeiros pressionaram tanto as autoridades públicas que em 1888 80.749 italianos chegaram a São Paulo com viagens pagas. Em 1887, foram registrados 27.323, que somados aos dados anteriores chegam a um total de 108.000 indivíduos por dois anos.
De 1874, ano em que ocorrem os primeiros registros de chegadas, até 1888 a província dos fazendeiros de café recebeu 129.040 imigrantes italianos e nos três anos seguintes entraram outros 124.502,16.
Em 1875, primeiro a crise econômica e depois a agrícola contribuíram para o crescimento de emigrantes vindos principalmente das áreas montanhosas do Vêneto. As condições atrasadas da agricultura e da indústria, o advento na Itália do estado liberal unitário e a carga tributária foram apenas alguns dos fatores que desencadearam a partida dos emigrantes.
De fato, as causas que desencadearam o êxodo dos venetos podem ser classificadas de duas maneiras: a primeira foi determinada pelo desemprego, pelas precárias condições de vida e de trabalho que afetaram não apenas as camadas sociais mais baixas, mas também os pequenos proprietários. E foi este último que iniciou a política de imigração.
Enquanto a segunda causa está na área de chegada ou na política de população e colonização do governo brasileiro. Como este último desenvolveu várias propagandas para atrair mão de obra agrícola europeia para seus territórios. Os primeiros contingentes de emigrantes que deixaram a Itália eram principalmente do Vêneto e os destinos escolhidos foram Brasil e Argentina. O Brasil mostrou a necessidade de mão de obra gratuita a ser utilizada nas inúmeras fazendas em fase de desenvolvimento econômico. Os emigrantes italianos, oriundos de uma sociedade rural, deslocaram-se no final do século XIX para este mundo camponês e artesanal sob diferentes climas. Uma experiência única que deixou uma profunda marca italiana em alguns grandes países da América Latina. A possibilidade de iniciar uma nova vida mudou o horizonte cultural da sociedade rural italiana e constituiu uma das forças profundas de sua transformação.
A partida era considerada uma espécie de empreendimento dos pobres que, para conseguir dinheiro para comprar a passagem do navio, vendiam terrenos ou pediam empréstimos. Às vezes, toda a família disponibilizava suas economias para permitir que um dos membros tentasse a sorte em todo o continente.
Por outro lado, a Itália em 1870 estava entre os países mais pobres e com o maior índice demográfico. A superpopulação, a falta de terra arável, causou uma desproporção entre a oferta e a demanda de trabalho. Já no Brasil a demanda superou a oferta. Foi essa desigualdade que iniciou a grande emigração para o Brasil e outros países. Além disso, não se deve esquecer que o Brasil precisava de mão de obra para as plantações de café, que estavam em grande expansão, assim como a escassez de mão de obra agrícola se aproximava devido à eliminação da escravidão ocorrida em 1888.
E é sempre por volta de 1870 que as barreiras alfandegárias foram demolidas permitiu a evolução do mercado internacional. Na verdade, a economia italiana subiu no final do século XIX viveu uma profunda crise. A indústria algodoeira, líder da industrialização inglesa, foi a primeira a sofrer, pois a redução da tarifa alfandegária gerou desequilíbrios, alimentando o sinal verde para os produtos britânicos. Além disso, a Guerra Civil Americana bloqueou a importação de matérias-primas.
A unificação do mercado interno não foi, portanto, menos traumática do que a liberalização do comércio exterior, como afirma Andreina De Clementi no capítulo Partidas do livro História da emigração italiana. Desta forma as criticidades das indústrias dos estados antigos ficaram mais evidentes e as mais competitivas, eliminando as mais antiquadas.
As quatro principais regiões migratórias foram Lombardia, Piemonte, Ligúria e Vêneto que inicialmente enviaram principalmente forças masculinas enquanto Vêneto foi a única região de onde saíram famílias, companhias de amigos e parentes e é objeto constante de estudos e pesquisas por ser uma região com um certo estado de agricultura que alimentou uma fuga progressiva dos campos dos camponeses para a América!
Antes de partir, os camponeses venezianos venderam tudo o que tinham: animais, terras e vários objetos para arrecadar algum dinheiro. Inicialmente a viagem não foi financiada pelo governo, portanto a passagem de Gênova para o Brasil variou entre 160 e 200 liras. Mas em 1887, com o aumento da emigração, a prática de viagens gratuitas, ou seja, pagas por agências de emigração filiadas aos governos dos países americanos mais interessados em chamar o fluxo de emigrantes venetos para seus territórios, se espalha.
O Brasil enfrentava dois problemas: por um lado, a necessidade de encontrar mão de obra adequada para substituir o trabalho escravo nas fazendas e, por outro, a urgência de colonizar efetivamente diversas áreas despovoadas.
2. O nascimento das colônias
Emigrar é sinônimo de "ir para a América" e para muitos América é sinônimo de Brasil: Iremos para a Mérica em tel bel Brasile ou se ouve a América cantando / vamos ao Brasil popular / Brasil: esses são apenas alguns versos de os muitos cantos recorrentes nas vozes dos emigrantes que não escondem o desejo de chegar às plantações ultramarinas "onde está a colheita do café".
A política fundiária e o crescimento demográfico do Brasil condicionaram, tanto na fase monárquica quanto na fase republicana após 1889, os destinos das correntes imigratórias atraídas para os territórios brasileiros por incentivos e subsídios.
O governo monárquico dedicou-se a uma colonização da propaganda: os subsídios para sustentar os custos de construção de novas colônias eram muito altos; a terra parecia ser o único fator de produção abundante no Brasil, mas não era de fácil acesso. Infelizmente, ao longo dos séculos, a aristocracia fundiária monopolizou a terra por meio de concessões reais, compra ou ocupação. Em 1850, a Lei de terras proibia qualquer pessoa de possuir a terra, exceto por meio de compra. Mais tarde, com a Constituição Republicana, de 1891, foi declarado que as terras estatais e sua colonização pertenciam aos Estados.
Com o advento da República assistimos a um forte aumento demográfico graças sobretudo ao fluxo emigratório da Itália que tomou o caminho dos estados do sul das antigas possessões portuguesas, alimentando a demografia italiana no Brasil durante 25 anos.
Em 1818 nasceu a primeira colônia, perto do Rio de Janeiro: Nova Friburgo e em 1824 no Rio Grande do Sul nasceu São Leopoldo graças a fazendeiros alemães e poloneses. No sul do Brasil ou no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná proliferaram os núcleos coloniais graças, sobretudo, às condições climáticas e culturais favoráveis da região, que permitiram aos imigrantes colocar em prática os conhecimentos adquiridos na Europa.
A microrregião histórica do Rio Grande do Sul é dividida em três partes:
- Territórios das três colônias ao sul do Rio Das Antas, fundadas em 1875: Colônia Caxias, Colônia Dona Izabel, Colônia Conde d’Eu. A estes deve ser adicionado o território do pequeno núcleo colonial de São Marcos, fundado em 1883. A maioria dos colonos eram agricultores, mas os primeiros a chegar foram os comerciantes de gado de Caì. As terras foram medidas, demarcadas e ocupadas
- Territórios das duas colônias ao norte do Rio das Antas, fundadas respectivamente em 1884 e 1885: Colônia Alfredo Chaves e Colônia Antônio Prado, divididas pelo Rio da Prata. Durante décadas Antonio Prado foi considerado um centro comercial que se comunicava com Porto Alegre e Caxias.
- Territórios da colônia Guaporé, fundada em 1892, limitada a leste pelo Rio Carreiro.
A família da fazenda recebeu lotes de terra resgatados em parcelas depois de ter feito a primeira colheita.
As terras em questão foram colocadas à disposição dos colonos, mas com cláusulas a serem respeitadas: uma lei quadro que garantia seu resgate ou aquisição. A disposição, lei geral n. 601 de 1850, concedeu o direito de cidadania a todos aqueles que tivessem maturado dois anos de residência nas colônias, habitando-as e cultivando um lote rural.
No Brasil, a colônia pode ser pública ou privada com base na entidade proprietária da terra ou que em qualquer caso funda, organiza e administra o desenvolvimento e a concessão dos lotes. Uma colônia poderia ser definida como o conjunto de territórios que permaneceram sob a administração do escritório do governo responsável pela colonização. Mais tarde, a colônia foi atribuída ao regime de administração local, quer como distrito de município pré-existente, quer por construção direta em município autônomo.
A família da fazenda tinha a tarefa de preparar a terra para o cultivo, semear e construir sua própria casa. Todos os membros da família trabalhavam: as crianças no campo, as mulheres eram empregadas nas culturas de exportação e nas atividades domésticas.
Assim que chegaram ao seu destino, após a atribuição pela Direção de Imigração e Colonização dos terrenos, a primeira tarefa do emigrante era delimitar a propriedade.
O mundo da fazenda era justamente um mundo de segregação e violência, o termo liberdade não era permitido tanto que se um emigrante tivesse uma dívida pendente com o proprietário da terra, este poderia manter qualquer refém coletado. E como argumenta Ângela Trento no livro Onde está a colheita do café: é proibido ler jornais, promover reuniões patrióticas e feriados nacionais nas fazendas.
A atribuição da colônia foi confiada a chefes de família que recebiam subsídios para cobrir as primeiras despesas e a construção da casa definitiva. O tamanho dos lotes variou de um mínimo de 25 a um máximo de 60 hectares onde foi construída a primeira casa, assumindo também a tarefa de abrir estradas e caminhos na floresta para delimitar o limite do que viria a ser sua propriedade.
O sistema de fazendas favoreceu a inserção das massas. As três importantes províncias imperiais correspondentes aos atuais estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul foram as que mais impulsionaram o crescimento populacional e econômico local e ocorreram os casos mais bem sucedidos de colonização agrícola.
No entanto, o modelo que se estabeleceu baseou-se no uso de trabalhadores na grande prevalência do Vêneto, pois no final do século XIX o Brasil estava em um momento de transição do regime monárquico para o positivista do chamado "Velha República", que é o período da passagem decisiva de um sistema oligárquico e latifundiário baseado na exploração do trabalho servil da lavoura para um sistema que, abolida a escravidão, pretendia acompanhar os tempos e as regras do capitalismo visando a a rápida modernização, inclusive industrial, de suas próprias estruturas produtivas graças ao crescente uso de mão de obra livre.
Durante a segunda metade do século XIX, os modelos privilegiados de colonização no Brasil visavam alcançar os seguintes resultados: povoar grandes áreas demograficamente vazias ou escassamente habitadas por brancos de origem do norte da Europa; equilíbrio dos componentes indígenas e afro-americanos pré-existentes no país; criação de estratos sociais intermediários baseados em áreas rurais e, finalmente, o estabelecimento de grupos suficientemente reativos, dinâmicos e coesos em áreas sob os mais diversos aspectos de "fronteira".
Esse projeto político colonial teve sucesso graças à localização geográfica favorável da região do Rio Grande do Sul, que conseguiu produzir a espinha dorsal da presença do norte da Europa no Brasil, que se desenvolveu próximo a um crescimento regular de comunidades rurais originadas do processo de imigração na Brasil, província da Gaúcha, no Espírito Santo, em Santa Catarina e no Paraná. Aqui, registrou-se a prática de recrutamento pelas primeiras empresas privadas de colonização.
Em 1875, com a chegada dos primeiros contingentes de colonos, a colonização foi desencadeada e entrou em uma fase política brasileira sobre o assunto que já havia se aberto em 1850, que buscava racionalizar o mercado comercial tanto arquivando o sistema de concessões régias de um de tipo feudal e por estancar a prática da ocupação gratuita da terra com a obrigação de compra reforçada em 1858 pela criação de uma Agência Oficial de Colonização governamental e pelo surgimento de algumas empresas, tanto públicas como privadas.
Essa prática culminou em algumas medidas-chave com o objetivo de facilitar a entrada no país de verdadeiros agricultores para grupos de famílias e seu assentamento estável em locais pré-estabelecidos e disponibilizados em núcleos de mata virgem de extensão variável. O historiador Angelo Filipuzzi no livro O debate sobre a emigração divide os emigrantes que cruzaram o Atlântico em quatro categorias:
a primeira inclui indivíduos e famílias pertencentes às classes altas da sociedade européia, que obtiveram de seus governos concessões de territórios ou privilégios comerciais. [...]
A segunda classe incluía aquela horda de aventureiros que viajam para os novos países com a intenção de saquear e preparar sorte com meios mais ou menos legítimos e honestos e quase sempre fortuitos, e não com o de trabalhar e produzir. No terceiro, devem ser colocados os proscritos que, por motivos religiosos ou políticos, ou como punição por crimes comuns, tiveram que deixar a metrópole. Por fim, a quarta era composta por emigrantes pobres [...]. Muitas vezes este último, para pagar o preço do transporte, pactuava com o capitão, ou com empreiteiros especiais, uma alienação, aparentemente temporária e na verdade não raro perpétua, dos bens pessoais liberdade e seu trabalho.
Das quatro categorias, a de maior importância certamente é a última, pois emigram por uma causa justa: uma questão econômica e de sobrevivência. É raro os ricos emigrarem através do oceano com seus tesouros, e se isso acontecer eles estão cientes de seu retorno e trata-se de uma operação de especulação comercial.
Um dos mais importantes decretos imperiais foi o de 1867 que abriu o caminho para a estipulação de contratos especiais com agentes importadores de imigrantes e depois para chegar à famosa lei que prenunciava a abolição do trabalho servil e a necessidade, portanto, de prever a sub-rogação de graus de trabalho escravo negro.47 Os diversos projetos de abolição da escravatura que se sucederam a partir de 1871 incluíam dispêndios monetários não negligenciáveis para o Estado, devido a indenizações aos proprietários. O Estado assumiu duas despesas: ressarcir os proprietários de escravos e subsidiar a chegada de imigrantes.
A dupla imigração em massa - abolição da escravatura condicionou a vida dos colonos italianos nas fazendas de café: desde a sua introdução, desde a viagem até as imposições que o fazendeiro exercia sobre o trabalhador livre. O governo provincial, depois de pagar a viagem às famílias de agricultores, acumulou as pessoas mais pobres para que não pudessem mais repatriar ou cuidar de si mesmas. O primeiro grande fluxo migratório de 1888 está ligado à lei de abolição da escravatura que permitia aos latifundiários a possibilidade de se abastecerem de mão-de-obra gratuita.
Apesar disso, o Brasil precisava de mão de obra barata para continuar a introduzir produtos a preços baixos para os consumidores europeus no circuito de comércio internacional. Era preciso encontrar um sistema que fosse satisfatório tanto para o proprietário quanto para o imigrante: a técnica de trabalho por peça adotada nas fazendas de São Paulo só facilitava para o proprietário.
Mais tarde, estes últimos foram obrigados a pressionar pela introdução dos emigrantes, que receberam um lar temporário e vários subsídios.
No entanto, deve-se lembrar que os fluxos migratórios estiveram ligados à evolução do preço do café, pois os fatos mostram que quando o preço desse produto no mercado internacional estava alto, havia uma tendência de aumento da imigração, enquanto o contrário ocorreu quando a cotação se contraiu. Os diversos projetos de abolição da escravatura que se sucederam a partir de 1871 previam desembolsos monetários não negligenciáveis para o Estado, em função das indenizações aos proprietários. O Estado assumiu duas despesas: ressarcir os proprietários de escravos e subsidiar a chegada de imigrantes.
A dupla imigração em massa - abolição da escravatura condicionou a vida dos colonos italianos nas fazendas de café: desde a sua introdução, desde a viagem até as imposições que o fazendeiro exercia sobre o trabalhador livre. O governo provincial, depois de pagar a viagem às famílias de agricultores, acumulou as pessoas mais pobres para que não pudessem mais repatriar ou cuidar de si mesmas. O primeiro grande fluxo migratório de 1888 está ligado à lei de abolição da escravatura que permitia aos latifundiários a possibilidade de se abastecerem de mão-de-obra gratuita.
Apesar disso, o Brasil precisava de mão de obra barata para continuar a introduzir produtos a preços baixos para os consumidores europeus no circuito de comércio internacional. Era preciso encontrar um sistema que fosse satisfatório tanto para o proprietário quanto para o imigrante: a técnica de trabalho por peça adotada nas fazendas de São Paulo só facilitava para o proprietário.
Mais tarde, estes últimos foram obrigados a pressionar pela introdução dos emigrantes, que receberam um lar temporário e vários subsídios. No entanto, deve-se lembrar que os fluxos migratórios estiveram ligados à evolução do preço do café, pois os fatos mostram que quando o preço desse produto no mercado internacional estava alto, havia uma tendência de aumento da imigração, enquanto o contrário ocorreu quando o preço foi contratado.
2.1 As empresas colonizadoras
Com esta pesquisa procuro examinar a formação de grupos sociais na comunidade italiana, refazendo assim o caminho dos imigrantes em direção às colônias de Porto Alegre e Rio Grande do Sul, coletando informações relativas ao assentamento dos primeiros elementos, os motivos que podem justificar o motivo dessas dotações, os aspectos relativos à formação desses fazendeiros italianos e os preconceitos que foram criados contra eles e o processo de preservação da identidade.
O olhar centra-se nos movimentos dos imigrantes, destacando os motivos que favoreceram a grande emigração e fixação nas colônias de Porto Alegre, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A sociedade rural nunca foi uma sociedade imóvel e fechada justamente porque não podia contar com uma economia autossuficiente, portanto o trabalho no campo era uma atividade produtiva fundamental. No final do século XIX, nas sociedades rurais, o mal-estar pairava sobre elas: o mundo do campo parecia em declínio porque foi ultrapassado por aquele mundo industrial em evolução. O mundo estava ficando menor, os continentes mais próximos.
A criação de uma densa rede rodoviária, a expansão das ferrovias acelerou os movimentos de pessoas, bem como as trocas comerciais. Ficou mais fácil chegar a uma estação ou porto que levasse ao local desejado. No final do século XIX essa sociedade rural tentou povoar esses territórios sem limites; a existência da América transformou a crise do campo europeu em aumento do mercado de trabalho.
Como afirma o escritor Piero Bevilacqua no livro História da emigração italiana:
O novo mundo, descoberto pelos europeus no final do século XV, estava agora se tornando um enorme novo território de reserva para sua grande e faminta população. E a emigração em massa que começou nessa fase nada mais foi do que a manifestação de uma nova dimensão, sem fronteiras nacionais, do mercado de trabalho, agora projetada em nível global.
Empresas privadas, de propriedade dos descendentes de imigrantes europeus, colonizaram a maior parte do estado do Rio Grande do Sul. No que diz respeito à venda de terras, a legislação republicana permitia muitas liberdades a este respeito, pelo que as terras podiam ser compradas e vendidas com muita frequência e tornou-se tudo uma moeda de troca. No período imperial, adotou-se um sistema de colonização fracionada que previa a subdivisão das terras em dezenas de núcleos coloniais. Esses empreendimentos colonizadores a partir de 1914 operavam com maior intensidade à medida que o governo federal impedia subsídios à colonização. Era proibido apenas usurpar as terras do Estado e de particulares que reivindicassem sua propriedade de outra forma se ninguém reivindicasse sua posse, as referidas terras eram vendidas.
Com o início dos anos 1900, a ação das empresas desacelerou a compra e venda de terras e depois retomou em 1929 graças a um novo critério de venda: a publicidade em jornais e revistas.
Mais tarde os negócios tornaram-se legais, registrados na câmara de comércio, têm suas próprias terras para oferecer e os preços são bastante atrativos. Mas dando um passo atrás, essa emigração usufruiu das vantagens que desde 1875 o Estado brasileiro oferecia a quem quisesse se dedicar à colonização: viagens gratuitas para famílias coloniais da Itália para o Brasil, hospedagem, transporte e manutenção para a colônia, antecipação de ferramentas agrícolas, sementes e bois, uma pequena soma de dinheiro e alocação de terrenos a preços razoáveis.
O colono recebia um título de propriedade provisório que se tornava definitivo com a compra da terra, o que acontecia tanto nas colônias governamentais quanto nas privadas.
Com parcelas anuais, o pagamento dos territórios ocorria por um período que inicialmente era de seis anos e depois dez. A dívida do colono aumentava então com o pagamento da casa que, nas colônias privadas, era construída diretamente pela administração por meio de subsídios governamentais e depois vendida ao colono por um preço fixado em lei. Outras dívidas relacionadas com o adiantamento de sementes, ferramentas agrícolas, animais e as despesas de subsistência dos assentados durante os primeiros 9 meses. Nas colônias do governo foi concedido um empréstimo em dinheiro que foi usado tanto para a compra de tudo o que era necessário para o trabalho como para a construção da casa. Com essa concessão o colono poderia economizar. Além disso, a subsistência durante os primeiros meses era garantida pelo pagamento de um salário aos que se dispusessem a trabalhar no campo das obras públicas dentro da própria colônia.
Assim acontecia que nas colónias privadas o emigrante, sobrecarregado por um volume excessivo de dívidas graças também ao custo mais elevado dos terrenos, dificilmente conseguiria ultrapassar um rendimento pouco suficiente. Enquanto nas colônias governamentais, a dívida era menor e com menos juros, mas o emigrante ficava mais à própria sorte.
Quando os emigrantes chegavam ao seu destino eram enviados para os vários estados e depois hospedados gratuitamente nas hospedarias por alguns dias. Os principais centros de acolhimento foram os do Rio de Janeiro e São Paulo. No entanto, nos momentos de maior aglomeração, surgiu uma situação de confusão que fez com que os emigrantes vagueassem pelas ruas da cidade. As longas esperas nas hospedarias viram os emigrantes vendendo as poucas coisas que trouxeram para a viagem.
Os emigrantes chegaram aos seus destinos: se escolhessem as colônias, o governo arcava com as despesas de viagem; se, em vez disso, optassem pelas fazendas, tinham de esperar que os fazendeiros aparecessem no momento para firmar contratos verbais fictícios sem qualquer garantia.
Chegavam então às colônias por qualquer meio de transporte, às vezes até a pé, depois de horas de viagem ao sol e chuva. Uma vez chegados às colônias, os emigrantes seguiram estas operações: derrubando uma parte da floresta que ocorreu em 15-20 dias; depois foi feita a semeadura e finalmente outra área foi desmatada e cultivada, enquanto entretanto, nos campos esgotados, a vegetação crescia novamente. O primeiro ano não trouxe grandes lucros, mas depois da primeira colheita a situação melhorou. Isso também ocorreu devido ao deslocamento de colônias em áreas de difícil acesso.
No final da década de 1980, a emigração se deslocará mais para o estado de São Paulo porque o emigrante achou conveniente trabalhar nas fazendas de café do que cultivar um pequeno lote de cereais.
A expansão do café após 1888 não teria sido possível apenas com mão de obra escrava, pois não havia superávit populacional em São Paulo. Os pouco mais de 100.000 escravos não poderiam ter garantido o cuidado dos quase 700 milhões de pés de café registrados em 1904-1905, quando havia apenas 200 milhões em 1890-1891.
O jornal A Província de São Paulo, quase dez anos antes da abolição da escravatura, ilustrava a realidade: "Os escravos que restarem não serão suficientes para manter a agricultura nas grandes propriedades; e isso, longe de ser um mal, antes marcaria a era da prosperidade agrícola".
Desde o início, o objetivo daqueles que estimulavam a imigração era encontrar mão de obra para substituir os escravos nas fazendas.
Esse sistema adotado foi satisfatório tanto para os fazendeiros quanto para os emigrantes.
Para obter a terra, o imigrante primeiro tinha que passar um período de tempo nas plantações de café, durante o qual ganhava dinheiro e depois o usava na compra de sua própria terra.
Não é de surpreender que no estado de São Paulo tenha havido um fracasso total das colônias agrícolas: na lógica descrita, a colonização teria permitido a posse imediata da terra e um deslocamento do trabalho da economia cafeeira para uma que poderia se tornar não subsistência como em outras áreas do Brasil, mas no mercado, criando assim núcleos consumidores substanciais.
Nas fazendas o emigrante tinha três alternativas possíveis de colocação: parceria, salário e trabalho por peça. No estado de São Paulo, a parceria era quase inexistente, enquanto em Minas Gerais era mais difundida. Em São Paulo prevalecia o sistema de trabalho por peça e salário. Ao chegarem à fazenda, os emigrantes se dividiram: os assalariados se alojaram no centro da propriedade e os outros receberam uma casa na fazenda que lhes fora confiada.
O salário era inferior ao comunicado nas hospedarias. De qualquer forma, a economia cafeeira baseava-se no trabalho por peça. Os contratos incluíam algumas cláusulas:
- o fazendeiro não fez adiantamentos em dinheiro, ele forneceu o estritamente necessário.
- à família do assentado foi atribuído um certo número de plantas com a obrigação de realizar a capina.
- o assentado recebia seu salário quando atingia um certo número de safras.
- o pagamento era trimestral
- se realizassem tarefas adicionais, o fazendeiro pagava um excedente.
- alguns serviços eram gratuitos: limpeza das pastagens duas vezes por ano, reforço dos arames e postes de sebes, reparação da estrada de acesso à estação.
- se algumas tarefas não fossem cumpridas, o emigrante era multado.
- foi garantido ao colono o uso da casa, a possibilidade de cultivar alimentos
Esse sistema beneficiava tanto o fazendeiro, que minimizava o custo da mão de obra, quanto o assentado, que recebia uma renda monetária e podia se tornar proprietário de terras. O assentado sofreu muitas violações, desde atraso no pagamento e abusos na aplicação de multas.
As condições pioraram ainda mais em momentos de crise do café: assim, por exemplo, no período 1898-1904, a disciplina tornou-se mais rígida, a jornada de trabalho mais longa. A crise que levou à queda dos preços do café levou muitos fazendeiros à falência.
Nos casos de falência do fazendeiro, o colono raramente conseguia o que tinha direito e ainda não havia leis que o protegessem.
Só mais tarde, em 1904, os créditos do trabalhador serão reconhecidos como privilegiados.
No entanto, nem todos os nossos emigrantes encontraram uma integração estável no mundo do trabalho.
A colônia urbana italiana de fato incluía uma porcentagem de trabalhadores marginais. Era um pequeno exército, composto principalmente de sulistas, de vendedores ambulantes, engraxates, de vendedores de jornais menores de idade que muitas vezes dormiam nas prensas para pegar o jornal recém-impresso e chegar primeiro às áreas de melhor circulação.
A partir de 1915 houve uma clara prevalência do trabalho rural e das unidades familiares: artesãos, proletariado fabril e trabalhadores não qualificados. Com o segundo pós-guerra acentuou-se a chegada de técnicos e trabalhadores especializados e foi sobretudo o Véneto que abasteceu os maiores contingentes.
As fazendas e os fazendeiros
A emigração em massa espalhou italianos e descendentes de italianos por todo o mundo que nunca voltaram para casa permanentemente. Quando falamos de emigração transoceânica podemos pensar de duas maneiras: a primeira diz respeito aos Estados Unidos com as comunidades urbanas que deram vida às Pequenas Itálias e a segunda à América Latina onde não faltaram assentamentos agrícolas. O início do êxodo popular em massa da península trouxe as primeiras levas de emigrantes para o Uruguai e a Argentina. Ainda hoje há a presença, em toda a América, de comunidades italianas que têm suas raízes na Itália.
Como mencionado anteriormente, entre 1875 e 1975, pouco menos de um milhão e meio de emigrantes chegaram à antiga colônia portuguesa da Itália, mas quase um milhão foi para lá entre 1875 e 1902. Para promover esse fenômeno foram os fazendeiros das regiões cafeeiras e o epicentro foi identificado sobretudo em São Paulo, onde se concentrava a maior massa de nossos imigrantes. Primeiro foram colonos e depois se tornaram trabalhadores e trabalhadores inseridos em todos os níveis da produção local, os ítalo-Paulistas, cuja primeira presença remonta ao início da década de 1880, foram os que mais rapidamente se abrasileiraram.
Mais tarde os emigrantes chegaram também na parte sul, em direção ao Rio Grande do Sul. A origem das colônias que ocorreram nessas áreas não foi decidida apenas por estatísticas numéricas, mas pelo desenvolvimento do processo de transformação muito original baseado em bases linguísticas, religiosas e costumes de uma clara marca italiana.
De fato, os municípios de Caxias, Antônio Prado, Bento Gonçalves e em geral a Encosta Superior da Serra do Nordeste nasceram graças à colonização agrícola caracterizada pela compactação das cadeias migratórias. As terras americanas são consideradas destinos tanto econômicos quanto populacionais pelos trabalhadores europeus. Estas terras são palco de mudanças que evoluem ao longo do tempo e que veem novas identidades estabelecidas com novos mitos e sentimentos nacionais. A identidade de classe, o sentimento de pertencimento religioso e a identidade regional são apenas alguns dos elementos que interferem no já emaranhado processo de assimilação e integração política dos emigrantes.
Encontramo-nos num contexto em que não sabemos onde termina uma região e começa uma nação. No caso ítalo brasileiro, os problemas surgem desde o ponto de partida dos emigrantes dotados de fisionomia própria, como o Vêneto. Os emigrantes partiam de aldeias rurais e países remotos onde não conheciam um verdadeiro espírito patriótico, mas eram simplesmente camponeses bastante alheios à cultura na qual, ao contrário, as classes urbanas e pequeno-burguesas de artesãos que partiram para a América, mas que retornaram lucrar com os ativos criados no exterior.
O italiano partiu com o objetivo de viver uma vida digna, os fazendeiros inicialmente não entenderam o significado do trabalho e da família que o imigrante carregava em sua bagagem cultural. Portanto, tratam os imigrantes como escravos; Padre Pietro Colbacchini em um relatório de 1889 para Itú argumentou que: os italianos não vieram aqui para se tornarem servos de estrangeiros, eles querem se tornar senhores de si mesmos.
No país de destino, além de escravizados, os emigrantes também foram denegridos e os fazendeiros cometeram vários abusos contra os emigrantes.
Como argumenta Maria Tereza Schorer Petrone em seu livro, a presença italiana na história e na cultura do Brasil: os fazendeiros acreditavam que podiam dispor do tempo de todos os membros da família como bem entendessem. Acostumados à família do escravo, que podia ser desmontada, não entendiam a luta do imigrante para preservá-la. Eles concebiam a família colonial apenas como uma unidade de trabalho e produção, que lhes garantia uma renda segura e vinculava o imigrante à fazenda.
A família, como unidade social de defesa e de coesão individual e coletiva, incomodava os fazendeiros, pois os interesses dos dois lados não eram necessariamente convergentes. O trabalho familiar na fazenda de café era considerado importante porque a taxa de produção do imigrante era muito superior à do escravo e do ponto de vista da força de trabalho, após a abolição da escravatura, foram os italianos que “salvaram” o país da economia angústia.
O avanço do café para o ocidente, a construção de ferrovias, o fortalecimento da malha urbana, a industrialização, o desenvolvimento dos serviços e o surgimento do sistema bancário são todos elementos ligados ao progresso ocorrido nas últimas décadas do século XIX. século.
Os contratos estáveis nas fazendas entre os fazendeiros e a família tinham a duração de um ano e esta última tinha a tarefa de coletar o café, controlar os cafezais, trabalhar na produção direta de subsistência e ocasionalmente prestar serviços ao fazendeiro. A remuneração familiar era baseada na quantidade de plantas confiadas a cada família e sua força de trabalho. Para cada mil pés de café, a família recebia uma quantia fixa em dinheiro, além daquela dada pela quantidade de café arrecadada.
Pelo desempenho do trabalho, obteve em troca uma casa gratuita e um pedaço de terra para semear milho, feijão ou arroz ou criar animais. A família tentou assegurar ao núcleo o mínimo de sobrevivência, combinando os esforços de todos os membros da família para melhorar suas energias.
4. O processo administrativo antes do desembarque no Brasil
O governo brasileiro garantiu aos emigrantes a viagem remunerada, bem como a possibilidade de se tornarem proprietários de terras nas áreas de colonização. Assim, os agentes dos emigrantes comprometeram-se a atingir o número estabelecido para a travessia e a liquidar os seus bens que certamente ultrapassavam o limite da legalidade. Para chegar à América do Sul foi necessário realizar uma série de procedimentos administrativos nas prefeituras. Os emigrantes, uma vez excluídos do país, eram considerados exilados-fugitivos. No entanto, o país reservou algumas cláusulas cautelares: para a emissão do passaporte e a respectiva autorização era necessário encerrar todos os vínculos agrícolas.
O Governo Central emitiu disposições sobre imigração e colonização de terras brasileiras: em 1858 foi aprovado o regulamento do transporte de imigrantes; os costumes foram então regulamentados; o decreto de 1861 sancionou algumas concessões para a compra de terrenos e sobre o bilhete de viagem. Inicialmente, este último era pago em parte pelo governo: pagava a diferença de preço entre a passagem para os Estados Unidos e a passagem para o Brasil.
Para os imigrantes que chegavam às costas brasileiras por conta própria, o governo reembolsava o valor total da passagem e proporcionava a todos transporte gratuito do porto de embarque até o local escolhido, além de alimentação e hospedagem por determinado período de tempo nas hospedarias. As hospedarias de Imigrantes do Rio de Janeiro ou São Paulo recebiam o emigrante por um período que podia ser de um a dez dias e após as diversas verificações este último chegava por via marítima às cidades litorâneas de Curitiba, Florianópolis ou Porto Alegre. Mais tarde foi direcionado para as fazendas ou núcleos coloniais, a viagem ocorria a pé e em caravanas e podia durar até duas semanas. O emigrante tinha que entrar em caminhos perigosos onde não faltavam encontros e confrontos com nativos e animais ferozes e perigosos.
Somente em 1885 o governo adotou oficialmente o sistema de introdução de imigrantes por meio de contratos estipulados com as companhias de navegação. Essa disposição tinha todas as características de uma lei de ordem pública, de polícia precisamente. Proclamou plena liberdade para emigrar; regulamentou a actividade dos agentes e subagentes que tinham de obter licença do Ministério do Interior para o exercício da sua actividade; regulamentou os termos do contrato de transporte; afastou o emigrante de impor acordos opressivos como a obrigação de trocar trabalho no exterior por transporte; criou comissões de arbitragem para a resolução de litígios entre emigrantes e transportadores, numa tentativa de os defender dos abusos habituais das grandes companhias de navegação.
O conceito subjacente à agora proclamada liberdade de emigrar relacionava-se com o de liberdade de iniciativa em matéria de trabalho, com uma única excepção para as mulheres casadas que não podiam emigrar sem o consentimento dos maridos até 1919.
Enquanto para os homens a proibição dizia respeito às obrigações relacionadas ao saque. Aqueles que gozavam de licença ilimitada só podiam sair com a liberação da licença do Ministério da Guerra. As páginas mais tristes da emigração estão ligadas às vicissitudes que os exilados europeus enfrentaram para chegar às terras da esperança. As condições de viagem, o tratamento dos centros de coleta no desembarque, o trabalho que o espera são apenas alguns dos fatores negativos que afetarão o emigrante.
Auguta Molinari afirma - em Notas de Viagem - que:
a travessia é muitas vezes uma luta, às vezes uma tragédia. Não só pela possibilidade de um naufrágio, mas pelas más condições em que ocorreu [...]. Mas é a longa e cansativa espera pela chegada, mais do que os acontecimentos da travessia, que define a condição e a experiência dos emigrantes durante a viagem. O que importa e conta para os emigrantes é chegar à América.
5. Agentes de emigração e companhias de navegação
O emigrante que embarca não é um viajante, mas uma nova figura social que passa a residir na sociedade do século XIX: são considerados estrangeiros em seu país, pois não podem contar com a proteção e assistência do Estado.
As travessias mais longas para a América do Sul favoreceram o aparecimento de epidemias. Essa situação foi regularizada em 1901 com a publicação de um decreto que estabelecia alguns parâmetros a serem respeitados: capacidade cúbica mínima per capita, regras de higiene e presença a bordo de um oficial médico. Nos relatórios das autoridades destacam-se as situações de saúde dos assentados e não só. Esta era uma situação inaceitável, mas o testemunho diplomático afirmava o contrário: boas condições de saúde e baixas taxas de mortalidade. Outro problema era, sem dúvida, aquele inerente à assistência médica, por vezes em algumas colónias era necessário enfrentar até 20-25 quilómetros para falar com um médico. Uma vez chegados ao porto, os emigrantes são "entregues" a agentes que tarefa de acompanhá-los às pousadas autorizadas. Aqui houve todo tipo de especulação, pois as agências de emigração recebiam uma certa quantia das companhias de navegação por cada pessoa embarcada, aproveitando assim a situação.
As empresas tentam reduzir as despesas ao mínimo colocando os emigrantes em locais inseguros e anti-higiênicos; enquanto os estalajadeiros tinham o pouco dinheiro que entregavam pelos emigrantes, obtendo assim um duplo lucro. Geralmente a expressão "agente de emigração" indica aquele que realizou operações de mediação entre emigrantes e companhias de navegação.
Inicialmente, as agências mantinham sedes próprias nas cidades litorâneas que enviavam agentes para áreas onde a taxa de expatriação era muito alta e depois encaminhavam os emigrantes para as companhias de navegação das quais recebiam uma comissão por cada embarcado. Com o passar dos anos o fenómeno da emigração aumenta e a partir de finais da década de 1870 as agências são abastecidas com representantes no território que realizam operações de recrutamento de emigrantes por conta do agente ou dos subagentes.
Enquanto aos agentes resta a tarefa de negociar o preço de cada emigrante com as companhias de navegação e, consequentemente, encaminhar os emigrantes para os vapores da melhor oferta, aos subagentes é confiado o cuidado do mercado: são eles que têm a termômetro de febre migratória nas áreas de competência; são eles que devem espalhar essa febre para áreas que ainda são imunes a ela.
Não havia dúvida de que as ofensas eram frequentes: os agentes exigiam o preço do bilhete mesmo quando não era devido, enviavam os emigrantes ao porto de embarque uma semana antes da partida e aqui eram privados dos seus já escassos bens. Mas a lei de 1888 previa penalidades para intermediários sem licença de agência.
Com o advento do novo século, inovações substanciais são introduzidas do ponto de vista da legislação sobre emigração. A forma tradicional de intermediação de agências desaparece e as funções de recrutamento são confiadas diretamente às companhias de navegação. Na realidade, os agentes de emigração estão a ser substituídos por "representantes de transporte" que também transformam a sua forma de anunciar a terra prometida. Especificamente, eles valorizam as qualidades e confortos dos navios: velocidade de travessia, conforto das camas, cardápios com refeições fartas e assim por diante. Cada família, para obter o bilhete gratuito, deve necessariamente possuir os seguintes requisitos: ser agricultor e emigrar com uma família composta por pelo menos um membro do sexo masculino entre os 12 e os 45 anos.
Aqueles que possuíam essas qualificações puderam partir para o Novo Mundo principalmente graças à política de imigração do governo brasileiro que atraiu regularmente trabalhadores europeus a partir de 1875. Havia duas formas de implementação deste projeto: imigração financiada diretamente pelo governo e contratos com empresas e indivíduos para a introdução de mão de obra.
Na Europa, foram criados serviços de empresas reais que promoveram a imigração a partir de 1886. Esse sistema se generalizou a partir de 1894, quando os serviços reais de imigração passaram por uma lei do governo central para a dos estados, aumentando o domínio no mercado de trabalho internacional das zonas económicas mais ricas. Para subsidiar a importação de mão-de-obra houve um desembolso monetário substancial por parte do governo e dos estados, especialmente durante os últimos anos do império e os primeiros anos da república.
As empresas eram pagas muito por pessoa e seu único objetivo era conseguir o maior número possível de pessoas, ignorando os aspectos humanos da emigração. A facilidade e dissimulação com que o recrutamento foi realizado foi objeto de atritos entre o próprio governo brasileiro e as empresas, principalmente no que se refere à condição profissional do emigrante.
Os agentes embarcavam qualquer um: pedreiros, alfaiates, camponeses, barbeiros, etc. enquanto o governo pagava a viagem apenas para famílias agricultoras. Os emigrantes chegaram ao Brasil com a qualificação de trabalhadores agrícolas, mas quando descobriram o golpe se recusaram a trabalhar. Assim, o governo brasileiro viu que a mão de obra estava fugindo e a imprensa estava dando publicidade negativa sobre eles. Tudo isso levou o governo italiano a tomar medidas: o ministro Crispi suspendeu a expatriação para o Brasil em 1889. Sem dúvida, a emigração representou para a Itália o fenômeno de natureza social mais consistente em sua história pós-unificação, condicionando a posição econômica e política de nosso país. Na fase de competição mais acirrada, entre 1895 e 1899, houve uma rarefação dos preços do transporte do continente europeu para o americano.
Na luta entre as companhias, os armadores nacionais tentaram especular tanto sobre os meios de navegação quanto sobre o número de passageiros. Isso tornou as condições higiênicas da viagem inseguras. Nesse contexto, cria-se a concorrência entre as companhias de navegação pelas seguintes razões: subsídios governamentais, prêmios concedidos à navegação geral italiana graças aos acordos entre as empresas interessadas no mercado italiano.112 O governo italiano interveio novamente em 1902 para proteger nossa emigração. Em março daquele ano, o decreto de Parinetti suspendeu a licença concedida a quatro companhias de navegação e um transportador para o transporte gratuito de emigrantes para o Brasil, ao mesmo tempo em que negava a emissão de passaportes a quem não pagasse a viagem.
Posteriormente, foram feitos acordos entre as várias companhias de navegação e os agentes de emigração. Este acordo foi sancionado porque os agentes exploraram a rivalidade entre as empresas, mas uma vez que o acordo foi aprovado, os preços das passagens começaram a subir drasticamente e para todas as linhas que envolviam a emigração italiana para a América.
Art. I. Os abaixo-assinados Agentes de Emigração da Praça de Nápoles, obrigam-se formal e lealmente a trabalhar com plena atividade para angariar o maior número de passageiros para todas as referidas companhias marítimas e para destinos na América do Sul, (Brasil, Montevidéu e Buenos Aires); comprometem-se, por isso, a não trabalhar ou angariar passageiros por qualquer motivo, motivo ou destino, direta ou indiretamente a empresas não consorciadas ou armadores, e também se comprometem a combater por qualquer meio qualquer concorrência que possa surgir de outras empresas ou armadores, que tenham que estabelecer serviços regulares ou extraordinários para os destinos mencionados
Art. II. As referidas companhias de navegação indicarão aos agentes de emigração signatários desta carta, para que disponibilizem atempadamente a respectiva publicidade, que deverá incluir a de todas as cinco linhas supracitadas, a data de saídas, os nomes dos vapores, as preços a praticar e as comissões a pagar aos subagentes da Província, cujos preços e comissões devem ser os mesmos tanto para as empresas como para os agentes de emigração e sob qualquer forma ou por qualquer motivo ou causa, não podem ser pagos por eles, aberta ou secretamente, sem comissão extra ou remuneração extra aos subagentes da Província.
Art. III. A Navegação Geral Italiana, La Veloce, Transporte Marítimo, Puglia Fabre e a American Hamburgesa concedem uma comissão de 10 liras, para cada assento pago embarcado em seus vapores, com destino ao Brasil, Montevidéu e Buenos Aires e portos do Pacífico, não sendo excluídos os passageiros por conta do Governo, os de escala e os gratuitos, bem como os provenientes de transbordo. Esta comissão será mantida em depósito como garantia, a ser paga no vencimento deste contrato.
Art. IV. Em caso de concorrência provocada por um dos signatários deste contrato, o fundo de garantia constituído por metade das comissões pagas será perdido metade das empresas enquanto por qualquer outra infração a este acordo, cometida por um ou mais dos signatários, a única parte devida ao(s) infrator(es).
Art. V. A distribuição do caixa será feita pelo Comitê de Representantes das cinco empresas que compõem o pool, com a intervenção de dois agentes de emigração, delegados pelos signatários desta carta. Nesta divisão, os escritórios de emigração e agentes das empresas associadas devem ter uma cota máxima igual à da Navigazione Generale Italiana e La Veloce, que deve ter uma unidade a mais do que a porcentagem atribuída aos outros escritórios de emigração das empresas.
Art. VI. O Comitê de Representantes da Empresa acompanhará o exato cumprimento deste acordo, podendo delegar a qualquer de seus membros, a fiscalização a qualquer momento das operações de qualquer Agente de Emigração signatário deste acordo.
Art. VII. A referida Comissão tomará todas as medidas que considere necessárias para regular e regular o serviço de emigração das Linhas exploradas pelas Empresas Pool.
Art. VIII. Os agentes de emigração que não sejam signatários deste acordo não poderão embarcar seus emigrantes nos vapores das cinco linhas; é, portanto, absolutamente proibido aos signatários deste documento aceitarem secretamente estes passageiros e embarcarem-nos como produção própria.
Art. IX. Os signatários deste contrato estão autorizados a embarcar seus emigrantes também nos vapores das companhias Ligúria-Brasileira e Ítalo-Americana com destino único ao Brasil; sempre, porém, essas Companhias cobrarão os mesmos preços e comissões que as linhas do Pool, pois os signatários desta carta devem abster-se imediatamente de continuar a embarcar passageiros nos vapores das duas Companhias acima mencionadas.
Art. X. As infrações a este acordo serão baseadas na convicção moral dos membros do Comitê de Pool, e serão por eles julgadas.
Art. XI. Os infratores deste contrato, além de perderem sua participação no fundo Cassa, serão imediatamente excluídos deste acordo quando o Comitê entender que esta medida foi adotada.
Art. XII. Este contrato terá a mesma duração estabelecida para o acordo entre as empresas de navegação, ou seja, de hoje até 14 de maio de 1900. Caso as empresas renovem o acordo existente entre elas, este contrato será considerado renovado nas mesmas condições.
6. A lei da emigração
O contraste entre as agências e as companhias de navegação tornava-se cada vez mais acentuado. Acordos foram feitos por várias empresas para limitar as margens de lucro das agências, pois representavam um perigo para a pequena burguesia do sul e a burguesia industrial do norte. Buscava-se um acordo com a oposição democrática, ávida por proteger a emigração para resolver a questão. A lei de emigração poderia qualificar a nova política liberal no plano social e o controle estatal enfrentava os perigos políticos associados à expansão do fenômeno.
Em todo caso, a liberalização do êxodo e sua racionalização eram prioritárias em vista da nova política de Giolitti para conter a pressão das massas camponesas do sul e criar o clima social e político necessário para o desenvolvimento industrial no norte. Só em 1865, com a introdução dos agentes de viagens, alguma disposição da lei de Segurança Pública foi posta em causa para promover alguma circular mais ou menos restritiva do Ministério do Interior.
Mas com o passar do tempo, o Estado também tenta especular, tirar proveito disso, promovendo a emigração dos cidadãos. Eles visam as pessoas mais pobres e ignorantes, prometendo-lhes uma vida melhor e encorajando-os a partir para ter mais sorte no novo mundo.
O governo, por sua vez, deve reagir para impedir o comércio de agências e a emigração ilegal. A fraude deve ser punida, esse tráfico desonesto de pessoas deve ser coibido, as queixas da opinião pública devem ser atendidas, a proteção dos emigrantes pobres deve ser levada em consideração, abandonados e vítimas de ilusões, e a despesa significativa que custa ao Tesouro o atendimento sua subsistência e retorno à sua terra natal.
O ministério deve informar os prefeitos das várias vicissitudes que estão acontecendo dentro e fora do país; denunciar às autoridades judiciárias aqueles que favorecem a emigração ilegal, proporcionando o embarque com uma grande soma de dinheiro. Foi sancionada em 1901: a nova lei regulamentou os problemas econômicos e sociais que surgiram em torno da emigração. Dessa forma, consolidou-se um sistema protegido não apenas do ponto de vista jurídico, mas também do ponto de vista econômico na política externa do país.
Na realidade, nesta conjuntura, esta lei apresentava deficiências não só do ponto de vista organizativo, como os responsáveis pelos serviços consulares mostravam pouca vontade de estabelecer relações de confiança e colaboração com o emigrante. Em todo o caso, do ponto de vista social, esta lei visava atingir os interesses dos agentes e companhias de navegação na defesa do emigrante.
Capítulo 2
SONHOS, TESTEMUNHOS E RETRATOS DE EMIGRANTES
1. O sonho americano
A viagem foi para o desconhecido, para uma terra sem fronteiras. O espaço infinito do oceano marcou profundamente a experiência da emigração que projetou o emigrante numa realidade mental, cultural e temporal diferente da original: o medo do desconhecido, o risco de se perder, a angústia de não ser sepultado e a distância dos membros da família. A única consciência era a de partir para um país moderno criado pela civilização materialista, industrial, econômica enquanto a Europa representava a civilização, a história, a tradição dos valores culturais.
O imaginário da América criou nos sonhos do agricultor aquela função vital que lhe permitiu manter acesas suas esperanças. Nos momentos em que foram obrigados a enfrentar realidades insustentáveis, o mito foi o elemento que sustentou seu grande empreendimento. Vários fatores contribuíram para a construção desse mito: desde a chegada das cartas que contavam as maravilhas e aventuras da América, o trabalho dos agentes de emigração e a história dos emigrantes retornados.
Visto do lado de seu continente de origem, no entanto, e até pelo menos o final do século XIX, o mito do paraíso americano encontrou seu fundamento nas expectativas e esperanças de milhões de homens e mulheres, declinando em diferentes formas e ressoando em línguas diferentes, mas quase sempre conformando-se a um modelo mental e imagético comum que visava unificar a acumulação de expectativas econômicas e ideais que levaram os emigrantes a fugir de sua terra natal.
A transição do velho para o novo mundo foi ajudada pela máquina de propaganda que permitiu a consolidação do mito paradisíaco no imaginário popular europeu. Eram agentes e agências de emigração que atuavam como intermediários comerciais. Na escolha da emigração, a atitude dos camponeses durante o grande êxodo aparece como uma revolta. Em algumas cartas interpretam a travessia como uma miragem da terra fácil, o sonho do trabalho, a absurda esperança de bem-estar. Os emigrantes provavelmente não entenderam exatamente as verdadeiras condições que encontrariam além do oceano.
Obviamente eles não sabiam o pior porque na Itália eles eram desprovidos de qualquer meio de subsistência e o fato de saber que na América sempre havia uma ocupação, era no entanto um fator de atração. A descrição de serras, planícies e florestas, uma fauna e flora diferentes das do país de origem, insetos, plantações, a redescoberta do trabalho assalariado, a fome, a morte, um território povoado por negros foram elementos decisivos para compor o mito de uma terra diferente, um mundo novo e com essa fome e dor não deve ser excluído.
Mais tarde o emigrante se decepcionou com o governo que o abandonou às aventuras do Novo Mundo e depois descobriu com o tempo que mesmo no Brasil as pessoas não morriam de fome, havia um ambiente de sacralidade, orações eram recitadas em latim diariamente e as o trabalho agrícola era o elemento de sobrevivência.
A América era vista pelos emigrantes como um símbolo de opulência, uma terra de abundância, uma terra de Cuccagna onde as pessoas podiam realizar seus sonhos e desejos. Mas nem sempre foi assim: a imagem desse continente lhes aparece como um "Eldorado distante" .
Na América... na América... esses camponeses sussurram entre si; você conhece um lugar abençoado, onde não se cansa, dinheiro em pedaços, não mais em dias... (...) Merica... Merica. Se os patrões te cobram um centavo a mais, Merica; se por infortúnio vem um granizo muito pequeno, Merica; se às vezes você sente falta do tique para se abastecer de tabaco em abundância, do relativo relógio com corrente, Merica; tudo se encontra e sem esforço na América.
Emigrar é renascer, atravessar o Atlântico significa dedicar-se a um destino que pela primeira vez se questiona, ou seja, enfrentar o desafio da existência num mundo literalmente novo e sobretudo positivo. O novo continente, na realidade, parecia mais o inferno do que o céu. Mas, por outro lado, a Europa era vista como um lugar de sofrimento e dor, onde tudo é mais estreito.
Os descendentes dos emigrantes contam como seus pais, tios e avós mantiveram suas esperanças acesas com as seguintes frases: “Vou para a América e em cinco ou seis anos ganho o suficiente para comprar um pedaço de terra que posso dizer que sou um cristão; outros diziam: se me convém, ótimo; caso contrário, continuo sendo o pobre sujeito que sou." Assim que chegaram, foram catapultados para esses empregos miseráveis e desesperados. Mas eles não tiveram escolha.
É um mito que desmorona uma vez lá e a decepção e a raiva se espalham porque não demora muito para entender que não é a América do ouro.135 sonhos e seus desejos. Mas nem sempre foi assim: a imagem desse continente lhes aparece como um "Eldorado distante" .
Na América... na América... esses camponeses sussurram entre si; você conhece um lugar abençoado, onde não se cansa, dinheiro em pedaços, não mais em dias... (...) Merica... Merica. Se os patrões te cobram um centavo a mais, Merica; se por infortúnio vem um granizo muito pequeno, Merica; se às vezes você sente falta do tique para se abastecer de tabaco em abundância, do relativo relógio com corrente, Merica; tudo se encontra e sem esforço na América.
Emigrar é renascer, atravessar o Atlântico significa dedicar-se a um destino que pela primeira vez se questiona, ou seja, enfrentar o desafio da existência num mundo literalmente novo e sobretudo positivo. O novo continente, na realidade, parecia mais o inferno do que o céu. Mas, por outro lado, a Europa era vista como um lugar de sofrimento e dor, onde tudo é mais estreito.
Os descendentes dos emigrantes contam como seus pais, tios e avós mantiveram suas esperanças acesas com as seguintes frases: “Vou para a América e em cinco ou seis anos ganho o suficiente para comprar um pedaço de terra que posso dizer que sou um cristão; outros diziam: se me convém, ótimo; caso contrário, continuo sendo o pobre sujeito que sou." Assim que chegaram, foram catapultados para esses empregos miseráveis e desesperados. Mas eles não tiveram escolha. É um mito que desmorona uma vez lá e a decepção e a raiva se instalam porque não demora muito para entender que não é a América do ouro, sonhos e seus desejos. Mas nem sempre foi assim: a imagem desse continente lhes aparece como um "Eldorado distante" .
Na América... na América... esses camponeses sussurram entre si; você conhece um lugar abençoado, onde não se cansa, dinheiro em pedaços, não mais em dias... (...) Merica... Merica. Se os patrões te cobram um centavo a mais, Merica; se por infortúnio vem um granizo muito pequeno, Merica; se às vezes você sente falta do tique para se abastecer de tabaco em abundância, do relativo relógio com corrente, Merica; tudo se encontra e sem esforço na América.
Emigrar é renascer, atravessar o Atlântico significa dedicar-se a um destino que pela primeira vez se questiona, ou seja, enfrentar o desafio da existência num mundo literalmente novo e sobretudo positivo. O novo continente, na realidade, parecia mais o inferno do que o céu. Mas, por outro lado, a Europa era vista como um lugar de sofrimento e dor, onde tudo é mais estreito.
Os descendentes dos emigrantes contam como seus pais, tios e avós mantiveram suas esperanças acesas com as seguintes frases: “Vou para a América e em cinco ou seis anos ganho o suficiente para comprar um pedaço de terra que posso dizer que sou um cristão; outros diziam: se me convém, ótimo; caso contrário, continuo sendo o pobre sujeito que sou." Assim que chegaram, foram catapultados para esses empregos miseráveis e desesperados. Mas eles não tiveram escolha.
É um mito que desmorona lá e a decepção e a raiva se instalam porque não demora muito para entender que não é a América do ouro. Quando o emigrante desembarca, ele já passou por um processo de autoconversão ao Novo Mundo. Quando, à partida, o navio deixava o porto de embarque, o emigrante abandonava, temporariamente ou para sempre, o mundo do passado. Esse passado embarcou com ele, meio escondido entre as bagagens e entre as lembranças. A distância havia se tornado uma dimensão espaço-temporal. Naquele instante em que o navio partiu para o oceano ele fechou um parêntese de sua vida. Então a viagem representou um longo intervalo que o separava da nova história que ia escrever no Brasil.
A superação das condições precárias vivenciadas pelos emigrantes no início da colonização remetem a eventos remotos que devem ser esquecidos como negativos e já passados; da mesma forma, sua intensidade e drama emocional tornam-se um aviso para respeitar a terra dificilmente conquistada e aceitar os valores sociais e culturais de que está imbuída.
Universidade Ca'Foscari - Veneza
Faculdade de Letras e Filosofia
Curso de Mestrado em História
Tese de graduação
Graduanda Giorgia Chistè - Número de série 813001
Ano letivo 2013/2014
Um comentário:
Excelente tese de mestrado de graduanda da Università Cà Foscari de Veneza
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