sexta-feira, 18 de julho de 2025

La Stòria de Giovanni ´ntel Brasil


 

La Stòria de Giovanni ´ntel Brasil


Giovanni Bianchino, un omo robusto e con un sguardo coraioso, lu el zera nassesto ´ntela pìcola vila de Castelverde, regione de Lombardia, lu el gaveva trentaoto ani quando el ga dessiso, ´ntel 1897, de lassar so paese e traversar l’Atlàntico par sercar ´na nova vita. Con lù ghe zera la so mòier, Benedetta Lazzar, na dona de grande forsa e calma, e i so sinque fiòi, che gaveva tra do e undese ani. La dessision no fu stà mia fàssile, ma la fame e la mancansa de prospetive in l´Itàlia i gaveva oblegà de lassiar el poco che gavea. Insieme a Giovanni el gavea anche el so fradèo Pietro con la loro famèia.

El barco, ciamà "Santa Lucia", el zera un vècio vapor par mèrsi adatà par i trasportà passegèri. Soto coperta, ndove che lori i gavea da star, zera un laberinto streto de leti de legno. L’odor de sal se mescolava con el odor de corpi, magnà guasto e la paura de la traversia. El viaio, che el ga durà interminâbili trentasei zorni, fu segnà da tempeste violente e malatie. Zoani, però, restava fermo, e ogni sera el faseva cantar ai fiòi alcuna canson de la loro tera natia, par tentar de cambiar l’aflission in speranza.

Quando finalmente lori i ga vardà le luse del porto de Rio de Janeiro, tanti i ga piegà i zenòci par ringrasiar el Signor. La vision la zera de un mondo novo e vibrante, ma la realtà presto la se ga mostrà dura. Dopo pochi zorni ´nte la "Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores", la famèia la ze stà mandà in treno verso el interior de Minas Gerais. A lori ghe zera destinà a la "Fazenda São Bartolo", ´ntel munissìpio de Leopoldina, proprietà del colonel Augusto R. de Moura.

Lì, in quel posto lontan e perso, el modo de lavorar no el zera tanto diverso da quel che Zoani gavea sentì dire de la schiavitù da pochi ani la ze fini. Adulti e putei lavorava da matina a sera, coltivando café e piantando la cana, par far sùcaro. In càmbio, i receveva rassion mìsere: farina de manioca e pìcole porsion de fasòi. Benedetta, con astusia e forsa, la ga scominsià a piantar ortàgie nascoste, par tentar de sicurar el mìnimo par i fiòi.

Dopo do ani, stufi de la esplorassion e de le bastonà frequente, Zoani el ga roto el contrato con el paron. La fuga de la fazenda la stà pericolosa. ´Ntel silensio de ´na matina, con quel poco che i gavea in un saco de juta, la famèia scampò a piè, ove i ga caminà per zorni par rivar a Piraúba, un distreto visin no tanto lontan. Là, lori i ga catà un pìcolo grupo de italiani e, par la prima olta, lori i ga scominsià a sentir el calore de la solidarietà. Par do ani, Zoani lu el ga lavorà, riussiendo a mètar via qualche soldo.

´Nte’l 1901, se apresentò n’altra oportunità. Lori i ghe ze stà contratà par lavorar ´nte la Fasenda Santa Clara, proprietà del colonel Silvério Martins da Rocha Ferreira, che, anche se el lavoro el zera duro, el ofriva condission un poco mèio. Giovanni, con la so abilità de marangon, el ga scominsià a meter su strumenti de lavoro par la fasenda e, pian a pianin, el ga ressevesto respeto e fidùcia.

Quando, dopo qualche ani la grande proprietà la ze stà comprà dal governo de Minas Gerais e trasformà ´nte la Colónia Santa Maria, i Bianchi i ga recevesto un pìcolo peso de tera. La conquista, la ga stà festegià con làgreme e na botìlia de vin improvisà, segnava lo scomìnsio de ´na nova era par la famèia. Giovanni e Benedetta i lavorava sensa sosta par trasformar la tera àrida in un campo fèrtile. I coltivava formento, café, granoturco e anca lori aveva ´na criassion de galine, fin che i ga reussì a èsser autosufissienti.

I fiòi, che lora i ga cressesto grandi, lori i ga scominsià a formar le so pròprie famèie, sposandose con dissendenti de altri emigranti italiani. I dessendente Bianchi lori i se ga difusi in diverse sità del stato de Minas Gerais: Ubá, Rio Casca, Muriaé e fin Belo Horizonte. Ogni nova generassion la portava la marca de la resiliensa e de l’union, el vero lassà de Giovanni e Benedetta.

´Ntel 1939, Giovanni e Benedetta i do i son morti con pochi zorni de diferensa, come se un no podesse vìver sensa l’altro. Lori son stà sepoli uno visin a l’altro, soto un àlbero grande ´nte la colònia, el posto che el ga simbolisà el fruto de le so lote. ´Ntela so làpide, i suoi dessendente i ga scrito ´na semplice frase: "El lavoro e l’amor i ga portà lori fin qua."

La stòria de i Bianchi la ze contà de generassion in generassion, no solo come un tributo ai so antepasà, ma come un ricordo che el coraio e la determinassion I ga la forsa de transformar i momenti pì scuri in un futuro iluminà.





quinta-feira, 17 de julho de 2025

A História de Domenico Scarsel


A História de Domenico Scarsel


Domenico Scarsel, um agricultor humilde das pitorescas colinas da região de Belluno, na Itália, vivia preso às agruras de uma vida que não mais oferecia esperança. As colinas que outrora pareciam um refúgio acolhedor agora se transformavam em um cenário melancólico de infertilidade e escassez. As forças invisíveis da pobreza, como um vento incessante que sopra sem trégua, empurravam-no para longe do lar de seus antepassados. Seus olhos, profundos e cansados, refletiam a exaustão de quem batalhara incansavelmente contra uma terra que já não retribuía o esforço.

Desde a juventude, suas mãos, calejadas e endurecidas pelo peso da enxada e do arado, haviam arrancado da terra cada grão de sustento. Contudo, o solo outrora generoso transformara-se em uma superfície árida, incapaz de nutrir sua família. Lucia, sua esposa, esforçava-se em silêncio para manter a harmonia no lar, enquanto seus três filhos eram o retrato vivo do contraste entre a inocência e a carência. Angelo, o mais velho, começava a assumir o peso de responsabilidades maiores que sua idade; Catarina, de nove anos, ajudava a mãe nos afazeres domésticos, mas frequentemente olhava para as colinas com um misto de curiosidade e tristeza; e Giuseppe, com apenas quatro anos, era a única fagulha de alegria naquela casa marcada pela luta diária.

A Itália, com sua história rica e paisagens deslumbrantes, parecia ter renegado Domenico. O país que ele e seus antepassados sempre chamaram de lar agora não passava de uma prisão de dificuldades insuperáveis. Cada amanhecer trazia a mesma preocupação: como alimentar sua família? Como protegê-los do futuro incerto que parecia se aproximar como uma tempestade inevitável? A promessa de uma nova vida em terras distantes começava a germinar em seu coração, ainda que fosse uma escolha impregnada de medo e sacrifício.

A decisão de emigrar não foi fácil para Domenico Scarsel. As noites insones, marcadas pelo silêncio opressor da casa simples, eram preenchidas por seus pensamentos inquietos. Lucia, sentada perto da lareira quase extinta, costurava remendos em roupas já gastas, enquanto o brilho vacilante da lamparina iluminava apenas parcialmente a expressão tensa de seu marido. Ele ponderava os riscos de cruzar o vasto Atlântico rumo a um destino desconhecido, onde promessas de esperança competiam com histórias de perigos e desilusões.

O medo do desconhecido não era o único peso em seu coração. Domenico sentia a culpa como um espinho constante, atormentando-o por arriscar tudo o que sua família tinha – mesmo que fosse pouco. Retirá-los da Itália, o único lugar que conheciam, parecia uma traição às suas raízes. Mas que raízes eram essas? A terra que deveria sustentá-los transformara-se em um fardo. Após anos de guerras pela unificação e a formação do novo Reino da Itália, o país encontrava-se devastado. Os camponeses, como Domenico, sofriam os efeitos de políticas desiguais que favoreciam os ricos proprietários e deixavam os pequenos agricultores à mercê da fome e do abandono.

O solo que ele cultivava com esforço já não rendia o suficiente. A Itália, dividida por séculos, unira-se politicamente, mas seus filhos mais pobres continuavam separados das promessas de prosperidade. Os impostos altos, os aluguéis abusivos e a competição por terras férteis tornaram impossível a sobrevivência. A fome era uma presença constante nas mesas humildes, e até mesmo a esperança parecia ter abandonado aquelas colinas outrora pitorescas.

Ainda assim, as cartas dos que haviam partido lançavam um fio de luz na escuridão. O Brasil era descrito como uma terra de oportunidades, onde a terra fértil se estendia em vastidões quase inimagináveis. As colheitas, segundo diziam, eram generosas, e o trabalho árduo era recompensado com dignidade. Essas palavras ressoavam em Domenico como uma melodia distante, despertando nele um misto de esperança e dúvida.Enquanto Lucia dava os últimos pontos em um casaco remendado pela terceira vez, Domenico olhava para os filhos adormecidos. Ele sabia que a decisão não podia mais ser adiada. Não era apenas uma escolha por um novo começo, mas pela sobrevivência. O Atlântico era vasto e impiedoso, mas ficar era como esperar pela morte.

Na manhã fria de novembro, enquanto o outono pintava as colinas de Belluno em tons dourados e vermelhos, Domenico fez o anúncio à família. "Vamos para o Brasil", disse ele, sua voz firme apesar do nó na garganta. Lucia assentiu silenciosamente, escondendo as lágrimas por trás de um sorriso forçado. Os filhos, sem entender completamente a magnitude da decisão, reagiram com curiosidade e um toque de excitação infantil.

Os preparativos foram rápidos, mas dolorosos. A venda de ferramentas, móveis e até mesmo o relógio de bolso de Domenico, uma herança de seu avô, serviu para custear a viagem. Cada despedida com parentes e vizinhos era marcada por abraços longos e lágrimas contidas. "Levem a nossa bênção", disse o pároco local, entregando-lhes uma pequena imagem de Santo Antônio para proteção durante a jornada.

Finalmente, no início de janeiro, a família embarcou em um trem lotado que os levaria ao porto de Gênova. As crianças estavam encantadas com a novidade, mas Domenico e Lucia sentiam o peso da despedida em cada quilômetro percorrido. Ao chegarem ao porto, ficaram impressionados com a grandiosidade do navio que os aguardava, um gigante de ferro com chaminés que lançavam fumaça ao céu nublado.

O embarque foi uma mistura de caos e expectativa. Centenas de imigrantes lotavam os conveses, carregando malas de madeira e sonhos por vezes maiores do que o próprio oceano que cruzariam. Enquanto o navio zarpava, Lucia segurou firmemente a mão de Domenico, as lágrimas finalmente escorrendo. Ele apertou sua mão de volta, sussurrando: "Nós vamos conseguir. Por eles", olhando para os filhos que se aninhavam juntos, curiosos e ansiosos.

Naquele instante, Belluno desapareceu no horizonte, mas a imagem de suas colinas permaneceria viva na memória da família, um lembrete constante do lar que deixaram para trás e da coragem que os impulsionava em direção ao desconhecido.

A jornada para o Brasil foi tudo, menos fácil. A bordo do cargueiro abarrotado, Domenico e sua família enfrentaram uma sequência de provações que testaram não apenas seus corpos, mas também seus espíritos. O navio, que parecia imponente quando atracado no porto de Gênova, revelou-se um labirinto claustrofóbico assim que zarparam. As condições insalubres não deixaram margem para qualquer ilusão de conforto: o ar era pesado com o cheiro de suor, umidade e alimentos em decomposição, e os porões onde os imigrantes eram acomodados mais lembravam celas improvisadas do que um espaço para seres humanos.

A comida, distribuída com parcimônia, mal sustentava os viajantes. Os dias no mar, que se alongavam em uma monotonia opressiva, eram pontuados por surtos de doenças que se espalhavam com a rapidez de um incêndio em palha seca. Crianças e idosos eram os mais vulneráveis, e cada tosse ou febre era um prenúncio de tragédia. Domenico, vigilante, fazia o possível para proteger sua família, mas havia limites para o que um homem podia fazer em um ambiente tão hostil.

Após semanas de tormento, avistar o porto de Santos deveria ser um momento de alívio, mas a realidade foi outra. O desembarque trouxe uma nova camada de dificuldades. A Casa de Imigração, para onde foram conduzidos, parecia mais uma fortaleza austera do que um abrigo acolhedor. Suas paredes, frias e úmidas, guardavam os ecos de centenas de vozes – esperanças e medos misturados em um coro que não encontrava resposta. As camas improvisadas, feitas de madeira áspera, não eram melhores do que o chão do navio. O cansaço e a incerteza pairavam como uma sombra sobre todos os recém-chegados.

Foi ali, nesse lugar que prometia ser uma porta de entrada para um futuro melhor, que Domenico sofreu sua perda mais devastadora. Seu pai, o avô Sisto, sucumbiu a febres que varriam o abrigo como uma praga invisível. O idoso, que havia sido o pilar da família na Itália, enfrentara a travessia com coragem, mas seu corpo enfraquecido não resistiu às adversidades. A despedida foi apressada e sem cerimônias, marcada apenas pelo peso do luto e pela impotência diante das circunstâncias.

A morte de Sisto abalou profundamente a família, deixando uma lacuna irreparável. Para Domenico, o momento foi um teste cruel de sua determinação. Entre os soluços abafados de Lucia e os olhares assustados das crianças, ele sentiu a responsabilidade de manter-se firme, de carregar a chama da esperança que parecia prestes a apagar. Não podiam voltar atrás – o custo da viagem já havia consumido tudo o que possuíam. E assim, mesmo com o coração pesado e os olhos ainda marejados, Domenico tomou a única decisão possível: seguir em frente. A terra que buscavam, acreditava ele, ainda prometia uma chance de recomeço.

A fazenda, com seus vastos cafezais, era administrada com rigor e visão estratégica pelo Comendador Aurélio, um homem de origem portuguesa que havia acumulado fortuna no comércio antes de investir em terras. Domenico ficou impressionado com a grandiosidade do lugar: colinas cobertas de pés de café alinhados como soldados em formação, estradas ladeadas por laranjeiras e limoeiros, e um pequeno rio que alimentava um moinho de água.

A casa de madeira onde os Scarsel foram instalados era simples, mas funcional. Com quatro quartos, uma cozinha com forno e telhas de barro vermelho, a residência era um símbolo de modéstia e segurança. Domenico, porém, não se iludia. O trabalho era extenuante, e os ganhos, modestos. A tarefa inicial era carpir o mato denso que crescia entre os cafezais, uma tarefa que consumia horas e rendia pouco.

Ainda assim, o comendador demonstrava respeito pelos colonos. Ele providenciava carne suína semanalmente, distribuía porções generosas de gordura para tempero e era conhecido por garantir que nenhuma família passasse fome. Aos sábados, a fazenda se transformava em um centro de convivência, com danças e cantorias que misturavam italianos e brasileiros em um raro momento de descontração.

Domenico logo percebeu que o Brasil era uma terra de contrastes. Enquanto a fertilidade do solo proporcionava colheitas abundantes, o isolamento e a saudade da Itália eram pesares constantes. Lucia, com sua devoção religiosa, sentia falta da igreja e das celebrações comunitárias que marcavam sua vida na Itália. A distância da cidade e a irregularidade das missas aumentavam sua melancolia, mas ela encontrou força em cuidar da horta e dos filhos.

Angelo, o mais velho, tornou-se uma ajuda valiosa para o pai, aprendendo rapidamente as técnicas de cultivo e armazenamento de milho. Catarina, com sua curiosidade infantil, encantava-se com as novas paisagens e a fauna local. Giuseppe, o mais novo, era a alegria da família, correndo pelos campos e explorando o novo mundo com os olhos brilhando de fascínio.

Com o tempo, os Scarsel começaram a prosperar. Domenico aprendeu a manejar o café e a aproveitar os recursos naturais ao máximo. Lucia cultivava ervas e verduras que complementavam a dieta da família. Apesar das dificuldades, os Scarsel conquistaram o respeito dos demais colonos e até do próprio comendador.

Em uma carta ao professor que havia deixado na Itália, Domenico escreveu:
"Aqui, nesta terra estranha, encontramos muito mais do que dificuldades; encontramos também oportunidades. Embora a saudade doa como um corte profundo, o trabalho nos dá sentido, e a esperança nos dá força. Estamos plantando não apenas café, mas também o futuro de nossa família."

Os Scarsel construíram um lar em terras distantes, enfrentando desafios que exigiram coragem e resiliência. Sua história, como a de muitos imigrantes, é um tributo à força do espírito humano e à capacidade de transformar sonhos em realidade, mesmo nas condições mais adversas.

Nota do Autor

"A História de Domenico Scarsel" é um relato verídico com nomes fictícios, profundamente inspirado nas histórias reais de milhares de imigrantes italianos que cruzaram o Atlântico no final do século XIX, em busca de uma nova vida no Brasil. A narrativa acompanha Domenico, um humilde agricultor das colinas de Belluno, e sua família, que enfrentam dificuldades inimagináveis em sua terra natal, agravadas pelas guerras de unificação da Itália e pelas condições econômicas opressoras da época. Este pequeno resumo do livro oferece um vislumbre das lutas e conquistas dessa jornada épica. A história não é apenas sobre a sobrevivência física, mas também sobre a força do espírito humano, a resiliência diante da perda e a esperança que impulsiona as pessoas a buscar um futuro melhor, mesmo diante de adversidades intransponíveis. Enquanto Domenico e sua família enfrentam o luto, as doenças e as incertezas de um país estrangeiro, eles encontram também momentos de solidariedade, coragem e renovação. Através de suas experiências, espero honrar a memória de todos aqueles que, como Domenico, ousaram sonhar e reconstruir suas vidas em terras distantes. Este livro é um tributo aos pioneiros e suas histórias de sacrifício e esperança – histórias que continuam a ecoar através das gerações. 

Dr. Luiz C. B. Piazzetta


quarta-feira, 16 de julho de 2025

Enrico Castellari La Odiséa de un Emigrante

 


Enrico Castellari
La Odissea de un Emigrante

Intel ano 1899, verso la fine del sècolo, Enrico Castellari, un agricultor de Mantova, viveva i zorni difìssili de ´na Itàlia marcà da la fame, el disocupassion e la crisi sossial. Con 34 ani, Enrico lu el zera un omo dedicà a la so famèia e al lavoro ´nte la pìcola località rural de Piubega. Ma, le terre de la so region, póvare per sècoli de coltivassion intensa, no ghe dava pì el sostegno nessessàrio par lui, la so mòier Rosa e i so do fiòi, Carlo e Bianca.

La resolussion de emigrar la ze rivà come ´na luse in meso a le tènebre. Nte quei zorni scuri dove el peso de la fame se sentiva forte e i campi, che prima i zera boni e fèrtili, adesso i zera incapace de sustentar la famèia, la visita de un agente de emigrassion la ga portà ´na mescolansa de speransa e paùra. El girava per le pìcole sità e i paeseti italiani con discorsi eloquenti, descrivendo el Brasile come un paradiso lontan. "Na tera ndove la ricchessa salta fora del tereno e el lavoro onesto el vien ricompensà", diseva lui, distribuindo foietin e mostrando desegno de campi vasti e famèie soridenti.

Enrico lu el ga sentì parlar de l'agente durante la messa de la doménega. La pìcola cesa de sasso ecoava de mormori su le promesse de la nova tera, e anca se tanti i zera indecissi, lui el ga sentì un qualcosa sveiarse drento de lui. Con un sentimento de speransa e disperassion, el se ga incontrà con esse tal agente in la piasa prinssipal de la so vila. La conversassion la ze stà curta, ma ogni parola la pareva portar un peso enorme: ´na promessa de futuro o ´na arapuca travestida da oportunità.

Dopo zorni de riflession e noti sensa sono, Enrico lu el ga siapà la so resolussion. El vendeva i so pochi ben: la vècia careta, i utensili de rame eredità da la mare, e anca el pìcolo grege che ghe restava. Con quei schei, el ga comprà i biglieti par lui e la so famèia sul pròssimo vapor che salpava da Génova verso el Brasile. L'idea de la traversia la zera tanto spaventosa quanto essitante; lo sconossiuto li atirava come un richiamo irresistìbile.

Mentre impacava i pochi beni che ghe restava, Enrico lu el ga sentì un nodo ´nte la gola doblando i pani simpli de lavoro e metendo via el vècio rosario che zera de so pare. La so casa de sasso, pìcola e ùmile, la pareva adesso pien de ricordi pì che de muri. Al fianco de la mòier, el gaveva dato l'ùltimo sguardo sui campi che i li aveva visto crèsser e sofrir. La tera, che sempre la zera stà la so casa, adesso la zera solo un pesá de dolor e adio.

El zorno de la partensa lui i ga rivà soto un ciel grìgio de ´na matina freda. Tuta la vila pareva presente par salutar chi che l'andava via. Làgreme se mescolava con soriso incoragianti, mentre Enrico el montava su la carossa che i li portava fin a la station del treno che i ga portà al porto. El rumor de le rote sul ghiaio pareva marcar lo scomìnsio de ´na nova vita. Enrico, sofiando via el fredo de la matina co le man rossi e rugà de la fatiga, el stava su la carossa mentre che la caravana, lenta ma decisa, se avicinava de la stassion del treno. La lunga colona de vagon la coreva verso Génova, con un rumor contìnuo che pareva cantar ´na melodia de fero e speransa. Le rote le bateva sul binàrio, scandendo ogni momento, ogni pensiero. Enrico, con el sguardo perso fora dal finestrin, el vardava el paesàgio che se cambiava piano, passando dai campi verdi de la pianura a le coline rugose, e poi ancora verso le sità sempre pì grande e confuse. Rosa la teneva streto a sé Carlo, che dormiva straco sul so col, mentre Bianca la stava con la testa scorà sul so fassoleto, silensiosa, come se lei capisse che quel viaio no el zera solo uno spostamento, ma na partensa da tuto quel che i gaveva conosuo fin là.

“Credi tu che troveremo veramente ´sto futuro?” Rosa la gaveva sussurà, senza vardar el marito, come par no farghe sentir el peso de la domanda. Enrico, sensa desviar el sguardo dal finestrin, el gaveva solo smenar con la testa. No gaveva parola, ma drento de lui el cuor el zera pien de promesse che no podeva romper, no par lui, ma par quei che adesso se fidava ciecamente de lui. Le stassion che lori i incontrava lungo la strada le zera come tape de ´na liturgia. Ogni fermada la portava un misto de emossion: zente che se sbrassiava, borse e baule che i se alsava sui vagon, e volti che no se vardaria mai pì. La vita de quei paesi ghe zera e rimaneva là, come ´na fotografia che pian pianino el tempo la gavaria canselar. Mentre la sera la vegnìa zo, con le ombre che se alungava drento el vagon, Enrico el strense el rosàrio che el gaveva in tasca. “Par Sant’António, da ghe se forsa a ‘sta famèia”, el pregava in silènsio, mentre la lunga colona de vagon continuava a cantar el so rumor. Con Carlo e Bianca che ghe stringeva forte le man, el no diseva gnente, ma el cuor ghe bateva forte come un tamburo. Rosa, al so fianco, teneva un fassoleto straco de strensarse i òci rossi.

La sità portuària la zera un caos vibrante. Navi enormi de fero, con camini alti che sbofava fumo nero, i zera sircondà de una moltitudine de zente. Al porto, se senti i vari dialeti italiani, mescolà co l'acento strano de chi che gestiva el embarco. Le famèie le zera tute con i so carichi, legate e baule impilà un sora l'altro. Enrico, sempre taconà ai so fiòi, el gaveva la schiena rìgida e el sguardo fisso su quel vapor imenso che pareva un mostro marìtimo. Finalmente, drio ore de atesa e controli, i zera saliti su la nave. Enrico el se ricordarà par sempre el primo passo sul ponte, con el scricolar del legno e el profumo misto de sal marìn e fumo de carbone. Le cabine, scure e pòvere, no gaveva finestre; el spasso zera streto, ma almeno i gaveva un posto par sdraiarse. Bianca e Carlo i se sedeva su le casse con le so poche robe, mentre Rosa el sistemava le coerte con cura.

La nave, drio un fischio poderoso che pareva squarciar el ciel, finalmente la ze partì. Génova pian pianin la se riduseva a un puntìn sfumato all’orisonte, e un silènsio reverensial el cadeva su tuti. Enrico, con el braso su la spala de Rosa, el gaveva el sguardo fisso sul mare sconfinà. El futuro lo aspetava da qualche parte, ma el passà, con tuta la so pesantessa, el ghe restava indrio. 

I primi zorni sul vapor i zera un misto de riangiarse e soferensa. Carlo e Bianca, no abituà a l'onde del mare, I zera debiliti e malandati, mentre Rosa la stava streta al so posto, sempre preocupà par i fiòi. Enrico, drio ore de riflession e preghiere, el gaveva fato amicissia con altri passegieri. Un vècio, con la barba bianca e le man nodose, el contava de stòrie del Sudamérica; un paron de Vicenza el descriveva le imense foreste de la nova tera, ndove la legna la se trovava con le man nude.

“Ma ti no lo ga mai visto sto Brasil?” el gaveva domandà Enrico, con un sorriso incrèdulo.

No, fiol mio, ma no te gavè bisogno de vardar par creder. El sconossiuto el ze quel che te dà coraio,” el gaveva risposto el vècio, con el sguardo lontan.

I zorni sul mar i gaveva un ritmo monòtono, interroto solo dai pasti stràchi e dai cori de preghiera che i passegièri improvisava. Ma el ventèsemo zorno, el cuor de Enrico el gaveva sentì un peso novo. Bianca la gaveva scominsià a tossir, ´na tosse dura e seca che la zera incapace a fermarse. Carlo el gaveva la segui a poco dopo. Rosa, disperà, la gaveva sfiorà el volto de la fiola, sentindo la febre ardente. El vapor, che prima el pareva un sìmbolo de speransa, el diventò un luogo de paura. El sarampion el ga fato la so entrata, come ´na maledission portà dal vento. Fiòi de ogni àngolo de la nave i gavea scominsià a cascar malà, e ´na scia de silènsio pesante la segueva la disperassion. Enrico, drio tentativi de domandar aiuto al poco equipagio disponìbile, el gaveva capì che poco se podeva far.

Una sera, con Bianca tra le brasse de Rosa e Carlo su el materasso vècio, el silènsio el se spesò. El cuore de Bianca el se fermò, e Rosa la scopiò in un grido che ghe dilasserava l´ ànima. Enrico, colpìto dal dolore, el no gaveva la forsa de piànser; el stava là, fermo, sentindo el peso de ´na colpa che no era soa.

El capitano, sensa emossion, el li avisò: “I corpi no pol restar a bordo. L’aqua del oceano li acoglierà.”

Con grande pena, i marinai i li ga spiegà le regole. Bianca la no podeva essere tenuda a bordo. El capitano, con ´na fassia tesa e dura, el gaveva deto che i doveva fare el ritual de sepoltura al mar, par evitar ulteriore contagio. Rosa, devastà, la no voleva lasarla andar. Se ghe teneva streta, cantando co la vose rota. Ma el destin el no gaveva misericòrdia. Con ´na cerimonia breve, ndove le preghiere de un prete imbarcà le se mescolava ai singhiossi de Rosa, el corpin de Bianca el ze stà calà dolcemente ´ntel mar. Enrico, con el rosàrio in man, el pregava, mentre le onde del mare le se chiudeva piano su quel picolo invòlucro de amore e disperassion. Rosa la gaveva voluto sercar con gli òci fino a perderse nel horizonte, sperando invano de vardarla ancora ´na volta. Con el cuor spesà, Enrico e Rosa i ghe ga dato l’ùltimo sguardo a la Bianca, prima de vederla sparir tra le onde scure. La sua risata e i so òci vivi i se mescolava ora con el infinito del mar. 

Drio ´sto evento, la famèia Castellari la zera devastà, ma anca ancora pì unìda. Rosa e Enrico i se tegneva streti, condividendo un peso de dolore che solo loro i podeva capir. Carlo, ancora dèbile, el sercava conforto ´nte la loro presensa.

Dopo setimane interminàbili, el vapor el ga rivà finalmente a el porto de Rio de Janeiro. I Castellari i zera trasformà: ´na famèia che gavèva lassà la so tera con speransa, ma che ora la gaveva le sicatrissi de ´na pèrdita che el tempo no podeva guarir. Ma la promessa de ´na nova tera la ghe restava, come ´na ancora a cui agraparse.

Dal porto, con molti altri emigranti, i zera stati caricà su un altro vapor fin al Rio Grande do Sul. Finalmente, i Castellari lori i ze rivà a la Colònia Dona Isabel. Le prime impressioni zera de un mondo de lavoro e sacrifìssio. La selva densa, le case de legno mal rabersià, e la comunità spersa le zera lontan dal "paradiso" che l'agente de emigrassion el gaveva promesso. Ma le parole del vècio sul vapor le ritornava a Enrico: "El sconossiuto el ze quel che te dà coraio."

Enrico el alzò ´na capanna insieme a altri coloni, lavorando de sol a sol. Rosa la se dedicava a mantegner la casa, con i pochi mesi che gaveva. Carlo, recuperà, el zera tornà a essere un fiol vispo, ma con ´na ombra de malinconia che solo ´l tempo la podarà canselar. Bianca la zera sempre presente ´nte le loro menti, ´na presensa silensiosa che ogni sera i onorava con ´na preghiera.

Drio ani de sacrifici e lavor, la famèia Castellari la zera riussì a stabilir ´na vita dignitosa. La tera la gaveva risposto al loro sudor, e la comunità, benché inisialmente dispersa, la zera diventà ´na rete de suporte e amississia. Rosa la trovò conforto ´nte le done de la colònia, e Enrico el zera diventà ´na figura respetà, un omo che i zovani i consultava. Ogni primavera, davanti a ´l piccolo altar che gaveva costruì in memòria de Bianca, Enrico e Rosa i raccontava a Carlo de la so sorela, de quel che la gaveva rapresentà par loro e de come la so memòria la zera ´na guida. Carlo, cressendo, el ga giurà de onorar quel sacrifìssio, lavorando duro par no sprecare quel que i so genitori i gaveva conquistà.

La storia de i Castellari no zera solo de soferensa, ma anca de resiliensa e amor, un testemónio de come ´l coraio e la volontà i podeva vinser anca le tragèdie pì scure. E Bianca, benché sia nda via, lei la ghe restava viva, no solo ´nte la memòria de la famèia, ma anca ´nte le radise che lori i gaveva piantà drento a quel novo mondo.


Nota de l'Autor


Sta stòria la ze sta inventà, ma la ghe speta na base vera. I fati i vien dai raconti e dai scriti trovà in le lètare dei nostri vèci emigranti. Le so parole le ga portà fin qua el peso de la so vita, el dolor de la lontanansa e la speranza de un doman miliore.

Se ben la ze na stòria de fantasia, la ghe porta drento l’ànima de chi i ga passà quele visende, e la vol far onorar la memòria de tanti che i ga costruì con el sudor un futuro novo.

Con afeto,

dott. Luiz C. B. Piazzetta



terça-feira, 15 de julho de 2025

El Talian – ‘Na léngoa che no se perde


El Talian – ‘Na léngoa che no se perde


El Talian no el ze mia stà soltanto ‘na maniera de parlar. Lu el ze stà, un prinssìpio, ‘na forma de restar vivi in tera straniera. No ze mia un dialeto: lu el ze un fil che unisse generassion, un sùpio che vien da lontan, che passa par la boca dei veci, par le cusine fumeganti, par le famèie numerose, par le preghiere bisbiglià prima de ndar a dormir. La ze ‘na léngoa nata in tera véneta ma crià in tera brasilian, mescolà con el sudor del laoro e con la fame de ‘na vita mèio.

El Talian, fin da pochi ani, no el zera mia stà insegnà in scola. Se imparava con le récie, stando ziti in canton, sentindo le paroe che scampava tra i veci mentre i batevla manara, mentre la nona impastava, mentre el nono parlava de le robe passà. Ogni parola ze un segno, un resto de ‘na stòria che i emigranti no ga mia volesto perder. No importa se i fiòi ghe diseva che no serviva pì, che el portoghese el zera la léngoa del futuro. Loro, i veci, continuava a parlarlo, non par orgòio, ma par amore. Parché el Talian, par loro, la zera casa. E casa no se abandona.

El Talian ze stà la voce de chi no gavea altro. Quela léngoa la zera tuto quel che restava a chi ga lassà indrio i paesi, le campagne, le montagne del Véneto. El brasilian i lo dovea imparar, ma el Talian el zera già so, drento. El zera la léngoa che se parlava par ciamar i fiòi, par lodar el Signor, par contar le pene, par rider e par star uniti. Zera la léngoa che restava dopo la morte, ´ntei funerài silensiosi, ´ntei testamenti deti a vose, ´ntei nomi scriti sui croxi de legno.

Con el tempo, tante paroe se le ga perse. Tante altre se le ga trasformà. Ma el senso, el fondo, el cuor de la léngoa la ze restà. La ze restà ´nte la forma de contar ‘na stòria, ´nte la maniera de saludar, ´nte la forma de dir “ghe penso mi”. Anca quando no se parla pì ogni zorno, el Talian resta ´nte la carne, nte la memòria, ´nte le scelte pìcole. Lu el ze come ‘na mùsica che no se scorda, che torna in testa quando se meno aspeta.

No serve che tuto el mondo lo capisse. Basta che un, un solo, el lo continuì a portar. Basta che ‘na nona la conti ‘na olta ancora, che un zòvane el lo scriva, che un libro el venga stampà, che ´na comunità el se trovi assieme par cantar. El Talian no morirà. El se trasforma, el riposa, el va in fondo, ma el no sparisse mia. Parché el Talian lu el ze la léngoa de chi ga resistesto, de chi ga costruì tuto con le man, de chi no s’é mia desmentegà da ndove el vien.

No ze orgòio. Ghe ze fedeltà. No ze folclore. Ghe ze verità. El Talian ze la prova che ‘na léngoa no la vive solo finché la se parla, ma finché la se ricorda, finché la se sente vera drento. E finché ghe sarà memòria, finché ghe sarà ‘na famèia che lo ciama “nostro modo de parlar”, finché ghe sarà qualcuno che lo scrive, el Talian continuerà a esister. Parché el Talian el ze Brasil, ma lu el ze anca Véneto. Lu el ze campo, lu el ze sudor, lu el ze canto. Lu el ze dolore e cuor. Lu el ze radise. Lu el ze vita.

Luiz C. B. Piazzetta



O Destino de Giovanni Marchetto: Um Emigrante em Busca de Esperança


 

O Destino de Giovanni Marchetto
Um Emigrante em Busca de Esperança


Giovanni Marchetti era um agricultor humilde de uma pequena localidade de Mirabello, na província de Ferrara, Itália. Como muitos outros na década de 1880, ele via a América do Sul como uma terra de promessas. A Itália estava afogada em crises econômicas, e os campos áridos não produziam o suficiente para sustentar sua família. Giovanni, sua esposa Maria e seus dois filhos pequenos decidiram arriscar tudo e partir para o Brasil, onde lhes haviam prometido terras férteis e oportunidades de trabalho.

O início da jornada foi uma sucessão de desilusões. A carta que Giovanni escreveu durante a travessia é um testemunho de sua angústia. Ele descrevia como, no navio, as pessoas estavam "apertadas como sardinhas em lata". A morte rondava a embarcação: um menino de apenas cinco anos, saudável e cheio de vida, sucumbiu a uma febre. Outros oito passageiros estavam gravemente doentes. Gritos de dor e lamentos ecoavam incessantemente. A comida era quase incomível, e o pão, "duro como ferro", não amolecia nem com água.

Giovanni era um homem calmo por natureza, mas o tratamento desumano o enfureceu. A indignação tomou conta quando descobriu que haviam sido enganados pelos agentes de emigração. Pagaram por um lugar em um navio a vapor, mas foram colocados em uma embarcação à vela, que transformava a travessia em uma interminável provação. Ao chegarem a Marselha para uma escala, Giovanni e outros 100 emigrantes confrontaram os agentes responsáveis pela fraude. A revolta quase terminou em violência, mas a chegada das autoridades evitou o pior. Os culpados foram presos, mas a incerteza sobre o futuro permanecia.

Após semanas de sofrimento no mar, o navio finalmente chegou ao porto de Porto Vitória, no Brasil. A visão era desoladora: um local cercado por mata fechada, com poucas construções e nenhuma infraestrutura. Giovanni foi designado para trabalhar em uma colônia agrícola no interior da província de Santa Tereza, junto com dezenas de outras famílias italianas.

Os primeiros meses foram de luta incessante. Sem ferramentas adequadas e enfrentando um clima tropical opressivo, Giovanni teve de abrir espaço na floresta virgem para plantar. A malária e outras doenças eram companheiras constantes. Muitos vizinhos sucumbiram, mas Giovanni não desistiu. Ele trabalhou incansavelmente, com Maria ao seu lado, plantando as sementes que lhes dariam sustento no futuro.

Um dos momentos mais marcantes aconteceu no segundo ano de sua chegada. Após uma colheita particularmente bem-sucedida, Giovanni escreveu novamente à sua família que permanecera na Itália. "Hoje, senti o gosto da terra que sonhei. O milho está alto, e o trigo é dourado como o sol. A dor e o cansaço quase me fizeram desistir, mas agora vejo que fizemos a escolha certa. Não foi pela riqueza que viemos, mas pelo direito de sonhar com um futuro para nossos filhos."

Giovanni e Maria tornaram-se pioneiros respeitados na colônia. Suas terras floresceram, e eles ajudaram outros imigrantes recém-chegados a enfrentarem os desafios. Embora a saudade da Itália nunca tenha desaparecido, eles encontraram um novo lar no Brasil, onde construíram uma vida de trabalho árduo e dignidade.

A carta de Giovanni, escrita no momento mais sombrio de sua jornada, tornou-se um símbolo de sua resiliência. Anos mais tarde, seus descendentes a preservaram como uma relíquia, lembrando que a coragem de um homem pode transformar o desespero em esperança.



segunda-feira, 14 de julho de 2025

El Destin del Emigrante Giacomo Benedetto


El Destin del Emigrante 
Giacomo Benedetto


Giacomo Benedetto el ze nassesto el 23 de agosto del 1895, ´nte la pitoresca frasion de Corrubbio, ´ntela località de San Pietro in Cariano, un cuore vivo del Valpolicella, ´nte la provìnsia de Verona. In quel posto, fra le coline verde smeralda e le pantassion de ua che se distendea fin ndove riva i oci, lu el ga cressesto fra tradission e fadiga. I cipresse alti i fiancheava le strade de tera, e i campi de vigne, intramesai con altre colture pì picene, i ghe zera el sostegno de quasi tute le famèie de la zona.

Corrubbio no el zera solo un paeseto; el zera un mondo picinin, ndove la vita girava intorno a le staion. La campana de la pìcola cesa, dedicà a San Giorgio, el segnava el rìtmo de le zornade. De matina presto, prima che el sol tocasse la cima de le coline, Giacomo el zera zà in campo con so papà, Pietro, e so mama, Rosa. Ogni gesto ripetido ´ntel coltivar la tera el portava drento sé sècoli de saviessa. Imparar a taiar le vigne, coier l'ua matura e premerla par tirar fora el mosto zera un'eredità tramandà con orgòlio.

Ma anca con tuto el lavoro, la vita la zera difìssile. Le tase, sempre pì alte, i imposte del governo del novo regno e dei padroni de le tere, le se magnava el poco che produsea. Pietro Benedetto, omo de poche parole ma de una forsa incrolàbile, el disea spesso:

La tera ne dà el vin, ma el governo el beve el guadagno.

Giacomo lo scoltava con el cuor pesà. Le rare ocasion par ndar a San Pietro in Cariano, sede del comun, le ghe mostrava un mundo che pareva un altro pianeta. Anca el mercà e le strade con le prime pavimentassion e ghe ricordava le limitassion de la so realtà.

De doménega, la messa a Corrubbio la zera un momento de pausa e riflession, ma anca de inquietudine par Giacomo. ´Nte le noti frede de inverno, Rosa contava stòrie de Verona, con la Arena e la Piazza delle Erbe. Par Giacomo, ste stòrie le zera come sòni lontan.

Con la guera in 1915, Giacomo el ze stà portà via dai campi, via da la so Corrubbio. Tra i monti e el gelo del fronte, el lavorava a costruir ponti e strade par i soldà italiani. Lì, tra i dialeti diversi e i rischi mortali, el capì che l’Itàlia la zera ancora un paese diviso ma pien de speranse.

Quando la guera la ga finì in 1918, el ga tornà a casa segnà, ma pì forte. El ghe giurò a sé stesso che no’l saria restà par sempre lì, intra le coline. Con la forsa guadagnà ´nte la guera, el zera pronto par moldar el so destin, anca se questo el voleva dir ´ndar via.

Quando Giacomo Benedeto el ze tornà a Corrubbio in 1919, el portava con se steso le sicatrissi invisìbili de cuatro ani de guera. Benché la so figura la fosse sempre drita, la luce de la so zoventù el gaveva lassà posto a na serietà malincónica. El caminava lento su la stradeta de tera che lo menava a la frassion, adesso fianchegià da vigneti che no i se alsava pì con orgòlio. Le viti, che ‘na volta le dava sustento a tante generassion, le ze strosà da erbe mate, i rami sechi i se movea con el vento, come a lamentar l’abandono.

La cesa de San Zorzi la stava sempre in pie’ al sentro del paeseto, ma la campanela che tante volte la gavea segnà i zorni de Giacomo la sonava meno spesso, come se anca el paese el gavea perso el vigor de sostener la so rotina. Le case de sasso le portava segni del tempo e de l’abandono. Alcune le ze deserte, mese distrute, le porte e le finestre sbregà, che mostrava un interno pien de pòlvere e silénsio.

Quando el ze rivà a casa dei so vèci, Giacomo el ze stà acolto con abrassi caldi e làgreme. Rosa, la so mama, la pareva pì vècia, con i òci stanchi che rifletea i ani de dificoltà. Pietro, benché pì chino, el mostrava ancora la determinassion che l’aveva sempre contradistinto. El ritrovarse insieme el ze stà ´na mescola de giòia e tristessa; ghe zera alìvio de èsser ancora vivi, ma anca ‘na consapevolessa muta che niente saria pì come ‘na volta.

Ntei zorni che son vegnesti, Giacomo el gavea provà a ritrovarse dentro la vita de Corrubbio. El dava man a Pietro par pulir i vigneti, a cavar le erbe mate e a tirar su le stache che zera casca zo. Ma ogni dì sui campi el ghe ricordava le perdite che la guera el gavea portà. Tanti zòveni del paese no i zera tornà, e quei che i zera rivà i portava pesi tanto gravi quanto i so.

In piasseta a San Piero in Carian, le ciàcole le ze diventà diverse. Prima i contadini i parlava de vendémie e de feste par i santi; adesso, i argomenti pì frequenti i zera le lètare che rivava da parenti che tanti ani prima i zera partì par el Brasile o par l’Argentina. Queste lètare, scrite in talian semplice e spesse volte bagnà de làgreme, le zera lese a vose alta par grupeti che i se radunava par sentir. Le contava de sfide imense — foreste dense, tere ancora da lavorar e ‘na nostalgia infinita — ma anca de promesse de prosperità. ‘Na frase in particolare la se restà scolpida ´nte la testa de Giacomo:

"Qua, le tere ze tanto vaste che no se ghe varda mai la fine, e el lavor, anca se duro, el fa soniar de el doman."

Queste parole le gavea sveià in lui ´na mescola de inquietudine e speransa. Giacomo el gavea scominsià a imaginar ste tere lontan, ndove el sudor del lavor el podesse, finalmente, trovar ‘na ricompensa. El se vedeva a costruir na vita nova, lìbaro dai vìncoli de la misèria e dai pesi dei tributi che no finiva mai.

Ntei mesi seguenti, Giacomo el divideva el so tempo tra el aiutar i vèci e el pensar a la partensa. De sera, davanti al fogolar, el discuteva con i so vèci de quei piani. Rosa, benché contrària, la capiva el so desidèrio de catar un futuro mèior. Pietro, con ‘na vose bassa e calma, el dava consili pràtici e un sostegno tàcito, capindo che Giacomo el zera destinà a qualcosa de pì grande de quel che Corrubbio el podesse ofrir.

Giacomo el passava ore a San Pietro in Carian, dove i mercanti e i viandanti a volte i portava novità de tere foreste. El fasea domande, el ascoltava ogni detàlio e el alimentava la so determinassion. De fine setimana, el ´ndava su fin sora le coline che circondava la frasion, e el guardava verso l’orisonte, come se podesse vardar el futuro che lo spetava oltre le montagne e i osseani.

La resolussion finale la ze vegnesta ´na matina de primavera, quando le prime geme verdi le gavea scominsià a sbocar sui vigneti. Giacomo el savea che, se el restava, la so vita la saria stà inchiodà al siclo eterno de vendémie e de fadighe. Con un cuor pien de speransa e un spìrito resiliente, el gavea scominsià a preparar la pì grande aventura de la so vita. El savea che el camin saria stà duro, ma el savea anca che, da qualche parte, un novo scomìnsio el ghe faseva segno.


Un dì, de sera, Pietro el portò a tola ´na lètara vècia, scolorì dal tempo, mandà da un cusin che lu el zera partì par el Brasil ani prima. Le parole, scrite con una scritura semplessi e tremolante, le dipingea un quadro de dificultà, ma anca de speransa. "Qua ghe ze tera par chi ghe ze coraio de conquistarla," disea la lètara. "El lavor el ze duro, ma ghe ze spàssio par soniar, par crèsser, par gaver quarcossa che ze veramente de noialtri."

Ste parole le piantò un seme nel cor de Giacomo. El cominciò a imaginarse el Brasil, un posto dove le foreste infinite e le campagne vaste prometteva oportunità che Valpolicella, co le so coline stanche, no podea più dar. Pian pianin, l’idea de emigrar la diventò no solo un sogno, ma un plano concreto.

Inte la primavera del 1920, Giacomo el tolse finalmente la so decision. Un sabo, al tramonto, el salì su par una colina vicina al paeseto. Da là, el podeva veder le case sparse de Corrubbio, le rovine de vigne vecie e, lontano, la torre de la ceseta de San Pietro in Cariano. El respirò fondo, sentindo l’odor de la tera che el gavea sempre conosùo, e el fece una promessa a se stesso: tornar un giorno, ma no più come un poareto, ma come un omo che gavea vinto el destino.

Nei giorni dopo, Giacomo el ga scominsià a prepararse. El ga vendesto quel che podea: na mula vècia, qualche strumento rustìo e anca na prensa del vin che la zera de so nono. Ogni vendita zera ´na streta al cuor, ma anca un segno de determinassion. Rosa, so mare, ghe cusì una sporta resistenta, ndove el ga metesto i so pochi robe: vestiti, na bìbiea, el rosàrio che lei ghe gavea dà e la lètara del cusin che l’avea ispirà.

El zorno de la partensa el zera dolceamaro. ´Nte la piassa de San Pietro in Cariano, un grupeto se radunò par darle adio. Giacomo el strinse forte i genitori, sentindo la fragilità dei brassi de Rosa e la fermesa resignà de Pietro. Prima de partir, el se inzenochià al altar de la ceseta de San Giorgio, fasendo ´na preghiera in silénsio, domandando protession par el viaio e prometendo de no desmentegarse mai de le so radise.

El viaio in treno fino a Génova el zera stà longo e faticoso. Giacomo el dividea el posto con altri contadin che anca lori soniava ´na vita nova. Quando el ga rivà al porto, el restò impressionà da la grandesa del posto: l'odor salà del mar se mescolava con el caos de i mercanti, marinai e famèie che se salutea. El vapor che lo gavaria portà in Brasil, un bastimento grande con el casco scuro, pareva tanto una promessa quanto una minàssia.

El zorno del imbarco, Giacomo el sentì el peso de la so dessision. El salì su per la rampa de legno che portava al ponte, con la sporta e un cuor pien de insertese. El fischio del vapor el risuonò per el porto, mescolandose ai pianti e ai adìi de chi restava. Mentre el bastimento el se alontanava dal molo, Giacomo el restò fermo sul ponte, guardando verso l’orisonte che pian pianin el ingoiava l’Italia.

In fondo al so cuor, na domanda continuava: cosa me aspeta dall'altra parte del ocean? Ma al stesso tempo, ´na risposta tàssita cresseva drento de lui: no importa quanto difìssile che sia, el ze stà determinà a construir ´na vita nova, par lui e par chi el gava lassà indrio.

Dopo un lungo viaio in barco, Giacomo el ga rivà finalmente a São João do Polesine, ´na pìcola località, un viloto de case de taliani, ancora parte de Faxinal do Soturno, ´ntel sentro del stato de Rio Grande do Sul, visin a la sità de Santa Maria. Quando el ga rivà, u el ze stà acolto da Enrico Salvatore, un vècio conossuo de la so famèia, che ghe dà on posto par dormir fin che el podesse stabilirse.

Le situassion zera de quele che no se desidera gnanca al pì nemico. Giacomo lavorava da zornata, taiando i àlbari de la mata vèrgine e creando spasi par piantar. El clima, le bestiole che lu no i conossèva e l’isolamento ghe dava sfide da tremar. Ma el no se stava de là. Con el core pien de speransa, lu el zera seguro che un dì el gavaria la so tera.

Quando Giacomo Benedetto mete assieme bastante schei par comprar la so tera, el sentì par la prima olta el dolce-amaro de la conquista. Sinque ètari de bosco fito, con àlberi vèci come i ani, e tera pien de sassi e felze. Par tuti quei che i vedeva, la zera na bega. Par Giacomo, la zera na promessa.

Con ´na vècia manara prestà da un visin, el ga scominsià el lavor par i so conto. Taiava de zorno e ripoliva de note. El ghe meteva un larin a òio par vardar, le man schelate, ma la voia no mancava. Il pìcolo riparo, ´na cabana che el ghe feseva con el legno taià no el zera na casa, ma par lu el zera un castel, con la so forsa.

La tera, che parea morta, pian pian se svèia par le cure che Giacomo ghe dàva. Con un caval e na machina vècia, el scomìnsia el coltivar un vignal. Le prime cose che el feseva el zera par ricordar el Valpolicella: vigne come el so sonio de ndarse in alto.

A ´na messa a Santo Antonio, ´ntel 1925, el varda Maria Luisa Cortine. Na bela putela, anche lei da la provìnsia de Verona, che ghe pareva un ángelo. Le stòrie le somiliava, e lu el capì che el volìa con ela vardar avanti. Le sere, con le stele che spetava, el contava a lei i sòni de un futuro beo.

El matrimónio el ze stà ´na festa de primavera, par tuti i visin. Con lei, la so caseta ghe pareva na règia: Maria la ghe porta la vida, le fiore, le tende, e na teneressa che no se inventa. Lei ghe planta ´na forsa che fa crèssere i sòni come ´na pianta ben bagnà.

Con el passar del ani, la loro tera deventa grande, e i fruti che lori coltiva i lassa na richessa che no la se conta solo con i schei: el loro amore e la loro forsa ghe trasforma tuto intorno. Ma Giacomo, con Maria visin, capì che no solo de tera e de vigne se vive.

I zera con i altri, a misa e a festa, e pian pian i diventa anche brasiliani. La loro tera e la vita ghe parìa adesso la corona de tuti i lori sacrifìssi. Era questo, São João do Polesine, casa, vita, e speransa.

I ani che son vignesti dopo i ze stà segnà da sfide e conquiste par Giacomo e Maria. L'arivo dei tre fiòi — Pietro, Lucia e Giovanni — la ga portà ´na nova motivassion ´ntela vita de marìo e mòier. Ogni puteo el ze come na promessa de continuità, un riflesso de la lota e dei sòni che i genitori ghe dava vita ogni zorno su quela tera foresta.

Da picinin, Giacomo e Maria lori i ga insegnà ai fiòi de valorisar el lavor, ma anca l'importansa de l'istrussion. Giacomo, che in Itàlia gavea poche oportunità de studiar, ghe insisteva che i fiòi lori i ga un destino diverso. Al tramonto, dopo el lavor ´ntei campi, el se sentava con lori a la luse de un lampion, insegnandoghe le prime lètere con passiensa e dedission. Ze un ricordo de quele sere, con la vose grave de Giacomo che resitava parole e frasi, mentre i putéi i copiava con cura su tochi de carta.

Quando Pietro, el pì vècio, ghe mostrò interesse par studiar agronomia, Giacomo ghe vedeva na oportunità par superar el ciclo de dificultà che la so famèia gavea patìo. Anche con pochi schei, el fece enormi sacrifìssi par mandarlo in capitale. Vendendo na parte del racolto e rinunssiando anca ai pochi lussi che i gavea, el ghe assicurò che el puteo gaveva asseso a na bona istrussion. Pietro el zee diventà un sìmbolo de speransa par la famèia, e le so visite rare a casa iera acolte come ´na festa. El portava con sé novi conosensse, idee moderne e libri, che i vegnia leti con entusiasmo dai fradèi e dai genitori.

Lucia e Giovanni, anca se pì interessadi al lavor ´ntei campi, lori i gavea la stesa dedission dei genitori. Lucia gavea na gran abilità con le man e gavea imparà da Maria a cusir e a curar el giardin e l'orto intorno a casa. Giovanni, el più picinin, gavea na passion par le vigne, e l'aiutava Giacomo a migliorar el cultivo de l'ua. Insieme, la famèia zera come un machinàrio ben olià, ndove ogni parte el ze essensial par el sussesso del tuto.

Mentre i cresceva i so fiòi, Giacomo e Maria gavea anca un ruolo importante ´nte la comunità de São João do Polesine. La picolina vila, composta per la maior parte da emigranti italiani, la ze diventà na sorte de grande famèia estesa par i Benedetto. I visin i condivideva conosensse e esperiensa, i festegiava insieme le tradission italiane e i se aiutava ´ntei momenti de bisogno. Ze comune sentir le cansonete italiane ´ntele sere d’inverno, quando le famèie se radunava par rezar la corona, par contar stòrie e spartir el pan.

Giacomo el ze diventà presto na figura de rispeto ´ntela comunità. El so spìrito imprenditor e la so disponibilità par aiutar gavea fato de lu un lider natural. Lu el ze stà chi ga la proposta de crear ´na associassion de contadin locai, ndove i membri i podeva scambiar semense, spartir tècniche de coltivassion e discutir come superar le sfide imposte dal teren e dal clima. Le reunion, inissialmente fate ´ntela pìcola capela de Sant’Antonio, la ze diventà con el tempo eventi regolari che univa la comunità verso un obietivo comune: el progresso par tuti.

Con el passar del tempo, l’associassion ña ze cresida e la ga organisà fiere agrìcole, ndove i contadin i mostrava el mèio dei so prodoti. El vin de Giacomo, fato con l’ua coltivada con tanto amor, gavea guadagnà reputassion e el ze diventà sercà dai mercanti de le sità vissin. El zera un riconoscimento che mai gavea pensà de otener, ma che adesso confermava che i sacrifìssi i gavea portà i so fruti.

Drento a la comunità de São João do Polesine, i Benedetto ga trovà pì che vissin: lori i ga trovà compagni ´ntela costrussion de na nova vita. Insieme, i sfidava le aversità e festegiava le vitòrie, tenendo viva la tradission italiana mentre i se costruiva un futuro in Brasile. Era in sto equilìbrio tra passato e presente, tra indivìduo e comunità, che Giacomo e Maria i gavea visto fiorir el sònio che i ga portà da oltre el mare: un lassà de forsa, unione e speransa.

In 1964, a 69 ani, Giacomo Benedetti el ga finalmente realisà un so gran sònio: tornare in Itàlia. Con Maria e i do fiòi pì grandi, Pietro e Lucia, el se ga imbarcà su un vapor de passegieri, rivivendo al reverso la traversia che, desene prima, el ga segnà lo scomìnsio de la so aventura. Stavolta, però, no el zera spinto da inssertessa o disperassion, ma da ‘na gran voia de ritrovar le radise.

Quando el ze rivà su la tera italiana, ´na mescola de emosioni el ga invadi el so cuor. El profumo de le coline de Valpolicella, i cipressi lungo le strade e le cesete de sassi le gavea el stesso aspeto de ‘na olta. Ma quando el ze rivà a Corrubbio, el ga capìo che tuto el zera cambià. La contrà picina ndov’ el ga vissuto la so infansia la zera pì grande; le vigne de la so famèia le zera stà vendu a un gran produtor, e tante case vècie le zera rimpiasàe da costrussion nove.

Inte la cesa, la stessa ndove el ga servì come sacristan, i so passi i rimbombava su el marmo, tuto lussidà e novo. Davanti a l’altare, el ga serà i oci par un momento e ga ressità ‘na preghiera, ringrasiando Dio par la vita che el gavea costrùo in Brasile. Quando el ga trovà i vèci amissi e parenti, i ga ancora l’abbrassà caldo che ‘na volta, emosionài de sentir le stòrie del Brasile.

Ma Giacomo el ga capìo che quel lasso con el passà el ga cambià. Corrubbio no el faseva pì parte de la so identità. La so vera casa la zera fra le coline brasilian, fra i vigneti che el ga piantà con tanta fatica, insieme a la so famèia e a la so comunità.

Tornà in Brasile, Giacomo el zera diverso. Con l’ànima pì serena, el ga deciso de contar le so stòrie ai fiòi e ai nipoti. Ogni sera, le so parole le portava i picinin a riviver el tempo de la famèia in Itàlia, i sacrifìssi de la traversia e i primi ani a São João do Polesine. Par i nipoti, el nono Giacomo el zera un eroe.

Giacomo el ga difeso le tradissioni taliane. Ogni doménega, a casa Benedetto se magnava risoto, polenta e bìgoli, insieme ai piati brasilian che Maria la ga imparà. La tola zera pien de risi e de amore, un sìmbolo de unione.

In 1978, a 83 ani, Giacomo el ze ´ndà via in pase, drio aver vivido ‘na vita piena. A el so funeral, tuto el paese el ga pianto e ricordà un omo che gavea segnà la stòria de São João do Polesine.

El lassà no solo la tera che el gavea lavorà, ma anca i valori che el gavea insegnà: lavor duro, gratitudine, e unione. I nipoti i ga seguito strade diverse, ma sempre guidài dal spìrito del nono. Anca dopo tanti ani, el nome de Giacomo Benedetto el ze pronunsià con rispeto, un sìmbolo de coraio e perseveransa che el vive ancora in le stòrie e ´ntei cuori de chi ghe voleva ben.

Epìlogo

Soto celo slargo e asuro de Sao Joao del Polesine, i vigneti de la famèia Benedetto se distende come un tapon verde, ondeàndo piano al ritmo de le coline. No ze solo tere coltivade; ze testimoni vive de la coraio e determinassion de Giacomo Benedetto, le cui man induride ga plasmà no solo el paesàgio, ma anca el destin de la so famèia e de una comunità intera.

Passà deseni, ma l’ànema de Giacomo resta presente in ogni detàio. I vigneti, adesso vigorosi e produtivi, ofre un vin de qualità conosùo, la cui fama ze rivà lontan dai confin de la region. Ogni botìlia conta na stòria, portando in so aroma e gusto l’essenssa de sacrifìssi, speranse e conquiste. El eticheta, che mostra con el orgòlio el nome Benedetto, el ze un sìmbolo de na conession indissolùbil tra el passà e el presente.

La famèia la ga prosperà, e i valori tramandà da Giacomo — lavoro duro, solidarietà e gratitudine — continua a guidar le nove generassion. Pietro, el pì vècio, el ze diventà un agronomo stimà, che ga miliorà la produssion locale de vin. Lucia la se ze dedicà a l’educassion, fondando la prima scola bilìngue de la region, dove insegna ai putèi a valorizar le so origini italiane mentre i abrassa le oportunità brasiliane. Giovanni, el più zòvane, el ga siapà in man la gestione dei vigneti, assicurando che la tera continua a fiorir come un omaggio al lascito del so pare.

Anca la comunità de São João del Polesine la ze cambià. Quelo che prima era un paese isolà in meso ai boschi el ze adesso na sità vivace, ndove la cultura italiana bate in ogni canton. Le feste tradissionai, come la Vindima, o del Riso le ze festegià con el entusiasmo, portando visitatori da lontan. In ste occasion, el nome de Giacomo el ze spesso menssionà, un pioniero che con el so sforso el ga contribuito a formar el carater del posto. Pì tarde, el comune el ga guadagnà la so autonomia da Faxinal del Soturno, diventando un munissìpio orgolioso.

Al sentro de sto senàrio ze stà la ceseta de Sant'Antonio, el cor spiritual de la comunità. Là, un bancheto semplice, ma significativo, porta ´na targa con i nomi de Giacomo e Maria, gravà in letere che sbrilla soto la luse del sol. El ze un omaio dei so dissendenti, un sìmbolo de la fede e perseveransa che i ga sostegnù ´ntei momenti pï difìssili. Durante le messe, i paesan spesso buta un ocio a quel banco, ricordandose de quei due che ga sfidà mar, boschi e altre sfide inimaginà par costruir na vita nova.

El lassà de Giacomo no el se ferma con la so famèia o con i vigneti che lu el ga coltivà. Lu el vive ´nte le stòrie tramandà de generassion in generassion, ´nte le tradission conservà con caressa e ´nte l’impato che lu el gavea su tuti queli intorno. ´Nte la memòria coletiva de Sao Joao do Polesine, Giacomo Benedetto no el ze ricordà solo come un contadin o un imigrante, ma come un costrutor de futuri. El ze stà el fondamento de algo pì grande de lu — na stòria de resiliensa e speransa che continua a inspirar.

Mentre el sol cala sora le coline de São João do Polesine, colorando i vigneti de toni doradi, ze impossibile no sentir la presensa de Giacomo. Lu el vive ´nte la tera che lu ga amà, ´ntei fruti che la ofre e ´nte le persone che la abita. E cusì, el so lassà va oltre el tempo, fiorindo par sempre come le vigne che lu el ga piantà con le so man.

Nota del Autor

Scrivar Destino del Emigrante Giacomo Benedetto no ze stà solo contar na stòria; ze stà un viaio a le radise de un pòpolo la cui coraio ga formà i fondamenti de na tera nova. Ogni detaio el ze stà inspirà da raconti veri e documenti stòrici che ga svelà le vite de òmini come Giacomo e, la cui resiliensa ga trasformà i sòni in realtà.

La narativa la ze un testimónio del spìrito umano, capace de fiorir anca ´nte le condission pì difìssili. Giacomo Benedetto el ze fictìssio, ma la so strada la ze un mosaico de tante vite vere che ga traversà oceani, afrontà solitudini e reinventà destini.

Con el racontar de la so jornada, mi go sercà no solo de emossionar, ma anca de render omaio ai migranti che, in silénsio, i ga costruì lassiti imensi. Le so stòrie de sacrifìssio e triunfo le mèrita de èsser ricordà, selebrà e tramandà a le generassion future.

Che sto libro sia un invito a rifleter su le nostre origini e a la gratitudine verso chi ga spianà le strade. La mia gratitudine a tuti quei che ga condiviso memòrie, documenti e intuission che ga enrichì sta òpera.

Con rispetto e ammirassion,

Dr. Piazzetta









 

Raízes na Terra Nova

 


Raízes na Terra Nova

Em 1877, no coração da província tirolesa de Trento, na Itália, Giovanni Pellezzari, um jovem agricultor de 27 anos, sentiu o peso de uma decisão que não podia mais adiar. Ele havia crescido na pequena vila de San Lorenzo in Banale, um lugar quase esquecido aninhado entre os Alpes, onde os sinos da igreja pontuavam os dias e o aroma de lenha queimada enchia o ar nas noites de inverno. Mas a beleza natural da vila contrastava com a dura realidade de seus habitantes.

As safras pobres tornavam os terrenos já cansados cada vez mais inférteis, e o pequeno lote de terra que Giovanni herdara de seu pai já não produzia o suficiente para alimentar sua família. A crise econômica que assolava a região era sentida em cada esquina: o mercado local esvaziava-se mais rápido que de costume, os vizinhos debatiam ansiosamente o aumento dos impostos, e o inverno parecia mais rigoroso a cada ano. Giovanni via nos olhos de Elena, sua jovem esposa, a preocupação crescente, e o choro de seu filho recém-nascido, Pietro, o fazia refletir sobre o futuro que ele poderia oferecer.

San Lorenzo in Banale, outrora um refúgio de tradições simples e laços comunitários, parecia agora uma prisão silenciosa. As montanhas, que antes representavam proteção, tornaram-se barreiras que isolavam os moradores de oportunidades. Giovanni sabia que não era o único a sonhar com a promessa de terras distantes. Conversas sobre o Brasil ecoavam entre as rodas de amigos, nos encontros após a missa, e até nas cartas de parentes que haviam partido anos antes. Essas histórias falavam de terras férteis, onde o trabalho árduo era recompensado com uma colheita abundante, e onde as crianças cresciam com mais oportunidades.

Foi durante uma noite particularmente fria, enquanto Pietro dormia nos braços de Elena ao lado do fogão a lenha, que Giovanni tomou sua decisão. Ele levantou-se, olhou pela pequena janela embaçada de sua casa de pedra, e encarou a escuridão do vale. A jornada seria arriscada, cheia de incertezas, mas permanecer ali significava condenar sua família ao mesmo destino de miséria que ele tanto lutava para evitar.

Giovanni, então, começou a planejar sua partida com determinação silenciosa. Ele vendeu seus poucos pertences de valor, incluindo um antigo relógio de bolso de pouco valor mas, de grande valor sentimental, pois foi herdado de seu avô, e comprou as passagens de navio para o Brasil. A despedida da pequena San Lorenzo in Banale foi dolorosa. No dia de sua partida, alguns amigos e parentes se reuniram na praça central para abraçá-los pela última vez. Elena carregava Pietro em um xale de lã, e Giovanni segurava firme o único baú que levaria consigo, contendo roupas, ferramentas simples e sementes da terra natal. Com a mala de madeira cuidadosamente preparada, Giovanni colocou os poucos pertences que simbolizavam sua vida até então. Dentro dela, roupas modestas dobradas com esmero por Elena, uma imagem de Santo Antônio que pertencera à sua mãe e um punhado de sementes de trigo colhidas do último campo que cultivara em San Lorenzo in Banale. A mala não continha apenas objetos, mas também memórias e esperanças – um pedaço tangível da vida que deixavam para trás e um lembrete do futuro que esperavam construir.

Ao subir na carroça que os levaria até a estação de trem com destino ao porto de Gênova, Giovanni olhou uma última vez para as montanhas. Ele sabia que estava deixando para trás não apenas a vila, mas também uma parte de sua própria identidade. Contudo, em seu coração, ele carregava a esperança de que, ao outro lado do oceano, pudesse plantar raízes mais fortes, capazes de sustentar os sonhos de sua família.

A jornada até o porto de Gênova foi longa e cansativa, pontuada por despedidas dolorosas e noites inquietas em estalagens humildes. Giovanni e Elena protegiam Pietro do frio outonal que cortava como navalhas, embalando-o com mantas improvisadas e calor de seus corpos. Ao chegarem a Gênova, numa manhã cinzenta e carregada de neblina, foram recebidos pelo ruído constante do porto: gritos de estivadores, o som das correntes arrastando caixotes e o apito estridente de navios que chegavam e partiam.

A visão do Santa Lucia, o imponente navio que os levaria ao Brasil, foi um espetáculo que evocou um turbilhão de emoções no coração de Giovanni. O gigante de ferro, com suas formas robustas e estruturas altivas, erguia-se como um colosso sobre o cais, dominando o cenário com sua presença monumental. Suas chaminés vertiam densas colunas de fumaça escura, tingindo o céu encoberto com um tom ameaçador, como se o próprio oceano estivesse anunciando os desafios da travessia.

Giovanni nunca tinha visto algo tão grandioso e poderoso. A magnificência do navio, que prometia levá-los a uma nova vida, trazia consigo uma sombra de inquietação. Cada detalhe, desde o movimento frenético dos marinheiros até o ecoar constante das ordens gritadas, era um lembrete da vastidão do mar que enfrentariam. Para ele, o Santa Lucia era ao mesmo tempo um símbolo de esperança e uma manifestação tangível de seus medos mais profundos. Ao lado dele, Elena mantinha-se firme, mas seus olhos não escondiam a preocupação. Com Pietro nos braços, ela o apertou contra o peito como se aquele gesto pudesse protegê-lo dos perigos invisíveis que pairavam no ar salgado. Seus lábios se moveram em uma prece silenciosa, quase um sussurro que apenas ela e o céu podiam ouvir. Era uma súplica fervorosa, implorando por segurança e resiliência para enfrentar a jornada incerta que os aguardava. A bordo daquele navio, os sonhos de Giovanni e Elena seriam postos à prova, mas, naquele momento, sob a sombra do colosso de ferro, tudo o que sentiam era a mistura avassaladora de esperança e temor.

As promessas de um novo começo no Brasil pareciam tão distantes quanto o próprio horizonte. O Santa Lucia não era apenas um navio; era o portal para o desconhecido. Cada detalhe dele impressionava Giovanni: as laterais enferrujadas pela maresia, as escadas apinhadas de famílias igualmente ansiosas, os mastros que desapareciam na neblina como se apontassem para outro mundo. Era difícil não sentir um frio na espinha ao imaginar semanas naquele colosso balançando sobre um oceano que ele nunca tinha visto.

Enquanto Giovanni ajudava Elena a subir a rampa que os levaria ao convés, ele respirou fundo. Este é o começo, pensou. A bagagem que carregavam era leve, mas o peso dos sonhos e medos que levavam no coração tornava cada passo mais difícil. No entanto, ao cruzar a entrada do navio, ele lançou um último olhar ao cais, à Europa que deixavam para trás. Naquele momento, sentiu que não havia mais retorno, apenas a vastidão do oceano e a promessa de uma nova terra.

A viagem através do oceano foi uma longa sucessão de desafios. Giovanni descreveu em seu diário a claustrofobia das cabines apertadas e o ar impregnado de sal e suor. O pequeno Pietro chorava incessantemente, assustado com o balanço incessante do mar. No terceiro dia, uma tempestade os envolveu em um caos de ondas gigantes e vento cortante. Muitos rezaram em voz alta, e Giovanni segurou Elena e Pietro como se pudesse protegê-los da fúria dos céus.

A bordo, um ambiente opressivo e carregado de incertezas transformava o navio em uma prisão flutuante. Doenças contagiosas, como uma maré invisível e implacável, varriam os conveses, infiltrando-se nas cabines apertadas e nos cantos úmidos, deixando um rastro de febres, tosses e desespero. O ar, saturado pelo cheiro de sal, suor e enfermidades, parecia conspirar contra os mais vulneráveis.

Elena, mesmo combalida pela exaustão física e emocional, não se deixou vencer pela apatia. Entre as sombras da enfermaria improvisada e os gemidos abafados dos doentes, ela encontrou forças para estender a mão a uma jovem mãe que, debilitada e sem leite, lutava desesperadamente para alimentar o filho de poucos meses. Com uma coragem que desafiava o ambiente hostil, Elena partiu seu pedaço de pão já escasso e o entregou à mulher, cujas mãos trêmulas o aceitaram como se fosse um tesouro. Os olhos da jovem mãe se encheram de lágrimas silenciosas, e por um breve instante, a dureza daquela jornada cedeu espaço a um ato de profunda humanidade.

A generosidade de Elena tornou-se uma fagulha de luz em meio à escuridão avassaladora do navio. Outros passageiros, inspirados por sua ação, começaram a compartilhar o pouco que tinham, criando um elo frágil de solidariedade em um mar de adversidades. Naquele gesto, não era apenas alimento que ela oferecia, mas esperança — a esperança de que, mesmo no coração do sofrimento, a bondade humana podia florescer como uma flor rara em terreno árido.

Quando finalmente chegaram ao porto do Rio de Janeiro após quase um mês, os Pellizzari foram conduzidos à Hospedaria dos Imigrantes. Lá, dividiram espaço com centenas de outros recém-chegados. Giovanni anotou: "Aqui somos como grãos de areia trazidos por uma onda; perdidos, mas juntos."

Depois de quase uma semana no Rio, embarcaram no Vapor Maranhão, que os levou ao porto de Rio Grande. Mais uma vez, enfrentaram a incerteza, desta vez agravada pela hospedagem em barracões superlotados e quase sem privacidade enquanto aguardavam transporte fluvial até a terra prometida. A travessia pela imensa Lagoa dos Patos foi lenta e arriscada; ventos traiçoeiros balançavam as pequenas embarcações a vapor, e Elena apertava Pietro ao peito, enquanto Giovanni ajudava a cuidar de outros passageiros para aliviar a tensão.

Passaram finalmente pela capital da província, a cidade de Porto Alegre, e dali seguiram com o mesmo barco subindo pelas corredeiras do Rio Caí em direção ao cetro da província. Quando após horas de viagem desembarcaram em São Sebastião do Caí, ainda restava um último desafio: uma longa e difícil caminhada que durava quase um dia até a Colônia Dona Isabel. O grupo de famílias italianas subiu morros e cruzou riachos, cada passo ecoando os sonhos de um novo começo.

Quando chegaram à colônia, Giovanni e Elena encontraram apenas vastidões de mata virgem e barracões de madeira precários. O enorme terreno de quase 50 hectares que adquiriram do governo brasileiro era mais promessa do que realidade, pelo tudo que precisava ser feito. No primeiro dia, Giovanni improvisou uma cabana de galhos coberta por folhas de palmeiras para proteger a família. Durante toda a noite, ouviram rugidos de animais ferozes rondando o frágil  abrigo, nervosos com aquela intromissão em seus domínios. Pietro chorava baixinho, e Giovanni, segurando um machado, prometeu a si mesmo que a floresta não os venceria.

Nos dias seguintes, Giovanni começou a abrir clareiras na mata densa. Cada árvore derrubada parecia uma vitória contra a imensidão selvagem. Elena cuidava do pequeno Pietro enquanto preparava algum alimento para a família com o pouco que tinham: raízes, milho seco e ervas.

A primeira safra foi de milho, uma escolha modesta, mas carregada de esperança. Giovanni dedicou-se ao preparo do solo com uma devoção quase sagrada. A cada enxadada, ele sentia o peso dos sonhos de sua família e a responsabilidade de transformar aquela terra desconhecida em sustento e futuro. Com mãos calejadas e alma perseverante, ele plantou cada semente com cuidado reverente, como se estivesse depositando uma parte de si mesmo naquele solo.

Os dias eram longos e exaustivos, e as noites, curtas e inquietas. Giovanni enfrentava não apenas a dureza da terra, mas também suas próprias incertezas, perguntando-se se aquele esforço árduo seria recompensado. A vida na colônia era implacável, e ele sabia que o fracasso não era uma opção.

Quando os primeiros brotos verdes finalmente romperam o solo, foi como um milagre. Na luz suave do amanhecer, Giovanni observou as pequenas folhas despontando, frágeis, mas cheias de promessas. Ele se ajoelhou na terra úmida, sujando as roupas e deixando que as lágrimas descessem livremente por seu rosto. Não eram lágrimas de cansaço, mas de alívio e gratidão.

Aqueles pequenos sinais de vida representavam mais do que uma colheita por vir; eram a confirmação de que seu sacrifício e sua fé começavam a dar frutos. Enquanto seus dedos tocavam suavemente as folhas tenras, Giovanni sentiu uma conexão profunda com a terra que agora chamava de lar. Naquele momento, ele compreendeu que cada gota de suor e cada dia de trabalho árduo valiam a pena. Aquele milho não era apenas alimento; era um símbolo de renascimento, de esperança renovada e da promessa de dias melhores.

Com o tempo, a cabana de galhos foi substituída por uma casa de madeira, construída com as próprias mãos de Giovanni e  a ajuda de outros vizinhos. A comunidade, unida pela luta comum, compartilhou conhecimentos e ferramentas. O milho cresceu alto, e os primeiros sacos de grãos foram trocados por farinha, tecidos e utensílios básicos.

Embora Giovanni sentisse saudades da Itália, ele sabia que o futuro de Pietro estava ali, naquela terra distante. No segundo ano, a família plantou também trigo, e Elena começou a fazer pão novamente. O aroma do pão fresco na pequena cozinha de madeira trouxe lágrimas aos olhos de Giovanni; por um instante, ele sentiu-se de volta a San Lorenzo in Banale.

Giovanni Pellizzari e sua família, com o tempo e uma determinação inabalável, tornaram-se pioneiros respeitados na Colônia Dona Isabel. O que começou como um sonho distante, embalado por esperanças e promessas de uma vida melhor, transformou-se em uma realidade desafiadora, mas repleta de possibilidades. Nos primeiros anos, enfrentaram dificuldades que pareciam intransponíveis. A mata virgem, com seu silêncio profundo e sua imponência quase intimidadora, exigia um trabalho incessante para ser transformada em campos cultiváveis. O solo, por vezes teimoso, parecia resistir ao arado, como se testasse a persistência dos recém-chegados. A vastidão do céu brasileiro, tão diferente do horizonte fechado das montanhas italianas, era ao mesmo tempo uma inspiração e um lembrete da imensidão de sua jornada.

Apesar de tudo, Giovanni e sua família perseveraram. Com cada árvore derrubada, cada sulco traçado na terra e cada semente plantada, eles escreviam sua história de resiliência. Não demorou para que fossem reconhecidos como exemplo de trabalho árduo e liderança na comunidade. A casa simples de madeira, construída com suas próprias mãos, tornou-se um ponto de encontro, um lugar onde outros imigrantes buscavam conselhos, apoio e inspiração. Entre o canto das cigarras ao entardecer e o aroma das primeiras colheitas, Giovanni encontrou no Brasil algo que a Itália, marcada pela pobreza e pela falta de oportunidades, não pôde oferecer: a chance de recomeçar. Na Colônia Dona Isabel, ele não apenas construiu uma nova vida, mas também um legado. A terra, conquistada com tanto esforço, agora florescia, retribuindo cada gota de suor com frutos que nutriam tanto o corpo quanto a alma. Giovanni compreendeu que a verdadeira riqueza não estava apenas na fertilidade do solo ou no progresso das colheitas, mas na capacidade de transformar desafios em oportunidades e de construir um futuro melhor para sua família. Ele se tornou um símbolo vivo de que, mesmo nas circunstâncias mais adversas, o espírito humano, guiado pela esperança, é capaz de realizar o impossível.

A terra que antes parecia inóspita, marcada por desafios implacáveis e por uma solidão quase esmagadora, agora florescia sob os cuidados meticulosos de Giovanni e sua família. O solo, outrora duro e resistente, havia cedido ao trabalho árduo e à determinação inabalável de suas mãos, transformando-se em um cenário de vida e abundância. Os campos ondulavam em tons de verde e dourado, como se a natureza, finalmente conquistada, estivesse agradecendo por sua persistência.

Giovanni observava com um misto de orgulho e humildade o fruto de anos de esforço incessante. Cada planta que crescia, cada grão que amadurecia sob o sol escaldante, era muito mais do que uma colheita: era um testemunho vivo da força da resiliência e da fé no futuro. Ele sabia, no fundo do coração, que as sementes que plantara não eram apenas de milho ou trigo, mas de algo muito mais profundo e duradouro — esperança.

Essas sementes, invisíveis aos olhos, eram as promessas silenciosas de dias melhores para as gerações que viriam. Giovanni imaginava seus filhos, e os filhos de seus filhos, caminhando por aqueles mesmos campos, colhendo os frutos de um sonho que ele e Elena haviam ousado cultivar em solo estrangeiro. Cada pedaço daquela terra agora carregava as marcas de sua história, das suas lutas, e da sua vitória sobre as adversidades. Enquanto o vento balançava suavemente as folhas das plantações, Giovanni ergueu os olhos para o vasto céu brasileiro, tão diferente do céu de sua Itália natal, mas agora tão familiar. Ele percebeu que a verdadeira colheita não estava apenas na abundância material, mas na capacidade de transformar uma vida marcada por dificuldades em uma existência cheia de significado. O Brasil não era apenas o lugar onde haviam recomeçado — era o lugar onde haviam florescido. E, embora ele soubesse que nem sempre estaria ali para ver os frutos de tudo o que havia plantado, tinha a certeza de que suas raízes, fincadas com tanto amor e sacrifício, sustentariam o futuro de sua família por gerações. Giovanni fechou os olhos por um instante, sentindo o calor do sol em seu rosto e ouvindo o sussurro das plantações ao vento, e em seu coração, havia apenas paz.

Nota do Autor

Esta obra, embora apresente nomes fictícios, é baseada fatos e eventos reais que marcaram a história dos imigrantes italianos no Rio Grande do Sul. Cada página reflete a coragem, a resiliência e o espírito inquebrantável dos pioneiros que, ao deixarem sua terra natal em busca de uma vida melhor, enfrentaram desafios inimagináveis em terras desconhecidas.

A história de Giovanni e sua família é uma homenagem sincera àqueles que transformaram tristeza e fome em alegria e fartura. Com trabalho árduo e determinação, esses imigrantes não apenas construíram uma nova vida para si mesmos, mas também contribuíram significativamente para o desenvolvimento das colônias e da identidade cultural da região.

Ao escrever esta narrativa, meu objetivo foi resgatar e preservar a memória de seus feitos heroicos, dando voz às suas experiências, às suas dores e às suas vitórias. Que esta obra inspire gratidão e admiração por aqueles que abriram caminho para as gerações que vieram depois, deixando um legado de esperança e prosperidade.

Com respeito e reverência,  

Dr. Luiz C. B. Piazzetta