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Imigrantes na travessia do Rio Caí no Rio Grande do Sul |
A história da emigração italiana está dividida em quatro fases: a primeira de 1876 a 1900; a segunda, do início dos anos 1900 à Primeira Guerra Mundial; a terceira coincide com o período entre as duas guerras e finalmente a última fase vai do segundo pós-guerra até o final dos anos sessenta. Cada fase é identificada por vários fatores econômicos, sociais e políticos. A primeira grande depressão mundial (1873-79) envolveu a queda dos preços dos alimentos e a conseqüente política protecionista adotada pelo governo, atingindo duramente os agricultores. Isso levou milhares de pessoas a buscar maneiras de sobreviver fora da Itália. A combinação de crise econômica e política liberal está, portanto, na base da emigração italiana desse período.
A segunda fase da emigração, que vai do início dos anos 1900 à Primeira Guerra Mundial, corresponde ao início do processo de industrialização na Itália.
A história da emigração italiana está dividida em quatro fases: a primeira de 1876 a 1900; a segunda, do início dos anos 1900 à Primeira Guerra Mundial; a terceira coincide com o período entre as duas guerras e finalmente a última fase vai do segundo pós-guerra até o final dos anos sessenta. Cada fase é identificada por vários fatores econômicos, sociais e políticos. A primeira grande depressão mundial (1873-79) envolveu a queda dos preços dos alimentos e a conseqüente política protecionista adotada pelo governo, atingindo duramente os agricultores. Isso levou milhares de pessoas a buscar maneiras de sobreviver fora da Itália. A combinação de crise econômica e política liberal está, portanto, na base da emigração italiana desse período.
A segunda fase da emigração, que vai do início dos anos 1900 à Primeira Guerra Mundial, corresponde ao início do processo de industrialização na Itália.
A terceira fase coincide com o período entre as duas guerras mundiais: que vê a emigração em forte declínio devido à crise económica mas também a algumas restrições legislativas instituídas por alguns países de imigração a um certo número de "admitidos". A quarta fase é caracterizada por um crescimento inicial da imigração, mas no final dos anos 60 ela se esgota.
Após a prisão de trinta anos favorecida pela decisão anti-emigração fascista, a Itália mais uma vez alimentou novos fluxos migratórios, trazendo quase 7 milhões de pessoas para o exterior e trazendo 3,6 milhões de volta para casa.
A chave expansionista privilegiou as áreas latino-americanas porque careciam de raças dominantes e abundantes em terras onde havia núcleos rurais inteiros que deram origem às colônias.
Até 1870, houve um despovoamento das áreas montanhosas do norte da Itália, que se baseavam em pequenas atividades agrícolas e de pastagem. Esses movimentos alimentaram a emigração transatlântica até atingir picos entre 1890 e 1900.
Naturalmente, a emigração para a América do Sul foi estimulada pelos interesses dos estados e das companhias marítimas que cuidavam do transporte dos emigrantes. No Brasil não faltou terra para cultivar, aliás, a oferta superou a demanda, enquanto a Itália estava entre os países mais pobres e com o maior índice demográfico.
Além do fator socioeconômico, havia também o político: os jovens eram obrigados a cumprir o serviço militar, portanto, ao emigrar, evitavam chamar.
Os agentes de emigração percorriam as aldeias em dias de feiras ou feiras e descreviam o Brasil como o país dos “Cuccagna” onde a renda estaria segura. De qualquer forma, foram necessários bons motivos para sair e, ao mesmo tempo, esperanças, objetivos e expectativas ideais a serem alcançados. "Merica" era um grande mito que significava emancipação, redenção e liberdade. Para o Veneto rural, esta fuga representou uma redenção social, pois seu apego à comunidade e à família o fez.
que poderia recriar e reafirmar o mesmo modelo cultural.
A emigração foi considerada tanto um elemento de conservação quanto um fenômeno de quebra da ordem tradicional. Na realidade, no fenômeno de emigração, continuidade e mudança, tradição e inovação, conservação e transformação coexistiram para a construção de uma nova ordem em relação à original. No final do século XIX, a emigração representou um elemento de transformação dos hábitos de consumo e alimentação tanto nos locais de êxodo como nos de partida.
E graças às entrevistas do professor Giovanni Meo Zilio com os descendentes de emigrantes venezianos, é possível reconstituir parcialmente sua experiência de êxodo no Brasil. Os depoimentos não são vividos na primeira pessoa, mas os entrevistados contam o que os protagonistas viram anteriormente com os próprios olhos: a descida, a viagem, o motivo da fuga, a colônia, o trabalho são apenas alguns dos temas presentes dentro esses contos.
O historiador Emilio Franzina, que trata da emigração para a América do Sul, destaca a importância das memórias autobiográficas e dos testemunhos diretos por se tratarem de histórias seletivas onde a importância recai sobre objetos significativos, situações e ambientes particulares, além das condições anteriores à partida.
Afetados no Veneto por todos os tipos de calamidades: colheitas ruins e impostos excessivos; os camponeses ficaram com apenas uma perspectiva positiva: a fuga para o Brasil. Inicialmente foi necessário seguir as estradas clandestinas, geralmente através de Marselha, pois o governo italiano tendia a impedir as saídas: foi somente em 1876 que a emigração foi oficialmente reconhecida.
E foi precisamente em 1876 que partiram os primeiros contingentes carregados de venezianos, os mesmos que então deram ao mundo os filhos e netos que nos transmitiram as suas histórias e as suas vicissitudes através de testemunhos orais: as entrevistas.
As fontes examinadas são entrevistas realizadas pelo professor Giovanni Meo Zilio que por vários anos lecionou literatura espanhola na Universidade de Veneza e Pádua e que nos anos 1996-1997 entrevistou os descendentes do Veneto que partiram para o Sul do Brasil. A pesquisa de campo permite-lhe compreender a sua língua, cultura e tradição transmitida pelos emigrantes venezianos através de histórias. As entrevistas são divididas em perguntas e respostas entre o professor e o entrevistado, que se expressam no “Talian”. O desenvolvimento linguístico e social ocorrido no Brasil é considerado de interesse fundamental. Os emigrantes trouxeram sua língua veneziana para as terras a serem colonizadas com interferência da língua lusitana.
A principal língua falada pelos emigrantes venezianos assim que chegaram ao Brasil foi certamente essa mistura de dialetos venezianos.
O dialeto é considerado uma língua falada no país através de jargões não estritamente corretos do ponto de vista linguístico.
Eram pessoas que vieram do Veneto, principalmente da áreas rurais, caracterizadas por um espírito rústico que tinha bases culturais e tradicionais ligadas às raízes camponesas.
Portanto, a partir desses depoimentos em "Talian", procurei reconstruir a trajetória migratória através da cultura e da linguagem, com a ajuda do material bibliográfico inerente à primeira onda migratória, tentando depois amalgamar as informações que me permitiram fazer mais o retrato da época é explicativo.
Tudo isso também foi possível graças à ajuda do professor Antonio Diano que administra o arquivo histórico do Centro Interuniversitário de Estudos Venezianos, permitindo-me vasculhar o arquivo em busca de material útil para o tema escolhido, tentando assim ressurgir aquelas fitas cassete o que me permitiu delinear os traços sociais, culturais e tradicionais dos descendentes de emigrantes venezianos.
Muitos investigaram e escreveram sobre o assunto em questão e, nos últimos anos, testemunhamos a presença de numerosos depoimentos a respeito. As análises que contam a vida dos emigrantes quase sempre encontram um julgamento comum, sobretudo pelo fato de que esses episódios ocorreram algumas décadas após a pesquisa. Não faltaram testemunhos diretos e este fenômeno encontrou muitas vezes respostas unívocas que nos permitem traçar uma imagem homogênea sobre as vicissitudes vividas por nossos emigrantes.
Estes últimos atravessaram o oceano sofrendo na pele do início ao fim de sua aventura: a jornada, a inserção em um ambiente sócio-cultural de molde escravo, trabalho árduo, cultura, tradição e distância de família. Mas são justamente estes últimos que têm permitido o desenvolvimento de uma economia rica e, sem dúvida, avanços positivos na sociedade.
O emigrante veneziano se choca com aquele Brasil feito de surpresas e decepções, talvez mais surpresas do que decepções, pois em cada situação encontrou uma forma de se adaptar e aproveitar o pouco que lhe foi oferecido. Diante das piores condições, o emigrante procura não desanimar e não desanimar, pelo contrário, tem fé em Deus, segurança na família e garantia da terra.
Sem dificuldade ele se adaptou, ele se adaptou. Ele não era um tolo. Não esperava grandes mudanças: é preciso lembrar que a maioria dos emigrantes eram agricultores, capazes de cultivar a terra e acostumados a cultivar ilusões. O Brasil não foi a terra dos brinquedos, mas a esperança os sustenta em seu grande empreendimento.
Estes últimos atravessaram o oceano sofrendo na pele do início ao fim de sua aventura: a jornada, a inserção em um ambiente sócio-cultural de molde escravo, trabalho árduo, cultura, tradição e distância de família. Mas são precisamente estes últimos que têm permitido o desenvolvimento de uma economia rica e certamente um progresso positivo na sociedade.
1. Primeiros passos em direção ao Brasil
No final do século 19, cerca de 6 milhões de italianos emigraram para o Brasil. Este país havia sido identificado como terra para atividades rurais. Entre 1887-1902 a imigração italiana experimentou um fluxo de 900.000 pessoas que consideravam a América sinônimo de Brasil.
Depois de 1902, o fluxo diminuiu devido à decisão do governo italiano de proibir a emigração subsidiada, após reclamações sobre a situação dos italianos que eram considerados escravos brancos nas fazendas.
Devemos então adicionar 3,5 milhões de unidades de 1901 a 1906, com picos anuais em 1905/1906 que ultrapassaram 700.000 unidades. Seguindo o decreto, emitido pelo governo brasileiro em 6 de agosto de 1914, o fluxo de emigração diminuiu, pois foi impedida a emigração de pessoas sujeitas ao recrutamento militar.
A historiografia brasileira relata as mais variadas periodizações em relação à imigração. A história da imigração se divide em três fases a partir de 1877, data em que o primeiro grupo significativo de italianos chegou ao estado de São Paulo. O primeiro período vai até 1895: é a fase da imigração italiana em grande escala, na qual o imigrante vive com os escravos. O segundo período vai de 1895 a 1905: a imigração nesse período, porém, registrou queda e recomeçou no terceiro período: a partir de 1905, com a adição dos elementos portugueses e espanhóis.
A emigração italiana para o Brasil teve um alto percentual de venezianos, que chegaram a 47,68% do total; mesmo em algumas regiões do sul do Brasil chegou a chegar a 90%. Mesmo aqueles que chegaram mais tarde vieram principalmente de Veneto e em particular de Vicenza e depois de Trentino, Tirol, Basilicata e Abruzzo.
O fim da escravidão coincidiu com a imigração em massa de italianos e os fazendeiros pressionaram tanto as autoridades públicas que em 1888 80.749 italianos chegaram a São Paulo com viagens pagas. Em 1887, foram cadastrados 27.323, que somados aos dados anteriores chegam a um total de 108.000 indivíduos para dois anos.
De 1874, ano em que ocorrem os primeiros registros de desembarques, a 1888 a província dos fazendeiros do café recebeu 129.040 imigrantes italianos e nos três anos seguintes ingressaram 124.502,16.
Em 1875, primeiro a crise econômica e depois a agrícola contribuíram para o crescimento de emigrantes vindos principalmente das áreas montanhosas do Veneto. O retrocesso da agricultura e da indústria, o advento na Itália do estado liberal unitário e a carga tributária foram apenas alguns dos fatores que desencadearam a saída dos emigrantes.
Na verdade, as causas que desencadearam o êxodo dos venezianos podem ser classificadas de duas formas: a primeira foi determinada pelo desemprego, pelas precárias condições de vida e de trabalho que afetavam não só as camadas sociais mais baixas, mas também os pequenos proprietários. E foi este último que iniciou a política de imigração. Já a segunda causa está na área de chegada ou na política de população e colonização do governo brasileiro. Este último elaborou várias propagandas para atrair a mão-de-obra agrícola europeia aos seus territórios.
Na verdade, as causas que desencadearam o êxodo dos venezianos podem ser classificadas de duas formas: a primeira foi determinada pelo desemprego, pelas precárias condições de vida e de trabalho que afetavam não só as camadas sociais mais baixas, mas também os pequenos proprietários. E foi este último que iniciou a política de imigração. Já a segunda causa está na área de chegada ou na política de população e colonização do governo brasileiro. Este último elaborou várias propagandas para atrair a mão-de-obra agrícola europeia aos seus territórios.
Os primeiros contingentes de emigrantes que deixaram a Itália eram principalmente do Vêneto e os destinos escolhidos foram Brasil e Argentina. O Brasil mostrou a necessidade de mão de obra gratuita para uso nas numerosas fazendas em uma fase de desenvolvimento econômico. Os emigrantes italianos, oriundos de uma sociedade rural, deslocaram-se no final do século XIX para este mundo camponês e artesanal de climas diversos. Uma experiência única que deixou uma profunda marca italiana em alguns grandes países da América Latina.
A possibilidade de começar uma nova vida mudou o horizonte cultural da sociedade rural italiana e constituiu uma das forças profundas de sua transformação.
A partida era considerada uma espécie de empreendimento dos pobres que, para conseguir dinheiro para comprar a passagem do navio, vendiam terrenos ou pediam empréstimos. Às vezes, toda a família colocava suas economias à disposição para permitir que um dos membros tentasse a sorte em todo o continente.
Por outro lado, a Itália em 1870 estava entre os países mais pobres e com o maior índice demográfico. A superpopulação, a falta de terras cultiváveis, causava uma desproporção entre a oferta e a demanda de mão de obra. Já no Brasil a demanda superou a oferta. Foi essa desigualdade que deu início à grande emigração para o Brasil e outros países. Além disso, não se deve esquecer que o Brasil precisava de mão de obra para as lavouras de café, que estavam em grande expansão, assim como a escassez de mão de obra agrícola se aproximava com a eliminação da escravidão ocorrida em 1888.
E é sempre por volta de 1870 que as barreiras alfandegárias foram demolidas eles permitiram a evolução do mercado internacional. Na verdade, a economia italiana em alta no final do século 19 passou por uma crise profunda. A indústria do algodão, líder da industrialização inglesa, foi a primeira a sofrer, à medida que a redução da tarifa alfandegária gerava desequilíbrios, dando luz verde aos produtos britânicos. Além disso, a Guerra Civil Americana bloqueou a importação de matérias-primas.
A unificação do mercado interno não foi, portanto, menos traumática do que a liberalização do comércio exterior, como afirma Andreina De Clementi no capítulo das partidas do livro História da emigração italiana. Desta forma, as críticas das indústrias dos antigos estados eram mais evidentes e as mais competitivas eliminando as mais antiquadas.
As quatro principais regiões migratórias foram Lombardia, Piemonte, Liguria e Veneto, que inicialmente enviaram forças principalmente masculinas, enquanto Veneto foi a única região de onde saíram famílias, empresas de amigos e parentes e é objeto constante de estudos e pesquisas como era uma região com um certo estado de agricultura que alimentou uma fuga gradual dos campos camponeses em direção à América!
Antes de partir, os camponeses venezianos venderam de tudo: animais, terras e vários objetos para arrecadar algum dinheiro. Inicialmente a viagem não era financiada pelo governo, então a passagem de Gênova para o Brasil variava entre 160 e 200 liras. Mas em 1887, acompanhando o aumento da emigração, espalhou-se a prática de viagens gratuitas, ou seja, pagas por agências de emigração afiliadas aos governos dos países americanos mais interessados em convocar o fluxo de emigrantes venezianos para seus territórios.
O Brasil se deparou com dois problemas: de um lado, a necessidade de encontrar mão de obra adequada para substituir o trabalho escravo nas fazendas e, de outro, a urgência de colonizar efetivamente várias áreas despovoadas.
2. O nascimento das colônias
Emigrar é sinônimo de "ir para a América" e para muitos América é sinônimo de Brasil: iremos a Mérica em tel bel Brasile ou a América pode ser ouvida cantando / vamos para o Brasil / Brasil populares: esses são apenas alguns versos das muitas canções recorrentes nas vozes dos emigrantes que não escondem o desejo de chegar às plantações no exterior "onde está a colheita do café". A política fundiária e o aumento demográfico no Brasil condicionaram, tanto na fase monárquica quanto republicana após 1889, os destinos das correntes de imigração atraídas para os territórios brasileiros por incentivos e subsídios.
O governo monárquico se dedicou a uma colonização da propaganda: os subsídios para custear a construção de novas colônias eram muito altos; a terra parecia ser o único fator de produção abundante no Brasil, mas não era facilmente acessível. Infelizmente, ao longo dos séculos, a aristocracia latifundiária monopolizou a terra por meio de concessões, compras ou ocupação reais. Em 1850, a Lei de terras proibia qualquer pessoa de possuir a terra, exceto por meio de compra. Posteriormente, com a Constituição Republicana, de 1891, foi declarado que o Estado possuía terras e sua colonização pertencia aos Estados. Com o advento da República assistimos a um forte aumento demográfico graças sobretudo ao fluxo de emigrações da Itália que se dirigiu aos estados meridionais das antigas possessões portuguesas, alimentando a demografia italiana no Brasil há 25 anos.
Em 1818 nasceu a primeira colônia, perto do Rio de Janeiro: Nova Friburgo e em 1824 no Rio Grande do Sul nasceu São Leopoldo graças a fazendeiros alemães e poloneses.
No sul do Brasil ou no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná proliferaram os núcleos coloniais graças, sobretudo, às condições climáticas e culturais favoráveis da região que permitiram aos imigrantes colocar em prática os conhecimentos adquiridos na Europa.
A microrregião histórica do Rio Grande do Sul está dividida em três partes:
- Territórios das três colônias ao sul do Rio Das Antes, fundada em 1875: Colônia Caxias, Colonia Dona Izabel, Colonia Conde d'Eu. A estes deve ser adicionado o território do pequeno núcleo colonial de São Marcos, fundado em 1883. A maioria dos colonos eram agricultores, mas os primeiros a chegar foram os comerciantes de gado de Caí. As terras foram medidas, demarcadas e ocupadas.
- Territórios das duas colônias ao norte do Rio das Antas, fundadas respectivamente em 1884 e 1885: Colonia Alfredo Chaves e Colonia Antonio Prado, dividida pelo Rio da Prata. Por décadas Antonio Prado foi considerado um centro comercial que se comunicava com Porto Alegre e Caxias.
O governo monárquico se dedicou a uma colonização da propaganda: os subsídios para custear a construção de novas colônias eram muito altos; a terra parecia ser o único fator de produção abundante no Brasil, mas não era facilmente acessível. Infelizmente, ao longo dos séculos, a aristocracia latifundiária monopolizou a terra por meio de concessões, compras ou ocupação reais. Em 1850, a Lei de terras proibia qualquer pessoa de possuir a terra, exceto por meio de compra. Posteriormente, com a Constituição Republicana, de 1891, foi declarado que o Estado possuía terras e sua colonização pertencia aos Estados.
Com o advento da República assistimos a um forte aumento demográfico graças sobretudo ao fluxo de emigrações da Itália que se dirigiu aos estados meridionais das antigas possessões portuguesas, alimentando a demografia italiana no Brasil há 25 anos.
Em 1818 nasceu a primeira colônia, perto do Rio de Janeiro: Nova Friburgo e em 1824 no Rio Grande do Sul nasceu São Leopoldo graças a fazendeiros alemães e poloneses.
A família da fazenda recebeu lotes de terra resgatados em prestações após ter feito a primeira colheita.
As terras em questão foram colocadas à disposição dos assentados, mas com cláusulas a serem respeitadas: uma lei-quadro que garantia seu resgate ou aquisição. O dispositivo, lei geral n. 601, de 1850, concedeu o direito de cidadania a todos aqueles que tivessem vencido dois anos de residência nas colônias que ali vivessem e cultivassem um lote rural.
No Brasil, a colônia pode ser pública ou privada com base na entidade proprietária do terreno ou que em qualquer caso funda, organiza e administra o desenvolvimento e concessão dos lotes. Uma colônia pode ser definida como o conjunto de territórios que permaneceram sob a administração do órgão governamental responsável pela colonização. Posteriormente, a colônia foi atribuída ao regime de administração local, seja como distrito de um município pré-existente, seja por construção direta em município autônomo.
A família camponesa tinha a tarefa de preparar o terreno para o cultivo, semear e construir a sua casa. Todos os membros da família trabalhavam: crianças nos campos, mulheres eram empregadas em safras de exportação e atividades domésticas.
Assim que chegaram ao destino, após a cessão dos terrenos pela Diretoria de Imigração e Colonização, a primeira tarefa do emigrante foi delimitar a propriedade.
O mundo da fazenda era justamente um mundo de segregação e violência, o termo liberdade não era permitido tanto que se um emigrante tivesse uma dívida pendente com o dono da terra, este pudesse manter qualquer refém. parente até que o dinheiro seja coletado. E como afirma Ângela Trento no livro Onde está a colheita do café: a leitura de jornais, a promoção de encontros patrióticos e os feriados nacionais são proibidos nas fazendas.
A atribuição da colônia foi confiada a chefes de família, que receberam subsídios para as primeiras despesas e a construção da casa definitiva. O tamanho dos lotes variou de um mínimo de 25 a um máximo de 60 hectares onde foi construída a primeira casa, assumindo também a tarefa de abrir estradas e caminhos na mata para delimitar o limite do que viria a ser sua propriedade.
O sistema de fazendas favorecia a inserção das massas. As três importantes províncias imperiais correspondentes aos atuais estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul tiveram o maior ímpeto populacional e de crescimento econômico local e ocorreram os casos de colonização agrícola mais bem-sucedidos.
No entanto, o modelo estabelecido baseava-se na utilização de operários em uma prevalência veneziana muito grande, já que no final do século 19 o Brasil vivia um momento de transição do regime monárquico para o positivista da chamada "República Velha", que é o período a transição decisiva de um sistema oligárquico e fundiário baseado na exploração do trabalho servil da plantação para um sistema que, tendo abolido a escravatura, pretendia acompanhar os tempos e as regras do capitalismo visando a rápida modernização, inclusive industrial, das suas próprias estruturas produtivo graças ao uso crescente de mão de obra livre.
Durante a segunda metade do século XIX, os modelos privilegiados de colonização do Brasil visavam alcançar os seguintes resultados: povoar grandes áreas demograficamente vazias ou pouco habitadas por brancos de origem norte-europeia; balanceamento de componentes indígenas e afro-americanos pré-existentes no país; criação de estratos sociais intermediários baseados em áreas rurais e, finalmente, o estabelecimento de grupos suficientemente reativos, dinâmicos e coesos em áreas sob os mais diversos aspectos de "fronteira" .
Este projeto político colonial teve sucesso graças à localização geográfica favorável da região do Rio Grande do Sul, que conseguiu produzir a espinha dorsal da presença do Norte da Europa no Brasil, que se desenvolveu próximo a um crescimento regular de comunidades rurais originadas do processo de imigração no Brasil. província da Gaúcha, no Espírito Santo, em Santa Catarina e no Paraná. Aqui, foi registrada a prática de recrutamento pelas primeiras empresas privadas de colonização.
Em 1875, com a chegada dos primeiros contingentes de colonos, a colonização se desencadeou e entrou em uma fase política brasileira sobre o tema, já inaugurada em 1850, que buscava racionalizar o mercado comercial tanto pelo arquivamento do sistema de concessões reais de tipo feudal quanto pela contenção a prática da ocupação livre do solo com a obrigatoriedade de compra reforçada em 1858 pela criação de uma Agência Oficial de Colonização governamental e pelo surgimento de algumas empresas, públicas e privadas.
Essa prática culminou em algumas medidas fundamentais com o objetivo de facilitar a entrada no país de verdadeiros agricultores para grupos de famílias e seu assentamento estável em locais pré-estabelecidos e disponibilizados em núcleos de floresta virgem de extensão variável.
O historiador Angelo Filipuzzi, em seu livro "O debate sobre a emigração divide os emigrantes que cruzaram o Atlântico em quatro categorias: o primeiro inclui indivíduos e famílias pertencentes às classes superiores da sociedade europeia, que obtiveram de seu governo concessões de territórios ou privilégios comerciais... A segunda classe incluía aquela horda de aventureiros que vão para os novos países com a intenção de saquear e preparar sorte com meios mais ou menos legítimos e honestos e quase sempre fortuitos, mais do que com o de trabalhar e produzir. O terceiro inclui os bandidos que, por motivos religiosos ou políticos, ou como punição por crimes comuns, tiveram que deixar a metrópole. Por fim, o quarto era formado por emigrantes pobres... Muitas vezes, este último, para pagar o preço do transporte, acordava com o capitão, ou com empreiteiros especiais, uma alienação, aparentemente temporária e realmente não raramente perpétua, da liberdade pessoal e do seu trabalho.
Das quatro categorias, a de maior importância é certamente a última, pois emigram por uma causa justa: a questão econômica e de sobrevivência. É raro os ricos emigrarem para o outro lado do oceano com seus tesouros e, se isso acontecer, eles estão cientes de seu retorno e trata-se de uma operação de especulação comercial.
Um dos decretos imperiais mais importantes foi o de 1867 que abriu caminho para a estipulação de contratos especiais com agentes importadores imigrantes e, então, chegar à famosa lei que prenunciava a abolição do trabalho servil e a necessidade, portanto, de providenciar a sub-rogação para graus de trabalho escravo de cor.
Mudei todas as palavras do sucessor desde 1871 não eram gastos monetários desprezíveis para o Estado, causa de indenização aos proprietários. Me avise se for por conta das despesas: reembolsar os donos de escravos e sussurrar a chegada do imigrante.
A dupla imigração em massa - abolição da escravatura condicionou a vida dos colonos italianos àquelas fazendas de café: da introdução, da jornada às imposições que o fazendeiro exerce sobre o trabalhador livre.
O governo da província, após pagar a viagem às famílias de agricultores, se a pessoa perseguisse o povo autonomamente no cartão mais repatriar.
O primo do caso da migração de 1888 é um órgão colegiado para a abolição da escravatura que permite ao proprietário a possibilidade de se abastecer de mão-de-obra gratuita.
No entanto, o Brasil tem muito dinheiro baseado no custo de continuar operando no circuito do comércio internacional, que continua a ser executado pelos consumidores europeus. É preciso trazer um sistema que seja satisfatório tanto para seu dono quanto para os imigrantes: a técnica a ser adotada nas fazendas paulistas era a única dona.
Portanto, estes últimos foram forçados a pressionar pela introdução dos emigrantes, que receberam uma casa provincial e vários subsídios.
No entanto, deve-se lembrar que os fluxos migratórios estiveram ligados à evolução do preço do café, pois os fatos mostram que quando o preço desse produto no mercado internacional era alto, havia uma tendência de aumento da imigração, enquanto o contrário ocorria quando a preço contratado.
Este é um elemento fundamental para um país como o Brasil que se desenvolveu graças à economia exportadora de produtos como: cana-de-açúcar, algodão, cacau e café. Isso gerou um sistema onde o país mostrou uma certa dependência de centros externos que requeriam esses produtos decidindo qualidade e preço e dando origem a uma economia definida como "capitalismo periférico" e "economia colonial" .
Para colocar em imagem - o escritor G. R Grosselli - afirma que a história moderna de São Paulo viajou sentada em sacos de café carregados em um vagão de trem. Essa mesma carroça que vai permitir, mais rapidamente e com menos obstáculos, transportar para a fazenda as centenas de milhares de imigrantes europeus que, após a abolição da escravatura, aquele café vai produzir.
2.1 As empresas colonizadoras.
Com esta pesquisa procuro examinar a formação dos grupos sociais na comunidade italiana, retratando assim a trajetória dos imigrantes rumo às colônias de Porto Alegre e Rio Grande do Sul, coletando informações relativas ao povoamento dos primeiros elementos, motivos que podem justificar o motivo dessas apropriações, os aspectos relativos à formação desses fazendeiros italianos e os preconceitos que se criaram contra eles e o processo de preservação da própria identidade.
O olhar se volta para os movimentos de imigrantes, destacando os motivos que favoreceram a grande emigração e fixação nas colônias de Porto Alegre, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
A sociedade rural nunca foi uma sociedade imóvel e fechada precisamente porque não podia contar com uma economia autossuficiente, portanto, trabalhar no campo era uma atividade produtiva fundamental.
No final do século XIX, nas sociedades rurais, o mal-estar pairava sobre elas: o mundo do campo entrou em declínio ao ser ultrapassado por aquele mundo industrial em evolução. O mundo estava ficando menor, os continentes mais próximos.
A criação de uma densa rede rodoviária e a expansão das ferrovias aceleraram os movimentos de pessoas e também o comércio. Ficou mais fácil chegar a uma estação ou porto que levasse ao local desejado.
No final do século 19, essa sociedade rural tentou povoar esses territórios sem limites; a existência da América transformou a crise do campo europeu em aumento do mercado de trabalho.
Como afirma o escritor Piero Bevilacqua no livro História da emigração italiana: "O novo mundo, descoberto pelos europeus no final do século XV, estava agora se tornando um enorme novo território de reserva para sua grande e faminta população.
E a emigração em massa iniciada nessa fase nada mais foi do que a manifestação de uma nova dimensão, sem fronteiras nacionais, do mercado de trabalho, agora projetada a nível global".
Empresas privadas, de propriedade de descendentes de imigrantes europeus, colonizaram grande parte do estado do Rio Grande do Sul. Em relação à venda de terras, a legislação republicana permitia muitas liberdades a esse respeito, portanto, as terras podiam ser compradas e vendidas com muita frequência e tudo se tornava moeda de troca. No período imperial, foi adotado um sistema de colonização fracionada que previa a subdivisão da terra em dezenas de núcleos coloniais.
Essas empresas colonizadoras a partir de 1914 operaram com maior intensidade à medida que o governo federal impedia os subsídios para a colonização. Era proibido apenas usurpar as terras do estado e de particulares que reivindicassem suas propriedades de outra forma, se ninguém reivindicasse sua posse, as terras mencionadas foram vendidas.
No início dos anos 1900, a ação das empresas desacelerou a compra e venda de terrenos e foi retomada a partir de 1929, graças a um novo critério de venda: a publicidade em jornais e revistas. Posteriormente os negócios foram legalizados, registrados na câmara de comércio, têm terras próprias para oferecer e os preços são bastante atrativos.
Mas dando um passo para trás, essa emigração gozou das vantagens que desde 1875 o estado brasileiro oferecia a quem desejasse se dedicar à colonização: viagens gratuitas de famílias coloniais da Itália ao Brasil, hospedagem, transporte e manutenção da colônia, antecipação de ferramentas agrícolas , sementes e bois, uma pequena soma de dinheiro e alocação de lotes de terra a preços razoáveis.
O colono recebeu um título de propriedade provisório que se tornou definitivo com a compra das terras, tanto em colônias governamentais quanto privadas.
Com prestações anuais, os territórios foram pagos por um período que foi inicialmente de seis anos e depois de dez. A dívida do colono aumentou então com o pagamento da casa que, nas colônias privadas, foi construída diretamente pela administração através de subsídios do governo e depois vendida ao colono a um preço fixado por lei. Outras dívidas relacionadas com o pagamento antecipado de sementes, utensílios agrícolas, animais e despesas de subsistência dos assentados nos primeiros 9 meses.
Nas colônias do governo foi concedido um empréstimo em dinheiro que foi usado tanto para a compra de tudo o que era necessário para a obra, quanto para a construção da casa. Com essa concessão, o colono pode economizar. Além disso, a subsistência durante os primeiros meses era garantida com o pagamento de um salário àqueles que se dispusessem a trabalhar na área de obras públicas dentro da própria colônia.
Assim aconteceu que nas colônias privadas o emigrante, oprimido por um excessivo volume de dívidas, também devido ao custo mais alto dos lotes, dificilmente conseguiria ultrapassar uma renda apenas suficiente.
Enquanto nas colônias do governo, a dívida era menor e com menos juros, mas o emigrante foi mais deixado por conta própria.
Quando os emigrantes chegaram ao seu destino eram enviados para os vários estados e depois empilhados gratuitamente nas hospedarias por alguns dias. Os principais centros de recepção foram os do Rio de Janeiro e de São Paulo. Porém, nos momentos de maior aglomeração, surgiu uma situação de confusão que fez com que os emigrantes vagassem pelas ruas da cidade. As longas esperas nas hospedarias viram os emigrantes vendendo as poucas coisas que trouxeram para a viagem.
Os emigrantes alcançavam seus destinos: se escolhessem as colônias, o governo provia as despesas de viagem; se em vez disso optassem pelas fazendas, tinham que esperar os fazendeiros que apareciam naquele momento para celebrar contratos verbais fictícios sem qualquer garantia.
Em seguida, chegavam às colônias por qualquer meio de transporte, às vezes até a pé, após horas de viagem ao sol e chuva.
Assim que chegaram às colônias, os emigrantes seguiram estas operações: derrubar uma parte da floresta que ocorreu em 15-20 dias; depois procedeu-se à semeadura e, finalmente, outra área foi limpa e cultivada, enquanto, entretanto, nos campos exauridos, a vegetação voltou a crescer. O primeiro ano não trouxe grandes lucros, mas depois da primeira colheita a situação melhorou. Isso também ocorreu devido ao deslocamento de colônias em áreas de difícil acesso.
No final da década de 1980, a emigração se moverá mais para o estado de São Paulo porque o emigrante achou mais conveniente trabalhar nas fazendas de café do que cultivar um pequeno lote de cereais. A expansão do café a partir de 1888 não teria sido possível apenas com a mão-de-obra escrava, já que não havia superávit populacional em São Paulo. Os pouco mais de 100 mil escravos não poderiam ter garantido o cuidado dos cerca de 700 milhões de cafeeiros registrados em 1904-1905, quando em 1890-1891 eram apenas 200 milhões.
O jornal A Província de San Paolo, quase dez anos antes da abolição da escravatura, ilustrou a realidade: "Os escravos que permanecerem não serão suficientes para manter a agricultura nas grandes propriedades; e isso, longe de ser um mal, antes marcaria a era da prosperidade agrícola".
Desde o início, o objetivo de quem estimulava a imigração era encontrar mão de obra para substituir os escravos nas fazendas.
Este sistema adotado foi satisfatório tanto para os fazendeiros quanto para os emigrantes.
Para obter a terra, o imigrante primeiro teve que passar um período de tempo nas plantações de café, durante o qual ganhou dinheiro e depois o usou na compra de suas próprias terras.
Não é de estranhar que no estado de São Paulo tenha ocorrido um colapso total das colônias agrícolas: na lógica descrita, a colonização teria permitido a posse imediata da terra e o deslocamento da mão-de-obra da economia cafeeira para outra que poderia se tornar não-subsistente como em outras áreas do Brasil, mas no mercado, criando assim núcleos de consumidores substanciais.
Nas fazendas, o emigrante tinha três alternativas possíveis de colocação: parceria, salário e empreitada.
No estado de São Paulo, a parceria era quase inexistente, enquanto em Minas Gerais era mais disseminada. Em São Paulo prevaleceu o sistema de peças e salários. Depois de chegar à fazenda, os emigrantes se dividiram: os assalariados se alojaram no centro da propriedade e os trabalhadores receberam uma casa na fazenda que lhes foi confiada.
O salário era inferior ao comunicado nas hospedarias. Em todo caso, a economia cafeeira se baseava no trabalho por peça. Os contratos incluíam certas cláusulas:
- o fazendeiro não adiantava dinheiro, dava o estritamente necessário.
- a família do colono ficava com um certo número de plantas com a obrigação de realizar a safra.
- o colono recebia seu salário ao atingir certo número de safras.
- o pagamento era trimestral
- se realizavam tarefas adicionais, o fazendeiro pagava um excedente.
- alguns serviços eram gratuitos: limpeza das pastagens duas vezes por ano, reforço de arame e sebes, reparação da estrada de acesso à estação.
- se algumas tarefas não fossem cumpridas, o emigrante era multado.
- ao colono foi garantido o uso da casa, a possibilidade de plantar alimentos
Esse sistema beneficia tanto o fazendeiro, que minimiza o custo da mão de obra, quanto o colono que obtém uma renda monetária e pode se tornar proprietário de terras.
O colono sofreu muitas violações, começando pelo atraso no recebimento do pagamento e abusos na aplicação de multas. As condições pioraram ainda mais em momentos de crise do café: assim, por exemplo, no período de 1898-1904, a disciplina tornou-se mais rígida, a jornada de trabalho mais longa. A crise que levou à queda dos preços do café levou muitos fazendeiros à falência.
Nos casos de falência do fazendeiro, o colono raramente conseguia o que tinha direito e ainda não havia leis para protegê-lo. Só mais tarde, em 1904, os créditos do trabalhador serão reconhecidos como privilegiados. No entanto, nem todos os nossos emigrantes encontraram uma integração estável no mundo do trabalho.
A colônia urbana italiana de fato incluía uma porcentagem de trabalhadores marginais. Era um pequeno exército, composto principalmente de sulistas, vendedores ambulantes, engraxates, vendedores de jornais menores de idade que muitas vezes dormiam nas impressoras para conseguir o jornal recém-impresso e chegar primeiro às melhores áreas de circulação.
A partir de 1915 houve uma clara prevalência de trabalho rural e unidades familiares: artesãos, proletariado fabril e trabalhadores não qualificados. Com o segundo pós-guerra a chegada de técnicos e trabalhadores qualificados foi mais acentuada e foi sobretudo o Véneto que abasteceu os maiores contingentes.
3. As fazendas e os fazendeiros
A emigração em massa espalhou italianos e descendentes de italianos que nunca voltaram para casa permanentemente.
Quando falamos em emigração transoceânica, podemos pensar em dois caminhos: o primeiro diz respeito aos Estados Unidos com as comunidades urbanas que deram origem aos Pequenos Itálicos e o segundo à América Latina, onde não faltaram assentamentos agrícolas.
O início do êxodo popular em massa da península trouxe as primeiras tropas de emigrantes para o Uruguai e a Argentina. Ainda hoje, em toda a América, há a presença de comunidades italianas com raízes na Itália.
Como já foi referido, entre 1875 e 1975, pouco menos de um milhão e meio de emigrantes chegaram à ex-colônia portuguesa vindos da Itália, mas quase um milhão foi para lá entre 1875 e 1902.
Para promover este fenômeno foram os fazendeiros das regiões cafeeiras e o epicentro foi identificado sobretudo em São Paulo, onde se concentrava a maior massa de nossos imigrantes.
Primeiro foram colonos e depois se tornaram operários e operários inseridos em todos os níveis da produção local, os ítalo-paulistas, cuja presença remonta ao início da década de 1880, foram os mais rápidos a "brasilianizar".
Posteriormente os emigrantes chegaram também na parte sul, em direção ao Rio Grande do Sul. A origem das colônias que ocorreram nessas áreas não foi decidida apenas por estatísticas numéricas, mas no desenvolvimento do processo de transformação muito original baseado em bases lingüísticas, religiosas e aduaneiras de uma marca italiana clara.
De fato, os municípios de Caxias, Antonio Prado, Bento Gonçalves e em geral a Encosta Superior da Serra do Nordeste nasceram graças à colonização agrícola caracterizada pela compactação das cadeias migratórias. As terras americanas são consideradas destinos por razões econômicas e populacionais pelos trabalhadores europeus.
Essas terras são palco de mudanças que evoluem com o tempo e que vêem novas identidades estabelecidas com novos mitos e sentimentos nacionais. Identidade de classe, senso de filiação religiosa e identidade regional são apenas alguns dos elementos que interferem no já emaranhado processo de assimilação e integração política dos emigrantes.
Nós nos encontramos em um contexto em que não sabemos onde termina uma região e começa uma nação. No caso ítalo-brasileiro, os problemas surgem a partir dos emigrantes dotados de fisionomia própria, como o Vêneto. Os emigrantes partiram de aldeias rurais e de países remotos onde não conheciam um verdadeiro espírito patriótico, mas eram simplesmente camponeses totalmente alheios à cultura em que, pelo contrário, as classes de artesãos urbanos e pequeno-burgueses que partiram para a América mas que para o seu retorno obteve lucro sobre os ativos criados no exterior.
O italiano partiu com o objetivo de viver uma vida decente, os fazendeiros inicialmente não entendiam o significado de trabalho e família que o imigrante carregava em sua bagagem cultural. Portanto, eles tratam os imigrantes como escravos; O padre Pietro Colbacchini em um relato de 1889 para Itù argumentou que: os italianos não vieram aqui para se tornarem servos de estrangeiros, eles querem ser donos de si próprios. No país de destino, além de escravos, os emigrantes também foram denegridos e os fazendeiros cometeram vários abusos contra os emigrantes. Como Maria Tereza Schorer Petrone argumenta no livro, a presença italiana na história e cultura do Brasil: os fazendeiros acreditavam que podiam dispor do tempo de todos os membros da família como bem entendessem. Acostumados com a família do escravo, que podia ser desmantelada, não entendiam a luta do imigrante para preservá-la. Eles concebiam a família colonial apenas como uma unidade de trabalho e produção, o que lhes garantia uma renda segura e vinculava o imigrante à fazenda.
A família, como unidade social de defesa e de coesão individual e coletiva, incomodava os fazendeiros, pois os interesses das duas partes não eram necessariamente convergentes.
O trabalho familiar na fazenda de café era considerado importante porque a taxa de produção do imigrante era muito superior à do escravo e do ponto de vista da força de trabalho, após a abolição da escravidão, foram os italianos que "salvaram ”o país da crise econômica. O avanço do café no oeste, a construção das ferrovias, o fortalecimento da malha urbana, a industrialização, o desenvolvimento dos serviços e o surgimento do sistema bancário são todos elementos ligados ao progresso ocorrido nas últimas décadas do século XIX.
Os contratos estáveis dentro das fazendas entre os fazendeiros e a família tinham a duração de um ano e esta última tinha a tarefa de colher o café, controlar os cafezais, trabalhar para a produção direta de subsistência e ocasionalmente prestar serviços ao fazendeiro. A remuneração familiar era baseada na quantidade de plantas confiadas a cada família e sua força de trabalho. A cada mil pés de café, a família recebia uma quantia fixa em dinheiro, além do valor do café arrecadado. Pelo desempenho do trabalho ele obteve em troca uma casa grátis e um pedaço de terra para semear milho, feijão ou arroz ou criar animais. A família procurou assegurar ao núcleo o mínimo de sobrevivência, combinando os esforços de todos os membros da família para melhorar suas energias.
4. O processo administrativo antes do desembarque no Brasil
O governo brasileiro assegurou aos emigrantes viagens pagas, bem como garantiu a possibilidade de se tornarem proprietários de terras nas áreas de colonização. Por isso os agentes dos emigrantes comprometeram-se a atingir o número estabelecido para a travessia e a liquidar os seus bens que certamente ultrapassavam o limite da legalidade.
Para chegar à América do Sul foi necessário realizar uma série de trâmites de escritório nas prefeituras. Os emigrantes antes excluídos do país eram considerados exilados fugitivos. No entanto, o país reservou algumas cláusulas cautelares: para a emissão do passaporte e a respectiva autorização era necessário rescindir todos os vínculos agrícolas.
O Governo Central emitiu medidas sobre a imigração e colonização de terras brasileiras: em 1858 foi aprovada a regulamentação do transporte de imigrantes; os costumes foram então regulamentados; o decreto de 1861 sancionou algumas concessões para a compra de terras e sobre a passagem. Inicialmente este último era pago em parte pelo governo: pagava a diferença de preço entre a passagem para os Estados Unidos e a do Brasil. Para os imigrantes que chegassem às costas brasileiras por conta própria, o governo reembolsava o valor total da passagem e proporcionava a todos transporte gratuito do porto de embarque até o local escolhido, bem como hospedagem e alimentação por determinado período de tempo nas hospedarias.
As hospedarias de Imigrantes do Rio de Janeiro ou de São Paulo recebiam o emigrante por um período que poderia ser de um a dez dias e após as várias verificações este chegava por via marítima às cidades litorâneas de Curitiba, Florianópolis ou Porto Alegre . Posteriormente, foi encaminhado para as fazendas ou núcleos coloniais, a viagem era feita a pé e em caravanas e podia durar até duas semanas. O emigrante teve que entrar em caminhos perigosos onde não faltaram encontros e confrontos com indígenas e animais ferozes e perigosos.
Somente em 1885 o governo adotou oficialmente o sistema de introdução de imigrantes por meio de contratos estipulados com companhias marítimas.
Essa disposição tinha todas as características de uma lei de ordem pública, precisamente de polícia. Proclamou plena liberdade para emigrar; regulamentou a actividade dos agentes e subagentes que deviam obter licença do Ministério do Interior para o exercício da sua actividade; regulamentou os termos do contrato de transporte; resgatou o emigrante da imposição de acordos opressores como a obrigação de trocar trabalho no exterior por transporte; criou comissões de arbitragem para a resolução de litígios entre emigrantes e transportadores, na tentativa de defender os primeiros dos abusos habituais das grandes companhias marítimas.
O conceito subjacente à agora proclamada liberdade de emigrar relacionava-se ao da liberdade de iniciativa no domínio do trabalho, com uma única exceção para as mulheres casadas que não podiam emigrar sem o consentimento dos maridos até 1919. Já para os homens a proibição dizia respeito às obrigações relacionadas com o saque. Aqueles que gozavam de licença ilimitada só podiam sair com a liberação da licença do Ministério da Guerra. As páginas mais tristes da emigração estão ligadas às vicissitudes que os exilados europeus enfrentaram para chegar às terras da esperança. As condições da viagem, o tratamento dos centros de coleta no desembarque, o trabalho que o espera são apenas alguns dos fatores negativos que afetarão o emigrante.
Augusta Molinari afirma - em Apontamentos de Viagem - que: a travessia costuma ser um esforço, às vezes uma tragédia. Não só pela possibilidade de um naufrágio, mas pelas péssimas condições em que ocorreu... Mas é a longa e cansativa espera pela chegada, mais do que os acontecimentos da travessia, que define a condição e a experiência dos emigrantes durante a viagem. O que importa e conta para os emigrantes é chegar na América.
5. Agentes de emigração e empresas de transporte
O emigrante que embarca não é um viajante, mas uma nova figura social que passa a residir na sociedade do século XIX: é considerado estrangeiro em seu país, pois não pode contar com a proteção e assistência do Estado. As travessias mais longas para a América do Sul favoreceram o início de epidemias. Esta situação foi regularizada em 1901 com a edição de um decreto que estabelecia alguns parâmetros a respeitar: capacidade cúbica mínima per capita, regras de higiene e presença a bordo de médico oficial. Nos relatos das autoridades são destacadas as situações de saúde dos assentados e outros. Situação inaceitável, mas depoimentos diplomáticos afirmam o contrário: boas condições de saúde e baixos índices de mortalidade. Outro problema era, sem dúvida, aquele inerente ao atendimento médico, às vezes em algumas colônias era necessário enfrentar até 20-25 quilômetros para falar com um médico.
Assim que chegam ao porto, os emigrantes são "entregues" a agentes que têm a tarefa de os acompanhar até às pousadas autorizadas. Aqui ocorreram especulações de todo tipo, já que as agências de emigração recebiam das companhias marítimas uma determinada quantia por cada pessoa embarcada, aproveitando assim a situação. As empresas tentam reduzir as despesas ao mínimo, colocando os emigrantes em locais inseguros e anti-higiênicos; enquanto os estalajadeiros deixavam os emigrantes entregar o pouco dinheiro que tinham, obtendo assim um lucro duplo.
Geralmente a expressão "agente de emigração" indica aquele que realizou operações de mediação entre emigrantes e companhias marítimas. Inicialmente, as agências mantinham sedes próprias em cidades costeiras que enviavam agentes para áreas onde a taxa de expatriação era muito alta e depois encaminhavam os emigrantes para as companhias marítimas das quais recebiam uma comissão por cada pessoa embarcada.
Com o passar dos anos, o fenómeno da emigração aumenta e a partir do final da década de 1870 as agências passam a ter representantes no território que realizam operações de recrutamento de emigrantes por conta do agente ou subagentes.
Enquanto os agentes ficam com a tarefa de negociar o preço de cada emigrante com as companhias de navegação e conseqüentemente encaminhar os emigrantes aos vapores de maior lance, os subagentes ficam encarregados do cuidado do mercado: são eles que têm o termômetro da febre migratória nas áreas de competência; são eles que devem espalhar essa febre em áreas que ainda estão imunes a ela. Não havia dúvida de que as ofensas eram frequentes: os agentes exigiam o preço da passagem mesmo quando não era devido, enviavam os emigrantes ao porto de embarque uma semana antes da partida e aqui eram privados dos seus já escassos bens. Mas a lei de 1888 previa penalidades para intermediários sem licença de agência. Com o advento do novo século, inovações substanciais são introduzidas do ponto de vista da legislação sobre emigração. A forma tradicional de intermediação de agência desaparece e as funções de recrutamento são confiadas diretamente às companhias marítimas.
Na verdade, os agentes de emigração estão sendo substituídos por "representantes das transportadoras", que também transformam sua forma de divulgar a terra prometida. Especificamente, eles potencializam as qualidades e o conforto dos navios: rapidez na travessia, conforto nos berços, cardápios com refeições fartas e assim por diante. Cada família, para obter o ingresso gratuito, deveria obrigatoriamente cumprir os seguintes requisitos: ser agricultora e emigrar com família constituída por pelo menos um membro do sexo masculino entre 12 e 45 anos. Aqueles que possuíam essas exigências puderam partir para o Novo Mundo principalmente graças à política de imigração do governo brasileiro, que atraiu regularmente trabalhadores europeus a partir de 1875.
Houve duas formas de implementação deste projeto: imigração financiada diretamente pelo governo e contratos com empresas e indivíduos para a introdução de força de trabalho. Na Europa, criaram-se verdadeiras empresas de serviços que promoveram a imigração a partir de 1886. Este sistema generalizou-se a partir de 1894, quando os verdadeiros serviços de imigração passaram por lei do governo central para os estados aumentando o domínio no mercado de trabalho internacional das áreas econômicas mais ricas. Para subsidiar a importação de trabalho, houve um gasto monetário substancial por parte do governo e dos estados individuais, especialmente durante os últimos anos do império e os primeiros anos da república.
As empresas recebiam muito por pessoa e seu único objetivo era trazer o maior número possível de pessoas, ignorando os aspectos humanos da emigração. A facilidade e o engano com que o recrutamento foi realizado foi objeto de atrito entre o próprio governo brasileiro e as empresas, principalmente no que se refere à condição profissional do emigrante. Os agentes abordavam qualquer pessoa: pedreiro, alfaiate, camponês, barbeiro, etc. enquanto o governo pagou a viagem apenas para famílias de agricultores. Os emigrantes chegaram ao Brasil com a qualificação de trabalhadores agrícolas, mas quando descobriram a fraude recusaram-se a trabalhar. Por isso o governo brasileiro viu que a mão de obra estava fugindo e a imprensa deu publicidade negativa sobre eles. Tudo isso levou o governo italiano a tomar medidas: o ministro Crispi suspendeu a expatriação para o Brasil em 1889. Sem dúvida, a emigração representou para a Itália o fenômeno mais consistente de caráter social de sua história pós-unificação, condicionando a posição econômica e política de nosso país. Na fase de competição mais intensa, entre 1895 e 1899, havia uma rarefação dos preços do transporte do continente europeu para o americano.
Na luta entre as empresas, os armadores nacionais tentaram especular tanto sobre os meios de navegação quanto sobre o número de passageiros. Isso tornava as condições higiênicas da viagem inseguras. Neste contexto, cria-se assim concorrência entre as companhias marítimas pelos seguintes motivos: subsídios governamentais, prémios atribuídos à navegação geral italiana graças aos acordos entre as empresas interessadas no mercado italiano. O governo italiano interveio mais uma vez em 1902 para proteger nossa emigração. Em março daquele ano, o decreto Parinetti suspendeu a licença concedida a quatro empresas de navegação e uma transportadora para o transporte gratuito de emigrantes para o Brasil, ao mesmo tempo que negava a emissão de passaporte para quem não pagasse a viagem.
Posteriormente, foram feitos acordos entre as várias companhias de navegação e os agentes de emigração. Este acordo foi sancionado porque os agentes exploravam a rivalidade entre as empresas, mas uma vez que o acordo foi aprovado, os preços das passagens começaram a subir drasticamente e para todas as linhas que envolviam a emigração italiana para a América. Os artigos desse acordo eram os seguintes:
Art. I. Os abaixo assinados Agentes de Emigração da praça de Nápoles, formal e lealmente comprometem-se a trabalhar com plena atividade a fim de obter o maior número de passageiros para todas as companhias marítimas acima mencionadas e para destinos na América do Sul, (Brasil , Montevidéu e Buenos Aires); eles, portanto, se comprometem a não trabalhar ou adquirir passageiros por qualquer motivo, motivo ou destino, seja direta ou indiretamente a empresas não consorciadas ou armadores, e também se comprometem a lutar por qualquer meio qualquer concorrência que possa surgir de outras empresas ou armadores, que tenham para estabelecer serviços regulares ou extraordinários para os destinos acima mencionados
Art. II. As referidas companhias marítimas indicarão aos agentes de emigração signatários da presente carta, para que possam disponibilizar atempadamente a respectiva publicidade, a qual deverá incluir a de todas as cinco linhas anteriores, a data das saídas, os nomes dos vapores, os preços a praticar e os comissões a serem pagas aos subagentes da Província, cujos preços e comissões devem ser iguais tanto para as empresas como para os agentes de emigração e sob qualquer forma ou por qualquer motivo ou causa, não podem ser pagas, aberta ou secretamente , nenhuma comissão extra ou compensação extra para os subagentes da Província.
Art. III. A General Navigation italiana, La Veloce, Maritime Transport, Puglia Fabre e a americana Hamburgese concedem uma comissão de 10 liras, por cada assento pago embarcado em seus vapores, com destino ao Brasil, Montevidéu e Buenos Aires e portos do Pacífico , não sendo excluídos que os passageiros por conta do Governo, os de chamada e os gratuitos, bem como os procedentes de transbordo. Esta comissão será depositada em garantia, a ser paga no final do contrato.
Art. IV. Em caso de concorrência provocada por um dos signatários do presente contrato, o fundo de garantia constituído pela metade das comissões pagas ficará perdido para metade das empresas, enquanto que por qualquer outra infração deste acordo, feita por um ou mais dos signatários, a apenas compartilhar devido ao (s) infrator (es).
Art. V. A distribuição do fundo de caixa será feita pela Comissão de Representantes das cinco empresas integrantes do pool, com a intervenção de dois agentes de emigração, delegados pelos signatários da presente carta. Nesta divisão, os gabinetes de emigração e agentes das sociedades associadas devem ter uma quota máxima igual à da Navigazione Generale Italiana e La Veloce, que deve ter uma unidade a mais que a percentagem atribuída aos restantes gabinetes de emigração das sociedades.
Art. VI. O Comitê de Representantes da Empresa monitorará o cumprimento exato deste acordo, podendo delegar a qualquer de seus membros, a fiscalização das operações de qualquer Agente de Emigração signatário deste acordo a qualquer momento.
Art. VII. A referida Comissão tomará todas as medidas que considerar necessárias para regular e disciplinar o serviço de emigração das Linhas exploradas pelas Companhias Pool.
Art. VIII. Os agentes de emigração que não sejam signatários deste acordo não poderão embarcar seus emigrantes nos navios a vapor das cinco linhas; é, portanto, absolutamente proibido aos signatários deste documento aceitar secretamente desses passageiros e embarcá-los como de sua própria produção.
Art. IX. Os signatários deste contrato estão autorizados a embarcar seus emigrantes também nos barcos a vapor das empresas Ligúria-Brasileira e Ítalo-Americana com destino único ao Brasil; sempre quando, no entanto, essas empresas cobrarão os mesmos preços e comissões das linhas do Pool, pois os signatários desta carta devem abster-se imediatamente de continuar a embarcar passageiros nos navios das referidas duas empresas.
Art. X. As infrações ao presente acordo serão baseadas na convicção moral dos membros da Comissão da Piscina, e serão por eles julgadas.
Art. XI. Os infratores deste contrato, além de perderem a sua participação no fundo Cassa, serão imediatamente excluídos deste acordo quando o Comitê entender que a medida foi adotada.
Art. XII. Este contrato terá a mesma duração estabelecida para o acordo entre as companhias marítimas, ou seja, de hoje a 14 de maio de 1900. Caso as companhias renovem o acordo existente entre elas, este contrato será considerado renovado nas mesmas condições.
6. A lei de emigração
O contraste entre as agências e as companhias marítimas estava se tornando cada vez mais severo. Acordos foram feitos por várias empresas para limitar as margens de lucro das agências, uma vez que representavam um perigo para a pequena burguesia do sul e a burguesia industrial do norte. Procurou-se um acordo com a oposição democrática, ansiosa por proteger a emigração para resolver o problema.
A lei de emigração poderia qualificar a nova política liberal no plano social e de controle estatal frente aos perigos políticos ligados à expansão do fenômeno.
Em todo caso, a liberalização do êxodo e sua racionalização foram uma prioridade em vista da nova política de Giolitti para conter a pressão das massas camponesas do sul e criar o clima social e político necessário para o desenvolvimento industrial do norte.
Só em 1865, com a introdução dos agentes de viagens, alguma disposição da lei de Segurança Pública foi posta em causa para promover alguma circular mais ou menos restritiva do Ministério do Interior. Mas, com o passar do tempo, o estado também tenta especular, tirar proveito disso, promovendo a emigração de cidadãos. Eles têm como alvo os mais ignorantes e pobres, prometendo-lhes uma vida melhor e encorajando-os a partir em busca de mais sorte no novo mundo.
O governo, por sua vez, deve reagir para evitar o comércio de agências e a emigração ilegal. A fraude deve ser punida, este tráfico desonesto de pessoas deve ser coibido, as queixas da opinião pública devem ser satisfeitas, a proteção dos emigrantes pobres deve ser levada em consideração, abandonados e vítimas de ilusões, e os gastos significativos que custam ao Tesouro cuidar de sua subsistência e voltar para casa.
O ministério deve informar os prefeitos das várias vicissitudes que estão acontecendo dentro e fora do país; relatar às autoridades judiciais aqueles que favorecem a emigração ilícita, proporcionando embarque com uma grande soma de dinheiro.
Tem-se falado frequentemente de uma lei que estabelece a proteção do estado contra a emigração. Foi sancionada em 1901: a nova lei121 regulamentou os problemas de carácter económico e social que surgiram em torno da emigração.
Desta forma, consolidou-se um sistema protegido não só do ponto de vista jurídico, mas também do ponto de vista econômico na política externa do país.
Na realidade, nesta conjuntura, esta lei apresentava lacunas não só do ponto de vista organizacional, mas os funcionários afetos aos serviços consulares demonstravam pouca vontade de estabelecer relações de confiança e colaboração com o emigrante. Em qualquer caso, do ponto de vista social, esta lei visava atacar os interesses dos agentes e das companhias marítimas em defesa do emigrante.
Capítulo 2
SONHOS, TESTEMUNHOS E RETRATOS DE EMIGRANTES
1. O sonho americano
A viagem foi para o desconhecido, para uma terra sem fronteiras. O espaço infinito do oceano marcou profundamente a experiência da emigração que projetou o emigrante em uma realidade mental, cultural e temporal diferente da original: o medo do desconhecido, o risco de se perder, a angústia de não ter sepultamento e a distância dos membros da família.
A única consciência era partir para um país moderno criado pela civilização materialista, industrial e econômica enquanto a Europa representava a civilização, a história, a tradição dos valores culturais.
O imaginário da América criou nos sonhos do camponês aquela função vital que lhe permitiu manter vivas as suas esperanças. Nos momentos em que foram forçados a passar por realidades insustentáveis, o mito foi o elemento que sustentou seu grande empreendimento. Vários fatores contribuíram para a construção desse mito: desde a chegada das cartas que narram as maravilhas e aventuras da América, o trabalho dos agentes de emigração e a história dos emigrantes que retornam. A passagem do velho para o novo mundo foi facilitada pela máquina de propaganda que permitiu a consolidação do mito paradisíaco no imaginário popular europeu. Esses eram agentes e agências de emigração que atuavam como intermediários comerciais.
Na escolha da emigração, a atitude dos camponeses durante o grande êxodo aparece como uma revolta. Em algumas cartas interpretam a travessia como uma miragem da terra fácil, do sonho do trabalho, da esperança absurda de bem-estar. Os emigrantes provavelmente não entendiam exatamente as verdadeiras condições que encontrariam além do oceano. Obviamente não sabiam do pior porque na Itália faltavam meios de subsistência e o facto de saber que na América sempre houve ocupação, foi no entanto um factor de atracção.
A descrição de cordilheiras, planícies e florestas, fauna e flora distintas da do país de origem, insetos, plantações, redescoberta do trabalho assalariado, fome, morte, território povoado por negros foram todos elementos decisivos para compor o mito de uma terra diferente, de um mundo novo e com esta fome e dor não devem ser excluídos. Posteriormente o emigrante se decepcionou com o governo que o abandonou às aventuras do Novo Mundo e então descobriu com o tempo que até no Brasil as pessoas não morriam de fome, havia um ambiente de sacralidade, orações eram recitadas em latim diariamente e o o trabalho agrícola era o elemento de sobrevivência.
A América era vista pelos emigrantes como um símbolo de opulência, uma terra de abundância, uma terra de Cuccagna onde as pessoas podiam realizar seus sonhos e desejos. Mas nem sempre foi assim: a imagem deste continente surge-lhes como um "Eldorado distante". Em Mèrica ... em Mèrica ... esses camponeses sussurram entre si; você conhece um lugar abençoado, onde não se cansa, dinheiro aos montes, não sobra mais dia ... (...) Mèrica ... Mèrica. Se os patrões cobram um centavo a mais, Mèrica: se por azar vier um pequeno granizo, Mèrica; se às vezes você pula o carrapato para se abastecer de fumo em abundância, do relógio relativo com corrente, em Mèrica; tudo é encontrado sem esforço em Mèrica.
Emigrar é renascer, atravessar o Atlântico significa dedicar-se a um destino que se questiona pela primeira vez, ou seja, enfrentar o desafio de existir num mundo literalmente novo e além disso positivo. O novo continente na realidade parecia mais o inferno do que o céu. Mas, por outro lado, a Europa era vista como um lugar de sofrimento e dor, onde tudo é mais estreito. Os descendentes dos emigrantes contam como seus pais, tios e avós mantiveram as esperanças acesas com as seguintes frases: “Vou para a América e em cinco ou seis anos ganho o suficiente para comprar um terreno que posso dizer que sou cristão; outros disseram: se me convém, ótimo; caso contrário, continuo sendo o pobre sujeito que sou. " Assim que chegaram, foram catapultados para esses empregos miseráveis e desesperadores. Mas eles não tiveram escolha.
É um mito que desmorona uma vez lá e a decepção e a raiva se instalam porque não demora muito para entender que não é a América do ouro.135 Na época em que o emigrante aterrissa, ele já passou por um julgamento de autoconversão ao Novo Mundo. Quando, ao partir, o navio deixou o porto de embarque, o emigrante abandonou, temporariamente ou para sempre, o mundo do passado. Esse passado embarcou com ele, meio escondido entre as bagagens e entre as memórias. A distância tornou-se uma dimensão espaço-tempo. Naquele instante em que o navio zarpou para o oceano, ele fechou um parêntese de sua vida. Então, a viagem representou um longo intervalo que o separou da nova história que ia escrever no Brasil. A superação das condições precárias vividas pelos emigrantes no início da colonização remete a eventos remotos que devem ser esquecidos como negativos e já passados; da mesma forma, sua intensidade e drama emocional tornam-se um aviso para respeitar a terra pouco conquistada e aceitar os valores sociais e culturais de que está imbuída.
2. Os testemunhos das entrevistas
Depois de esboçar um prelúdio à emigração veneziana para o Brasil entre o final do século XIX e o início do século XX, cabe agora atentar para as entrevistas gravadas pelo professor Giovanni Meo Zilio. Essas entrevistas foram realizadas nas antigas colônias do Sul do Brasil entre dezembro de 1996 e janeiro de 1997. Esses depoimentos dizem respeito a pessoas que vivenciaram acontecimentos relacionados à experiência de emigração do final do século XIX, que viram em suas famílias os protagonistas, que contam na primeira pessoa fatos que realmente aconteceram e evocam lembranças de vicissitudes desagradáveis, mas também de acontecimentos positivos que lhes permitiram realizar seus sonhos.
Para esta pesquisa, examinei os depoimentos de vinte descendentes de emigrantes vênetos e lombardos, de diferentes idades, que são apresentados de maneira geral na forma de conto verbal.
Os entrevistados:
1. Sérgio Fabris, 90, natural de São José. Seus avós vieram de Sete Municípios, no Vêneto, e chegaram ao Brasil, em Caxias do Sul, entre 1885 e 1886. A avó falava Cimbriano.
2. Giuseppina Stella Fabris, 80 anos. Pai vicentino, mãe brasileira. Avós italianos.
3. Leandra Fabris, estudou italiano em Veneza. Ele visitou a terra de seus avós em Asiago, Sette Comuni.
4. Alcir Francisco Menegatti, nascido em 1947 em Erachim. Médico. Os avós vieram de Verona e chegaram ao Guaporè em 1886. O avô era ferreiro-ferrador, trabalhou na construção da malha ferroviária que liga Porto Alegre ao Guaporè.
5. Aldo Moretto, nascido em 1932 em Erechim. Avós de Vicenza.
6. Valetino Ballen, tio de Aldo Moretto, nascido em 1926 em Erechim. Os avós vieram de Feltre.
7. Dionisio Mingotti, nascido em 1931 em Erechim. Avô de Vicenza, avó de Pádua.
8. Vilma Maria Andreolla, avó de Pádua e avô de Vicenza.
9. Erminio Pasquali, 88 anos, natural de Veranópolis. Avô de Cremona e avó de Mântua.
10. Nicanor De Paris, avós de Belluno.
11. José Domingo De Paris, 50 anos, filho de Nicanor.
12. Victor Nardelli, avós do Trentino que chegaram à província de Santa Caterina em 1878.
13. Normelio Zilio, nascido em 1941 na Guaraciaba. Avós de Treviso.
14. Elio Zilio, nascido em 1913 em Guaporé. Avós de Treviso.
15. Lauro Corradi, nascido em 1929 em Alfredo Chaves, Veranópolis, RS. Avô de Cremona, avó de Vicenza.
16. Adelino Martini, 73, pais italianos.
17. Daniel Cavalli, nascido em 1936 em Sede-Belem. Corporal.
18. Acácio Martini, nascido em 1934 em Pinto Bandeira. Avós de Mântua
19. Michelina Ghigi Traversini, avós de Cremona.
A primeira geração de imigrantes italianos se caracterizou pela diversidade da língua falada em casa, o que gerou consequências do ponto de vista das mudanças culturais ocorridas nas comunidades por eles formadas no Brasil. No sul do Brasil as comunidades eram muito numerosas e compactas além de isoladas, portanto não podiam estabelecer contatos com lusófonos e com imigrantes de outras origens. Enquanto em São Paulo, e no resto do Brasil, principalmente nos centros urbanos, o contato com o elemento indígena e com outras nacionalidades era mais fácil, em certo sentido, obrigatório, ditado pela objetividade das circunstâncias, mas isso determinou uma tendência que levou à criação de um koiné.
O dialeto veneziano foi o elemento fundamental para a criação de uma língua comum, mas nas áreas urbanas e nas áreas coloniais do sul do país a língua portuguesa ainda existia. No caso específico dos emigrantes, o uso do dialeto tornou-se um sinal de pertença às categorias socioeconômicas mais baixas, pois estas eram consideradas pobres, camponeses e ignorantes. O uso do dialeto ajudou a destacar os problemas que o imigrante teve que enfrentar, uma vez que a língua italiana era em grande parte uma língua desconhecida.
Isso pode ser considerado como a perda do primeiro elemento de identidade e auto-reconhecimento. O emigrante tenta identificar-se com a realidade em que entrou e tenta agarrar-se aos instrumentos linguísticos adquiridos por adoção, com dificuldade e de forma imperfeita, criando assim um mal-estar em sua mente. É sintomático que grande parte das evidências do fenômeno da emigração venha do Rio Grande do Sul e, em menor proporção, de Santa Catarina e de outros estados. Embora inferiores aos de outros grupos de imigrantes, os níveis de alfabetização dos primeiros colonizadores italianos no sul do Brasil permitiram o surgimento de uma prática de escrita popular relativamente difundida que se tornou mais evidente nas áreas de assentamento Rio Grande e Santa Catarina.
Como se depreende dos depoimentos orais do capítulo seguinte, os descendentes dos emigrantes colonizaram principalmente a parte do Rio Grande do Sul. Inicialmente, a expansão ocorreu nas colônias de Alfredo Chaves, Nova Prata, Antônio Prado, Guaporè e Bento Gonçalves. Os emigrantes diante das dificuldades não se assustaram, pelo contrário, a identidade italiana ainda hoje predomina nessas áreas coloniais.
Não há dúvida de que a verdade que os emigrantes descobriram ao chegar ao seu destino nos fez lamentar as condições da partida. Os filhos e netos contam que ao chegarem às várias províncias, lhes foi atribuído um pedaço de floresta chamado “mato” e sua tarefa era derrubá-lo e depois torná-lo cultivável com enormes esforços. E às vezes, como se pode deduzir pelos depoimentos, alguns morriam esmagados pelos troncos das árvores. Elio Zilio conta em sua entrevista, na qual conta que seu avô "el xe fica embaixo de uma planta" e seu filho infelizmente teve o mesmo destino. Mas isso certamente não causou medo, pelo contrário, o desejo de mudança, o espírito aventureiro e o desejo de independência foram as causas determinantes desta grande expansão. Quando as novas gerações falam de seus descendentes, o fazem com orgulho porque sabem que foram elas que criaram um sistema de colonização cúmplice, uma técnica adequada de exploração da terra e um grande espírito de trabalho porque como disse Dionísio Mingotti: “i xe veniesti de lá aqueles de boca bona ”ou aqueles que queriam trabalhar e estavam dispostos a se sacrificar para se adaptarem a qualquer necessidade.
Outro fator em que confiaram certamente foi a força de trabalho da família. A taxa de natalidade das famílias italianas no Rio Grande do Sul era muito alta. Uma família geralmente consistia de 12 crianças e não era incomum encontrar 18, 19 ou 20. Para a família que se instalou em seu próprio terreno, as dificuldades não eles estavam acabados: os membros da família tinham que conseguir o necessário para enfrentar quilômetros e quilômetros a pé. As primeiras vezes foram as mais difíceis porque faltou tudo. Mesmo os sortudos ainda tiveram que começar do zero, construir uma cabana para abrigar sua família e depois limpar a floresta para começar a cultivar uma terra desconhecida, orando por uma boa colheita.
Na cultura italiana a família desempenha um papel fundamental. Parte das entrevistas é ocupada pela memória da família. Avós, pais, filhos. O carinho da família era um dos valores mais importantes. Tudo foi compartilhado com a família: esperanças, sonhos, sofrimentos.
Com a saída alguns laços se desfazem, nos separamos e não sabemos quando nos encontraremos novamente. As histórias estão cheias de avós nunca conhecidos, pais desaparecidos, crianças mortas. Como nos conta Giuseppina Stella Fabris, cujos avós perderam os dois filhos durante a travessia porque foram atingidos pela febre tifóide e morreram no navio.
A emigração perturba a situação familiar de todos. O Brasil rompe o vínculo de famílias inteiras. Mas naquele momento ele tinha o encanto do novo, da oportunidade de pousar em uma terra de esperança: a terra do dinheiro, do ouro e da liberdade.
Os emigrantes, além de enfrentarem várias vicissitudes, sabiam que o Brasil lhes permitiu dar aquele passo em frente, ainda que cansativo. Na Itália não havia saída: não havia como escapar da fome e da miséria. O Brasil era uma esperança para eles. A Itália estava morta, o Brasil estava vivo. A terra pôde desfrutar de mais esperança. Para muitos dos emigrantes, a vida deu uma guinada diferente e quando eles olham para trás, eles quase mostram gratidão ao Brasil por ter dado a eles a oportunidade de se salvarem. Quando falam de sua família, a Itália nada mais é do que uma memória distante; de suas origens, a consciência e as memórias que contaram certamente permanecem. sentiam saudades do seu país natal e que "quando falo da Itália ghe venia le lagrime en dei òci". Esses depoimentos e tradições orais reunidos oferecem elementos fragmentados que nos permitem compreender melhor a dinâmica interna da cultura e os comportamentos emergentes diante de determinadas situações.
Mas não posso dizer que essas histórias tenham particularidades específicas, mas são entrevistas com perguntas simples para buscar mais informações sobre a origem de suas origens, sobre a língua, sobre a família e sobre o trabalho de seus descendentes.
Alguns na exposição oral usam algumas palavras em português mas com a intervenção do professor conseguem lembrar o termo em "Talian" através de metáforas e onomatopéias. A localização cronológica dos eventos representa, sem dúvida, o elo mais fraco nas tradições orais; nas falas dos entrevistados é possível detectar diferenças significativas entre o horário de saída e de chegada. As memórias que antecedem a partida são claras e precisas, enquanto no momento da aterragem, tomados tanto pelo entusiasmo como pelo cansaço da longa viagem, tendíamos a não perceber o que se passava, a viver o momento à mercê dos acontecimentos. As entrevistas são fontes que, uma vez coletadas e enquadradas nos padrões certos, podem oferecer a chave para entrar no tecido social e nas profundas motivações da emigração. O uso dessa linguagem dialetal torna o estudo ainda mais interessante. É considerada uma língua específica de um país e é composta por resíduos linguísticos e de gíria. Ramiz Calvão, no início do século 20, resumiu o significado do dialeto da seguinte forma:
"Idioma peculiar a uma região, província ou colônia que não difere, exceto por alguns pequenos detalhes, do idioma geral da nação". É claro que a mesma língua escrita será diferente da oral, dependendo das áreas coloniais e rurais da cidade. Como já mencionado, no Rio Grande do Sul a língua falada, surgida após a chegada dos primeiros emigrantes às colônias do nordeste gaúcho, é uma gíria italiana ligada aos diversos dialetos do norte da Itália.
Nas entrevistas transcritas nas páginas seguintes, a língua vernácula nascida da ligação direta com os dialetos italianos e com a estrutura básica da língua italiana é entendida de maneira significativa.
Na realidade, nem todo mundo fala dialeto, pois nas áreas urbanas há emigrantes com um determinado nível cultural, enquanto nas áreas agrícolas é mais provável ouvir o dialeto da província de origem.
Mas, como testemunham os entrevistados, pode acontecer que numa mesma família se usem dois dialetos diferentes ao mesmo tempo dependendo da origem da mãe e do pai, mas ao mesmo tempo havia alguns termos portugueses intercalados com palavras italianas.
Esta coexistência entre línguas e dialetos é um caso muito singular e é determinado pelo fato de que o jargão continua a viver através da tradição oral, como evidenciado pelos descendentes vênetos e lombardos tomados em análise.
Ainda hoje o dialeto italiano é falado no estado do Rio Grande do Sul, embora em menor porcentagem, mas a consciência de ser italiano aumentou. O amor pela identidade cultural é percebido: a língua é sentida como uma reminiscência histórica do passado de famílias e grupos e como elemento essencial para a preservação das tradições tipicamente italianas do Rio Grande do Sul. O dialeto italiano constitui, portanto, o retrato mais completo da cultura italiana do estado. Para o camponês imigrante, o dialeto era conpiscuamente afirmado, enquanto o italiano era falado por pequenos grupos que lidavam com atividades urbanas e que se dedicavam ao comércio e habilidade. A língua italiana, nas cidades, foi absorvida por um lado pelo português e por outro pelos dialetos, falados pela maioria, principalmente com a sucessão de gerações, visto que não se sentiu a necessidade de falar italiano correctamente quando a maioria da população falava o dialeto. Um fator negativo foi, sem dúvida, a falta de escolas, mas muitos dos descendentes da primeira geração foram alfabetizados por seus pais ou por professores italianos improvisados. Havia três elementos essenciais: saber ler, saber escrever e saber fazer contas. Nesta história, o emigrante é o protagonista ativo. Ele é um homem com um nome e uma história. É ele quem cria aquela memória histórica que nada mais é do que um produto de histórias e consciências individuais.
Sua história é baseada na memória que por sua vez se articula com base nas experiências vividas. Mas, neste caso, as datas, a sucessão cronológica, os fatos não têm relevância porque se baseiam em um esquema incompleto e instável. São as palavras que fazem a história. Algumas entrevistas são explícitas e capazes de transmitir um sentido das evoluções e transformações determinadas pelos processos de adaptação cultural na transição do velho para o novo mundo. Os respondentes das áreas de colonização do sul do Brasil memorizaram informações sobre os locais de origem de seus parentes, como o nome do país ou distrito e também tendem a se lembrar do nome do município, da província de origem e do idioma em que se expressaram.Por exemplo, Costante Fabris lembra que os avós paternos falavam “mezo Cimbro, mezo allemano” ou Valentin Ballen nos conta que os avós paternos vieram de Feltra na província de Belluno, certamente falaram Feltra e não Feltre. No Rio Grande do Sul, quem vivenciou pessoalmente determinados acontecimentos os repassou para seus filhos e netos, mas nessas entrevistas notamos a ausência de um quadro geral de referências sobre a situação política do estado; mas falamos sempre e apenas das colnias, do "Mato". A partir disso, fica claro que o objetivo dos emigrantes era principalmente tomar posse de terras para cultivar. Acacio Martini quando fala sobre seu trabalho afirma ter feito qualquer trabalho apenas para se apropriar de pedaços de terra; “Arar, plantando "el mìlio", "taiar", plantando "fasòi", de "tutto ...” e com uma pitada de orgulho ele diz ter 8 colônias de 25 hectares cada.
Todos estavam em situação de desvantagem, pertenciam às classes populares, eram obrigados a arrecadar dinheiro emprestando seus braços ao serviço da agricultura. Dionisio Mingotti deixa escapar de suas palavras: "i gà tribulà, porque se eu não laoreva, não i gaveva niente" ou mesmo referindo-se aos "nossos italianos" que nos estágios iniciais de suas experiências eram tão pobres que, como nos diz Vilma Maria Andreola, “i magnava un ovo en due”.
Mas de qualquer maneira, eles pensaram, sempre será melhor aqui. Da velha Europa cheia de plumas militares que roubaram seu filho para o alistamento obrigatório, cheia de reis e nobres que viviam de desgraças camponesas, inimiga do Papa, que, diziam, estava prestes a transferir seu quartel-general para o Brasil. Começar. Falavam disso durante meses no filò, nas longas tardes de inverno no calor e do fedor do estábulo, nas ocasionais reuniões no mercado da aldeia, na taberna nos feriados. O emigrante italiano na nova terra encontrou tradições e culturas locais às quais se adaptou e transmitiu aos filhos. De fato, o processo de assimilação nas colônias era muito rápido e generalizado, pois os contatos com a cultura externa eram mais frequentes. A sociedade ultramarina sempre foi caracterizada pelo multiculturalismo e no caso do Brasil houve uma troca contínua de experiências, valores e conhecimentos entre os imigrantes italianos e as populações locais, gerando um compartilhamento total de destinos por classes populares de diferentes etnias.
Os traços deixados pelos italianos são visíveis no cotidiano, desde a transmissão inevitável de tradições culturais e folclóricas até a afirmação de festas de origem religiosa. O elemento religioso também tem seu papel na história da emigração. Nas áreas de origem dos descendentes de emigrantes vênetos, ou seja, o sul do Brasil, a ausência e a falta de assistência eclesiástica levaram ao estabelecimento de uma forma de auto-organização religiosa com a implantação de edifícios sagrados e capelas administrado pelos próprios colonos. A referência religiosa, a fé dos emigrantes representa um apoio para eles, como atesta Giuseppina Stella Fabris que em sua entrevista lê em voz alta uma oração que sua avó lhe trouxe da Itália: “Desço a rua sozinha como se fosse uma mulher abandonada quando Maria conheceu três mulheres santas que a trouxeram com aquela cruz que madonna gavè viu meu filho. Sim, eu vi, eu vi naquela cruz bem aparafusada. Nossa Senhora sentiu isso e caiu no chão morta e atordoou as três santas mulheres e correu para ajudá-la e vocês três santas mulheres [...] aquela cruz que me cruzam vou ir. Oh Maria soleta não está fazendo tantas lágrimas que seus gritos de fogo e prata [...] todo boiente quem dirá é bendito orasion 46 dì de lent sem nunca falhar vou cair na água não vou deixá-los se afogar, vou cair no fogo não Vou me livrar das dores do inferno Não vou deixar você tocar três vezes Vou mandá-la para visitar um da Páscoa, Nadale e San Giovanni [...] amém. " A experiência de emigração que se vislumbra na memória de quem a experimentou ajuda a compreender melhor a figura do emigrante: é uma pequena descoberta que se torna possível pela comparação com o que eles e os seus companheiros contam de si próprios. emigrantes desde o momento em que viajam. Próximas umas das outras, transmite-se um conjunto de sensações que, muitas vezes, estão destinadas a se repetir nos países de chegada, a partir de um paroquialismo regional muito difundido e bastante atestado, que se serpenteia constantemente entre letras e memórias.
Eles usaram todos os meios de que dispõem para implementar seus conhecimentos a fim de sobreviver. Muitas vezes, faltavam ferramentas e tecnologias avançadas para lidar com os problemas criados pelo terreno ou pelas condições naturais. Nas regiões de assentamento, existiam antigos núcleos de camponeses e gaúchos alemães e poloneses. Os gaúchos foram a etnia que mais influenciou os camponeses italianos, criadores de origem luso-brasileira: em sua maioria caçadores-coletores, eram descritos pelos camponeses vênetos como parte integrante da floresta. Eles pareciam inferiores aos emigrantes porque eles se recusavam a trabalhar. Nunca houve relacionamentos conflitantes com eles, eles não alteraram hábitos e tradições mútuas. Aqueles que receberam a colônia em áreas muito isoladas e longe de centros habitados tiveram que enfrentar os poucos índios remanescentes e as comunidades de caboclos. Daniel Cavalli em entrevista cita esse nome para indicar mestiços de pele escura, que os imigrantes definem como negros. Eles costumam viver nos limites das cidades e ao longo dos rios, cultivando plantas frutíferas tropicais.
A vontade e a resistência dos camponeses foram severamente testadas e se não puderam resistir a esse impacto tentaram se repatriar ou se mudar para outros estados da América do Sul em busca de condições mais vantajosas. Mas o que deu força aos fazendeiros foram as primeiras colheitas dadas pela fertilidade da terra. As tradições orais existentes até hoje procuram destacar algumas temas e fatores peculiares que permitem ser a principal fonte de conhecimento da história e raízes do Brasil. A memória coletiva do emigrante não deve se limitar a uma fotografia de uma memória. Além de ser um estímulo à nostalgia, é preciso ir além, buscar os padrões culturais necessários à reconstrução daquela história que, de outra forma, cairia no esquecimento. É necessário ouvir as suas vozes, essa língua, esse magma linguístico, que conduz a processos de assimilação das várias línguas venezianas originais, de expressões dialetais periféricas, de integrações com novos elementos extraídos das necessidades da vida ordinária e quotidiana das comunidades, dando vida às um novo Veneto. Aqui, os emigrantes têm que aprender a andar a cavalo, a usar a arma. Não estou mais na comunidade da aldeia, o Brasil é outra coisa, espaços mais dilatados e diferentes. A igreja, a casa, as ruas devem ser construídas com as próprias mãos. E os perigos são muitos: a floresta, os “mato”, os ladrões, a fome atávica e o desconhecido. Mas os emigrantes não desanimaram e começaram imediatamente a criar uma empresa.
A relevância dos testemunhos e das tradições orais relativos a este êxodo parece ser muito interessante, tanto do ponto de vista cultural como linguístico. O professor Meo Zilio buscou com suas pesquisas documentar a realidade italiana presente nas pequenas comunidades ítalo-brasileiras do sul catarinense e gaúcho. Essas gravações ajudam a compreender as transformações do patrimônio narrativo da tradição oral nas comunidades de origem veneziana, emergem histórias sobre os primórdios da vida no Brasil, sobre a origem, sobre a linguagem, sobre o desenvolvimento econômico e social dos assentamentos. Na memória dos descendentes dos emigrantes se instalaram episódios e situações que ressurgem quando falamos das experiências de vida e de trabalho de cada um dos entrevistados, criando aquela riqueza de memórias na cultura dos ítalo-brasileiros do sul.
Uma espécie de seleção de memórias emerge das entrevistas e a forma como são transmitidas sugere a hierarquia de relevância expressa pelo indivíduo e pelo grupo a que pertence. Essas histórias podem ser consideradas verdadeiras fontes históricas que, em primeiro lugar, permitem uma melhor compreensão de determinados eventos e, muitas vezes, são o único meio de podermos investigar mais de perto este fenômeno. A transmissão oral, durante muitos anos, permitiu a preservação da memória histórica graças às histórias dos emigrantes. São pontos de referência para uma identificação étnica e cultural. Tudo isso inserido em um quadro geral que remete os descendentes da segunda e terceira geração às suas origens geográficas e que permite diferenciar as comunidades existentes naquele período. Nas entrevistas às vezes temos pontos de vista diferentes: de um lado temos a família que imediatamente se apossou da colônia e talvez tenha uma carpintaria própria. Alcir Francisco Menegatti conta com um toque de orgulho que: "na nona era ferrer [...] trabalhava o ferro então gavea muitos italianos que faziam o mesmo trabalho e o gà ... gera drio fazem a estrada de ferro de Porto Alegre pois aqui, para Guaporè, aí xe venho para Passo Fundo, aqui para Erechim e então eu nono el ga dei um dos mais espertos e ele ndà encontro para postar os fios da linha [...] com algum sochi sob a ferrovia e o ciapeva zo em Porto Alegre e depois o trem para a frente e endrio lu saveva fazer as serras, mesas ... el gà scominzià para fazer mesas, mas el xe veniesto da Itália poarin lu el deu pouco dinheiro en scarsea el se catà en socio [... ] i ga fato na company e ga mettesto perfura [...] uma serraria.
Por outro lado temos uma família que imediatamente teve que “sofrer” como se costuma dizer por causa da miséria, do infortúnio. Dioniso Mingotti testemunha como “os nossos vecioti, aqueles gà tribulà ... porque se não funcionaram, não deram nada, nada ... porque às vezes as pessoas pensam em mim se virarem e pensarem um pouco ... agora ghe a fazenda dos colonos, quea o ga vai ajudar bem, limpa com o seu tempo [...] nem se ele falasse ... esses gà passa bastante sacrifícios ... po ghe gera le guere, a revolução de '28 de '29 de '30 ... ". Essas histórias podem delinear uma estrutura na qual as várias experiências individuais diferem. Imagens contrastantes: um Brasil que parece um paraíso e um Brasil que parece, ao invés, um inferno. Isso torna o Brasil uma realidade diferente da esperada, mas a visão de quem fala dele e a história das experiências que tiveram cria uma imagem diversificada e matizada. Portanto o Brasil é sorte e sofrimento, dor e felicidade e a vida do emigrante pode ser caracterizada pelo preconceito ou integração de acordo com a experiência. Um ponto importante nesta conjuntura é também a imagem do emigrante, ou seja, quando milhões de pessoas se mudam da Europa para a América do Sul e os países anfitriões têm uma ideia sobre eles. O imigrante do norte da Itália havia sido identificado como um verdadeiro trabalhador nas plantações de café e no corte da floresta. Este indivíduo produziu tudo o que era necessário para sobreviver sem reclamar: ele era extremamente econômico e não muito rebelde. Estamos então diante de uma classificação dos italianos: a do norte e a do sul. O primeiro foi reconhecido por sua frugalidade e submissão, enquanto o segundo foi descrito como rebelde e pronto para rejeitar qualquer tipo de abuso.
Esta é, portanto, a razão pela qual a burguesia local considerava os italianos do norte adequados para a colonização, enquanto os do sul eram menos inclinados a trabalhar no campo e bastante brigões e, portanto, preferiram deixar sua escolha recair sobre os camponeses alemães ou do centro ou norte da Europa. Na terra prometida, a promessa se quebra. No exato momento em que o emigrante põe os pés na América, nas dimensões de uma imigração em massa, os mitos de que ambos os lados do oceano foram criados, eles derretem como neve ao sol.
Conforme mencionado anteriormente, neste capítulo utilizo 19 entrevistas encontradas no arquivo do Centro Interuniversitário de Estudos Venezianos em Veneza. Essas entrevistas fazem parte de um projeto inacabado do professor Giovanni Meo Zilio cujo objetivo principal era documentar a realidade italiana de pequenas comunidades ítalo-brasileiras que falavam o "Talian" no sul do Brasil. As questões seguem uma escala comum a todos os entrevistados e que se baseia nos mesmos temas. A memória dos avós, dos pais, da sua história, da origem são apenas alguns dos pontos comuns que emergem destes testemunhos.
Para cada entrevistado, são registrados o nome, sobrenome, data e local de nascimento. Em suas apresentações sempre nos informam sobre a origem dos avós e pais. Na verdade, nem todos são do Vêneto, pois dois entrevistados tinham avós de Cremona e um do Trentino. Mas, como você vai ler, todos entendem e falam o "Talian". Desembrulhei as entrevistas sem alterações e modificações, algumas interrompidas, outras completas. O material foi coletado para um determinado projeto de pesquisa de campo até então inacabado. As saídas são todas dramáticas e dolorosas e os motivos são sempre a fome e a falta de futuro. Suas expectativas estão carregadas de ilusões e eles tentam deixar o passado na Itália. As palavras dos protagonistas derivam das histórias dos seus antepassados, dos seus testemunhos e as memórias vão ficando cada vez mais apagadas com o passar do tempo, mas cada um tenta recordar o que pode de forma individual e pessoal.
Em suas palavras, não há tentativa de reconstruir o imaginário que cercava sua realidade de fatos. Os elementos positivos destas entrevistas são, sem dúvida, concretos, talvez não criem um retrato real da situação vivida pelos seus antepassados de forma detalhada, mas dão uma ideia, ainda que breve, de compreender certos mecanismos que ocorreram naquele período específico de tempo. , como a evolução da língua "Talian", o trabalho realizado e a relação estabelecida com a família. Em todo caso, esses testemunhos podem ser considerados uma contribuição para a história vivida. Os testemunhos orais são capazes de conferir uma originalidade e uma singularidade que certamente não encontramos nas fontes jornalísticas. Nas entrevistas você pode ler palavras sinceras com erros de sintaxe, zombarias, expressões de amargura, comparações e memórias que podem ser definidas como verdadeiras e genuínas.
O assunto não é a emigração, mas o depoimento do entrevistado que com sua voz conta o que lhe foi contado, o que viu e o que viveu. É aqui, então, que além das histórias, os episódios narrados, sensações e sentimentos marcam seu caminho. Vozes, ora interrompidas pelo esquecimento, ora pelo riso, não ressoam em vão, como histórias impessoais, mas estão repletas de emoções e estados de espírito que só aqueles que foram protagonistas podem transmitir. A história não deve ser levada em consideração apenas através de tabelas, estatísticas, datas, mas também através do estudo do cotidiano, das tradições, do modo de ser e de fazer cultura e são justamente os testemunhos orais que dão voz a esse silêncio, que de outra forma ficaria sem uma história.
Conclusões
O processo de colonização e formação das populações do sul do Brasil deve seu reconhecimento, sobretudo, aos milhões de emigrantes que fugiram da Itália entre o final dos séculos XIX e XX. Tanto a política de imigração do Brasil quanto a política de emigração da Itália sofreram várias mudanças nas últimas décadas do século XIX. O Brasil precisava de mão de obra para a cafeicultura principalmente após a abolição da escravatura em 1888. A Itália no mesmo período passava por um período de crise devido às condições econômicas e sociais e não tinha a possibilidade de dar trabalho a um população inteira em aumento contínuo. Ainda era um país agrícola que havia recentemente alcançado a unificação e a independência, mas que infelizmente não foi capaz de desatar os nós dos acontecimentos do Risorgimento.
A admissão da gravidade dos problemas que afligem o país, que levaram à expatriação de milhões de pessoas, revelou-se o primeiro passo para enfrentar a situação; os emigrantes não desistiram e buscaram uma alternativa, ainda que difícil. Entre 1887 e 1897, havia 330.000 expatriados da região de Veneto. O fazendeiro vive em uma pequena realidade, sai para ir à igreja, para ir ao mercado, trabalha duro no campo, está preso à terra e aos seus ciclos sazonais e não está disposto a se abrir para algo novo então se ele foge, ele o faz. por uma necessidade extrema, pela impossibilidade de sobrevivência.
Brasil: tornou-se sinônimo de país da "Cuccagna", onde a esperança de virar realidade as precárias condições existenciais e de destino.
Assim, frotas inteiras de pessoas, contagiadas pelas mesmas esperanças, deixaram suas terras para ir além da fronteira e, em particular, para o exterior. Cartas dos primeiros emigrantes, anúncios e propostas de viagens gratuitas ou subsidiadas oferecidas pelo governo por meio de agências de emigração contribuíram para promover o enorme êxodo. A emigração nada mais é do que uma prática comercial, uma fraude por recrutadores sem coração e sem alma e os emigrantes são vítimas involuntárias de um massacre e que percebem tarde demais e fora do tempo que foram enganados por um infame mercado.
Em 1876, uma lei foi apresentada ao Senado para regular a emigração. O Congresso de Milão aprovou uma "Sociedade de patrocínio de emigrantes", com a qual os emigrantes eram protegidos do engano e da fraude.
As disposições regulam as agências de emigração. Os agentes de emigração e as companhias marítimas são obrigados a assegurar, a expensas próprias, no interesse dos emigrantes, o preço do transporte, da alimentação, todas as perdas e quaisquer danos que venham a declarar pela não execução parcial ou total do contrato.
Qualquer emigrante que não possa partir por motivo de doença tem direito ao reembolso do valor pago pelo transporte, que também deve ser devolvido aos familiares que renunciarem à viagem.
Portanto, regras e responsabilidades estritas são definidas para partidas e chegadas.
Inicialmente, o problema se concentra nos benefícios ou prejuízos que esse fenômeno causa na economia. Ninguém consegue mais conter o êxodo, apesar das advertências do Estado italiano sobre melhores condições de vida e salários, também porque todos sabem que os altos impostos impedem qualquer realização econômica.
Os primeiros a partir são os italianos do norte, então o boato se espalha para o povo do sul. O governo tenta não limitar a liberdade dos cidadãos e, portanto, deixá-los com suas preferências. A combinação desses fatores, a vontade e a arrogância dos donos proprietários de terras, a rainha dos baixos salários, as condições de vida insuportáveis, a ausência total de intervenções legislativas e, de fato, o favor indisfarçável com que o governo via a emigração como escoadouro para tensões sociais latentes, fez com que a situação no Brasil embora tão difícil tanto nas colônias quanto nas fazendas, parecia aos olhos de muitos menos pesado do que o italiano.
A travessia abre as portas de um sonho, mas ao mesmo tempo fecha os horizontes do mundo anterior. A viagem marítima constituiu um elemento importante e caracterizador de toda a sua experiência de desenraizamento e adaptação progressiva às novidades que encontrariam no mundo a que se destinavam.
Começar! E assim foi. Partiam para o cultivo dessas terras seguidos de agentes de emigração que não se limitavam a convencer numerosas famílias a partir, mas também se interessavam pela liquidação de seus parcos bens por meio de especulações que ultrapassavam o limite da usura.
Quando chegaram os primeiros contingentes de emigrantes, o Brasil se viu em difícil condição e buscou a solução de problemas de emigração como: a ausência de mão de obra após a abolição da escravidão, a escassez de população e as inúmeras áreas de. terras não cultivadas para colonizar. Os emigrantes deram uma contribuição fundamental para o desenvolvimento do Brasil, em particular para sua estabilidade política e econômica. O emigrante não se revelou aquela figura alheia do Brasil, em particular, mas foi considerado o substituto dos indígenas.
Paralelamente a este aspecto, a emigração não se reduz a um grande acontecimento histórico, mas cria aquele imaginário coletivo no qual o emigrante é o protagonista ativo e esta é a característica fundamental dessas investigações do emigrante. Os entrevistados tentaram criar um quadro concreto e genuíno da situação real de seus descendentes. Eles foram capazes de ouvi-los e por muito tempo carregaram a memória e o peso de suas palavras. Suas histórias possibilitaram a reconstrução de sua identidade. Transmitiram aquelas esperanças arrebatadas na chegada, quando não era necessário afundar na tristeza, mas, sim, arregaçar as mangas para reconstruir o sonho esfacelado.
Não há estatísticas, apenas sentimentos: saudades de casa, falta de comida são apenas alguns dos vários fatores por trás do sofrimento de quem cruzou o oceano.
Università Ca’Foscari Venezia
Facoltà di Lettere e Filosofia
Corso di Laurea magistrale in Storia
Tesi di Laurea
Famiglie venete in Brasile: testimonianze in Tàlian
Relatore
Claudio Povolo
Laureanda
Giorgia Chistè Matricola 813001
Anno Accademico 2013 / 2014
Dr. Luiz Carlos Piazzetta
2 comentários:
Excelente trabalho, acho que é um dos mais completos sobre a imigração italiana no Brasil.
Obrigado pelo comentário.
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