O Destino de Giuseppe Veraldi
Giuseppe Veraldi nasceu em 1854 no comune de San Bonifacio, na província de Verona. Sua infância fora marcada pelo trabalho duro ao lado do pai, um pequeno agricultor que mal conseguia tirar sustento da terra castigada por tributos e colheitas irregulares. Com o passar dos anos, Giuseppe compreendeu que a Itália não lhe ofereceria um futuro digno. Assim, em 1875, aos vinte e um anos, embarcou num navio rumo ao Brasil, em busca da prosperidade que tantos compatriotas diziam encontrar no Novo Mundo.
O porto de Santos o recebeu com uma mistura de promessas e desafios. A cidade fervilhava de imigrantes, sonhadores e oportunistas. Inicialmente, Giuseppe encontrou trabalho em Campinas, uma região do interior de São Paulo, onde passou anos lidando com a terra e os cafezais. Não tardou a perceber que a verdadeira riqueza não estava apenas no esforço físico, mas na capacidade de organização e investimento.
Com economias modestas, em 1884 mudou-se para Jundiaí, onde ergueu uma casa comercial. O comércio, ao contrário da agricultura, permitia maior controle sobre os lucros e menos dependência das intempéries. Visionário, Giuseppe expandiu seus negócios para além da simples venda de produtos: criou uma empresa chamada Fazenda Verona, dedicada a fornecer terras, equipamentos e crédito para colonos italianos que chegavam ao país sem nada além de esperança. Os agricultores pagavam com parte de suas colheitas, e Giuseppe, sempre atento às oportunidades, também lhes cobrava uma taxa pelo uso da terra.
A fama de Fazenda Verona cresceu rapidamente. O próprio governo paulista, interessado em expandir a colonização da região, viu com bons olhos a iniciativa de Veraldi. Até os indígenas da área, que inicialmente desconfiavam dos recém-chegados, foram incluídos no sistema. Trabalhando lado a lado com os italianos, aprenderam novas técnicas agrícolas e passaram a fazer parte da cadeia produtiva que transformaria Jundiaí em um polo agrícola de destaque.
Em 1889, já um homem rico, Giuseppe adquiriu uma fazenda de 22.000 hectares em São Carlos, batizando-a de Fazenda Coqueiro. Juntas, Fazenda Verona e Fazenda Coqueiro lhe garantiam um estoque anual de 30.000 toneladas de grãos, fazendo com que a imprensa o chamasse de "Il Re del Grano".
Mas Giuseppe não era apenas um comerciante voraz. Lembrava-se bem das dificuldades da infância e da escassez de oportunidades na Itália. Assim, financiou a construção de escolas, asilos e hospitais em suas propriedades, garantindo que tanto os colonos quanto os indígenas tivessem acesso a uma vida mais digna.
Quando a Primeira Guerra Mundial assolou a Europa, Giuseppe não hesitou em enviar navios carregados de cereais para a Itália, auxiliando sua terra natal em tempos de extrema necessidade. O governo italiano o condecorou, concedendo-lhe o título de Conde da Fazenda Coqueiro.
Morreu em 1935, retornando à terra que lhe deu origem, mas não oportunidades. Seu nome, porém, permaneceu gravado na história do interior paulista, não apenas como um magnata dos grãos, mas como um homem que soube transformar dificuldades em prosperidade para si e para tantos outros.