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sábado, 9 de setembro de 2023

A Imigração Italiana e o Nascimento de Caxias do Sul no Rio Grande do Sul

Colônia Caxias em 1880

 


Foi sobretudo na América do Sul, e em particular no Brasil, que a emigração italiana produziu, sob a pressão das cada vez maiores ondas de chegadas de imigrantes italianos dos anos 1890, a propagação de dezenas de povoações que deram início às etapas da evolução normal de um tecido urbano, passando rapidamente de aglomerados de cabanas à cidades populosas e cheias de vida.



A cidade de Caxias do Sul em 1930



A cidade de Caxias do Sul, localizada no estado do Rio Grande do Sul, pode ser tomada como exemplo emblemático: em 1880, as primeiras casas de madeira parecem ser dominadas pelas grandes copas de árvores que sobreviveram ao desmatamento dos colonizadores; cercas improvisadas com troncos irregulares dominam as ruas esburacadas e lamacentas.



Colônia Caxias em 1884



Alguns anos depois, a fotografia já revela a presença de um projeto urbanístico específico: as casas, mais numerosas e bem conservadas, erguendo-se às margens de uma rua larga, a futura rua Julio de Castilhos.




Mapa da distribuição dos lotes na Colônia Caxias



Quando em 1913 Caxias foi reconhecida como cidade, já se apresentava como um núcleo estruturado, dentro do qual não é difícil imaginar o fervor das iniciativas e atividades, supervisionadas pelo imponente maciço da igreja matriz dedicada a Santa Teresa.


Colônia Caxias em 1890



Na década de 1920 a cidade se mostrava com ruas largas e bem cuidadas, onde os carros começaram a substituir as carroças e carruagens; a corrente elétrica anima lojas, palácios e residências que, com a pompa das fachadas, testemunham o nível de riqueza alcançado pela burguesia local.



Colônia Caxias



Em torno dos edifícios públicos a presença massiva de pessoas, por ocasião de celebrações religiosas ou civis, dá a medida da vitalidade e expansão contínua de uma cidade onde a presença e a cultura dos emigrantes venetos são cruciais.





sexta-feira, 1 de setembro de 2023

domingo, 16 de abril de 2023

Uma Epidemia: A História dos Imigrantes Italianos e a Luta Contra as Doenças a Bordo

 

Colônia Caxias em 1884


Giuseppe, um jovem italiano de 24 anos, decidiu deixar sua pequena cidade natal em busca de uma vida melhor na América. Junto com seus dois irmãos mais novos, acompanhados de outros amigos da mesma vila no interior da província de Treviso, embarcou em um navio no porto de Gênova, na Itália, em meados do ano de 1890.

A viagem através do oceano para a América foi uma aventura emocionante para o jovem Giuseppe, seus irmãos e companheiros de viagem. Empolgados pela aventura, eles estavam animados com a perspectiva de começar uma nova vida em um país desconhecido, mas, ao mesmo tempo, também bastante preocupados com os desafios que encontrariam.

O navio em que Giuseppe e seus companheiros viajavam era um velho cargueiro já prestes a ser aposentado, usado no transporte a granel de carvão, readaptado às pressas para o transporte de passageiros para aproveitar o boom da grande emigração. Era grande e espaçoso, com a antiga estiva, hoje salões, ainda cheirando carvão. Apesar das reformas as condições a bordo eram ainda bastante precárias. Como acontecia em quase todas as companhias de navegação italianas, apesar de proibido, havia sempre uma super lotação em todas as viagens, com os passageiros mal acomodados em catres beliches rústicos, distribuídos em longas fileiras nos grandes salões. A higiene deixava muito a desejar por falta de limpeza diária e de instalações sanitárias suficientes para todos. A água para higiene pessoal era também racionada, limitando a higiene daquela enorme quantidade de passageiros.  Apesar disso, os imigrantes italianos tentavam manter o ânimo e a esperança de dias melhores.
A viagem, com as suas dificuldades de alojamento seguia normalmente, quando após uma semana da partida, eclodiu uma forte epidemia de tifo que, apesar dos esforços da tripulação, rapidamente, se  espalhou pelo navio. A doença era bastante contagiosa e de transmissão oral, geralmente pela água ou os alimentos contaminados servidos a bordo. Ela se propagou com bastante velocidade, facilitada   pela falta de higiene, deixando muitos passageiros doentes e fracos, principalmente os mais velhos e as crianças. A tripulação do navio tentou isolar os doentes e cuidar deles da melhor forma possível, mas a situação logo ficou fora de controle. Giuseppe e os irmãos estavam entre os poucos passageiros que ainda não tinham sido afetados, assim se ofereceram para auxiliar. Ajudaram transportar os enfermos para uma área isolada do navio disponibilizada para esse fim. Fizeram o possível para aliviar o sofrimento deles. Giuseppe também ajudou a organizar o fornecimento de alimentos e água para os doentes, trabalhando incansavelmente para garantir que todos fossem atendidos. 
A epidemia continuou por duas semanas, e alguns passageiros não resistiram morrendo a bordo do navio. Giuseppe e seus irmãos lutaram bravamente para manter a esperança dos passageiros, mas a situação era muito grave. Em certo momento, Giuseppe esgotado também contraiu a doença e ficou doente. Ele começou a ter febre alta acompanhada de muita diarréia e vômitos, mas se recusou a desistir. Ele sabia que seus irmãos dependiam dele e que muitos passageiros estavam em situação ainda pior. Por sorte devido às boas condições de saúde a doença foi leve e em poucos dias estava bem melhor. À medida que a viagem se aproximava do fim, a epidemia foi diminuindo, graças aos esforços do jovem médico e do pessoal sanitário do navio. Muitos passageiros se recuperaram, mas três deles não tiveram tanta sorte, inclusive um amigo de Giuseppe. Finalmente, o navio chegou ao seu destino, no porto do Rio de Janeiro, mas a sonhada chegada não foi como eles imaginaram. As autoridades sanitárias do porto temiam a propagação da epidemia pela cidade e o navio foi colocado em quarentena. Giuseppe e os outros passageiros tiveram que permanecer a bordo por mais alguns dias antes de poderem desembarcar. Nem mesmo a tripulação teve permissão para deixar o navio. Quando finalmente puderam desembarcar, muitos dos passageiros estavam ainda fracos. As autoridades portuárias tiveram que tomar medidas especiais para garantir que a epidemia não se espalhasse pela cidade. Os passageiros  foram levados para o hospital da Hospedaria dos Imigrantes para a quarentena e receberem cuidados médicos. Giuseppe e seus irmãos foram examinados pelos médicos e, felizmente, foram considerados saudáveis ​​o suficiente para deixar o hospital. Eles foram liberados para continuar a viagem até o destino final que era a Colônia Caxias, no Rio Grande do Sul, onde já se encontrava um tio com a família, morando ali  há quase seis anos. Foi este mesmo tio, que já encontrava bem colocado, que escreveu chamando a família do pai deles para virem também para o Brasil. Como muitos outros imigrantes, eles enfrentaram inúmeras dificuldades, mas eles perseveraram e chegaram ao seu destino. A experiência no navio e a epidemia deixaram uma marca indelével nos três irmãos. Eles viram em primeira mão a importância da solidariedade e da empatia em momentos de crise. Eles também aprenderam a importância da higiene e da prevenção de doenças. Giuseppe e os irmãos também se estabeleceram na Colônia Caxias e, com a ajuda do tio, começaram a construir uma nova vida. Compraram lotes de terras, se casaram e  logo vieram os filhos. Os três começaram a plantar parreiras com as mudas que tinham trazido da Itália, ideia do tio. Foram bem sucedidos como agricultores e, alguns anos mais tarde com a comercialização do vinho que produziam. Jamais esqueceram aquela viagem difícil de navio e a epidemia que enfrentaram, nunca desistiram de suas esperanças e sonhos. Essa experiência ajudou a moldar as vidas dos imigrantes italianos que sobreviveram àquela  aventura. Eles enfrentaram inúmeras dificuldades no Brasil, mas perseveraram e construíram uma vida melhor para si e suas famílias. A história desses imigrantes italianos é um exemplo de como a coragem, a esperança e a resiliência podem ajudar a superar as adversidades.

Aquela viagem de navio de imigrantes italianos em 1879 foi uma experiência desafiadora e traumática para muitos. A epidemia que se espalhou pelo navio deixou muitos doentes e fracos e levou à morte de outros passageiros. No entanto, também foi um exemplo de coragem, empatia e solidariedade, mostrando a importância de cuidar uns dos outros em momentos de crise.



Texto
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS













sexta-feira, 10 de março de 2023

Morte e Superstições nas Colônias Italianas do Rio Grande do Sul

 



Nas colônias pioneiras de imigrantes italianos, a morte era vista como um evento temido e misterioso, cercado por uma série de superstições, pavores, medos, simpatias e práticas. A preparação dos falecidos antes do enterro era uma tarefa solene e sagrada, envolvendo rituais e crenças que se estendiam além da simples preparação do corpo.

Uma das superstições mais comuns era a crença de que a alma do falecido permaneceria no corpo até o momento do enterro, e por isso era importante garantir que o corpo fosse preparado com todo o respeito e cuidado. Acredita-se que a alma permaneceria presa ao corpo se alguma parte fosse danificada ou não fosse tratada adequadamente.

Para garantir que a alma do falecido pudesse descansar em paz, havia uma série de práticas que deveriam ser seguidas. Uma delas era a lavagem do corpo com água benta, para purificá-lo e afastar os espíritos malignos. O corpo também era vestido com roupas limpas e brancas, e coberto com um lençol também branco.

Outra crença popular era que as janelas da casa deveriam ser abertas no momento da morte, para permitir que a alma do falecido pudesse escapar livremente. Além disso, todos os espelhos da casa eram cobertos, para evitar que o espírito do falecido ficasse preso neles.

Durante o velório, muitas vezes havia um ritual de acender velas ao redor do corpo do falecido, simbolizando a luz que guia a alma em sua jornada para o além. O velório era uma ocasião para reunir familiares e amigos, para compartilhar a dor da perda e homenagear o falecido.

Na manhã do enterro, era comum que a casa fosse limpa e purificada com água benta. Alguns acreditavam que o cheiro do incenso também ajudava a purificar o ambiente e afastar os espíritos malignos. O corpo era então colocado em um caixão, muitas vezes adornado com flores e velas, e levado em procissão até o local do enterro.

No cemitério, era costume jogar terra em cima do caixão antes de ele ser completamente baixado na cova, como forma de simbolizar o retorno do corpo à terra. Era comum também fazer o sinal da cruz com terra na testa do falecido, para garantir que ele pudesse descansar em paz.

Além dessas práticas, também havia uma série de superstições e crenças relacionadas à morte e ao luto. Por exemplo, acredita-se que o relógio da casa deveria ser parado no momento da morte, para simbolizar que a vida do falecido havia chegado ao fim. Também era comum cobrir os espelhos da casa com um lenço preto, para evitar que o espírito do falecido ficasse preso neles.

O luto também era visto como um processo sagrado, que exigia um período de reclusão e introspecção. Era comum que os familiares do falecido vestissem roupas pretas por um período de luto, que podia durar até um ano. Durante esse período, evitava-se festas e comemorações, e a família do falecido recebia visitas de condolências.

Outra crença relacionada ao luto era a ideia de que o falecido poderia enviar mensagens do além através de sonhos ou de objetos deixados para trás. Por exemplo, se um parente falecido aparecesse em um sonho, acreditava-se que isso era um sinal de que ele estava em paz e queria se comunicar com a família. Também era comum encontrar objetos que o falecido havia deixado para trás, como um chapéu ou um lenço, e interpretá-los como uma mensagem do além.

A preparação dos falecidos antes do enterro era, portanto, um evento muito importante nas colônias pioneiras de imigrantes italianos. As crenças e práticas relacionadas à morte e ao luto eram profundamente enraizadas na cultura e tradição dessas comunidades, e refletiam a importância que esses povos davam à honra e ao respeito pelos seus entes queridos falecidos.

Apesar de todas as superstições e crenças relacionadas à morte, havia uma profunda tristeza e dor associada à perda de um ente querido. Os imigrantes italianos pioneiros nas zonas rurais do Rio Grande do Sul enfrentavam a morte sem o auxílio de médicos e hospitais, e muitas vezes não havia tratamentos disponíveis para doenças graves.

A falta de recursos médicos e o isolamento geográfico das colônias também tornavam mais difícil lidar com a morte e o luto. Muitas vezes, a morte de um membro da comunidade era vista como um evento trágico e inesperado, e as famílias não tinham muitas opções para lidar com a dor e o sofrimento.

No entanto, apesar de todas as dificuldades, os imigrantes italianos pioneiros nas zonas rurais do Rio Grande do Sul mantinham sua fé e esperança em tempos melhores. A religião desempenhava um papel importante na vida dessas comunidades, e muitas vezes era vista como um conforto e uma fonte de consolo durante momentos difíceis.

Embora a falta de recursos médicos e as superstições e crenças em torno da morte pudessem tornar a vida nas colônias pioneiras de imigrantes italianos um desafio, essas comunidades perseveravam através da força da fé e da união. A preparação dos falecidos antes do enterro era apenas uma parte do complexo conjunto de crenças, práticas e tradições que definiam a vida desses povos, e que continuam a ser valorizados e respeitados até hoje.

Além disso, as comunidades de imigrantes italianos nas zonas rurais do Rio Grande do Sul também tinham suas próprias tradições em relação ao enterro dos falecidos. Por exemplo, era comum que o caixão fosse transportado para a igreja local em um carro de boi, em um cortejo fúnebre que incluía a família do falecido e membros da comunidade.

Na igreja, o corpo era colocado em um caixão aberto para que os familiares e amigos pudessem se despedir. Era comum que os presentes fizessem o sinal da cruz e oferecessem uma última homenagem ao falecido antes de ele ser levado para o cemitério.

No cemitério, a família e amigos do falecido se reuniam em torno do túmulo para uma última despedida. O padre local realizava uma breve cerimônia de oração, e então o caixão era colocado na cova. Em seguida, os presentes jogavam flores sobre o caixão e faziam o sinal da cruz mais uma vez.

Após o enterro, era comum que a família do falecido oferecesse um banquete para a comunidade em sua casa. Essa tradição era uma forma de agradecer aos amigos e vizinhos pelo apoio e conforto oferecidos durante o período de luto, e também de honrar a memória do falecido.

No entanto, apesar das tradições e práticas em torno da morte e do enterro, os imigrantes italianos pioneiros nas zonas rurais do Rio Grande do Sul ainda enfrentavam muitos desafios e dificuldades em relação à saúde e bem-estar. A falta de médicos e hospitais, aliada ao isolamento geográfico e às condições precárias de vida, tornavam a vida nas colônias pioneiras extremamente difícil.

Para lidar com essas dificuldades, os imigrantes italianos pioneiros contavam com sua força, resiliência e união. A vida nas colônias era baseada em valores como a solidariedade, a colaboração e o trabalho duro, e as comunidades eram capazes de superar muitos obstáculos graças a esses valores.

Hoje, as comunidades de imigrantes italianos nas zonas rurais do Rio Grande do Sul continuam a honrar as tradições e crenças em torno da morte e do luto que foram estabelecidas pelos seus pioneiros. Embora as condições de vida tenham melhorado e a medicina tenha avançado, essas tradições ainda são valorizadas como parte da rica herança cultural dessas comunidades.

Além disso, a preservação dessas tradições é importante para manter a conexão com a história e a identidade das comunidades de imigrantes italianos. Elas são uma forma de manter viva a memória dos pioneiros que se estabeleceram nessas terras, enfrentaram desafios enormes e construíram uma nova vida em um lugar distante e desconhecido.

As tradições em torno da morte e do luto também refletem a forte presença da religião na vida dessas comunidades. A fé católica era e ainda é uma parte fundamental da identidade dos imigrantes italianos, e as práticas em torno da morte e do luto eram moldadas pelos ensinamentos da Igreja.

Por exemplo, a crença na vida após a morte e na existência do céu e do inferno eram fundamentais para a compreensão da morte e do luto pelos imigrantes italianos. Eles acreditavam que a alma do falecido continuava a existir em outro lugar após a morte, e que o papel da comunidade era ajudar a preparar o falecido para essa jornada.

Outra prática comum entre os imigrantes italianos era a de oferecer missas pelo falecido após o enterro. Essas missas eram uma forma de continuar a honrar a memória do falecido e de pedir por sua alma, para que ela pudesse alcançar a paz eterna.

Em resumo, as tradições, superstições, pavores, medos, simpatias e práticas em torno da preparação dos falecidos antes do enterro nas colônias pioneiras de imigrantes italianos eram moldadas pela falta de recursos e pela forte presença da religião católica na vida das comunidades. Embora possam parecer estranhas ou supersticiosas aos olhos de algumas pessoas hoje em dia, essas práticas eram uma forma importante de lidar com a morte e o luto em uma época e lugar em que a vida era muito difícil.

Ao honrar essas tradições, as comunidades de imigrantes italianos nas zonas rurais do Rio Grande do Sul estão mantendo viva a memória de seus pioneiros e preservando uma parte importante de sua história e identidade cultural.


Texto
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS







segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

A Chegada dos Imigrantes Italianos na Colônia Caxias

 

Vapor Garibaldi no Porto Guimarães no Rio Caí


O primeiro nome da Colônia Caxias, futura cidade de Caxias do Sul, foi Colônia Fundos de Nova Palmira, quando então esta era apenas uma grande fazenda cuja área que se ficava nos fundos dessa propriedade foi destinada, pela Comissão de Terras do Império, para instalar os imigrantes que ali começaram a chegar a partir do ano de 1875. 

A cidade de Caxias do Sul pertenceu a São Sebastião do Caí e dela se emancipou no ano de 1890, quando foi elevada à categoria de município.

Caxias do Sul teve início na localidade de Nova Palmira, pertencente ao distrito de Vila Cristina.

É por esta localidade que os imigrantes europeus atravessavam, percorrendo a Estrada Rio Branco, para chegarem à colônia.


Travessia do Rio Caí e chegada dos imigrantes no porto



Subindo pelos meandros do rio Caí desde a capital Porto Alegre, a bordo de pequenos barcos fluviais à vapor, após uma viagem que durava aproximadamente doze horas, desembarcavam no porto fluvial da cidade de São Sebastião do Caí, que na época era denominada de Porto Guimarães.



Vapor Lageado no Porto Guimarães no Rio Caí
 



Aqueles imigrantes cujo destino era a Colônia Dona Isabel (atual Bento Gonçalves) e Conde d'Eu (atual Garibaldi) desembarcavam um pouco antes, em Montenegro, após sete horas de viagem subindo pelo rio Caí.

Entre São Sebastião do Caí e Montenegro, no município de Pareci, havia uma barragem que permitia a navegabilidade do rio Caí naquele trecho durante o período das cheias. Essa barragem era dotada de comportas - foi a primeira eclusa da América do Sul, se assemelhando bastante, guardando as devidas proporções,  com aquela do canal do Panamá.

Após uma breve parada, geralmente, de um dia para descanso e organização dos seus pertences, os imigrantes iniciavam a difícil subida da serra à pé, em carroções ou em lombo de mulas,  abrindo a estrada com foice e facões, acompanhados por guias da comissão de terras. Esta viagem muitas vezes podia durar até três dias e três noites.

Após todo esse esforço chegavam então ao núcleo de colonização localizada no Campo dos Bugres, nos fundos de Nova Palmira.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS








sexta-feira, 20 de abril de 2018

A Presença dos Italianos e dos Vênetos na Colonização do RS



O Rio Grande do Sul foi uma terra disputada pelas coroas da Espanha e Portugal e a expansão da sua população teve o seu início com a chegada do século XVIII. Depois de muitos anos de cruentas lutas, a então Província foi delimitada e se deu início a sua colonização de forma sistemática. Assim no ano de 1824 chegaram os alemães e mais tarde, em 1875 as primeiras famílas de italianos. Tendo obtido bons resultados com as colônias alemãs, no ano de 1875 a província recebeu do Império as colônias Dona Isabel (mais tarde denominada de Bento Gonçalves) e Conde D'Eu (depois Garibaldi) destinadas a receberem imigrantes italianos em geral, sendo os vênetos que constituíram a grande maioria. Depois no Rio Grande do Sul foram criadas a Colônia Fundos de Nova Palmira, logo depois rebatizada como Colônia Caxias e a Colônia Silveira Martins. O primeiro grupo de imigrantes italianos chegou no Rio Grande do Sul em 1875 e se estabeleceu na Colônia Nova Palmira, no local chamado Nova Milano (hoje Farroupilha). Neste mesmo ano outros imigrantes italianos em geral e vênetos em particular se estabeleceram nas Colônias Conde D'Eu e Dona Isabel e já em 1877 na Colônia Silveira Martins, vizinho a atual cidade de Santa Maria. 


Os imigrantes italianos que vieram para as novas colônias no Rio Grande do Sul proveniam, na sua quase totalidade, do norte da Itália (Vêneto, Lombardia, Trentino Alto Adige, Friuli Venezia Giulia, Piemonte, Emilia Romagna, Toscana, Liguria). Um dado estatístico nos revela que por zona de proveniência temos: Vênetos 54%, Lombardos 33%, Trentinos 7%, Friulanos 4,5% e os demais 1,5%. Como se pode ver os vênetos e os lombardos constituíram 88% dos imigrantes fixados na Província do Rio Grande do Sul. Os imigrantes italianos chamados para substituir mão de obra escrava, com o advento da abolição da escravidão no Brasil, rapidamente, em poucos anos os territórios à eles destinados para colonização, já estavam inteiramente ocupados, obrigando os que chegavam, e atmbém aos filhos dos pioneiros, a procurar novas terras distantes das primeiras colônias. Assim foram surgindo outras colônias, sempre com a predominância numérica dos vênetos: Alfredo Chaves, Nova Prata, Nova Bassano, Antônio Prado, Guaporé e mais tarde, Vacaria, Lagoa Vermelha, Cacique Doble, Sananduva e Vale do Rio Uruguai, como Casca, Muçum, Tapejara, Passo Fundo, Getúlio Vargas, Erechim, Severiano de Almeida.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS