Mostrando postagens com marcador Experiência de imigrantes. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Experiência de imigrantes. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 28 de março de 2025

Giovanni Grecco: Da Calábria à América uma História de Sucesso




Giovanni Grecco: Da Calábria à América uma História de Sucesso


Giovanni Grecco, conhecido como Nanni, nasceu em 1891 na pequena vila de Calamitti, uma fração do município de Bocchigliero, na pitoresca, perfumada e bastante ensolarada província de Cosenza, banhada pelo Mar Tirreno. Sua família era de pequenos agricultores, e ele cresceu aprendendo os segredos da terra e cuidando dos dourados limoeiros e dos preciosos olivais pelas encostas da propriedade.  Até ali sua vida foi marcada por uma pobreza crônica, repleta de lutas, renúncias e sacrifícios.
Quando Nanni tinha 16 anos, seu pai, Luca Grecco, decidiu emigrar para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor. Ele deixou sua esposa, Maria, e seus quatro filhos para trás, prometendo enviar dinheiro para sustentar a família. Luca conseguiu trabalho em uma grande serraria em Nova York, e a cada envelope de dinheiro que enviava para Cosenza, a esperança de uma vida melhor crescia.
Em 1907, Nanni, seus irmãos e vinte outros jovens da mesma província decidiram seguir os passos já trilhados por seus pais e irmãos mais velhos. Eles embarcaram em uma emocionante jornada rumo à América. A travessia foi desafiadora, com tempestades que faziam todos se agarrarem aos corrimãos do navio e uma sensação constante de incerteza pairava no ar.
Finalmente, após duas semanas de travessia, eles chegaram ao Porto de Nova York. Nanni se viu em uma cidade totalmente diferente, cheia de oportunidades, mas também repleta de desafios. Ele logo encontrou trabalho em uma fábrica, onde se juntou a uma centena de compatriotas calabreses, enfrentando longas jornadas e condições difíceis.
Os italianos e os outros empregados de quase todas nacionalidades, trabalhavam lado a lado, cada um trazendo a riqueza das suas tradições culturais. Nanni e seus irmãos eram conhecidos pela iniciativa e dedicação ao trabalho árduo, o que lhes rendeu elogios e respeito entre os colegas imigrantes.
Apesar das dificuldades, Nanni e seus amigos encontravam maneiras de se divertir. Dançavam tarantela nas noites livres, jogavam cartas e até organizaram um torneio de boliche entre os grupos étnicos. Mas o que realmente uniu a todos foi o amor pelo esporte, especialmente pelo boxe. Esses momentos de lazer eram um alívio bem-vindo em meio ao árduo trabalho diário.
Após cinco anos nos Estados Unidos, Nanni recebeu notícias devastadoras de sua mãe viúva. Ela estava muito doente e precisava dele em Cosenza. Com o coração partido, ele decidiu voltar para a Itália, deixando para trás seus irmãos e amigos que haviam se estabelecido na América.
Após alguns anos ao lado de sua mãe, o pai já tinha morrido alguns anos antes em Cosenza, Nanni agora enfrentou o doloroso falecimento dela. Com o coração mais resiliente e a experiência adquirida, ele tomou a corajosa decisão de retornar a Nova York. Nessa segunda experiência americana, Nanni não apenas se estabeleceu novamente, mas também prosperou. 
A curta estadia na Itália trouxe novos desafios para Nanni, os quais ele enfrentou com a mesma determinação que havia aprendido na América. Sempre carregando consigo as lembranças de sua jornada transatlântica e as amizades que formou, Nanni durante esses pouco mais de cinco anos, continuou a escrever sua história em Cosenza, mantendo viva a esperança de um futuro melhor para sua família
Após o falecimento da mãe, vendeu a propriedade rural e os bens da família, repartindo o valor adquirido com os seus irmãos. Com a venda conseguiu angariar um pequeno capital que pensava empregar nos Estados Unidos. Ao retornar à Nova York, ele aplicou as lições aprendidas nos anos anteriores. Com sua determinação e habilidade,  usando suas economias e mais a herança da mãe, Nanni adquiriu uma loja e depois, aos poucos foi expandindo a sua rede de tabacarias, tornando-se um empresário de sucesso na cidade no ramo do tabaco. Trouxe os seus irmãos para o florescente negócio criando uma sociedade com eles e deu o nome de Metropolitan Brothers Tobacco Emporiums para a empresa. Essa empresa importava e exportava fumo e importava objetos manufaturados de todo o mundo para os fumantes, como os charutos provenientes de Cuba. Sua ética de trabalho incansável e sua capacidade de construir relacionamentos sólidos com fornecedores e clientes contribuíram para o rápido crescimento de seu negócio.
Nanni, dentro das suas possibilidades, se envolveu ativamente na comunidade ítalo-americana de Nova York, apoiando diversas iniciativas culturais e sociais. Sua generosidade e respeito pela cultura de sua terra natal fizeram dele uma figura respeitada entre os compatriotas. 
Em poucos anos, com determinação e uma  habilidade nata para negócios, Nanni se tornou proprietário de diversas tabacarias, criando uma próspera rede comercial, atendendo as necessidades dos ítalo-americanos em toda a cidade. Ele foi um exemplo de sucesso para outros imigrantes, demonstrando que com trabalho árduo, determinação e resiliência, era possível alcançar o sonho americano.
Enquanto construía sua carreira e negócios em Nova York, Nanni nunca esqueceu as amizades e as memórias da primeira vez que chegou aos Estados Unidos. Essas experiências moldaram seu caráter e sua jornada, e ele carregava essas lembranças com carinho, mantendo viva a esperança de um futuro melhor para sua família e sua comunidade.






segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Raízes na América: Uma Jornada de Imigrantes Italianos





Em 1880, na pacata vila de Villa Santa Lucia, situada nas colinas perfumadas e verdejantes da Calábria, nasceu Isabella M. Aos 20 anos, ela uniu-se a Marco S., e dessa união surgiram três crianças: Matteo, em 1892, Francesca, em 8 de julho de 1902, e Giovanni, em 15 de janeiro de 1905.

No início de 1907, Marco decidiu buscar uma vida melhor na América, enviando suas economias para que Isabella e os filhos se juntassem a ele. Em janeiro daquele ano, a família embarcou em uma viagem incerta em direção aos Estados Unidos, partindo de Nápoles no navio Stella d'Italia da White Star Line.

A chegada a Nova York, em 27 de fevereiro de 1907, foi um misto de alegria pela perspectiva de um novo começo e tristeza pela incerteza do que estava por vir. A família, com seus poucos pertences e Isabella segurando o pequeno Giovanni no colo, enfrentou o rigoroso processo de inspeção em Ellis Island, um ritual necessário para entrar na terra das oportunidades.

Na entrevista final, realizada na Sala de Registro, o inspetor, diante da dificuldade em pronunciar o seu sobrenome, decidiu simplificar para Sommers. Com o processo concluído, Isabella e seus filhos desceram as escadas em direção ao espaço designado para os recém-chegados.

Em meio à mistura de línguas estranhas, rostos desconhecidos e a sensação de serem pequenos peixes em um oceano desconhecido, um simpático casal de voluntários, descendentes de italianos, se aproximou da agora Sommers. Percebendo a situação modesta da família, ofereceram ajuda e conselhos sobre como começar uma nova vida na América.

Isabella, com agradecimento nos olhos, seguiu essas orientações humildes. A família Santoro instalou-se em uma comunidade de imigrantes em Nova York, onde encontraram alojamento temporário em um bairro modesto. Marco conseguiu um trabalho humilde em uma fábrica, enquanto Isabella procurava maneiras de garantir o sustento da família.

Os dias eram difíceis, marcados por longas jornadas de trabalho e a luta para se adaptar a uma cultura e língua completamente novas. No entanto, a família Santoro persistiu, encontrando conforto e solidariedade na comunidade de imigrantes. Matteo, apesar de sua juventude, conseguiu um emprego modesto para ajudar nas despesas da casa, enquanto Francesca, com sua bondade e habilidades práticas, se tornou uma figura querida entre os vizinhos.

O tempo passou, e embora nunca tenham alcançado a riqueza material, os. agora Sommers construíram uma vida digna, baseada em valores simples, trabalho árduo e a força da família. Isabella, com sua resiliência e amor inabalável, tornou-se o coração da casa, lembrando frequentemente às crianças de suas raízes e da jornada que os trouxe à América. Giovanni cresceu aprendendo as lições humildes da família, tornando-se um trabalhador esforçado e contribuindo para o sustento da casa.

Assim, a história da família S. é uma narrativa de sobrevivência, perseverança e solidariedade em meio às dificuldades da imigração. A chegada à América pode não ter sido um conto de festa, mas foi o início de uma jornada marcada pela esperança e determinação.



quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Lágrimas e Triunfos: A Jornada Épica dos Emigrantes Italianos em Terras Brasileiras




Na primeira metade deste século XIX, a Inglaterra, já um país industrializado e precisando vender seus manufaturados, que era a superpotência mundial da época, pressionou fortemente o Brasil para acabar com o tráfico de escravos da África que supria as necessidades de mão de obra do império brasileiro. O movimento abolicionista crescia no Brasil e vária leis foram promulgadas pelo congresso tentando minimizar e proibir o tráfico negreiro. Em 1850 com a Lei Eusébio de Queirós ficou proibido a importação de escravos em todo o Brasil. A partir desta data começou faltar a mão de obra nas zonas rurais do país, especialmente no momento em que a cultura do café se expandia, para atender a grande procura mundial pelo precioso grão. Nesse período um grupo de grandes fazendeiros de café do oeste paulista, com grande força política no congresso, passou a defender o uso de mão livre nas suas fazenda, entrando em choque com o pensamento de um outro grupo do Vale do Paraíba, também politicamente forte e donos de grande número de escravos, que eram contra a ideia de contratar trabalhadores livres. Os escravos valiam uma grande fortuna e não queria se desfazer desse capital. Os embates passaram para o congresso que estava dividido em duas alas de parlamentares: os abolicionistas e os escravagista. A força dos abolicionistas no parlamento foi crescendo em número de adesões até que em 1871 foi promulgada a Lei do Ventre Livre, na qual determinava que os filhos de escravas seriam cidadãos livres. A pressão da ala abolicionista foi aumentando até que em 1885 foi aprovada a Lei dos Sexagenários, onde os escravos que atingissem a idade de sessenta anos seriam automaticamente libertos. Essas duas leis já prenunciavam que o fim da escravidão no Brasil estava próximo. Também durante esse período de embates no congresso, a população escrava envelhecia sem que a reprodução natural fosse suficiente para suprir as necessidades de mão de obra nas plantações que a anualmente aumentavam de área. A necessidade de mão de obra se acentuou drasticamente quando em 1888 foi promulgada a Lei Áurea com a proibição da escravidão em todo o território brasileiro. 
Nesse mesmo período do século XIX na Itália acontecia a unificação, um fenômeno conhecido como Risorgimento, com o fim das guerras de independência, que deixaram arrasada a economia do novo reino, seguida de um aumento dramático do desemprego, associado a um crescimento demográfico, também verificado em outros países europeus. Tais fatores levaram, a partir da década de 1870, ao início da maciça imigração de italianos para o Brasil. No final do século XIX e início do século XX, as ideias de darwinismo social e eugenia racial tiveram grande prestígio no pensamento científico mundial. Na medida em estas ideias eram aceitas e divulgadas pela comunidade científica nacional, o imaginário social e político brasileiro passou a considerar que os brasileiros eram incapazes de desenvolver o país por serem, em sua grande maioria, negros e mestiços. Essa política de imigração, além de aumentar a oferta de mão de obra, trazendo um maior número de pessoas brancas para o país, também possibilitou melhores condições de vida aos agricultores europeus, que viviam uma situação difícil em seu país. Os emigrantes, na época No final do século XIX e início do século XX, as ideias de darwinismo social e eugenia racial tiveram grande prestígio no pensamento científico mundial. Na medida em estas ideias eram aceitas e divulgadas pela comunidade científica nacional, o imaginário social e político brasileiro passou a considerar que os brasileiros eram incapazes de desenvolver o país por serem, em sua grande maioria, negros e mestiços. Essa política de imigração, além de aumentar a oferta de mão de obra, trazendo um maior número de pessoas brancas para o país, também possibilitou melhores condições de vida aos agricultores europeus, que viviam uma situação difícil em seu país. Os italianos eram considerados um dos melhores emigrantes disponíveis, por serem brancos e terem a mesma religião católica que o império. Eles poderiam ser usados para o "branqueamento" da população brasileira. E não foi apenas o nosso país a adotar esses critérios raciais, alguns dando preferência aos imigrantes provenientes do norte da península em detrimento daqueles do sul. Foi a partir da década de 1870 que os imigrantes italianos  começaram a chegar em maior número, aumentando expressivamente entre os anos de 1887 e 1904, quando os italianos já eram o maior grupo étnico a entrar no Brasil. A repercussão negativa na imprensa italiana surgidas no início do século XX com notícias relatando as péssimas condições de vida dos emigrantes italianos, principalmente nas plantações de café de São Paulo, fizeram com que o parlamento italiano emitisse o chamado decreto Prinetti, que passou a proibir a emigração subsidiada para o nosso país, causando uma grande diminuição do número de recém chegados.