As
amas de leite, conhecidas por balias - sempre exerceram uma importante
atividade exclusiva da mulher, isso já de tempos muito antigos. Com a piora das
condições econômicas em todo o Vêneto, especialmente no século XIX, após a sua anexação
à Itália, em 1866, também atingiu o campo, quando ocorreram frequentes frustações
de colheitas por condições climáticas adversas, o desemprego masculino aumentou
muito, e assim as mulheres tiveram de dar uma maior contribuição para a
manutenção da família.
As
mulheres do norte da Itália, especialmente as da província de Beluno, pela sua
força, robustez física e pela excelente qualidade do seu leite, eram as
indicadas pelos médicos da época como as ideais para serem amas de leite, as
balias.
Essas
mulheres eram as mais requisitadas pelas famílias ricas, tanto no reino da
Itália como também nos países vizinhos mais desenvolvidos, como a Áustria e a Alemanha,
e emigravam por um longo período, vivendo nas casas das famílias que as
contratavam.
Aquelas
famílias que possuíam grandes fortunas podiam se dar ao luxo de contratar uma
ama de leite, livrando assim a senhora rica do fardo de amamentar e cuidar dos
seus próprios filhos. Ela ficava livre para as suas atividades sociais além de
não prejudicarem o próprio corpo. Nem sempre essas balias eram contratadas por
que a senhora contratante não tivesse leite e sim por puro comodismo.
Em
toda a Itália existiam amas de leite, mas, as mais procuradas foram as saudáveis
mulheres agricultoras das províncias do norte, mais especialmente das montanhas
prealpinas da província de Beluno. Eram examinadas e deviam ter um aspecto
sadio e produzir diariamente uma grande quantidade de leite de ótima qualidade.
Ser
uma ama de leite não era uma tarefa nada fácil. Implicava deixar o seu próprio
filho, ainda lactante, já nos primeiros dias ou meses de sua vida, para só
retornarem para casa depois de longo
tempo.
Os
bebês dessas pobres mães ficavam aos cuidados de uma das avós, ou de uma outra
mulher da família, mas, também, até com conhecidos e eram alimentados
artificialmente com leite de vaca ou cabra. Nem sempre esses bebês se adaptavam
a essa alimentação artificial e adoeciam logo em seguida, vindo a morrer algum
tempo depois da partida da sua mãe.
A família procurava sempre esconder da
pobre mãe este lamentável ocorrido, para ela não perder o leite que era a razão
do seu emprego e o sustento de toda a sua família. Quando retornava para casa,
alguns meses, ou um ano despois, trazendo consigo aquele dinheiro economizado, fruto
do seu difícil trabalho, recebia, ao chegar, aquela triste notícia. Realmente estes
episódios estão entre os mais tristes da emigração feminina e que até hoje provocam
lágrimas aos visitantes, no grande espaço do setor à elas dedicado, no Museo Etnografico da Provincia de Belluno,
no município de Cesiomaggiore. A volta para casa também sempre trazia um grande
problema para a pobre mãe que era costurar novamente os laços afetivos com o
seu filho verdadeiro, que, quase sempre, não reconheciam a própria mãe. Realmente
este é um quadro muito triste provocado pela pobreza.
A
leitura das cartas e bilhetes escritos por elas, das casas onde se encontravam, as suas
fotos, algumas delas até com dedicatória e agradecimentos das famílias contratantes, que
eram enviadas para as suas famílias, as suas roupas, uniformes e os utensílios
de trabalho estão lá expostos e emocionam bastante quem os visita.
Além
dos uniformes geralmente de cor branca, de confecção variada, que elas eram
obrigadas a vestir, também precisavam usar alguns adereços que as identificavam como amas
de leite, quando a família contratante saía de casa com a criança, ou quando nas viagens
familiares de lazer onde a balia os
acompanhava. Trata-se de uns grandes brincos e de um prendedor de cabelos, em
forma de uma grande agulha, que a ama de leite devia sempre usar. Também entre
esses adereços podemos encontrar o tradicional colar de contas esféricas, que
deveria estar sempre no seu pescoço, também um sinal para todos que ela era a
ama de leite.
Dr.
Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim
RS