A história da imigração italiana no Brasil revela um marco significativo que remonta ao desembarque, em 17 de fevereiro de 1874, do navio "La Sofia" no porto de Vitória. A bordo, 388 imigrantes italianos, recrutados pelo empresário italiano Pietro Tabacchi, desembarcaram para se integrar ao empreendimento da fazenda "Monte das Palmas", localizada em Santa Cruz. Parecia uma grande oportunidade para eles, que deixavam para trás um país recém unificado, repleto de problemas, onde o desemprego e até a fome rondava os lares nas zonas rurais. Contudo, as expectativas do grupo de uma vida melhor e prosperidade rapidamente desvaneceram, dando lugar a descontentamentos e insurgências. Diante disso, uma parte desses italianos optou por migrar para as colônias oficiais na Região Sul, enquanto outros acolheram a oferta do Governo do Espírito Santo para estabelecer-se na "Colônia Imperial de Santa Leopoldina", direcionados ao Núcleo de Timbuhy, hoje situado no município de Santa Teresa.
Nos registros do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, encontra-se uma grande quantidade de documentos que atestam este notável evento histórico. Entre estes documentos, destaca-se um ofício datado de outubro de 1874, assinalando a presença de imigrantes na área. Neste contexto, emerge um apelo por indenização apresentado por Francesco Merlo, colono que, em 28 de outubro de 1874, dirigiu-se ao Presidente da Província reivindicando o reembolso das despesas incorridas durante a jornada da Itália à Colônia de Nova Trento, totalizando 122 Fiorins, montante não ressarcido pelo contratante. Este episódio catalisou a promulgação da Lei nº 13.617, oficializando Santa Teresa como o berço da imigração italiana no Brasil.
A primeira grande leva de italianos que desembarcou no Espírito Santo foi batizada em homenagem ao empresário responsável, Pietro Tabacchi. Ele já residia na província desde os albores da década de 1850, comerciante astuto soube do interesse do governo imperial em trazer mão de obra da Europa. Ele concebeu a oferta de terras aos imigrantes, em troca do direito de explorar 3,5 mil jacarandás para exportação.
Após intensas negociações, o Ministério da Agricultura consentiu ao contrato com Tabacchi, que então enviou emissários ao Trentino, então sob domínio do império austro hungaro, para angariar famílias dispostas a emigrarem. Assim, em 3 de janeiro, às 15 horas, o navio "La Sofia" zarpou do porto de Gênova. Em 1º de março, a embarcação atracou no porto de Santa Cruz, em direção à propriedade de Tabacchi. Esta expedição marcou o início da migração em massa de camponeses italianos para o Espírito Santo, uma jornada que, porém, revelou-se repleta de decepções, com terras inexistentes e condições de alojamento precárias.
A Expedição Tabacchi inaugurou um fluxo migratório que reverberou além-fronteiras. Agora, os olhares dos agentes migratórios se voltavam para a península itálica, especialmente suas regiões norte e nordeste, de onde multidões partiram rumo a diversos destinos globais, incluindo o Brasil em números consideráveis. A recém unificada Itália deparava-se com desafios monumentais, caracterizada por altas taxas de crescimento populacional, déficit na produção agrícola, criação de novos impostos o que causou perdas de empregos no campo e uma volumosa massa de desempregados. Neste cenário, muitos não tiveram outra escolha do que arranjar uma forma de sair da Itália, tomando rumo em direção aos novos e ricos países do outro lado do oceano carentes de mão de obra. A partir de 1875, as partidas dos transatlânticos de Gênova e de outros portos europeus tornaram-se uma rotina estabelecida e milhões de italianos de norte ao sul abandonavam suas vilas em busca do pão de cada dia que a Itália não conseguia fornecer. Estas ondas de emigrantes atingiram proporções nunca antes vistas, um verdadeiro êxodo, que Deliso Villa em seu livro Storia Dimenticata, compara com a grande fuga dos judeus do Egito relatadas na bíblia.
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