quinta-feira, 26 de abril de 2018

A Velhice e a Morte nas Colônias Italianas do Sul do Brasil


Nas comunidades italianas em geral, e nas vênetas em particular, as pessoas idosas eram muito respeitadas e ouvidas por todos. Como sinal de respeito, era costume na maioria das famílias, os filhos e netos pedirem a benção dos mais velhos.
Ao contrário do nascimento, a morte era considerada uma acontecimento extraordinário, vivido com solenidade e cercado de muitas superstições. Ao se aproximarem da morte, a maioria dos mais velhos enfrentavam esse momento de passagem com serenidade, com a certeza de terem feito na vida aquilo que consideravam o seu dever.
Quando alguém era atingido por uma doença prolongada a comunidade sempre prestava assistência à família. Durante o dia e mesmo à noite, os vizinhos e amigos se revezavam para cuidar do doente, proporcionando um pouco de descanso à família. Em alguns lugares geralmente eram pessoas voluntárias da comunidade religiosa, a qual pertence o doente, que se dispunham para esse trabalho.
No momento em que a morte se aproximava, era comum os membros da família, irem até o leito para pedir desculpas ao moribundo, por possíveis ofensas e qualquer rusgas que tenham cometido contra ele durante a vida.
As velas eram acesas, a água benta espalhada pela casa e os parentes e amigos rezavam. Após a morte o corpo era lavado e vestido com as melhores roupas e sapatos que possuía. 
Os olhos do falecido deviam ficar fechados e se isso não acontecia era considerado um mau presságio: um outro familiar poderia morrer em breve. 
O corpo era velado no próprio leito de morte, mais tarde esse procedimento passou a ser feito sobre um suporte improvisado com quatro cadeiras e umas tábuas, enquanto era mandado confeccionar o caixão pelo carpinteiro da localidade.
O velório durava sempre pelo menos 24 horas e era realizado na sala de estar da casa do morto, ou na falta desta, no seu quarto de dormir, com o morto tendo os pés direcionados para a porta.
Nessa ocasião praticamente todos os membros da comunidade, onde o morto vivia, visitavam a casa para a despedida final ao falecido, para rezarem por ele e também dar apoio e coragem à família enlutada.
Muitas pessoas vinham de muito longe e ficam até a hora do enterro. Era costume servirem alguma coisa para comer e beber. Geralmente era servida para todos uma sopa e copos de vinho.
Por superstição a tradição dizia que o quarto onde o falecido tinha ficado, deveria ser varrido por uma pessoa que não fosse membro da família e as portas tinham que ficar abertas, para a morte poder sair.
O féretro se dirigia para a igreja local, nas comunidades em que esta existia, que então era aberta, com o caixão sendo carregado em uma carroça coberta por panos negros. Na falta frequente de padres era somente recitado um terço. 
Após esse último ato, quatro homens começavam a carregar o caixão para o cemitério, que geralmente ficava perto da igreja local. No trajeto esses carregadores eram substituídos por outros, que também queriam com o gesto homenagear o falecido. 
Tanto na igreja como no cemitério, as mulheres cobriam a cabeça com véus  e os homens seguravam os chapéus nas mãos. Quando o corpo era colocado na cova, todos se aproximavam e jogavam um punhado de terra sobre o caixão.
O luto demorava de acordo com o grau de parentesco da pessoa com o falecido. Se eram filhos do defunto deviam permanecer em luto pelo prazo de um ano. Se irmãos o período de luto era de seis meses e os primos de três meses. Deviam usar roupas de cor preta, ou mais tarde uma tira de pano negra fixada na camisa ou paletó. As mulheres sempre deviam usar um vestido negro. Eles também não podiam participar de festas ou bailes durante todo o tempo de duração do luto. Em alguns lugares, em muitas famílias de origem vêneta, no período de luto, os homens não cortavam a barba e as mulheres os cabelos. Trinta missas em dias seguidos eram pagas pela família por intenção do falecido. 
Nos primeiros anos da imigração vêneta no Rio Grande do Sul, os colonos foram assentados em grandes lotes de terra, separados na frente e atrás por pequenas estradas, chamadas de linhas e entre cada dois lotes, os travessões. Um vizinho morava bem distante do outro e todos, geralmente, muito longe da sede da colônia. 
Naqueles tempos nem sempre existia um fotografo residente na sede da colônia, mas, sim aqueles itinerantes, que de tempos em tempos passavam visitando os moradores em suas casas, para executar o seu trabalho. Eram conhecidos pelos imigrantes como retratistas, que com suas grandes máquinas fotográficas colocadas sobre um tripé, faziam as fotos, ou retratos, dos moradores que pudessem pagar pelo serviço. 
Um fato que ocorria com frequência, impensável nos dias atuais, é aquele em que quando morria um familiar, que ainda não tinha sido fotografado, geralmente crianças muito pequenas e idosos, o fotógrafo era chamado na casa para retratar a pessoa falecida, as vezes, em uma pose dentro do caixão erguido, cercado de toda a sua família. Em muitas famílias essas eram a única lembrança que ficava do ente querido falecido.
Nos primeiros anos, na zona colonial italiana do Rio Grande do Sul, os fotógrafos eram muito raros e com frequência trabalhavam bem longe da casa do colono. O mais importante, também era o valor cobrado pelo trabalho, que nem sempre estava ao alcance das economias das famílias. Assim, iam relevando, deixando a foto para uma ocasião mais propícia, que muitas vezes não chegava. 
Alguns anos mais tarde da chegada à colônia, os que casavam, quase sempre, no dia do casamento, faziam o respectivo retrato, documentando o importante momento do casal, o qual era colorido manualmente no estúdio do artista e depois exibidos, emoldurados nas paredes das casas. 

 Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS