Em fins da década de 1920, com a proporção do imposto de exportação de café caindo na receita do Estado e as fontes não-subsidiadas de trabalhadores crescendo, o colapso da economia internacional atingiu São Paulo duramente logo após o término do programa subsidiado. Como resultado, os cafezais mais velhos foram abandonados, ocorrendo, conseqüentemente, uma retração na necessidade de mão-de-obra, gerando uma diminuição no fluxo de imigrantes e fazendo com que a economia regional entrasse num período de retração. A classe dos grandes proprietários de fazendas, os produtores de café, com muito raras exceções, estava acostumada até então de lidar com os pobres escravos africanos, que aceitavam quase tudo com muita resignação e certo grau de estoicismo, teve agora de se adaptar com os trabalhadores italianos recém chegados mais experientes, um povo orgulhoso, determinado e por sua vez, também muito mais contestador. As relações de trabalho dos imigrantes italianos com os seus patrões proprietários das terras, sempre foi muito conflituosa. Multas por supostos descumprimentos dos contratos, provocações, dispensas por justa causa eram pretextos que os proprietários das fazendas encontravam para diminuir o ganho do trabalhador. Ocorria também que a fazenda com freqüência era um enclave de jurisdição particular, onde o fazendeiro agia como juiz e fazia cumprir as leis com a ajuda de pistoleiros. Outras causas de conflitos se davam por roubos nas medidas de café, e casos de espancamentos, assassinatos, estupros e perseguições eram comuns. Os imigrantes estavam à mercê dos proprietários das fazendas, e estar subordinados a tais homens não era o mais feliz dos destinos, principalmente porque a estrutura da vida rural restringia-se ao poder que os fazendeiros exerciam sobre os seus colonos. Os casos de protestos dos trabalhadores do café expressavam-se nas exigências de salários ou greves. As reclamações iam se difundindo pelas casas das colônias, pelas vendas, e se espalhavam por toda a fazenda causando grande inquietação, principalmente no começo da colheita do café, período em que os fazendeiros estavam mais vulneráveis. Às vezes obtinham sucesso, às vezes fracassavam. Mas as reclamações não passavam do espaço circunscrito a cada fazenda e tinham curta duração, pois os contatos com o mundo fora da fazenda eram estritamente vigiados. Em favor deles estava somente o consulado, o único recurso que os trabalhadores agrícolas estrangeiros tinham para não serem lesados. Diante de tantos obstáculos, os imigrantes se deslocavam seguidamente para outras fazendas ou para os centros urbanos e muitos desistiam do sonho americano e repatriavam, em busca de melhores oportunidades de trabalho. Nas fazendas de café geralmente os imigrantes não tinham opção e até já tinham assinar os contratos de trabalho estabelecidos pelos fazendeiros. Eles podiam escolher entre quatro formas de contrato, considerando que o café obedecia a várias etapas, particulares a cada uma delas. A primeira etapa correspondia à derrubada para a formação ou ampliação das fazendas, realizada pelos trabalhadores por turma, contratados por um empreiteiro sem vínculos à fazenda. Esses trabalhadores recebiam um salário mensal ou trimestral, casa e comida.
O serviço compunha-se da derrubada e queimada das florestas. A segunda etapa compreendia a formação do cafezal convencionalmente chamada de empreitada no Estado de São Paulo. O trabalho nesta etapa referia-se à abertura de covas, já previamente marcadas para plantar o café e manter o terreno limpo durante quatro anos. No decorrer do período era permitido plantar milho e feijão no espaço entre as fileiras do cafezal. O pagamento, nesse tipo de contrato, diferia de acordo com as possibilidades financeiras do imigrante. Quem dispunha de um capital e podia arcar com todas as despesas da empreitada, inclusive a contratação de outros empregados e a derrubada da floresta, recebia uma soma em dinheiro correspondente ao número de pés de café entregues ao fim do contrato, ficava com todo o lucro obtido na venda do excedente de cereais e o lucro da primeira safra do café. Mas, para o empreiteiro que não possuía capital para cobrir todas as despesas, o que era mais comum, recebia apenas uma parte da primeira colheita do café. Os imigrantes também podiam optar pelo contrato colônico, o chamado sistema de colonato ou ainda trabalhar como camarada. O colonato constituía-se numa relação de trabalho essencialmente familiar, na qual, pelo contrato colônico, cada família recebia um número determinado de pés de café que eram cultivados durante o contrato de um ano, incluindo quatro a seis limpezas por ano para manter os cafezais sempre livres de ervas; o cuidado com as mudas para o caso de alguma substituição de cafezais mortos; amontoamento do cisco na preparação para colheita; e o espalhamento do cisco após a colheita. Em geral, eram responsáveis pela manutenção das árvores e, no momento apropriado, pela colheita. Também constava do contrato alguns serviços não restituídos que eram realizados na fazenda quando requisitados, por exemplo, reparar cercas, construir estradas, cuidar dos pastos etc. Os pés de café eram dispostos em filas, no meio das quais os colonos tinham o direito de cultivar outros produtos, em geral, milho e feijão. Em caso de cafezais velhos, o colono recebia um pedaço de terra em separado para plantar os seus cereais. Quanto às tarefas realizadas pelos camaradas, de acordo com o contrato de trabalho, correspondiam ao beneficiamento do café; colheita; abertura de caminhos e estradas; conserto de pontes, prédios e cercas; entre outras. Os salários eram pagos por dia ou por mês. Desde o começo, o confronto entre os interesses econômicos por parte dos fazendeiros e, por outro lado, a resistência dos trabalhadores às imposições destes causaram situações permeadas por conflitos e tensões. Na verdade, os fazendeiros não mediam esforços para reprimir e impor um rígido controle, visto que a experiência que haviam tido no período da escravidão lhes dava plena consciência de que era fundamental ter um controle efetivo sobre os trabalhadores. Um outro fator que pode explicar o certo grau de animosidade e desentendimento entre os imigrantes italianos foi o fato que diferente do que aconteceu na imigração no sul do Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul, a maior uniformidade quanto a região de origem do imigrante, que eram na maioria do norte e nordeste da Itália: vênetos, lombardos e trentinos. Também importantíssimo foi o fato que nessas colônias do sul terem criado, pelos próprios imigrantes, uma nova língua para se comunicarem entre si, pois, a maioria não conhecia a língua italiana e se comunicavam somente através dos seus dialetos regionais, alguns muito diferentes uns dos outros. Os casamentos entre imigrantes italianos de várias procedências regionais impulsionou a necessidade e a difusão da nova língua da imigração representada pelo Talian. Trata-se de uma língua e não dialeto, pois, é formada por expressões da língua dessas várias regiões italianas sobre uma base do dialeto Vêneto, devido qua a predominância era de imigrantes vênetos. Mais tarde, na evolução natural de qualquer língua, sofreu alguma influência de palavras portuguesas que foram incorporadas, após uma certa italianização dos termos. Nas fazenda paulistas parecia que não havia apenas uma só emigração de italianos, onde todos se confraternizariam na qualidade de oriundos do mesmo país, mas, sim de pessoas originárias da península itálica sem necessariamente forte identidade comum. Inclusive a língua que se constituiu em um grande obstáculo na comunicação entre os empregados das fazendas. Com tudo isso as primeiras deserções começaram a aparecer e as famílias, depois de quitarem os seus débitos com o proprietário da fazenda, passaram a se colocar por conta própria, nas pequenas vilas e cidades que já estavam surgindo no interior paulista. Os que primeiro deixavam as fazendas foram aqueles que tinham conseguido algum economizar algum dinheiro, ou possuíam alguma habilidade profissional, geralmente trazida da Itália, tais como os artesãos e aqueles que se estabeleciam em lotes nas periferias das cidades, ganhando a vida com a venda de produtos agrícolas, conseguidos de pequenas roças e, mais tarde, como empregados de fábricas que começavam a se estabelecer na região. Ainda muito pouco estudada, houve também em São Paulo, mas em bem menores proporções, uma política de fixação dos imigrantes na terra, parecida com a ocorrida no Sul, a partir da venda de lotes nos chamados Núcleos Coloniais. Alguns destes núcleos que se destacaram na compra de lotes pelos italianos são os de São Caetano (São Caetano do Sul), Quiririm (Taubaté), Santa Olímpia e Santana (Piracicaba), Barão de Jundiaí (Jundiaí), Sabaúna (Mogi das Cruzes), Piaguí (Guaratinguetá), Cascalho (Cordeirópolis), Canas (Canas), Pariquera-Açú (Pariquera-Açú), Antônio Prado (Ribeirão Preto), entre outros. Mais tarde, já na metade do século XX, com a descoberta das férteis terras do norte do Paraná, muitos daqueles imigrantes ou seus descendentes, que tinham trabalhado com o café no interior de São Paulo, adquiriam grandes lotes de terras e continuaram com as plantações de café. Como curiosidade, essas ricas terras vermelhas, propícias para a cultura do café, são denominadas de terras roxas, isso porque em italiano se dizia "terra rossa".