Da Emília ao Coração de Minas Gerais
Em 1895, em uma pequena vila no interior da região da Emília, na Itália, vivia uma família chamada Fitarollo. Eles eram conhecidos por sua forte união e trabalho árduo. A situação da economia italiana continuava piorando a cada ano. O preço dos produtos agrícolas, especialmente dos grãos, sofria a concorrência dos importados o que fazia cair o preço de venda abaixo do custo da produção. A inflação e o desemprego cresciam a cada ano. Em algumas zonas rurais, do norte ao sul da Itália, a desnutrição e a fome já começavam a aparecer. O patriarca da família, Carlo Fitarollo, estava determinado a proporcionar um futuro melhor para seus entes queridos, então, após ouvir histórias relatadas através de cartas de familiares, já emigrados algum tempo antes, de enormes oportunidades existentes no Brasil, ele decidiu fazer uma jornada ousada.
Em 1897, Carlo, com a esposa Giulia e seus cinco filhos, juntou-se a outros emigrantes da aldeia e embarcou em uma emocionante viagem da cidade de Gênova para o Brasil a bordo de um grande navio. Além de Carlo, seu irmão Lucca e sua família também se aventuraram nessa jornada.
Após 36 dias a bordo de um navio, em precárias condições eles finalmente chegaram ao movimentado porto do Rio de Janeiro. De lá, após breve passagem de dois dias pela Hospedaria dos Imigrantes, onde fizeram os exames médicos exigidos, viajaram de trem até Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais. Durante outros cinco dias, a família de Carlo e seus parentes estiveram instalados na Hospedaria de Imigrantes Horta Barbosa, em Juiz de Fora, onde compartilharam histórias com outros imigrantes que sonhavam com um novo começo.
Logo, conseguiram empregos como agricultores em uma grande fazenda de cultivo de café, propriedade de um rico coronel, situada no município de Leopoldina. Entretanto, a vida na fazenda não era fácil. Adultos e crianças trabalhavam arduamente das 6 da manhã até o início da noite, em troca de modestos salários e magras rações de comida, principalmente composta por feijão e farinha de milho. O tratamento quase desumano a eles dispensado era parecido daquele que davam aos antigos escravos, que foram libertados alguns anos antes. Na época da escravidão trabalhavam e moravam na fazenda cerca de 500 escravos e nas casas adaptadas onde eles moravam, após algumas poucas melhorias receberam os pobres imigrantes italianos.
Descontentes com a situação, Carlo e seus parentes decidiram que era hora de buscar uma vida melhor em outro local. Mudaram-se para um distrito mais distante, ainda em Minas Gerais, onde trabalharam como agricultores e economizaram o que puderam durante dois anos.
Finalmente, encontraram emprego na fazenda de um outro grande latifundiário, a qual mais tarde seria adquirida pelo governo de Minas Gerais e transformada na Colônia Santa Maria. Nesse momento, os Fitarollo finalmente conseguiram realizar o sonho tão acalentado de se tornarem proprietários de alguns lotes de terra.
Com o passar dos anos, os filhos de Carlo e Giulia se casaram com outros imigrantes italianos e seus descendentes. Os Fitarollo se espalharam por diversas cidades de Minas Gerais, como Juiz de Fora, Ubá, Visconde do Rio Branco, Muriaé, Rio Casca, Astolfo Dutra e até mesmo na capital, Belo Horizonte.
Carlo e Giulia, após anos de trabalho árduo e sacrifícios, viveram para ver seus filhos e netos prosperarem no Brasil. Eles faleceram com apenas alguns dias de diferença, em 1939, deixando um legado de coragem e determinação para as gerações futuras da família. A saga dessa família de imigrantes italianos que começou nao interior da Emília e floresceu em Minas Gerais é lembrada até os dias de hoje como um exemplo de perseverança e amor pela família.