Com a chegada da navegação a vapor e a consequente redução do custo das viagens, nas últimas décadas do século XIX, facilitou-se um êxodo de proporções monumentais da Itália. Essa emigração, denominada "grande", somente se encerrou com o início da Primeira Guerra Mundial. Outro estímulo para esse êxodo era a miragem da terra, especialmente alimentada pelos governos argentino e brasileiro, que se espalhava por todo o país por meio de seus agentes de imigração. Aos olhos deslumbrados de muitos camponeses, cuja experiência de vida se limitava à sua aldeia, apresentavam-se imagens esplêndidas de campos exuberantes onde tudo parecia crescer quase espontaneamente, narrando sobre um Eldorado que os aguardava "na América".
Somente em 1901, após anos de debates parlamentares, foi instituído o Comissariado Geral da Emigração para coordenar e promover a assistência aos emigrantes pelo Estado. Apesar de possuir amplas competências, o comissariado enfrentava escassez de recursos financeiros.
Ainda nos primórdios do século XX, a viagem para as Américas podia estender-se por um mês, ocorrendo em condições hoje dificilmente imagináveis: superlotação com uma consequente redução mínima dos espaços vitais, convivência próxima, água potável e alimentos escassos, muitas vezes de qualidade inferior, instalações sanitárias insuficientes para todos e higiene precária devido à falta de banho. Os emigrantes, cujos alojamentos estavam sempre na parte inferior dos navios, em seus amplos e mal ventilados porões, passavam, portanto, a maior parte de seus dias ao ar livre no convés.
Mesmo na Argentina, na Hospedaria dos Imigrantes em Buenos Aires, país classificado como o mais semelhante à Itália, as autoridades sentiram a necessidade de abrigar os imigrantes por alguns dias - mesmo que já tivessem um destino específico e uma rede de parentes, amigos e compatriotas em quem confiar - para fornecer a eles um resumo de dados e informações sobre as condições locais de vida. Uma recepção semelhante era reservada para aqueles que chegavam ao Brasil na Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo.
Quem emigrava, deixando o seu país, raramente era um indivíduo solitário. Vários outros emigrantes o auxiliavam e protegiam desde o planejamento da viagem, e, ao desembarcar, eram recebidos para facilitar sua inserção de todas as formas possíveis. Na nova realidade, ele acabava integrando-se a um grupo que reproduzia substancialmente os valores e códigos comportamentais do seu anterior lugar de origem. Assim nasciam os bairros italianos nas grandes cidades americanas, com nomes diversos, mas onde as ruas desempenhavam o papel da praça da vila, lugares nos quais a cultura comum era reestruturada e refinada, moldada entre as antigas raízes e as novas fronteiras.
Na Argentina, em Buenos Aires, construíam-se abrigos, residências senhoriais na região do porto, que, após a mudança dos proprietários para bairros mais elegantes, eram transformadas em moradias minúsculas para os emigrantes. As casas desenvolviam-se em torno de um pátio central, onde cada família tinha à disposição um quarto, frequentemente sem janela, com instalações sanitárias comuns no pátio.
A conexão com o mundo de origem permanecia viva por meio de farta correspondência, cartas e fotografias, onde a família ampliada desempenhava um papel quase absoluto. Suas imagens e rastros eram evidentes tanto na Itália quanto no exterior. Os retratos, portanto, compunham a parte predominante dos arquivos familiares, fixando os momentos fundamentais da vida: nascimento, casamento e, em menor medida, a morte. São recordações queridas, nas quais os conterrâneos se imergem suavemente ao visitar uma família que recebe de volta alguns membros vindos da América.
Os laços com a pátria também tinham uma dimensão econômica, uma vez que os envios de dinheiro dos emigrantes testemunhavam concretamente o forte vínculo daqueles que haviam emigrado à família que permanecia na terra natal. Essas remessas constituíam uma contribuição importante, frequentemente a única, para o sustento da família.