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quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Navegando Além do Horizonte: A Saga dos Emigrantes Italianos

 




No mar de incertezas, além do horizonte, 
Cruzam corações valentes, em busca de um recomeço. 
São filhos da Itália, destemidos navegantes, 
Emigrantes, que deixaram sua terra em processo.

Em suas veias, a paixão de um povo guerreiro, 
No olhar, a tristeza do adeus, a esperança no peito. 
Partiram sem olhar para trás, sem medo, 
Embarcaram na fé, no sonho, no desejo.

Pelos mares desconhecidos, em navios de sonhos, 
Rumo às terras distantes, à promessa de um amanhã. 
Na alma, a saudade da família e dos amigos, 
Mas a certeza de que a vida iria recompensar tamanha façanha.

Aportaram no Brasil, terra acolhedora, 
Em terras tropicais encontraram solo fértil. 
Deixaram as raízes, mas semearam novas histórias, 
Transformaram desafios em legado, em feitos inéditos.

Do Sul ao Norte, da cidade ao sertão, 
Itália se funde com Brasil em perfeita sinfonia. 
Nas cantinas, o aroma da nonna, tradição, 
Na língua, um sotaque que encanta a melodia.

Com trabalho árduo, construíram seu lugar, 
Na força das mãos, ergueram sonhos de concreto. 
Em cada canto, uma marca de luta e superação, 
Imigrantes italianos, um povo que faz bonito.

Nas festas e comemorações, a cultura se perpetua, 
A pizza, o vinho, a música, a dança contagiam. 
Os laços familiares se fortalecem na alma italiana, 
E a gratidão pelo Brasil que os acolheu é intangível.

Em solo estrangeiro, italianos se reinventaram, 
Enfrentaram desafios, escreveram sua própria história. 
Com coragem, força e amor, em cada passo se firmaram, 
Imigrantes italianos, exemplos de superação e memória.

Que as vozes desses bravos navegantes, 
Permaneçam vivas no tempo, na eternidade. 
Emigrantes italianos, orgulho de duas pátrias gigantes, 
Unidos pela emigração, pela busca de felicidade.


de Gigi Scarsea
Erechim RS





quarta-feira, 26 de julho de 2023

Laços Eternos: A Dor do Adeus entre Mãe e Filho Emigrantes


 

Laços Eternos: 
A Dor do Adeus entre Mãe e Filho Emigrantes


Nos versos entrelaçados da saudade, 
A dor da despedida se faz presente, 
Uma mãe, um filho, um destino incerto, 
Emigrantes que partem, vidas diferentes.

O coração aperta, a voz se quebra, 
A mãe abraça seu filho com ternura, 
O tempo, implacável, escorre pelas mãos, 
E o peso da despedida lhe tortura.

No olhar profundo da mãe aflita, 
A certeza triste de um adeus eterno, 
Pois sabe que jamais se reencontrarão, 
O filho parte, destino ao Brasil, seu inverno.

As lágrimas rolam silenciosamente, 
Misturando-se ao sorriso desfeito, 
Um abraço apertado, um beijo sentido, 
É o amor que se expressa em cada gesto feito.

A mãe segura o filho em seu peito, 
Guardando na memória o seu sorriso, 
Sabendo que a distância os separará, 
E que esse encontro será um sonho impreciso.

As mãos que se afastam num adeus, 
São laços que se soltam pelo ar, 
A mãe, a mulher, com coragem enfrentam, 
O desconhecido, o futuro a desbravar.

Emigrantes, almas corajosas, 
Enfrentam o mar em busca de uma vida nova, 
A mãe, com seu coração apertado, 
Vê seu filho partir, num adeus que a comove.

Nas palavras não ditas, a esperança persiste, 
De que o filho encontre a felicidade, 
E que mesmo distantes, os laços se fortaleçam, 
Em memórias, em cartas, em saudades.

A despedida é um capítulo amargo, 
Na história que a vida insiste em escrever, 
Mas o amor de mãe e filho é eterno, 
E mesmo distantes, nunca irá perecer.

Que a jornada do filho seja repleta de luz, 
Que a vida lhe reserve sorrisos e paz, 
E que no coração da mãe a lembrança perdure, 
Do filho que partiu, mas nunca desvanecerá.

Em versos, nesta poesia entrelaçada, 
Celebro a coragem da mãe e do filho, 
Que mesmo separados, estarão ligados, 
Por laços de amor, que nem o tempo abala.


de Gigi Scarsela
erechim rs



segunda-feira, 24 de julho de 2023

Da Trincheira ao Amor: A Vida de um Ex-Soldado Austríaco e sua Enfermeira Italiana parte 4




Esperaram mais alguns meses, pela chegada do verão para finalmente embarcarem. Rodolfo e Mariana fizeram as malas e tomaram um trem até Trieste, o porto mais próximo, onde ele sabia  que partiam regularmente, antes da guerra,  navios com destino à América. Compraram as passagens de terceira classe para economizar o dinheiro que Rodolfo ganhou dos pais e dos seus soldos atrasados. De última hora resolveram que o destino seria alguma cidade de Santa Catarina, onde morassem pessoas que falavam o alemão ou o italiano. Depois de uma longa espera pelo navio, hospedados em uma modesta pensão não muito longe do cais, finalmente embarcaram, estreando os novos passaportes com identidade italiana. A viagem durou menos de vinte dias e foi muito tranquila sem grandes tempestades ou doenças a bordo. Desembarcaram no Porto do Rio de Janeiro e com um outro navio se dirigiram até Florianópolis, a capital do estado de Santa Catarina. O casal já tinha conhecimento, pelas cartas dos parentes de Mariana, moradores em Rodeio, que uma grande olaria, de propriedade de uma importante família alemã, tinha sido construída próxima da cidade de Blumenau a qual,  com freqüência, estavam admitindo novos funcionários. Para morar, compraram por bom preço, uma antiga casa de quatro cômodos em estilo enxaimel, que já se encontrava abandonada a algum tempo e  necessitava de alguns reparos. O terreno era grande, uma chácara, fora da cidade, perto da qual passava o grande rio Itajaí. Mariana, pelas  suas qualificações como ex-enfermeira de guerra, não demorou  a  encontrar trabalho em uma Casa de Saúde, antigamente   conhecida como hospital alemão. Rodolfo demorou um pouco mais, mas, também encontrou trabalho, sendo admitido como funcionário da olaria. Como sabia ler e escrever em alemão, língua falada pela maioria da população da cidade e região, conseguiu uma boa colocação no escritório da fábrica de telhas e tijolos. Assim começaram a nova vida no Brasil.

Continua
Trecho do conto "Da Trincheira ao Amor" de
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





 

sábado, 22 de julho de 2023

Da Trincheira ao Amor: A Vida de um Ex-Soldado Austríaco e sua Enfermeira Italiana parte 3

 




Em épocas de guerra parece que tudo anda mais acelerado, não somente com os militares, mas, também com a população civil. O ritmo da vida se acelera, as decisões são tomadas com muito mais rapidez e, também, com muito maior facilidade do que antes. Padrões de comportamento são quebrados, substituídos por outros menos rígidos e mais liberais. As pessoas, parecem querer exorcizar todo aquele sofrimento, toda aquela dor acumulada durante o tempo em que durou o conflito. A convivência diária, com o sofrimento e a morte, faz com que a percepção da finitude da vida seja bem mais acentuada. Todos têm agora uma pressa maior em viver a vida, de fazer as coisas que antes ficavam apenas no pensamento. A guerra transforma uma sociedade, mudando radicalmente a maneira de pensar da população. Isso também ocorreu com o Rodolfo e Mariana, que ansiosos em viver as suas vidas, de repente revolveram se casar. Sem dinheiro, contando somente com o pouco que Mariana tinha conseguido economizar, de trem foram até Roncade, na casa de Mariana conhecer os seus pais e irmãos. Felizes, queriam contar logo a grande decisão que tinham tomado. O pai de Mariana, depois de muita relutância, principalmente pelo fato de Rodolfo ser desconhecido e, até pouco tempo atrás, ser considerado um inimigo, depois de conhecer melhor o rapaz e as suas intenções, finalmente cedeu e consentiu o casamento dos dois. Certo que ele não poderia fazer diferente, o mundo estava mudado, os dois jovens eram maiores de idade e estavam dispostos a se casar de qualquer maneira. Muitas tradições, muitas leis estavam dando lugar a um pensamento mais liberal. Sem ter onde ficar, a família de Mariana, por iniciativa da mãe, dispôs um quarto para ele na própria casa. Rodolfo escreveu para os pais contando a novidade e disse que não contava, devido a atual situação do país,  que eles pudessem vir para o casamento. Depois de duas semanas já não estava mais usando as muletas para caminhar e com a ajuda de Mariana em pouco tempo a força na perna operada voltou, se recuperando  completamente. Dos graves ferimentos recebidos agora só restaram as grandes cicatrizes. A cerimônia do casamento, realizada na Igreja de Todos os Santos de Roncade, foi muito simples e rápida, com a presença somente dos pais de Mariana, seus irmãos e duas amigas de infância. Após o ato religioso, pegaram um trem para Bolzano, Rodolfo estava ansioso para apresentar a sua esposa Mariana à sua família. A situação em toda a Itália, no período imediato pós o término do conflito, era bastante caótica, especialmente, naquelas regiões mais atingidas, onde então ficava o front, com várias cidades arrasadas. As linhas ferroviárias estavam sendo reparadas e as estradas e pontes sendo refeitas. Mesmo assim o movimento de veículos e de pessoas a pé era intenso. Demoraram quase três dias para chegar em Ortisei. Desde o Trento estava tudo intacto, como se não tivesse ocorrido uma guerra. Rodolfo ao sair do hospital militar de Padova recebeu uma permissão especial para poder circular e ela era sempre apresentada nos diversos postos de controle. Ao chegarem na casa dos pais de Rodolfo já estavam sabendo da triste notícia da morte, em combate, dois anos antes, do cunhado Maximiliano, relatada por um amigo que encontraram na cidade natal. A sua irmã viúva e os filhos do casal continuavam morando na casa dos sogros. A família de Rodolfo ficou radiante com a volta do filho, que por falta de notícias suas, pensavam que também tivesse morrido naquela guerra. Não mais haviam recebido notícias do filho, pois, as várias cartas do rapaz nunca chegaram, nem mesmo aquela em que comunicava o casamento. Não cabiam em si de tão felizes. Mariana foi imediatamente acolhida por todos, que elogiaram a sua beleza. Passaram-se algumas semanas e o casal percebeu que ali não era o lugar que tinham imaginado para viver. A solução encontrada, a única que ainda oferecia esperança de uma nova vida, longe daquela tensão pós guerra, seria emigrar e o Brasil era o destino preferido dos dois. Esta sempre tinha sido a ideia de Mariana antes da guerra, a qual  tinha muitos parentes próximos vivendo nesse país, emigrados a mais de trinta anos atrás, mas, que ainda antes do conflito, ainda se correspondiam periodicamente. Eram tios e primos que moravam nas cidades de Caxias, no estado do Rio Grande do Sul e Rodeio, em Santa Catarina. Tanto os pais de Rodolfo, como os de Mariana, ficaram muito tristes e preocupados com essa repentina comunicação  do casal, no entanto sabiam que era uma decisão correta, pois, no Brasil teriam muito mais futuro do que naquela Itália.

Continua
Trecho do conto "Da Trincheira ao Amor" de
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


quinta-feira, 20 de julho de 2023

Da Trincheira ao Amor: A Vida de um Ex-Soldado Austríaco e sua Enfermeira Italiana parte 2


 


Rodolfo só acordou dois dias depois. Não lembrava de como tinha sido ferido e nem que seus amigos morreram. Abriu os olhos e estranhou o local onde estava, deitado em uma cama de hospital, em um grande pavilhão com outros homens feridos nas camas vizinhas. Sentia dor e tinha a perna e o braço esquerdos imobilizados. Um grande curativo cobria a sua cabeça. Lentamente foi recobrando as lembranças e viu que tinha sido ferido, mas, não sabia quantos dias estava ali. Ouviu pessoas falando em italiano e suspeitou que estivesse em um hospital inimigo. Estava sendo muito bem tratado. Durante o dia as enfermeiras vinham diversas vezes até a sua cama, para aplicar injeções e trocar os curativos. Por elas soube que já estava naquele hospital de Padova a quatro dias e que tinha chegado sem consciência pela grande perda de sangue. Foi ferido na cabeça, no braço esquerdo e na perna do mesmo lado. Essa estava dilacerada, quebrada em dois lugares. O jovem médico militar que o tratava explicou que ainda tinha o risco de perder essa perna caso começasse a gangrena. Foi interrogado diversas vezes pelo pessoal militar especializado, que buscavam informações úteis sobre as unidades austríacas e alemãs que estavam entrincheiradas logo adiante do maciço do Grappa frente as tropas italianas. O fato de Rodolfo falar fluentemente o italiano facilitou muito a comunicação com o pessoal do hospital, especialmente com os médicos e pessoal da enfermagem. Uma bela e gentil jovem enfermeira italiana, vestindo o tradicional uniforme das "crocerossine", com uma pequena toca em forma de véu na cabeça, chamou muito a atenção de Rodolfo. Ela era muito atenciosa e com o passar dos dias pareceria nutrir uma afeição especial para com aquele ferido inimigo. Soube que o seu nome era Mariana e era natural de Roncade, um município não muito distante de Treviso. Não conseguia tirar o seu pensamento daquela bela enfermeira e todos os dias esperava com ansiedade a hora do seu turno. Com o passar dos dias, Mariana começou a se interessar ainda mais por aquele jovem austríaco, muito forte e bonito. Passou a fazer visitas rápidas para Rodolfo, fora do seu turno, com a desculpa de trocar algum curativo ou ministrar uma medicação. Parecia que ela gostava de estar na presença daquele jovem soldado. Nos fins de semana quando podia vinha visitá-lo e ficavam muito tempo conversando, tanto que um já sabia quase tudo da vida do outro. Mariana era a terceira menina de um casal com oito filhos, tinha vinte anos e comovida com o sofrimento dos feridos de guerra, respondeu aos chamados do governo, se alistando a dois anos atrás como enfermeira voluntária da Cruz Vermelha em Padova. Depois de um curso intensivo de quase um ano, com aulas teóricas e práticas, foi finalmente aceita como "crocerossina". Trabalhava em tempo integral, tal era o movimento no complexo médico hospitalar de Padova, principalmente por estar agora muito próximo do fronte, especialmente depois do rompimento das linhas italianas em Caporetto. A guerra já durava quase três anos e parecia que não teria fim. Milhares de jovens feridos passaram pela instituição e várias centenas deles foram atendidos por ela. As enfermeiras ficavam alojadas em instalações coletivas, perto do complexo hospitalar. Alternavam os turnos de trabalho diurnos com movimentados plantões noturnos. Tinham realmente um trabalho extenuante, não somente porque não eram em grande número, mas, principalmente, pela quantidade de feridos que eram levados para lá. É frequente, por vários motivos, as enfermeiras se afeiçoarem pelos pacientes que estão sob seus cuidados. Quando eles ficam curados, com alta, é uma grande alegria para elas, mas, quando eles não resistiam aos ferimentos e morriam, muitas entravam em depressão. Naquele serviço e em uma guerra como aquela, era preciso saber dosar os sentimentos para não sofrer. Mas, nem todas conseguiam. Rodolfo foi operado diversas vezes nesses trinta dias de internação. Ficou sabendo que os austríacos não mais conseguiram avançar e que o fim para eles parecia próximo. Até agradeceu a Deus por tê-lo livrado daquele inferno que se tornara o fronte. À noite, sempre acordava sobressaltado ouvindo os estrondos das granadas ao seu lado. Muitos pensamentos vinham à sua cabeça, e lembrava de fatos que o avô sempre contava. Sabia, por exemplo, que toda aquela região por que estavam lutando, já pertencera ao reino da Itália. Após as chamadas guerras napoleônicas, em 1815, com a assinatura de um tratado, todo o sul do Tirol, passou às mãos do império austro-húngaro, que impôs o seu governo nas províncias do Trento e Bolzano, além de outras no Friuli. Nunca aceitou o fato de agora estar lutando contra os italianos, povo que ele tinha especial admiração, especialmente pelo fato que sua mãe ser italiana e que seus avós maternos e tantos outros parentes, tios e primos também serem italianos. Dormia, e os sonhos o levavam ao encontro de Mariana. Era uma paixão que aumentava a cada dia. Quase dois meses internado e sempre a bela "crocerossina" estava ao seu lado. Já estavam no ano 1918 e um dia quando tinha sido levado para tomar banho de sol no jardim do hospital, ouviu um grande alvoroço no hospital, as pessoas se abraçavam, gritavam, uns riam e outros choravam. Logo apareceu Mariana correndo, contente vindo ao seu encontro contando que finalmente a guerra tinha acabado. Com a batalha de Vittorio Veneto entre os dias 24 de outubro e 3 de novembro selou o destino da guerra. A Itália com ajuda dos aliados franceses e ingleses, haviam vencido os austríacos e os alemães. Foi criada a região com estatuto especial do Trentino Alto Adige, englobando todo o Trento e Bolzano, além de parte do Friuli, os quais passariam novamente a ser território italiano, depois de mais de cem anos de dominação austríaca. A partir de agora a cidade onde morava era italiana e não mais austríaca. Rodolfo sempre escrevia do hospital para os pais e irmãos, mas, nunca tinha recebido resposta e isso o deixava muito preocupado. Nessas cartas sempre falou da jovem enfermeira italiana que o cuidava no hospital e pela qual estava enamorado. Recuperado Rodolfo teve alta hospitalar, mas ainda precisava de curativos naquela perna ferida e não podia apoiar. Com ajuda de um par de muletas caminhava com desenvoltura pelo hospital. A relação dos dois jovens não dava para ser escondida por muito tempo, todas as colegas de Mariana já sabiam de tudo e que eles estavam namorando. Disse que gostaria muito de conhecer os pais de Mariana para pedi-la em casamento e na primeira oportunidade que ela pudesse tirar alguns dias de folga iriam juntos até lá. 

Continua
Trecho do conto "Da Trincheira ao Amor" de
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


terça-feira, 18 de julho de 2023

Da Trincheira ao Amor: A Vida de um Ex-Soldado Austríaco e sua Enfermeira Italiana parte 1





Rodolfo Stägar acabara de completar 19 anos, era um jovem militar, servindo a quase um ano no exército imperial austro-húngaro, quando eclodiu a I Grande Guerra Mundial em 29 de julho de 1914. No quartel, por suas excelentes aptidões físicas, tinha sido treinado para servir na infantaria de montanha, mas, logo foi transferido para uma nova brigada de caçadores de montanha, que em alemão se chama "Gebirgsjager". Naquele dia estava guarnecendo uma posição de artilharia leve localizada quase no alto do Monte Pasubio, a mais de dois mil metros de altitude. No início da madrugada seguinte, durante o seu turno de vigia naquele posto, seus pensamentos o transportaram rapidamente para a casa paterna, em um suceder de curtos flashes, recordando da sua vida com os seus familiares. Rodolfo tinha nascido em uma pequena propriedade rural de montanha, no interior montanhoso do atual município de Ortisei, da província de Bolzano, que naquela época já era chamada de St. Ulrich (Sankt = Santo) em idioma alemão e Urtijëi em ladino o modo de falar local, considerada a língua mais antiga do Tirol. Era filho de pai austríaco, de origem ladino, nascido naquele mesmo município, e de mãe italiana natural do "comune" de Cadore, na vizinha província de Belluno. Falava e escrevia perfeitamente nas três línguas, ensinado pela mãe e pelo avô e o alemão com todos de casa, mas, também na escola primária local. Tinha dois irmãos mais novos, Lukas e Sebastian, de 13 e 8 anos respectivamente. E duas irmãs mais velhas que ele, a primogênita chamada Emma, de 25 anos, já casada e mãe de dois filhos pequenos, morando com a família do marido Maximilian, em Santa Cristina Valgardena (Sankt Christina in Gröden), não muito distante da casa paterna. A outra irmã se chamava Erica e tinha 22 anos, ainda estava solteira e morava com os pais. Foi repentinamente desperto dos seus pensamentos pelo estrondo de tiros de canhão, disparados de uma posição italiana, em uma montanha bem distante, mas, que pelo barulho parecia ter sido bem mais perto. Os seus companheiros, dentro da gruta natural que servia de abrigo para todos, também acordaram assustados. Como Rodolfo, que a era o sentinela não soou o alarme, voltaram a dormir. Apesar de estarem em pleno verão, naquela altitude do Monte Pasubio onde se encontravam, a neve era eterna e o frio congelante, reforçado pelas fortes rajadas de vento. Para Rodolfo aquela temperatura fria não causava tanto desconforto, acostumado desde criança com o rigoroso clima da sua pequena cidade. Não tendo mais nada para fazer até o nascer do sol, a monotonia voltou a tomar conta do rapaz e seus pensamentos se voltaram novamente para a sua família. Lembrou que o seu pai Gustav, agora com 57 anos, também havia servido como recruta, por três longos anos, no exército imperial austríaco, tendo dado baixa com 22 anos, no posto de cabo, que em alemão se chamava Gefreiter. Como soldado já tinha servido em diversos postos militares na fronteira com o reino da Itália e foi justamente em uma cidade perto de um deles que conheceu a sua mãe Maddalena. Com três dias de dispensa, ele com outro amigo aventureiro aproveitaram para conhecer Cortina e estender o passeio até Auronzo, viajando na moto de Gustav, um apaixonado pela mecânica e pelos novos inventos que estavam surgindo naquele final de século. A motocicleta tinha sido inventada poucos anos antes, em 1885, pelo engenheiro alemão Daimler e se chamava de Reitwagen. Após visitarem Cortina, chegaram a Auronzo, em uma manhã de domingo, justamente no dia da feira anual de produtos agrícolas e exposição de animais. A pequena cidade estava em festa, repleta de agricultores e criadores, homens e mulheres de todas as idades, vestindo roupas típicas em carroças enfeitadas, vindos de quase todos os municípios vizinhos. Uma pequena banda musical se apresentava na praça alegrando a festividade. Católicos que eram, os dois amigos participaram da missa na igreja local antes de começarem a visitar a grande feira. Quando já estavam para retornar para estrada, Gustav foi golpeado pela beleza de uma jovem agricultora que, com a mãe e irmãs menores tomava conta de uma das tendas em exposição. Vendiam produtos por elas colhidos, trazidos da propriedade que os pais possuíam a várias gerações, situado em uma encosta montanhosa no interior do município. Alta, bonita, com suas belas roupas tradicionais de cor azul, com os cabelos loiros presos por uma tiara típica das moças da província de Belluno, formado por compridos prendedores prateados, unidos entre si, cada um deles terminando em sua ponta com uma pequena esfera. Arrumou uma maneira de conversar com ela e saber onde ela morava. Maddalena, sempre observada pela mãe, trocou mais algumas palavras com aquele belo estranho que, pelo sotaque e roupas que usava deveria ser austríaco. Gustav e o amigo, retornaram para o posto de fronteira onde serviam, mas, não conseguia pensar em outra coisa do que naquela bela italiana que tinha conhecido. Teria que se encontrar novamente com ela e a motocicleta seria a sua salvação. Depois de um ano aproximadamente, permeados por encontros, facilitados por colegas de farda naturais daquela parte de Belluno, Gustav finalmente se casou com Maddalena, a sua querida mãe. 

Rodolfo, absorto com seus pensamentos nem percebeu que a luz do sol já estava iluminando os picos nevados daquelas altas montanhas no horizonte. Acordou para a triste realidade da guerra e das novas notícias e ordens que chegaram pelo telégrafo. A sua brigada deveria avançar mais ao sul, em montanhas mais próximas do Monte Grappa, devido o exitoso avanço austríaco, ajudados pelos alemães, que levaram a ruptura da linha defensiva italiana em Caporetto. Os austríacos e alemães estavam vencendo a guerra e começavam a invadir com rapidez a Itália. O exército italiano em debandada recuou para posições defensivas em volta do Monte Grappa, com o Rio Piave intransponível. Transbordando e com forte correnteza devido à cheia, foi um forte aliado contra o avanço austríaco. Chovia muito forte durante dias. O tempo continuava excepcionalmente chuvoso deixando as estradas verdadeiros lodaçais, que dificultavam a passagem dos veículos e o avanço das tropas. O lado italiano também estava sendo defendido por tropas francesas e inglesas destacadas para socorrer a Itália. Desde o sul da península, extensas colunas de reforços chegavam para conter a penetração austríaca no território italiano. Com todos esses reforços que chegavam, os austríacos foram finalmente contidos próximos ao Monte Grappa, já nas margens do rio Piave. Uma terra de ninguém, bombardeada diariamente por ambos os lados em conflito, arrasaram inteiros municípios como, por exemplo, Pederobba, cuja população precisou ser rapidamente evacuada mais ao sul do país. Rodolfo sentiu os rigores de uma guerra. Mal alimentados, ensopados pela chuva que não parava de cair e com falta de roupas adequadas para o inverno que chegava, os soldados austríacos ocupavam qualquer monte ou posição mais elevada para assentar seus canhões, que sem paravam de disparar contra as posições italianas e de seus aliados. As tropas de infantaria de montanha, da qual pertencia, se entrincheiravam, preparando as suas armas, esperando a ordem de atacar. Estava em um refúgio escavado nas pedras no Monte Prassolan, com quase 1500 metros de altura. Estava muito próximo do fronte e o município de Alano di Piave estava logo abaixo. Em uma noite sem lua, Rodolfo e quatro outros seus companheiros de farda, receberam ordens para compor uma patrulha que desceria da posição em que estavam no Monte Prassolan em direção ao Monte Grappa, deslocando-se em terreno lamacento e com neve, tentariam coletar informações de alguma passagem onde as tropas austríacas poderiam avançar. A zona ao lado Grappa estava sendo defendida por tropas francesas e italianas. Depois de algumas horas de caminhada, um pouco antes do amanhecer, um dos companheiros de Rodolfo, que estava mais a frente, tropeçou em uma mina terrestre que na hora explodiu, matando-o instantaneamente. Nenhum dos outros quatro ficaram feridos, mas, o estrondo alertou algumas patrulhas francesas que rapidamente cercaram a área. De repente foi iniciado um confronto com tiros de ambos os lados. Uma pesada metralhadora francesa impedia a fuga, com suas poderosas rajadas que derrubam grossos galhos das árvores e gelo acumulado. Nesse embate dois outros amigos de Rodolfo morreram atingidos por fogo cruzado. Rodolfo e o seu amigo, escondidos atrás de árvores, estendidos contra o chão foram logo atingidos. Agora o amigo estava também morto e ele milagrosamente vivo, apesar de gravemente ferido, atingido por alguns tiros. A forte dor e a hemorragia que se seguiu ao ferimento, apagaram a consciência de Rodolfo que, desmaiado ficou ali estendido sobre a neve, até ser capturado pela patrulha francesa. Foi imediatamente transferido para um hospital de campanha na retaguarda. Ali foram feitos os primeiros atendimentos médicos para suportar as dores, infusão de soro para tratar o choque causado pela grande perda de sangue, estancar a hemorragia e os curativos para imobilizar os membros feridos. Pela gravidade do caso e pelo fato do prisioneiro ser um jovem muito forte, que teria boas chances de curar, foi rapidamente transportado de ambulância para um centro médico maior localizado em Padova, a cerca de 80 quilômetros.

Trecho do Conto "Da Trincheira ao Amor" de
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS








sexta-feira, 14 de julho de 2023

Lágrimas Além-Mar: A Dor que Fortalece Laços


 



Lágrimas Além-Mar: A Dor que Fortalece Laços




Era uma pequena vila à beira-mar, onde a vida fluía em harmonia. Maria, uma jovem cheia de sonhos e esperanças, vivia ali com sua família. Mas o destino reservava-lhe uma jornada além-mar, uma despedida que partiria corações. Em busca de oportunidades e um futuro melhor, Maria recebeu a notícia de que partiria em breve para um país distante. A notícia caiu como uma bomba em sua família, trazendo consigo a dor da despedida iminente.
As semanas se passaram rapidamente, e o dia da partida chegou. Lágrimas inundaram os olhos de todos, pois sabiam que aquele adeus era mais do que um simples afastamento geográfico. Era uma separação que testaria os laços de amor e união familiar.
No porto, a cena era de emoção intensa. Familiares e amigos se abraçavam, segurando as lágrimas que teimavam em cair. Maria, com um sorriso triste nos lábios, abraçou sua mãe e seu pai pela última vez. Era hora de seguir em frente, mas o coração ficaria para sempre com eles.
A viagem marítima era longa e árdua. Maria enfrentou dias e noites de incertezas, lutando contra a saudade que apertava seu peito. O mar revoltoso parecia ecoar a turbulência emocional de sua alma, enquanto ela se agarrava à esperança de um futuro promissor.
Ao chegar ao novo país, Maria se deparou com desafios e obstáculos que não esperava. A barreira da língua, a adaptação a uma cultura diferente e a saudade da terra natal eram apenas algumas das provações que ela enfrentava diariamente.
A dor da despedida tornou-se mais intensa a cada dia que passava. As memórias de sua infância e das pessoas que amava ecoavam em sua mente, trazendo à tona um turbilhão de emoções. A cada conquista alcançada, uma lágrima silenciosa escorria em seu rosto, lembrando-lhe daqueles que havia deixado para trás.
A saudade apertava o coração de Maria, mas sua determinação a impulsionava a seguir em frente. Ela conheceu novas pessoas, formou amizades e encontrou conforto na comunidade de imigrantes que compartilhavam a mesma dor. Juntos, eles eram um apoio mútuo, uma família distante que se unia na esperança de um futuro melhor.
Enquanto os anos se passavam, Maria mantinha contato com sua família através de cartas. As palavras escritas eram uma conexão vital, um elo de amor que transcendia as fronteiras. As lágrimas molhavam o papel enquanto ela compartilhava suas experiências e angústias com aqueles que a amavam.
A distância física podia separá-los, mas o amor e a saudade mantinham Maria ligada à sua terra natal. A dor da despedida nunca desapareceu completamente, mas ela aprendeu a transformá-la em força e determinação. Cada conquista era uma vitória sobre a saudade, uma prova de que, apesar da distância, os laços familiares eram indestrutíveis.
Passaram-se anos desde aquela despedida dolorosa, e Maria construiu uma nova vida no país distante. Ela se casou, teve filhos e formou sua própria família. No entanto, nunca esqueceu suas raízes, seus entes queridos que ficaram para trás.
Um dia, uma notícia inesperada chegou. Sua mãe estava doente, e seu coração se encheu de angústia. Maria decidiu que era hora de retornar à sua terra natal, de abraçar sua família novamente antes que fosse tarde demais.
O reencontro foi marcado por lágrimas de alegria e alívio. Maria abraçou sua mãe, sentindo o calor do amor materno que tanto sentira falta. Os anos de separação se desvaneceram em um instante, e tudo o que importava era o presente, o tempo que ainda tinham juntas.
A dor da despedida, agora transformada em felicidade reencontrada, serviu como um lembrete do valor precioso da família. Maria prometeu a si mesma nunca mais permitir que a distância os separasse tão cruelmente.
E assim, os laços familiares foram fortalecidos, e Maria encontrou na dor da despedida a força para valorizar cada momento ao lado de seus entes queridos. Ela se tornou uma testemunha viva da importância de abraçar aqueles que amamos, de expressar nosso amor enquanto temos a oportunidade.
O conto de Maria e sua dor da despedida ecoa nas mentes e corações dos leitores, lembrando-os da importância de cultivar os laços familiares, de superar as barreiras impostas pela distância e valorizar cada instante ao lado daqueles que amamos.


Conto de Gigi Scarsea
erechim rs








terça-feira, 11 de julho de 2023

Do Velho Mundo ao Novo Horizonte: A Emigração Italiana

 




No século XIX para emigrar os italianos precisavam alcançar os portos de embarque dos emigrantes em Gênova, Nápoles e Palermo. Alguns anos antes do início do grande êxodo, muitos italianos preferiam embarcar pelo porto francês de La Havre e também, depois do conflito mundial, pelo porto de Trieste. As rápidas melhorias no transporte ferroviário consentiram que por trem, vários portos em países europeus fossem mais facilmente alcançados, como, por exemplo, o porto francês de Le Havre, de onde no início era mais perto para os emigrantes das províncias do Norte embarcarem para os destinos americanos. O aumento número de partidas cresceu vertiginosamente a partir de 1875 até a véspera da Primeira Guerra Mundial e esse fenômeno é conhecido como "a grande emigração", no qual milhões de italianos deixaram o seu país natal em busca de trabalho e uma melhor vida em diversos países. Os destinos ultramarinos mais procurados pelos emigrantes italianos nesse período eram Brasil, Argentina e os Estados Unidos, países novos, que na ocasião, passavam por um notável desenvolvimento econômico e para suprir a falta de trabalhadores criaram mecanismos de incentivo para atração da mão de obra que na Itália estava sobrando. Ofereciam passagens gratuitas de navio e trens até o novo local de trabalho e em certos casos como no Brasil e na Argentina o emigrante poderia adquirir terras diretamente do governo em prestações anuais e um período variável de carência. Essa possibilidade de ser dono do pedaço de terra em que trabalhava, especialmente para os vênetos e lombardos, era um grande atrativo que vinha ao encontro do tão acalentado sonho daqueles pobres camponeses, acostumados por séculos a servir os senhores de terras e com eles dividir uma grande parte da colheita. Finalmente era a grande oportunidade de pôr um fim àquela situação de subserviência, de obedecer e calar sempre. No Brasil e na Argentina seriam donos de seus próprios destinos e não mais precisariam obedecer patrões. Era o que os agentes de viagens contratados para arregimentar mão de obra nas pequenas vilas e cidades narravam para o povo. Pobre ilusão, com exceção dos emigrantes que escolheram o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Em São Paulo e em outros estados, eles foram contratados como empregados, por proprietários de grandes fazendas de café, sem a possibilidade imediata de adquirir terras do governo. Nos próprios contratos de trabalho por eles firmados com os fazendeiros explicitava uma permanência mínima de quatro anos, sem direito à terra. Se conseguissem economizar até poderiam, após o vencimento do contrato, adquirir algum lote de terra, na periferia das pequenas cidades que surgiam próximas às grandes fazendas.
Após o fim do conflito mundial, a partir 1919/20 devido ao gradual fechamento das oportunidades nos Estados Unidos, houve uma renovação do êxodo em direção a destinos europeus, mas com um número reduzido de expatriados. Porém, as partidas para o Brasil e Argentina continuaram, sem os incentivos de financiamento pelos governos. No período que se seguiu a Segunda Guerra Mundial, as partidas para todos os destinos, sejam eles continentais ou intercontinentais, foram retomadas com um aumento significativo no número de emigrantes. A viagem, que ainda nos primeiros anos do século XIX poderia durar até um mês, era realizada em melhores condições do que no século anterior. Até o final do século XIX, os armadores italianos realizaram o transporte de emigrantes com uma frota obsoleta de veleiros no início e depois com lentos navios cargueiros a vapor, apressadamente adaptados para o transporte de seres humanos, para aproveitar o "boom" da emigração, aos quais a imprensa italiana da época denominava de "os navios de Lázaro" devido as inimagináveis condições de vida a bordo. Esses antigos navios alojavam os passageiros em número maior que a lei permitia, amontados em grandes salões onde as camas beliche eram todas localizadas na antiga estiva, nos porões dos navios, na maioria das vezes muito quentes e mal ventilados. Por falta de espaço eram obrigados a permanecer no convés durante uma grande parte do dia, sujeitos as variadas condições atmosféricas. Doenças pulmonares e intestinais eram frequentes e a mortalidade durante a travessia podia ser alta. No século XX os armadores italianos construíram diversos grandes navios de cruzeiro o que tornou as viagens muito mais rápidas e em condições de acomodações muito melhores. 
Ao chegarem à América os emigrantes tomaram contato com a dura realidade e de imediato perceberam que ela não era como haviam sonhado. As facilidades tão apregoadas pelos agentes de viagens, principalmente nos Estados Unidos, quando ainda no porto, tiveram que se submeter a pesadas formalidades burocráticas, com diversos exames médicos que rejeitavam a permanência para os portadores de doenças debilitantes. Aqueles que conseguiam passar no rigoroso exame médico eram tratados e negociados como animais em uma feira. Com o passar dos anos, com a finalidade de limitar o afluxo de novos imigrantes, as autoridades americanas promulgavam seguidamente uma série de medidas tornando mais rigorosas as inspeções de saúde durante a quarentena e mais tarde estabeleceram cotas anuais de entrada para cada nacionalidade. Tanto no Brasil como na Argentina, o exame médico e as normas governamentais de imigração não eram tão rígidas, mas, por outro lado, as condições de transporte, a necessidade de fazerem diversos transbordos para trens ou embarcações menores, até finalmente conseguirem chegar ao local pré-estabelecido pelas autoridades, geralmente localizadas em locais muito distantes, eram demoradas, difíceis e causavam muito sofrimento aos recém-chegados. 


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





terça-feira, 4 de julho de 2023

A Difícil Escolha de Deixar a Terra Natal: A emigração italiana do século XIX


 

No final do século XIX, milhares de famílias italianas, do norte ao sul do país, enfrentavam dificuldades econômicas e sociais em um país pobre e muito atrasado, que as levavam a considerar a emigração como uma opção para recomeçar a vida em um novo país. No entanto, a decisão de emigrar não era fácil e envolvia muitos preparativos e desafios.
Em primeiro lugar, as famílias precisavam decidir se a emigração era a melhor opção para elas. Em muitos casos, a decisão era tomada em conjunto com amigos e parentes que já haviam emigrado e que podiam fornecer informações e orientações sobre o processo. No entanto, mesmo com essas informações, a decisão de deixar para trás tudo o que era familiar e começar a vida em um país desconhecido era uma escolha bastante difícil e muitas vezes carregada de muita emoção.
Uma vez tomada a decisão de deixar o país, as famílias precisavam se preparar para a grande viagem, primeiramente vendendo suas casas, quando as tinham e os poucos pertences. Muitas vezes, os imigrantes precisavam vender tudo o que tinham somente para comprar os bilhetes para a viagem e outros, em melhor situação fazer um pequeno "gruzzolo" para começar a vida do zero em um novo país. Isso incluía a venda de casas, terras, animais, móveis e outros pertences que pudessem gerar algum dinheiro.
Depois, as famílias passavam a se despedir dos amigos e parentes, que não viajariam, o que também não era fácil. Quase sempre, as despedidas eram muito emotivas e envolviam lágrimas e abraços, pois, sabiam, pelo menos interiormente, que não as veriam mais. A ideia de deixar para trás aqueles que amavam e que haviam feito parte de suas vidas por tanto tempo era uma das partes mais difíceis do processo de emigração.
Depois de se despedir dos amigos, parentes e também do pároco local, para receber a sua benção e garantir as orações para o sucesso na nova pátria, as famílias precisavam se preparar para a viagem em si. Isso incluía a obtenção de passagens de navio, o que muitas vezes era difícil e caro, especialmente para famílias com poucos recursos financeiros. Precisavam obter junto a prefeitura da sua cidade o passaporte para todos os membros da família que deixariam o país. Também as famílias precisavam embalar suas roupas e pertences que levariam, em malas e sacolas, muitas vezes com o auxilio de parentes e amigos.
Sobre o novo país que estavam prestes a ir morar pouco sabiam dele, a não ser o que os agentes de viagem propagavam, quase sempre não a verdade e pelos relatos dos amigos e parentes já vivendo em outros países. Não tinham meios de como se preparar aprendendo a língua e os costumes do novo país. Tudo isso ficava sem respostas o que deixava muitos deles bastante preocupados. Mas, desesperação, a fome, a necessidade de conseguir um trabalho para sustentar a família, eram motivos mais mais fortes para simplesmente seguir a corrente e deixar o destino na mão de Deus. A maioria desses pobres imigrantes, por serem analfabetos, não conseguiam nem saber bem certo para onde estavam indo e o pesadelo que deveriam enfrentar. 
A emigração da Itália nas década finais do século XIX envolvia muitos preparativos e desafios para as famílias. Mesmo sabendo o que iriam encontrar, todas as dificuldades que teriam que passar, as famílias italianas decidiram emigrar em busca de uma vida melhor e contribuíram para a formação de novas comunidades e culturas ao redor do mundo. 
A emigração italiana no final do século XIX foi motivada por vários fatores, incluindo dificuldades econômicas, políticas e sociais na Itália, além da promessa de oportunidades e uma vida melhor em outros países. A América do Sul, incluindo principalmente os três estados do sul do Brasil - Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, foi um dos destinos mais populares durante muitos anos para os imigrantes italianos na época.
No Brasil, os imigrantes italianos encontraram muitas oportunidades para trabalhar em áreas como agricultura, comércio e construção. No entanto, a adaptação à nova vida não foi fácil e muitos imigrantes enfrentaram desafios, como o choque cultural, a falta de recursos básicos, como médicos e padres, o isolamento em colônias no sul do Brasil, localizadas muito longe de cidades, em regiões de mata virgem.
Passado os primeiros anos no novo país, para lidar com esses desafios, aos poucos os imigrantes italianos foram se unindo em comunidades e associações de mútuo socorro, formando redes de apoio para ajudar uns aos outros, para manter sua cultura e tradições vivas. Essas comunidades italianas no sul do Brasil passaram a ser conhecidas por suas festas, comidas, danças e celebrações, que se tornaram uma parte importante da cultura de centenas de municípios por todo o Brasil.
Os imigrantes italianos também contribuíram para o desenvolvimento econômico da região onde estavam assentados, criando vilas, ricas cidades com a introdução de novas técnicas agrícolas e de produção, bem como habilidades em artesanato, comércio e outras áreas. Muitos italianos também se tornaram líderes em suas comunidades, ajudando a estabelecer escolas, igrejas e outras instituições.
Hoje, a influência da imigração italiana pode ser vista em todas as regiões do Brasil onde se estabeleceram, desde a arquitetura até a culinária e a música. As comunidades italianas continuam a manter suas tradições e celebrações vivas, e muitos descendentes de imigrantes italianos ainda se identificam com suas raízes e cultura.
A imigração italiana no Brasil no final do século XIX foi um importante capítulo da história do país. As famílias que emigraram enfrentaram muitos desafios e dificuldades, mas também encontraram oportunidades e novas comunidades. Sua contribuição para o desenvolvimento econômico e cultural das regiões onde viveram é um legado que ainda é sentido hoje.

Texto
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS








sexta-feira, 23 de junho de 2023

De Pederobba ao Brasil: A História Prodigiosa da Emigração Italiana e a Construção de um Novo Lar

 

Vista desde a colina San Sebastiano


No final do século XIX e início do século XX, a Itália era um país marcado pela pobreza, pela fome e pela instabilidade econômica. A população rural era particularmente afetada pela falta de recursos e pelo difícil acesso à terra e aos meios de produção. Foi nesse contexto que muitos italianos, incluindo aqueles de Pederobba, começaram a emigrar definitivamente para outros países, em busca de uma vida melhor.
A emigração de Pederobba para o Brasil foi impulsionada pela falta de oportunidades econômicas e pela crise agrícola que afetava a região. Na sua maioria esses emigrantes eram camponeses, ou moradores na pequena vila, que trabalhavam como empregados diaristas para algum proprietário de terras, buscando melhores condições de vida e trabalho em outros lugares. A emigração para o Brasil foi incentivada por agências de recrutamento que prometiam trabalho e terra para os italianos que se aventuravam a cruzar o oceano.
A travessia para o Brasil era longa e perigosa, e muitos emigrantes enfrentaram condições precárias durante a travessia do Atlântico. Viajavam em navios superlotados e insalubres, onde as condições de higiene eram ruins e as doenças que surgissem se espalhavam rapidamente. A viagem podia durar semanas, e muitos emigrantes morriam devido à deficiência alimentar, à sede e às doenças a bordo.
Ao chegar ao Brasil, os emigrantes enfrentavam novos desafios. Não falavam português, somente o seu tradicional dialeto vêneto, marcadamente da direita do Piave e poucos tinham experiência na vida urbana, o que dificultava a adaptação ao novo ambiente. Além disso, as condições de vida nos centros urbanos eram precárias, com moradias superlotadas, falta de saneamento básico e doenças endêmicas, como a febre-amarela e a varíola.
No entanto, apesar das dificuldades, muitos emigrantes de Pederobba conseguiram se estabelecer no Brasil e construir uma nova vida para si e para suas famílias. Muitos se dedicaram à agricultura, trabalhando em fazendas e plantações em diferentes regiões do país. Outros se dedicaram ao comércio e à indústria, estabelecendo pequenos negócios e fábricas em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba entre outras.
Com o tempo, os imigrantes italianos, incluindo aqueles de Pederobba, foram se integrando à sociedade brasileira e contribuindo para o desenvolvimento do país. Eles trouxeram consigo suas tradições culturais, incluindo a culinária, a música e as festas, que hoje são uma parte importante da identidade cultural brasileira. A presença dos descendentes de italianos no Brasil é um testemunho da importância da imigração na história do país e do papel vital que os imigrantes desempenharam na construção do Brasil moderno.
Atualmente, a cidade de Pederobba é uma cidade com cerca de 5.000 habitantes e está localizada na região do Vêneto, na província de Treviso. Embora seja uma cidade pequena, Pederobba tem uma rica história e cultura, que reflete a herança dos imigrantes italianos que deixaram a cidade no final do século XIX e início do século XX em busca de novas oportunidades no Brasil. Ela tem desde 2003 um programa de cidades-irmãs chamado em italiano de gemellaggio com o município gaúcho de Jacutinga e a mais de 40 anos com a cidade de Hettange-Grande na França.
A emigração de Pederobba para o Brasil foi apenas uma parte de um fenômeno maior de emigração italiana para o exterior. Entre 1876 e 1976, estima-se que mais de 26 milhões de italianos tenham deixado o país em busca de uma vida melhor em outros lugares. A maioria dos emigrantes italianos se dirigiu para os Estados Unidos, Argentina e Brasil, mas muitos também foram para a Austrália, Canadá e outros países da América Latina e Europa.
A emigração italiana para o Brasil foi particularmente significativa durante as últimas décadas do século XIX e as primeiras décadas do século XX, com um hiato no período de 1914 a 1918 devido o conflito mundial. Estima-se que entre 1880 e 1930, cerca de 1,5 milhão de italianos tenham deixado o país em direção ao Brasil. A maioria dos emigrantes era de origem rural e se estabeleceu em regiões agrícolas do país, como o Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul.
No Paraná, os imigrantes italianos foram inicialmente assentados em colônias no litoral paranaense próximas a Paranaguá e depois se estabeleceram por conta própria em cidades como Curitiba, Piraquara, Colombo e São José dos Pinhais. Eles contribuíram para o desenvolvimento da agricultura e da indústria na região, e sua presença deixou uma marca indelével na cultura e na identidade do estado.
Atualmente, os descendentes de imigrantes italianos no Brasil formam uma grande comunidade, com uma forte presença em cidades como São Paulo, Vitória, Curitiba e Porto Alegre. Eles mantêm vivas as tradições e a cultura de seus antepassados, incluindo a culinária, a música e as festas, sendo reconhecidos como uma parte importante da diversidade cultural do país.
A emigração de Pederobba para o Brasil no final do século XIX e início do século XX foi um exemplo de como a falta de oportunidades econômicas e as condições de vida precárias podem levar as pessoas a buscar uma vida melhor em outros lugares. Embora os emigrantes italianos tenham enfrentado muitos desafios e perigos durante a viagem e a adaptação ao novo ambiente, eles conseguiram construir uma nova vida para si e para suas famílias no Brasil. A presença dos descendentes de imigrantes italianos no país é um testemunho da importância da imigração na história do Brasil e do papel vital que os imigrantes desempenharam na construção do país moderno.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





sexta-feira, 30 de março de 2018

Pergunta de Uma Emigrante Italiana




“Quando em uma família alguém é obrigado a sair de casa ou mandado para longe, aqueles que ficaram se perguntam: 

Porquê? Como foi possível acontecer? ...

Se ficam indiferentes, quer dizer que não se trata de uma verdadeira família. É só um grupo de pessoas que estão vizinhas.

Partimos em milhões da península e ainda esperamos que as pessoas se perguntem: 

Como foi possível acontecer?...

São mais de cem anos que - nós emigrados – esperamos que a Itália se comporte como uma verdadeira família...”.

Uma emigrada



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS