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quinta-feira, 10 de agosto de 2023

De Rovigo a Província de São Paulo: A História de uma Família de Emigrantes Italianos - parte 3





A Vida em Mogi Mirim

Domenico finalmente acabou adquirindo seu tão sonhado lote de terra, a sua primeira propriedade na vida, uma chácara bem grande na periferia da cidade de Mogi Mirim. Tiveram muita sorte em encontrar aquele grande terreno, com uma ótima casa ainda nova encima. Na verdade, foi Giuseppina quem primeiro viu a oportunidade de negócio, fazendo amizade com a dona do imóvel, quando em uma de suas visitas semanais a cidade para negociar seus produtos. A velha senhora foi uma de suas primeiras freguesas e sempre comprava alguma coisa. Ficava tempo conversando com ela e daí nasceu uma amizade onde a velha senhora tinha uma afeição especial por Pina. Assim, ficou sabendo que ela era viúva de pouco tempo, seu marido, um comerciante, tinha morrido inesperadamente do coração, segundo o médico. Eles tinham somente um filho vivo no Brasil, um rapaz na casa de dezoito anos que sofria de paralisia cerebral, devido sequelas de traumatismo no parto. Tinham duas outras filhas, mais velhas e ambas casadas. Uma delas, Maria Augusta a primogênita, que também tinha vindo com eles para o Brasil, casou ainda bem nova com um conterrâneo da Calábria e depois de dois anos retornaram para a Itália para, pouco tempo depois, emigrarem novamente, desta vez para a França. Maria Augusta acompanhou o marido, depois deste ter recebido vários chamados de parentes que lá já estavam radicados. Amargurada disse que recebia poucas notícias dela e quase nada mais sabia dos netos. A outra filha, Chiara a segunda na ordem de nascimento, também veio pequena da Itália, se casou no Brasil com um jovem italiano de Verona, na região do Vêneto e logo retornaram para a Itália, passando a morar no município de Thiene, na província de Vicenza, onde seu marido tinha alguns parentes e encontrado um ótimo emprego em uma fábrica. Nenhuma das duas tinha mais interesse em retornar para o Brasil e ela sozinha, com o filho inválido, resolveu também voltar para a Itália, e ir viver com a filha Chiara. Esta era a razão dela estar vendendo a baixo preço a sua querida chácara. Na verdade, foi um negócio de ocasião que a perspicaz Pina soube aproveitar. As inúmeras viagens para negociar seus produtos, as conversas com as suas freguesas, deu à Pina a oportunidade de fazer aflorar um aguçado tino comercial. Os irmãos de Domenico, a mãe Luigia e o tio Giovanni Battista, com suas famílias também deixaram a fazenda e seguiram os mesmos passos, adquirindo lotes de terras na mesma cidade de Mogi que estava crescendo bastante. Somente o tio Francesco resolveu migrar para o Paraná, adquirindo um lote de terra na periferia de Curitiba, pois a sua mulher não suportava mais a vida difícil e de isolamento que levavam no interior de São Paulo. Com o tempo ele e os filhos progrediram bastante abrindo uma grande rede de restaurantes.
Domenico e Giuseppina começaram a plantar todo o tipo de hortaliças, auxiliados pelos filhos e pela mãe de Domenico que morava bem perto deles. Luigia, ainda era uma mulher bem forte para a sua idade, não refugava trabalho, auxiliando Pina na venda dos produtos. O irmão mais novo, muito esperto e hábil nas contas, conseguiu um emprego em um comércio local e estava indo muito bem, pois, apesar da idade já tinha o cargo de gerente e já estava pensando em se casar. Todos os nove filhos foram para escola municipal e as duas garotas mais velhas logo também começaram a trabalhar fora, como funcionárias de uma pequena fábrica.
Com o passar do tempo Domenico e Pina conseguiram fazer uma pequena fortuna e gradualmente foram colocando os nove filhos. Abriram uma casa de comércio em prédio próprio, no centro da cidade, onde se vendia de tudo. Nela trabalhavam todos os seus filhos, que se mostraram muito hábeis negociantes. Em anos posteriores, com o crescimento acelerado de Mogi e algumas cidades vizinhas, como Pirassununga, Piracicaba, Campinas, Rio Claro e Limeira, entre outras, Domenico e Pina expandiram os negócios abrindo novas filiais, sempre sob a gerência de um dos filhos. Agora  tinham em suas mãos um verdadeiro império, que englobava diversos ramos de atividades comerciais, desde lojas de departamentos até grandes supermercados, coisa inimaginável quando deixaram a decadente Itália.


Trecho do Conto "A História de uma Família de Emigrantes Italianos" de 
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


terça-feira, 8 de agosto de 2023

Uma Reflexão sobre a Imigração Italiana no Sul do Brasil: Perspectivas e Desafios

Porto Alegre em 1878


A imigração italiana teve um impacto bastante significativo nos estados do sul do Brasil: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Essa onda migratória teve início em meados do século XIX, quando a Itália passava por um período de intensa crise econômica e social. O Brasil, por sua vez, oferecia a possibilidade de uma nova vida, com terras férteis e oportunidades de trabalho. Ao longo dos anos, os italianos se estabeleceram nos três estados e contribuíram para a formação de suas culturas e economias.

No Rio Grande do Sul, os italianos se concentraram principalmente nas regiões de Caxias do Sul e Bento Gonçalves. Eles se dedicaram principalmente à viticultura e à produção de vinhos, além da produção de alimentos em geral. A cultura italiana é muito presente nessas cidades, com influências na gastronomia, na arquitetura e nas tradições locais. A região também é conhecida por suas festas típicas, como a Festa da Uva em Caxias do Sul, que celebra a colheita da uva e a cultura italiana.


Desterro atual Florianópolis




Santa Catarina, por sua vez, recebeu muitos italianos nas cidades de Nova Veneza, Criciúma e São João do Oeste, entre outras. Eles se dedicaram principalmente à agricultura, especialmente ao cultivo de arroz e fumo. Além disso, muitos italianos trabalharam em minas de carvão na região de Criciúma. A influência da cultura italiana é evidente em Nova Veneza, que foi fundada por imigrantes italianos e preserva até hoje muitas tradições, como a gastronomia típica e a arquitetura com influências italianas.


Coritiba em 1855




No Paraná, os italianos se estabeleceram principalmente na região de Curitiba e em cidades próximas, como Colombo e São José dos Pinhais. Eles trabalharam principalmente na agricultura, especialmente no cultivo de café e erva-mate. A cultura italiana também é presente na região, com a celebração de festas típicas, como a Festa da Polenta em Santa Felicidade, que celebra a gastronomia típica italiana.

Além de suas contribuições econômicas, os italianos também tiveram um impacto significativo na cultura e na sociedade dos três estados. Eles trouxeram consigo suas tradições, como a culinária, a música e a dança, que se mesclaram com as culturas locais, criando uma rica diversidade cultural. Além disso, muitos italianos se estabeleceram em áreas rurais e ajudaram a colonizar essas regiões, contribuindo para o desenvolvimento da agricultura e da produção de alimentos.

No entanto, a imigração italiana também teve seus desafios. Os imigrantes muitas vezes enfrentavam dificuldades financeiras e sociais ao chegar ao Brasil, tendo que trabalhar duro para sobreviver e se estabelecer. Além disso, a língua e a cultura eram diferentes das dos brasileiros, o que muitas vezes levava a conflitos e preconceito. No entanto, ao longo do tempo, os italianos se integraram à sociedade brasileira e contribuíram para a diversidade cultural do país.

Outro desafio enfrentado pelos imigrantes italianos foi a adaptação ao clima e às condições de trabalho no Brasil. Muitos deles não estavam acostumados ao clima tropical e tiveram que se adaptar às novas condições de trabalho. Além disso, a falta de infraestrutura nas áreas rurais onde se estabeleceram também foi um desafio. No entanto, com o tempo, os italianos aprenderam a lidar com essas dificuldades e a aproveitar as oportunidades que o Brasil oferecia.

A imigração italiana também teve um impacto duradouro na economia dos três estados. Os imigrantes ajudaram a desenvolver a agricultura e a produção de alimentos, o que se tornou uma das principais fontes de renda dessas regiões. Além disso, muitos italianos se envolveram na produção de vinhos, que hoje é uma indústria importante no sul do Brasil. A cultura italiana também se tornou um importante atrativo turístico, com muitos visitantes vindo de todo o país para conhecer as tradições e a gastronomia italiana.

Em resumo, a imigração italiana teve um impacto significativo nos estados do sul do Brasil. Os imigrantes ajudaram a desenvolver a economia, a cultura e a sociedade dessas regiões, contribuindo para a diversidade cultural do país. Embora tenham enfrentado muitos desafios ao chegar ao Brasil, os italianos se adaptaram e se integraram à sociedade brasileira, deixando um legado duradouro para as gerações futuras.

No entanto, é importante reconhecer que a imigração italiana também teve um impacto negativo em algumas áreas. Os italianos, assim como outros grupos de imigrantes, muitas vezes foram vítimas de exploração e discriminação por parte dos empregadores e da sociedade em geral. Além disso, a chegada de grandes quantidades de imigrantes também teve um impacto na terra e no meio ambiente, com muitas áreas rurais sendo desmatadas e exploradas para fins agrícolas.

Hoje, muitos descendentes de italianos ainda vivem nos estados do sul do Brasil e mantêm vivas as tradições de seus antepassados. A culinária italiana, por exemplo, é uma das mais apreciadas e influentes do país, com muitos pratos típicos sendo encontrados em restaurantes e festivais de comida em todo o Brasil. Além disso, muitas cidades e regiões continuam a celebrar as tradições italianas, com festas e eventos que atraem turistas de todo o país.

Em conclusão, a imigração italiana teve um impacto significativo nos estados do sul do Brasil, ajudando a moldar a cultura, a economia e a sociedade dessas regiões. Embora os imigrantes tenham enfrentado muitos desafios ao chegar ao Brasil, eles se adaptaram e se integraram à sociedade brasileira, deixando um legado duradouro para as gerações futuras. Hoje, a cultura italiana é uma parte importante da identidade do sul do Brasil e um exemplo do poder e da riqueza que a imigração pode trazer para um país.


Texto
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS



segunda-feira, 7 de agosto de 2023

A Emigração Vêneta para o Brasil: Um Capítulo Emocionante da História da Imigração Italiana


 

Durante os últimos 25 anos do século XIX e início do XX, houve uma significativa imigração de pessoas vindas da região do Vêneto para o Brasil. Isso fez parte de uma grande onda de emigração para o nosso país vinda da Europa, que incluiu muitos italianos. A emigração italiana para o Brasil e de outros países europeus deixou um impacto duradouro na cultura e na demografia brasileira. Hoje, ainda existem comunidades no Brasil que falam um dialeto com grande carga da língua vêneta, chamado Talian, criado aqui mesmo pelos imigrantes italianos que chegaram ao Rio Grande do Sul. Quando as primeiras levas de colonos começaram a povoar as colônias localizadas na Serra Gaúcha, a Itália como conhecemos atualmente, só existia há apenas nove anos, ainda um país muito jovem, sem uma consciência nacional, um reino que ainda não sabia o que era ser uma nação. Com a unificação foi criado o país chamado Itália e agora era necessário criar os italianos. Poucos sabiam falar em italiano, a língua oficial do recém criado país, moldada sobre a estrutura do dialeto toscano, o mais erudito de então, com variada literatura e conhecidos escritores florentinos como Petrarca, Dante Alighieri e Boccaggio. O povo, do país Itália, no entanto, falava somente os seus inúmeros dialetos, característicos das suas regiões e muitas vezes até diferentes dentro de algumas delas. Os imigrantes vênetos e de outras partes do norte italiano, falavam dialetos algumas vezes incompreensíveis entre eles sendo preciso criar uma língua, o Talian, para se comunicar entre si nas remotas e isoladas colônias do Rio Grande do Sul. Os casamentos entre imigrantes italianos de regiões diferentes criava situações embaraçosas dentro da própria casa. Com a criação e uso do Talian esses problemas desapareceram. 

A emigração dos vênetos em direção ao Brasil, no final do século XIX, fez parte de uma grande onda de imigração italiana para o nosso país. A primeira onda de emigração italiana ocorreu em decorrência a uma crise agrícola, o que levou mais de cinco milhões de pessoas, principalmente do norte da Itália, a emigrar para outros países europeus e para a América Latina. Pobreza, falta de emprego e de renda foram os principais motivos que estimularam italianos do norte e do sul a emigrar. Os vênetos foram os primeiros a deixar a Itália, cerca de 30% do total, seguidos por habitantes da Campânia, Calábria e Lombardia. A imigração italiana para o Brasil foi muito importante para o desenvolvimento econômico e cultural da região. As condições econômicas no Vêneto na época da emigração foram afetadas por uma crise agrícola que levou mais de cinco milhões de pessoas, principalmente do norte da Itália, a emigrar para outros países europeus e para a América Latina. Segundo os resultados de várias pesquisas, os principais motivos que levaram os vênetos a emigrar para o Brasil foram a pobreza, a exclusão das classes rurais, a fome e o desejo de possuir terras, o chamado "sonho da propriedade" profundamente arraigado há muitos anos na mente dos pobres trabalhadores rurais vênetos. O sonho da propriedade influenciou os pequenos agricultores do Vêneto na decisão de empreenderem a grande emigração para o Brasil, pois eram pequenos proprietários, locatários, meeiros e trabalhadores rurais diaristas que buscavam melhores oportunidades. No Brasil, desde a chegada, eles podiam adquirir títulos de propriedade e se tornar donos de seus próprios lotes de terra, o que não era possível na Itália. Esse sonho de propriedade foi um poderoso motivador para os camponeses vênetos emigrarem para o Brasil. Além disso, o governo brasileiro começava a implementar políticas de incentivo à agricultura familiar, o que ajudou pequenos agricultores a adquirir terras e se tornarem autossuficientes. 

Conforme pesquisas e trabalhos já publicados, a região do Vêneto, na época da Sereníssima República, experimentou um declínio na prosperidade a partir do final do século XVI. Durante o Renascimento, Veneza tornou-se uma rica nação comercial, o que permitiu o florescimento das artes. O dinheiro em Veneza consistia principalmente em ouro ou prata, e a economia dependia fortemente do fluxo desses metais. Veneza teve que desenvolver um sistema altamente flexível de moedas e taxas de câmbio entre moedas compostas de prata e ouro para preservar e aprimorar seu papel como plataforma giratória do comércio internacional. O comércio de trigo e painço também era importante para a riqueza do patriciado. No século XIX, o comércio veneziano foi regulado pelos conquistadores da cidade, primeiro a Áustria, depois a Itália. A grande emigração do final do século XIX foi o ápice de um processo que se iniciou muitos anos antes resultado de vários fatores importantes, incluindo as estruturas econômicas e sociais da América do Sul. Muitos italianos fugiram das perseguições políticas na Itália lideradas pelo governo imperial austríaco após os primeiros fracassos da unificação. Os imigrantes europeus brancos e de religião católica foram pensados pelas autoridades imperiais para "melhorar" o "choque étnico" no Brasil, ou conforme se pode ler em alguns documentos do período: para o branqueamento do país. Os alemães foram a primeira opção, especialmente por terem experiência militar. Pelo fato deles não se integrarem muito bem nas comunidades onde foram assentados, refratários a miscigenação, persistindo em manter a sua língua, religião e costumes, o governo imperial deu preferência aos imigrantes italianos. O desejo de possuir terras foi um fator significativo na migração de emigrantes rurais do norte da Itália. Os vênetos foram os primeiros a emigrar da Itália, cerca de 30% do total dos emigrantes, seguidos por aqueles da Campânia, Calábria e Lombardia. 

A primeira grande migração da história moderna foi a italiana, começando com pessoas da região do Vêneto em 1875, quando começaram a deixar a Itália e se estabelecer na Argentina, EUA, mas acima de tudo no Brasil. Os italianos foram viver em colônias relativamente bem desenvolvidas no sul do Brasil, mas no sudeste, eles viviam em condições de semiescravidão nas grandes plantações de café. Não há informações específicas disponíveis sobre as condições econômicas do Vêneto que levaram à emigração para o Brasil, com certeza uma pobreza em crescimento e falta de postos de trabalho para todos. No entanto, sabe-se que a região do Vêneto forneceu a maior cota de emigrantes para o Brasil, seguida pela Campânia. Os imigrantes vênetos trouxeram suas mudas de parreiras para o Brasil e plantaram grandes vinhedos, cultivaram milho, trigo, frutas e legumes, moldando o terreno acidentado em áreas de terra cultivada. As comunidades que falam Talian ainda existem no Brasil e representam uma parte importante da herança cultural italiana no país. A imigração italiana para o Brasil, incluindo a emigração vêneta do século XIX, teve um impacto duradouro na cultura e na demografia brasileira. A imigração italiana para o sul do Brasil foi especialmente importante para o desenvolvimento econômico e cultural dos três estados da região. Os imigrantes transformaram o sul do Brasil de uma área de colonização em uma das regiões mais ricas e desenvolvidas do país. Por outro lado, muitos imigrantes italianos, também entre eles muitas famílias vênetas, que se estabeleceram em fazendas de café no sudeste do Brasil viveram em condições semi-escravas pelo fato de não terem acesso à propriedade: continuaram aqui no Brasil sujeitos a um patrão que dirigia as suas vidas. Para sair dessa situação, para poderem deixar as fazendas precisavam primeiro cumprir os quatro anos de trabalho, obrigatório por contrato e saldar todas as dívidas que tinham contraído com os donos das terras, desde a viagem para o Brasil, assim como as outras possíveis despesas custeadas pelo patrão ao longo do período de permanência na fazenda. 

Embora não haja informações específicas disponíveis sobre as condições econômicas no Vêneto que levaram à emigração para o Brasil, é sabido que a região de Veneto forneceu a maior cota de emigrantes para o Brasil, seguida por Campania. Os motivos principais que estimularam a emigração foram a pobreza, a falta de emprego e a renda insuficiente. 

Hoje em dia, a região de Vêneto continua a ser uma terra de emigração como no passado, se bem que muito diferente, desta vez são os cérebros mais privilegiados, os profissionais mais bem formados que procuram colocação de trabalho em outros países. O Vêneto hoje é uma terra de imigração, recebendo a cada ano milhares de trabalhadores de outras regiões do país e principalmente do exterior, que buscam, no seu grande parque fabril, uma oportunidade de trabalho. Muitos habitantes do Vêneto emigraram para construir novas vidas em outros lugares devido à pobreza e falta de perspectivas de futuro antes das melhorias econômicas que aconteceram na região a partir dos anos 60 do século XX. Os imigrantes vênetos do século anterior deixaram sua marca no Brasil e ainda são lembrados por sua grande contribuição à cultura e ao desenvolvimento econômico do país.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

    


sábado, 5 de agosto de 2023

Trecho da Carta do Imigrante Italiano Giuseppe Gelain: Breve Relato de Uma Jornada Épica

 




Trechos da Carta do 

Imigrante Italiano Giuseppe Gelain

 

Nascido no "comune" de Cittadella, província de Padova na região do Vêneto. No ano de 1868, junto com a sua família, emigrou para o Brasil, então com vinte anos de idade. Giuseppe Gelain foi autor de um livro "Uma memória real dos começos das colônias italianas". Segue um trecho:


"Nesse período de 1884 e depois, todos na vila falavam da América, e naquelas localidades onde éramos residentes, alguém já começou a se mudar para a América, principalmente para a Argentina. Notícias chegavam à Itália que parecia que a América era a terra do Gênesis, que estava escaldante e mel.

Então o Santo [meu tio] partiu para a América, ele, a mulher e as duas filhas pequenas vieram aqui para o Brasil. Quando as cartas dele chegaram parecia que a América era a terra do ouro [...] eu fui embora, com meus papéis. 

Fazendo minha viagem em 20 dias, chegamos no porto de Santos e assim que chegamos pedi para ser transferido para o Rio Grande do Sul. 

Enfim, depois de 70 dias de descanso na emigração e chegamos a Porto Alegre, no dia 13 de maio, dia da deliberação dos escravos que foi em 1888. 

O avô e o tio Giovanni que estavam na Itália disseram que estamos voltando para nossa terra natal [...] Mas os dois irmãos, tio Prosdocimo e meu pai Vittore disseram: Já estamos aqui, voltarei novamente para minha família, com o tempo pode ser.... Vamos ficar aqui! A plantação de painço, trigo e vários cereais já haviam começado, e eles eram muito bonitos, e renunciaram às ofertas paternas e fraternas. 

Mas tia Lúcia e eu queríamos voltar para casa ... E costumava dizer: “Se eu encontrasse Cristóvão Colombo o mataria, por ter descoberto a América, essas regiões inóspitas, são lugares de selvagens e não de nós que fazemos parte da fina flor da bela pátria italiana”. 

Tia Lúcia também trabalhou muito e meu coração se comoveu, e eu disse: "Querida tia, fiquemos, fiat voluntas tua, a vontade de Deus nosso Pai que estás nos céus". 

E já começamos a fazer grandes plantações de colheitas, painço e plantamos a nossa vinha, e já começamos a ter um pouco de crédito, e vamos, pouco a pouco, habituando, mas sempre no nosso coração a pátria Natal.



sexta-feira, 4 de agosto de 2023

A Chegada dos Italianos: Como Foi a Jornada dos Imigrantes Italianos até o Brasil

 



A jornada dos imigrantes italianos até o Brasil era longa e difícil, geralmente levando semanas e em muitos casos até dois meses. Viajavam em velhos navios superlotados, com poucas condições de higiene e conforto. A comida a bordo dos navios geralmente era escassa e muitas vezes de má qualidade, o que levava muitos imigrantes a sofrerem de doenças. Muitos deles também sofriam de enjoo e outros problemas de saúde devido às más condições das acomodações disponíveis a bordo. 
Por outro lado, a viagem para o Brasil também era cara, para aqueles que não tinham nada, o que significava que muitos imigrantes tiveram que economizar durante muito tempo para pagar pela passagem, no entanto, outros puderam aproveitar o período em que o governo imperial concedia viagem com passagens grátis para aquelas famílias que quisessem vir trabalhar no Brasil. 
A chegada ao Brasil muitas vezes era caótica, com muitos imigrantes desembarcando no porto sem saber bem para onde ir. Em muitos lugares os imigrantes italianos às vezes enfrentavam discriminação e preconceito devido à sua origem, à cor da pele, como os meridionais, que eram mais morenos, à pobreza estampada em seus rostos, o que raramente acontecia em nosso país. 
A língua também era uma barreira para muitos imigrantes, que tinham que aprender o português para se comunicar e se adaptar à vida no Brasil. Aqueles que foram para o Rio Grande do Sul chegaram até a criar uma língua, chamada talian, para se comunicar entre eles, pois naquela época a grande maioria não falava o italiano e sim os vários dialetos das regiões de onde provinham. Quando chegaram no sul do país a Itália como nação só existia a menos de 10 anos e grande maioria dos imigrantes desconhecia a língua oficial do país.
Muitos italianos enfrentaram dificuldades no trabalho no Brasil, especialmente nas áreas rurais. No entanto, a maioria deles acabou encontrando trabalho nas plantações de café e pequenas fábricas, como no setor têxtil. 
Os italianos também enfrentaram desafios ao estabelecerem suas próprias comunidades no Brasil, incluindo a falta de infraestrutura e a discriminação por parte de outros grupos étnicos. As primeiras comunidades italianas no Brasil foram formadas na década de 1870, principalmente em São Paulo. 
Essas comunidades italianas no Brasil muitas vezes eram formadas por imigrantes de uma mesma região da Itália, que mantinham suas próprias tradições, costumes e especialmente o seu dialeto. Muitas também se dedicaram à preservação de sua cultura e tradições, incluindo a culinária e as festas religiosas que colaborou para os imigrantes se adaptarem mais rapidamente à vida no país e a superarem os desafios que enfrentavam. 
A presença italiana no Brasil é evidente em muitas áreas, incluindo a arquitetura, a culinária, a música e a arte. O modo de se alimentar italiano se tornou popular em todo o Brasil, com pratos famosos como pizza, pasta, risoto e lasanha se tornando parte da culinária brasileira. A música italiana também teve um impacto significativo no Brasil, especialmente na música popular brasileira. A arte italiana , influenciou os movimentos artísticos no Brasil, com muitas obras de arte italianas sendo expostas em museus e galerias de arte em todo o país. 
A chegada dos imigrantes italianos ao Brasil também teve um impacto na economia do país, especialmente na indústria têxtil, na produção de café e no comércio em geral. Os imigrantes italianos trouxeram habilidades e conhecimentos que ajudaram a desenvolver a indústria, a produção de café e a criação de negócios comerciais, pois muitos deles eram hábeis artesãos e iniciaram negócios próprios. A indústria têxtil foi uma das principais áreas em que os imigrantes italianos se destacaram no Brasil, trazendo suas habilidades de tecelagem e costura. 
A presença italiana no Brasil também teve um impacto na política, com muitos imigrantes italianos se envolvendo em movimentos políticos e sindicais. Muitos italianos se uniram a sindicatos para lutar por melhores condições de trabalho e direitos trabalhistas, esses trabalhadores geralmente eram provenientes do centro da Itália, regiões mais industrializadas daquele país, e que tinham experiência com esses movimentos trabalhistas. Alguns imigrantes italianos também se envolveram em movimentos políticos de esquerda, incluindo o Partido Comunista Brasileiro. 
A presença italiana no Brasil também foi marcada por conflitos e tensões, incluindo a participação de muitos italianos em movimentos fascistas em São Paulo e nos estados do sul do Brasil. Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos imigrantes italianos foram presos e até deportados do Brasil devido à sua associação com o regime fascista. 
No entanto, a maioria dos imigrantes italianos no Brasil eram trabalhadores honestos e dedicados que contribuíram significativamente para o país. 
A história da imigração italiana no Brasil é uma parte importante da história do país, marcada por desafios, oportunidades e contribuições significativas para a cultura, economia e política brasileiras.



quinta-feira, 3 de agosto de 2023

O Leão Alado de Veneza: Símbolo Histórico e Cultural da Cidade


 

O Leão de San Marco é um dos símbolos mais emblemáticos de Veneza, e pode ser encontrado em diversas partes da cidade, incluindo a Praça de São Marcos, o Palácio Ducal e a Ponte de Rialto. A figura do leão remonta ao século IX, quando Veneza era uma cidade-estado independente e se juntou à Liga de Cidades marítimas do Adriático. Naquela época, a cidade escolheu o leão como seu símbolo, como uma forma de afirmar sua força e independência. O leão é representado segurando um livro com a inscrição "Pax tibi Marce, evangelista meus" (Paz a ti, Marcos, meu evangelista), uma referência ao evangelho de São Marcos, que é o padroeiro da cidade. A imagem do leão de San Marco é tão importante para a cidade que foi adotada como um símbolo oficial do governo veneziano durante a República de Veneza.
A estátua do leão, que é feita de bronze, foi esculpida no século XII e originalmente ficava no topo de uma coluna na Praça de São Marcos. Hoje, a estátua original é mantida no interior do Palácio Ducal para protegê-la dos elementos. Na praça, encima de uma coluna está uma escultura em pedra dele. O leão de San Marco é frequentemente retratado em obras de arte e literatura, incluindo a ópera "La Gioconda" de Amilcare Ponchielli e a novela "Morte em Veneza" de Thomas Mann.
Durante a Idade Média, o leão de San Marco era frequentemente visto como um símbolo de proteção contra o mal e os inimigos da cidade. No século XVI, o leão de San Marco foi incorporado ao brasão de armas da República de Veneza, juntamente com outras imagens simbólicas, como a figura feminina da Justiça. O leão de San Marco também é um símbolo importante para a Igreja Católica, uma vez que São Marcos é o evangelista que escreveu o segundo evangelho do Novo Testamento. 
A imagem do leão de San Marco foi utilizada como um símbolo de poder e status pela nobreza veneziana durante a República de Veneza. 
Uma lenda popular diz que, quando Veneza foi fundada, um anjo apareceu aos fundadores da cidade na forma de um leão, e predisse que a cidade seria bem-sucedida e próspera.
Durante a Quaresma, é costume em Veneza cobrir a estátua do leão de San Marco com um pano roxo, como um sinal de luto pela morte de Cristo. Ao longo dos séculos, o leão de San Marco foi restaurado e renovado várias vezes para preservar sua aparência original. A figura do leão de San Marco é frequentemente vista em souvenirs, como camisetas, chaveiros e ímãs de geladeira, como uma lembrança de Veneza. A figura do leão também é usada como um logotipo para várias empresas e organizações de Veneza, incluindo a equipe de futebol local, o Venezia FC. 
Durante as celebrações da Festa da Sensa, que acontece todo ano em Veneza, a imagem do leão de San Marco é levada em uma procissão náutica pela lagoa de Veneza. 
A figura do leão alado também pode ser vista em outras cidades ao redor do mundo, incluindo em cidades italianas como Gênova e Florença. A imagem do leão de San Marco inspirou vários artistas ao longo dos séculos, incluindo o pintor renascentista Tintoretto, que pintou um retrato do leão em sua obra "O Paraíso".
Durante a Segunda Guerra Mundial, a figura do leão de San Marco foi usada como um símbolo de resistência pelos habitantes de Veneza contra a ocupação nazista.
O Leão de San Marco é um dos símbolos mais duradouros e emblemáticos da cidade de Veneza, representando sua história, cultura e tradições. Sua imagem é vista como um sinal de força, proteção e independência, e é um testemunho da rica história da cidade e de seu O leão alado de San Marco pode ser visto em outros países além da Itália. Devido à importância histórica e cultural de Veneza, muitos países têm réplicas ou reproduções do símbolo veneziano. Algumas das localizações onde o leão alado pode ser visto são:

Croácia - A cidade de Dubrovnik tem uma estátua do leão de San Marco na entrada do Palácio Sponza.
Grécia - A cidade de Corfu, que foi governada por Veneza por muitos anos, tem o leão de San Marco em seu brasão de armas.
Ucrânia - A cidade de Lviv tem uma estátua do leão de San Marco na Praça do Mercado.
Romênia - O Castelo de Bran, popularmente conhecido como o Castelo do Drácula, tem o leão de San Marco em seu brasão de armas.
Estados Unidos - A cidade de Las Vegas tem uma réplica da torre do relógio de San Marco, completa com o leão de San Marco.
Rússia - A cidade de São Petersburgo tem uma estátua do leão de San Marco na Praça do Palácio.
Malta - A cidade de Valletta tem uma porta que apresenta o leão de San Marco.
Espanha - A cidade de Cádiz tem uma estátua do leão alado na Plaza San Juan de Dios.
Brasil - A cidade de Rio de Janeiro tem uma réplica da torre do relógio de San Marco, presente no bairro de Botafogo.
Chile - A cidade de Valparaíso tem uma réplica da torre do relógio de San Marco, situada na praça Aníbal Pinto.
França - O Palácio dos Doges, localizado em Grasse, tem o leão alado em seu brasão de armas.
Inglaterra - O Royal Pavilion, em Brighton, tem o leão alado em sua fachada.
Portugal - A cidade de Porto tem uma réplica da torre do relógio de San Marco, localizada na Avenida dos Aliados.
Bélgica - A cidade de Bruges tem uma réplica da torre do relógio de San Marco, situada na Praça Jan van Eyck.
Argentina - A cidade de Buenos Aires tem uma réplica da torre do relógio de San Marco, presente no bairro de Recoleta.



quinta-feira, 27 de julho de 2023

De Rovigo a Província de São Paulo: A História de uma Família de Emigrantes Italianos - parte 2








A Vida na Fazenda 



Domenico era o segundo filho homem de uma família de dez irmãos que moravam na localidade de Rasa, província de Rovigo. Durante algum tempo, na sua juventude, trabalhou como empregado em uma grande plantação de arroz, justamente no local onde conheceu Giuseppina, a sua esposa. O namoro foi bastante rápido e logo resolveram se casar. O matrimônio foi realizado em Villa d’Adige, a pequena localidade onde a família de Pina morava há já várias gerações. Como o pai de Giuseppina havia falecido alguns meses após o casamento, o casal resolveu ficar morando na propriedade da família. Os cunhados eram ainda muito jovens e necessitavam de ajuda. Chegaram mesmo a pensar em se mudar para a cidade de Villa Bartolomea, na província vizinha de Verona, a convite de outros parentes que lá já estavam estabelecidos, mas, para não deixar a família da esposa desamparada, se fixaram na mesma vila onde Pina havia nascido. Era uma localidade muito afastada, pequena e atrasada, formada por poucas famílias, todas muito pobres, que viviam do trabalho nas plantações de arroz como diaristas. Domenico e Pina continuaram trabalhando nessas plantações de arroz da região onde, nos primeiros anos, não faltava serviço. Tiveram seus seis filhos naquela localidade, mas, não viam nenhuma possibilidade de progredir naquele local em que a pobreza só crescia. Devido aos impostos cobrados pelo novo governo, muitas fazendas fecharam e os proprietários emigraram para outros países. O desemprego começou a crescer, chegando a um ponto insuportável. As condições de vida do casal começaram a piorar após a morte do pai de Domenico, Giacomo Risottoni, que sempre os ajudava com o que podia, acometido por uma doença grave que consumiu os recursos de toda a família com médicos e remédios. Foi quando então resolveram emigrar para o Brasil seguindo o exemplo de milhares de outros italianos. Na ocasião, com Domenico também partiram, para o mesmo destino no Brasil, seus dois irmãos: Giuseppe, o mais velho deles, com a esposa Giulia e cinco filhos e o mais novo, que se chamava Antonio, ainda solteiro, acompanhado da mãe Luigia, então viúva com 57 anos. Entre os componentes do grupo de mais cinquenta pessoas também estavam vários primos e dois tios de Domenico, Giovanni Battista e o Francesco, acompanhados das suas esposas. 
Na fazenda Coquinhos, depois do impacto negativo da chegada, quando todos do grupo de imigrantes só pensavam em desistir de tudo e procurar um outro local para viverem, mas precisaram cair na realidade e se adaptar, tal qual dezenas de outros co-nacionais que ali também estavam trabalhando. A fazenda tinha aproximadamente quinhentos empregados, a quase maioria deles eram italianos. Toda aquela região da província de São Paulo, era rica em terras roxas, com relevo, altitude e clima bem definidos, favoráveis à cultura do café. Os colonos contratados recebiam um pagamento fixo pelo cultivo dos pés de café e um pagamento variável pela quantidade de frutos colhidos. Além disso, podiam criar pequenos animais e produzir alimentos para sustento da família na fazenda e vender o excedente. O pagamento de um ano era dividido entre os meses e distribuído no primeiro sábado de cada mês, tornando-o um dia de folga para compras e visitas. Ao chegarem ao Brasil, as famílias vindas da Itália eram relativamente jovens, em plena fase produtiva e reprodutiva, compostas em sua maioria só por casais ou por casal com filhos solteiros e pequenos. Ao contratar o colono, o fazendeiro contratava o trabalho de todos os elementos da família. Na cafeicultura paulista, o termo “colono” e “família colona” tem o mesmo significado. O número de pés de café sob a responsabilidade do colono era estipulado em contrato estabelecido com a fazenda e atribuído conforme o número de membros da família colona aptos ao trabalho. Os termos do contrato geralmente eram mais favoráveis ao fazendeiro, a quem, era permitido aplicar multas e demitir o empregado quando quisesse. A mentalidade dos fazendeiros paulistas era ainda aquela escravagista, em uso a mais de 200 anos e os colonos nem sempre conseguiam tolerar os maus tratos que sofriam. Muitas foram as reclamações enviadas de várias fazendas para o consulado italiano em São Paulo registrando crimes de agressão sofridos pelas famílias de imigrantes. As violências contra as mulheres italianas eram muito frequentes, pois os fazendeiros ainda não estavam acostumados a lidar com pessoas com direitos. Outros abusos eram adulterando pesos e medidas, subestimando a quantia realmente plantada ou colhida pelo trabalhador. Eles confiscavam produtos e, principalmente, usavam multas para limitar suas despesas. Até o motivo mais fútil era o suficiente para deduzir quantias consideráveis do caderno de contas do colono. As multas se tornam cada vez mais frequentes com a queda do preço interno do café. Devido à distância da fazenda até a cidade mais próxima, dependiam de produtos alimentícios que não podiam produzir como farinha, açúcar, sal e se abasteciam no armazém da própria fazenda que os explorava, cobrando  preços mais caros que na cidade. 
A jornada diária de trabalho dos empregados da Fazenda Coquinhos era muito dura, se estendia durante todo o ano do nascer do sol ao anoitecer, sempre sob a vigilância de fiscais de turma, que se reportavam diretamente ao administrador da propriedade. Acordavam às 5 da manhã e às 6h, com o tocar dos sinos da fazenda, partiam para mais um dia de trabalho no cafezal. Eles trabalhavam em média 12 horas por dia, podendo chegar a até 14 horas, não tinham registro em carteira, nem direito a férias ou outros benefícios. A estrutura familiar dos imigrantes se mantinha intocável como era na Itália, onde o pai era o chefe da família, com divisão das tarefas entre cada membro do clã, sendo que o serviço doméstico, o cuidado das crianças, idosos ou inválidos, era reservado para as mulheres da família. Ao pai cabia a palavra final na divisão das tarefas e nas decisões familiares. As mulheres quando grávidas, trabalhavam até a hora do parto, quando de carroça eram levadas para casa, muitas vezes ocorrendo o nascimento da criança no próprio veículo. Muitos bebês nasciam no meio do cafezal, sob a sombra de um cafeeiro e logo era enrolada em panos que a gestante havia reservado. Muitas fazendas tinham a sua capela, onde eram celebradas missas aos domingos, que os colonos podiam comparecer. Outras delas, como no caso onde Domenico e sua família foram parar, só recebia a visita mensal de um padre, que na ocasião fazia casamentos e batizados. O casamento era uma instituição obrigatória para a constituição das famílias dos imigrantes que se casavam muitas vezes somente no religioso e mais tarde faziam a cerimônia civil. A cidade mais próxima ficava a mais de três horas de caminhada e somente lá existia cartório para o devido registro do matrimônio. Através do batismo dos filhos se fortaleciam os laços de amizade entre as diversas famílias de imigrantes. Logo no primeiro ano de estadia na fazenda, Pina voltou a engravidar e deu à luz a um outro menino que Domenico deu o nome de Settimo, por ser o sétimo filho do casal. Por sorte Pina era muito forte e sadia sendo assistida pela sogra Luigia, que também era parteira. As condições sanitárias das casas dos empregados da Fazenda Coquinhos não eram boas. Frequentemente surgiam doenças graves que podiam invalidar um trabalhador e às vezes até matá-lo, como malária, varíola, febre amarela, tracoma e ancilostomose que também estavam presentes em quase todas as fazendas de café. Na fazenda só possuíam atendimento para casos simples de ferimentos e como a fazenda se localizava longe de centros urbanos, nos demais casos necessitavam se deslocar em carroça para obter atendimento médico. Esses eram caros e as visitas domiciliares quando necessárias eram caríssimas, e uma doença de curta duração podia desfazer os ganhos de meses ou mesmo de anos de trabalho. Domenico lembrava muito bem de quando o seu irmão mais novo Antonio, foi picado por uma cobra venenosa e ficou gravemente enfermo, necessitando sua remoção para uma cidade próxima, onde precisou ficar hospitalizado por alguns dias. A vida do rapaz corria sério perigo, inclusive de perder uma perna e o médico chamado para consultá-lo não tinha esperanças de salvá-lo na fazenda e resolveu pela hospitalização. As despesas médicas foram pagas pelo fazendeiro que emprestou o dinheiro para eles para ser devolvido no acerto mensal. Toda a família de Domenico precisou se cotizar para ajudar a pagar a dívida com o dono da fazenda. 
Já tinham se passado seis anos desde quando chegaram na fazenda e agora praticamente não deviam mais nada ao fazendeiro. A família de Domenico também havia crescido no Brasil com o nascimento de mais três filhos, sendo que agora eles eram dez ao todo. Como não havia escola na fazenda e nem próximo dela, era Giovanni Battista, o irmão mais velho de Domenico, que sabia ler e escrever, ainda que precariamente, que tentava suprir esta falta. 
Domenico e a família, algum tempo depois da chegada, percebendo as duras condições de trabalho na fazenda, a vida difícil que levavam e a falta de perspectivas para o futuro, chegaram à conclusão que a emigração não tinha trazido grandes vantagens para eles em termos de progresso: continuavam sob as ordens de um duro patrão, ainda permaneciam pobres e, sobretudo, depois desses anos passados ainda não tinham conseguido um dos principais objetivos que os tinha levado até o Brasil, que era obter a própria terra para cultivar. Durante os anos de trabalho na fazenda conseguiram fazer algumas economias, juntando o que ganhavam com o contrato de trabalho com o café e o que conseguiam obter vendendo o excedente dos produtos agrícolas que plantavam. Giuseppina, com as duas filhas mais velhas e a sogra Luigia eram muito espertas e negociantes, vendiam ovos, pães, doces e bolos que faziam. Uma vez por semana, quando o tempo permitia, iam de carroça até Mogi Mirim, a cidade mais próxima da fazenda, para vender o que produziam. O que produziam era de boa qualidade e chegaram a ter muitas freguesas fixas que faziam encomendas. A ideia de Domenico era adquirir uma pequena chácara na periferia dessa cidade usando as economias guardadas. Deixariam a fazenda assim que conseguissem o terreno que sonhavam. Ele e Pina pensavam muito na educação e no futuro dos filhos. A cidade estava crescendo rapidamente e poderiam conseguir algum emprego no comércio ou em uma pequena fábrica local e os filhos poderiam frequentar uma escola e mais tarde também trabalharem.

Continua 

Trecho do Conto "A História de uma Família de Emigrantes Italianos" de 
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





sexta-feira, 30 de junho de 2023

Desbravadores da Terra: A Lista das Famílias Italianas Pioneiras em Vale Vêneto, RS (1878-1888)


Relação das Famílias Pioneiras que Colonizaram Vale Vêneto vindas da Itália entre 1878 e 1888


BALCONI

BALDISSERA

BASSO

BEVLACQUA

BISOGNIN

BOLZAN

BONFADA

BORANGA

BORDIGNON

BORTOLAZZO

BORTOLUZZI

BRONDANI

CAGLIARI

CANAZZA

CARLOTTO

CASASSOLLA

CERETTA

CHIARINOTTO

CILIATO

COPETTI

CREAZZO

DALMASO

DAL SANTO

DANIEL

DOTTA

DOTTO

DRUZIAN

FERIGOLO

FILIPETTO

FOLETTO

FORGERINI

FORZIN

GIACOMINI

GRIGOLETTO

IOP

LODERO

LOVATTO

MARCHESAN

MARCUZZO

MARIN

MARIO

MELLOTTO

MENEGHEL

MISSAO 

MORO

MISSAN

NOGARA

PASQUATIN

PASQUATINI

PARCIANELLO

RIVETA

RIZZOLATTO

POZZOBON

RIGHI

RORATTO

ROSSI

ROSSO

SARTORI

SBIZIGO

STEFANEL

STROILI

TONDO

TRONCO

VARASCHIN

VENDRUSCULO

VENTURINI

VERNIER

VIGNOTTO

VIZZOTTO

WEBER

ZAGO

ZANINI







quinta-feira, 15 de junho de 2023

Itália Baiana: A Presença de Algumas Famílias Italianas

 



Município de Ilhéus


Adami 

Albagli 

Asciutti 

Bathomarco 

Bergamini 

Betti 

Bettin 

Bonice 

Borsari 

Bove 

Bracchi 

Bridi 

Brotto 

Brugnara 

Buscariolli 

Carilo 

Cartibandi 

Chinelli 

D’ Lippi 

Dattoli 

Delboni 

Farani 

Favila 

Fazzi 

Ferrari 

Finotti 

Gavazza 

Geralle 

Gila 

Grazziotti 

Levita 

Orric 

Ottoni 

Paternostro 

Pauletti 

Peluzio 

Stolze 

Taraschi 

Tragni 

Trocoli 

Venezio 

Viroli 

Vitorino 

Vitta 

Zacchio



Município de Itabuna


Benassi  

Bizzi  

Briglia  

Brugni  

Bugarelli  

Canelli  

Carletto  

Creazola  

Davini  

Delazari  

Gagliano  

Gallo  

Gasparetto  

Gavazza  

Guarnieri  

Magnavita  

Martinelli  

Massimo  

Moliterni  

Mutti  

Napoli  

Orrico  

Paternostro  

Pedrazzoli  

Pedrotti  

Chetto  

Perazzo  

Pelegrini  

Pittro  

Plaza  

Poletti  

Ravazzano  

Romani  

Scaldaferri  

Stolze  

Tozzo  

Vello  

Vita



Município de Belmonte


Burlacchini  

Guerrieri  

Magnavita  

Multari  

Rocchigiani  

Paternostro.


Município de Ubaitaba


Baratella  

Brugni


Município de Una


Dall’ Orto  

Milaneze 

Rusciolelli  

Magnavita  

Saraloli  

Tedesco.


Município de Camacã


Stolze  

Tedesco


Município de Itacaré


Angioletti  

Longo.


Município de Eunápolis


Boseti  

Bozi  

Carli  

Contelli  

Creazola  

Denti  

Fadini  

Fiorio  

Garozi  

Giuberti  

Guazziotti  

Guaitolini  

Guerrieri  

Giusti  

Orletti  

Peruzzo  

Ramaciotti  

Saraloli  

Signoreli  

Smassaro


Município de Camamu


Marti


Município de Maraú


D’ Onofri


Município de Teixeira de Freitas


Batistti  

Belitardo  

Bertelli  

Bobbio  

Cavarsani 

Cazelli  

Dall’ Orto  

Donatti  

Ferrari  

Favero  

Ferregnetti  

Gagno  

Garuzzo  

Lenzi  

Magnango  

Malacarne  

Soprani


Município de Itamarajú


Burini  

Dalmaschio  

Favorato  

Ferrari  

Galavotti  

Garozi  

Giostri  

Marchesini  

Orletti  

Otoni  

Angeli  

Bissoli  

Perini  

Pozzati  

Rizzo  

Rossoni  

Rusciolelli  

Sagnetto 

Tedoldi



Município de Medeiros Neto


Ferreti


Município de Mucuri


Gazzinelli  

Ettori  

Griffo


Município de Prado


Arpini  

Baseiri  

Bibli  

Bonomo  

Carletto  

Dall’ Orto



Município de Poções


Acierno 

Arleo 

Blois Capo 

Carlomagno 

Caselli 

Chiapetta 

Conte 

D’Andrea 

D’Antonio 

D’Emilio 

De Benedictis 

Domarco 

Ferraro 

Grisi 

Ianelli 

Labanca 

Lamboglia 

Larocca 

Libonati 

Liguori 

Lilli 

Logetto 

Mensitieri 

Miraglia 

Napoli 

Orrico 

Palladino 

Perrone 

Pesce 

Riccio 

Rotondano 

Sangiovanni 

Santis 

Sarno 

Savastano 

Scaldaferri 

Schettini 

Sola 

Sordi 

Tommasi 

Vita 



Município de Jequié


D’Andrea 

Arleo 

Bartilotti 

Biondi

Caricchio 

Cedroni 

Celli 

Colavolpe 

Comte

Dattoli

Errico

Ferraro

Gaudenzi 

Giudice 

Grillo 

Grisi 

Guena

Innocencio

Laino 

Lacrose 

Lamberti 

Larocca 

Leone 

Leto 

Liguori 

Limongi 

Lomanto

Maimone 

Marotta 

Mensitieri 

Michelli 

Michele 

Mortani

Niella

Orrico

Papaleo 

Penza 

Panza 

Pepe 

Pesce 

Pignataro

Rotondano 

Rusciolelli

Sarno 

Savastano 

Scaldaferri 

Schettini 

Spinelli

Tommasi 

Tripodi



Município de Salvador



Albertazzi 

Albiani 

Alfano 

Allioni 

Badolato 

Baggi 

Ballalai 

Bandochi 

Bentini

Borelli 

Brandi 

Buffoni 

Bulaire 

Camardelli 

Campello 

Datto 

Della Cella 

Domenech 

Dotto 

Fachinet 

Fermi 

Ferraro 

Fittipaldi 

Furiati 

Gagliano 

Gallo 

Gatti 

Gavazza 

Giorgio 

Guerrieri 

Laureana 

Leone 

Lucca 

Maimone 

Manfredi 

Marciano 

Martelli 

Martinelli 

Mercuri 

Mundi 

Olivier 

Pagliese 

Palagno 

Palarin 

Pampello 

Pavese 

Pepe 

Perella 

Perrone 

Podestá 

Prandoni 

Prealle 

Rundano 

Salomoni 

Scaldino 

Tito 

Vita