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quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Raízes que Cruzaram o Oceano: do Veneto ao Novo Mundo



Raízes que Cruzaram o Oceano 
do Veneto ao Novo Mundo

Na frazione de Miane, um pequeno agrupamento de casas incrustada nas colinas ondulantes do comune de Valdobbiadene, na província de Treviso, o final do século XIX marcou o fim de uma era e o início de mudanças irreversíveis. A paisagem bucólica, com suas vinhas enfileiradas e olivais centenários, escondia uma realidade dura e implacável. O Vêneto, assim como grande parte da Itália, vivia um período de profunda crise econômica e social.

As reformas implementadas pelo recém-unificado Reino da Itália haviam trazido um peso inesperado às comunidades rurais. As terras, que durante séculos haviam passado de geração em geração, tornaram-se cada vez mais fragmentadas devido às partilhas entre os herdeiros. O resultado era um mosaico de pequenos lotes insuficientes para sustentar uma família. As colheitas, outrora abundantes, já não conseguiam competir com os produtos mais baratos que chegavam de outras regiões e países, impulsionados pela crescente globalização do comércio agrícola.

Como se não bastasse, o novo governo italiano impôs uma carga tributária pesada, alegando a necessidade de financiar o desenvolvimento da jovem nação. Os agricultores, como os Casagrande, sentiam o impacto diretamente em seus bolsos, vendo a maior parte de seus magros rendimentos escoar em taxas e impostos. Ao mesmo tempo, os preços dos insumos agrícolas subiam, enquanto o valor dos produtos finais permanecia estagnado, esmagando ainda mais os pequenos produtores.

A família Casagrande era um exemplo típico dessa luta diária. Patriarca da família, Giovanni Casagrande era um homem de mãos calejadas e olhar resiliente, acostumado a enfrentar a terra dura e as intempéries para sustentar sua esposa Maria e seus três filhos. Maria, por sua vez, equilibrava o papel de mãe e trabalhadora, mantendo a casa em ordem enquanto ajudava no cultivo de trigo, sorgo e videiras. Apesar de todo o esforço, o retorno financeiro era cada vez mais insuficiente, e o futuro parecia sombrio.

Entre os moradores de Miane, crescia um sentimento de frustração e desolação. Reuniões na praça da igreja ou nas tavernas locais eram tomadas por discussões sobre a falta de perspectiva, a desigualdade e o êxodo de jovens em busca de trabalho nas cidades mais industrializadas. Mas não era apenas para as grandes cidades italianas que os olhares se voltavam. Sussurros de oportunidades além-mar começavam a ganhar força. Histórias de terras férteis e generosas no Brasil, ainda que muitas vezes exageradas ou romantizadas, plantavam sementes de esperança em corações desgastados pela miséria.

Foi nesse cenário de incertezas que os Casagrande, após muita reflexão e debate, chegaram à conclusão de que permanecer em Miane significaria um futuro de privações sem fim. Partir parecia a única alternativa, ainda que envolvesse o abandono de tudo o que conheciam – a casa onde nasceram, os campos que araram, e os parentes e amigos que ficariam para trás. A decisão, tão dura quanto inevitável, seria a que definiria os rumos da família e dos descendentes que viriam depois.

Pietro Casagrande, aos 35 anos, era um homem moldado pela terra áspera e generosa das colinas de Miane, onde nascera e passara toda a vida. Desde menino, seu aprendizado fora íntimo e constante, absorvendo os segredos da viticultura que seu pai lhe transmitira com paciência: o momento exato da poda, a escolha das mudas, o cuidado meticuloso com o solo para preservar sua fertilidade. Cada videira, cada cacho, carregava o peso de uma tradição secular que Pietro honrava com dedicação quase religiosa.

Mas o mundo à sua volta já não era o mesmo de outrora. A agricultura familiar, que sustentara gerações, agora se via esmagada por forças que escapavam ao controle dos pequenos produtores. O mercado do vinho, antes local e simples, tornara-se um terreno disputado por grandes negociantes e industriais que podiam ditar preços e impor condições desfavoráveis aos agricultores. Pietro via, com angústia, seus esforços esmorecerem diante da impossibilidade de competir com esses gigantes. A produção familiar mal cobria os custos, e a incerteza tornava-se companheira constante.

Ao seu lado, Anna representava a força silenciosa que sustentava a família. Mulher de fibra e praticidade, ela dividia seu tempo entre as tarefas domésticas e o cuidado incessante com os filhos pequenos — Luigi, que já tinha 10 anos e ajudava no campo sempre que possível; Teresa, de 7, que começava a entender as responsabilidades que a vida lhes impunha; e o bebê Marco, que mal engatinhava e trazia ao lar uma luz tênue de esperança. Anna sabia que a sobrevivência da família dependia não apenas do trabalho árduo de Pietro, mas também da organização e do equilíbrio que mantinha dentro de casa.

Juntos, enfrentavam dias marcados pelo suor e pela incerteza, mas também pela esperança teimosa de que um futuro melhor pudesse existir — seja nas vinhas que resistiam, seja além das colinas que já não pareciam promissoras como antes.

Os dias em Miane pareciam se arrastar sob um céu cinzento, onde o sol raramente conseguia aquecer o corpo cansado dos agricultores. O trabalho no campo consumia cada gota de energia, e as noites, em vez de trazerem descanso, eram marcadas por inquietação e sonhos perturbadores. A fome pairava como uma sombra silenciosa sobre a casa dos Casagrande, apertando o peito e corroendo as forças de todos. Os invernos, antes amenos e familiares, tornavam-se cada vez mais rigorosos, castigando as colinas com ventos cortantes e geadas que destruíam as últimas esperanças de uma colheita digna.

Em meio a esse cenário de desespero, começaram a se espalhar rumores vindos de além-mar. Um nome estranho e distante ganhava vida nas conversas sussurradas: Brasil. Palavras sobre um país gigantesco, onde as terras eram vastas, férteis e, sobretudo, oferecidas gratuitamente a quem estivesse disposto a arar o solo e construir uma nova vida. Essas histórias chegavam através de cartas, viajantes e alguns poucos imigrantes retornados, carregadas de promessas que pareciam quase inacreditáveis.

As notícias falavam de oportunidades reais, mas não escondiam os perigos. A travessia do oceano Atlântico era longa e traiçoeira, marcada por condições precárias a bordo dos navios, onde doenças como tifo, colera e sarampo ceifavam vidas. O medo do desconhecido e das dificuldades não era pequeno, mas, para aqueles que sofriam com a escassez e o desespero, essa promessa de um recomeço valia qualquer risco.

Assim, mesmo diante das dificuldades incontestáveis, a luz de esperança que essas histórias carregavam começava a iluminar os corações endurecidos pela luta diária. O Brasil, com suas terras generosas e futuro incerto, surgia como um farol distante, uma possibilidade de escapar das correntes que prendiam as famílias vênetas a uma vida de privações sem fim. Foi nesse momento que muitos, como os Casagrande, começaram a sonhar com uma vida além das colinas que haviam conhecido, dispostos a arriscar tudo para garantir um amanhã melhor para seus filhos.

Pietro e Anna enfrentaram uma angústia profunda diante da decisão que lhes pesava no coração. A ideia de abandonar a terra natal, com suas colinas verdes, os vinhedos que tinham cuidado por gerações, e o vilarejo onde cada pedra parecia conter memórias de antepassados, era uma dor quase insuportável. O Vêneto não era apenas um lugar no mapa; era a essência da sua identidade, o palco das alegrias e tristezas que moldaram suas vidas. Cada aroma do solo, cada som do vento entre as folhas, carregava um pedaço da história da família.

Porém, as condições se tornavam cada vez mais insustentáveis. O trabalho árduo, os sacrifícios diários e as esperanças cada vez mais tênues haviam mostrado que permanecer significava aceitar a pobreza, a fome e a insegurança perpetuamente. A perspectiva de um futuro onde os filhos sofreriam as mesmas privações que eles já enfrentavam não lhes dava paz.

Depois de longas noites em claro e conversas silenciosas, tomaram a decisão que, embora carregada de incertezas, representava uma faísca de esperança. Venderam tudo o que podiam: a única vaca da família, que lhes dava leite e ajudava nas tarefas do campo; a velha carroça de madeira, que carregava não apenas cargas, mas também histórias de muitos anos; e os poucos utensílios de valor que possuíam, acumulados com sacrifício e cuidado ao longo do tempo.

Com o dinheiro obtido, procuraram um agente de emigração que trabalhava para uma grande companhia de navegação sediada em Veneza. Esse homem, com sua pasta cheia de papéis e promessas, ofereceu-lhes passagens para o Brasil — um destino distante, quase mítico, mas que carregava a esperança de terras férteis e vida digna. Embora temerosos diante do desconhecido, Pietro e Anna inscreveram-se para a viagem, conscientes de que dali em diante nada seria como antes. O peso da despedida se misturava à promessa de um recomeço, enquanto o horizonte do velho mundo se fechava para dar lugar ao mistério e à oportunidade do novo.

A travessia foi uma prova de resistência física e emocional para Pietro, Anna e seus filhos. O navio, um antigo cargueiro adaptado às pressas para o transporte de imigrantes, estava longe de ser adequado para a viagem transatlântica. Projetado para levar mercadorias, agora transportava centenas de pessoas empilhadas em condições sub-humanas, abarrotando os porões e os estreitos compartimentos da terceira classe.

Os alojamentos, pouco mais que cubículos improvisados, eram escuros e abafados. Não havia ventilação adequada, e o ar rapidamente tornava-se pesado e insalubre, impregnado pelo odor de corpos exaustos, comida deteriorada e dejetos humanos. Não havia privacidade nem descanso, e a constante proximidade forçada criava tensões e atritos entre os passageiros.

A comida, racionada e muitas vezes estragada, era composta de pão duro, sopas ralas e, ocasionalmente, pedaços de carne que raramente estavam frescos. A água, armazenada em tonéis sujos, não era suficiente para todos, e muitos sofriam de sede. Crianças e idosos, mais frágeis, adoeciam rapidamente. Entre as doenças mais comuns estavam o tifo e o escorbuto, que se espalhavam como fogo em um campo seco.

Pietro passava noites em claro, ouvindo os gemidos dos doentes e tentando acalmar o choro de seus filhos. Luigi, o mais velho, suportava a situação com bravura, mas os olhos cansados de Teresa e o choro constante do pequeno Marco perfuravam o coração de Pietro como facas. Ele temia pelo bem-estar da família e rezava para que o navio alcançasse o destino antes que uma tragédia maior acontecesse.

Anna, apesar de debilitada, mostrava uma resiliência admirável. Ela se esforçava para manter a dignidade e o conforto dos filhos dentro do possível. Inventava histórias para distraí-los e, com mãos trêmulas, dividia as pequenas porções de comida, garantindo que cada um recebesse pelo menos um pouco. Mesmo quando sua própria saúde começava a vacilar, seu foco permanecia nas crianças.

O balanço constante do navio, agravado por tempestades que tornavam o mar traiçoeiro, fazia muitos sucumbirem ao enjoo. As ondas gigantes lançavam o cargueiro de um lado para outro, e, em noites mais severas, os passageiros agarravam-se ao que podiam, rezando para que o navio não fosse engolido pelas águas revoltas.

Apesar de tudo, a esperança teimava em resistir. Nos momentos mais sombrios, os imigrantes se uniam, compartilhando palavras de conforto, alimentos ou mesmo preces conjuntas. Pietro encontrava força ao olhar para Anna e os filhos, determinado a fazer com que aquele sacrifício não fosse em vão. A promessa de uma nova vida, ainda que distante, era a chama que os mantinha vivos em meio à escuridão e ao sofrimento.

Após semanas intermináveis no mar, o navio finalmente atracou no movimentado porto do Rio de Janeiro. Era um espetáculo de cores e sons que contrastava fortemente com os dias sombrios e silenciosos da travessia. Para Pietro e Anna, o alívio de tocar terra firme misturava-se à apreensão pelo que ainda estava por vir. O Brasil, com seu calor sufocante e uma língua desconhecida, era um mundo novo e estranho.

No entanto, esse desembarque era apenas uma breve pausa na longa jornada. Após dois dias de espera no porto, tempo que usaram para recuperar um pouco das forças abrigados na grande Hospedaria dos Imigrantes onde recebiam alimento e camas para descansar se adaptar ao ritmo frenético do novo país, os Casagrande foram embarcados novamente, desta vez em um navio menor, destinado ao sul do país. A viagem prosseguia, agora rumo à província de São Pedro do Rio Grande do Sul, onde as promessas de terra e uma nova vida ainda eram apenas ideias distantes.

Quando finalmente chegaram ao porto de Rio Grande, a família estava exausta, mas Pietro sentia que o destino final estava ao alcance. Ainda assim, o desafio não terminava ali. Embarcaram em barcos fluviais lotados, navegando lentamente pelo rio Caí que cruza as vastas planícies da província. A vegetação exuberante, os sons das aves tropicais e o calor úmido criavam uma atmosfera completamente diferente das colinas familiares do Vêneto. Anna, com os filhos nos braços, observava a paisagem com um misto de fascínio e inquietação, enquanto Pietro mantinha os olhos fixos na água, pensando no futuro incerto que os aguardava.

Ao chegar ao destino, foram encaminhados por funcionários do governo para uma colônia recém-criada, chamada Caxias do Sul. O lugar, apesar de promissor, era marcado por uma rudeza que não deixava dúvidas sobre os desafios que enfrentariam. A paisagem, dominada por matas densas e terras ainda por desbravar, parecia indomada. As autoridades entregaram à família Casagrande um pedaço de terra coberto de vegetação cerrada, que deveria ser desmatado e cultivado com suas próprias mãos.

Pietro encarou aquele pedaço de terra como um campo de batalha. Ele sabia que cada árvore derrubada, cada pedaço de solo revolvido seria uma conquista para sua família. Anna, mesmo cansada, arregaçou as mangas para ajudar no que podia. As crianças, embora ainda jovens, absorviam o ambiente com curiosidade e esperança.

A colônia era formada por outras famílias italianas, vindas de diferentes partes do norte da Itália. Isso trouxe algum alívio: podiam falar sua língua, compartilhar tradições e formar uma comunidade que os conectava às raízes deixadas no Vêneto. Apesar das condições iniciais difíceis, a promessa de uma vida melhor alimentava seus esforços. Caxias do Sul, ainda rudimentar, tornava-se um símbolo de recomeço, onde cada dia de trabalho árduo representava um passo para transformar a promessa em realidade.

O pedaço de terra que a família Casagrande recebeu por meio do contrato com o governo era vasto e imponente, abrangendo cerca de 250 mil metros quadrados. Para uma família de agricultores habituada às pequenas parcelas fragmentadas do Vêneto, aquela extensão parecia tanto uma bênção quanto um desafio colossal. No entanto, o terreno estava completamente coberto por mata fechada, uma selva densa e inexplorada, com árvores altas, raízes profundas e uma fauna desconhecida que muitas vezes os assustava à noite.

Pietro, sem experiência com desmatamento, logo percebeu que enfrentar sozinho aquela tarefa monumental seria impossível. Ele se uniu a outros colonos recém-chegados, formando uma rede de apoio que misturava trabalho árduo e aprendizado coletivo. Com ferramentas rudimentares, como machados, foices e serras de arco, os homens enfrentavam a floresta, abrindo clareiras a cada dia, muitas vezes ao custo de bolhas nas mãos e músculos exaustos.

Os dias começavam ao amanhecer ainda escuro, com Pietro liderando sua família e dividindo tarefas com outros colonos. O som das árvores sendo derrubadas ecoava pela colônia, acompanhado pelos gritos de encorajamento entre os trabalhadores e pelo estalar da madeira ao ceder. Era um trabalho árduo e perigoso, com troncos caindo em direções inesperadas e ferramentas que exigiam precisão para evitar acidentes. Pietro, sempre cauteloso, mantinha os filhos longe das áreas mais perigosas, mas sua mente não descansava enquanto trabalhava, sabendo que ainda havia muito a fazer para tornar aquele pedaço de terra um lar.

Enquanto isso, Anna mostrava uma determinação extraordinária. Apesar da precariedade inicial, ela começou a plantar as primeiras sementes de feijão, mandioca e milho em pequenos espaços que Pietro e os outros conseguiam abrir no solo. Usando um enxadão que trouxera consigo, Anna misturava o solo fértil com as sementes, rezando silenciosamente por uma colheita que alimentasse seus filhos.

As crianças, ainda pequenas, faziam o que podiam para ajudar. Luigi, o mais velho, assumia responsabilidades maiores, carregando baldes de água do riacho próximo e ajudando o pai a recolher galhos e raízes. Teresa, com sua energia juvenil, recolhia lenha para as fogueiras, enquanto Marco, apesar de ainda ser um bebê, brincava sob a sombra das árvores, sua presença lembrando a Pietro e Anna o motivo pelo qual enfrentavam tamanha adversidade.

O progresso era lento, mas visível. A cada árvore derrubada e a cada metro de solo cultivado, a floresta dava lugar a um campo que prometia se tornar fértil. Pietro e Anna viam naquelas clareiras não apenas o resultado de seu trabalho, mas também a possibilidade de um futuro, onde a terra que antes parecia indomável pudesse sustentar sua família. A solidariedade entre os colonos reforçava o senso de comunidade, e o esforço conjunto transformava o sonho de sobrevivência em um objetivo compartilhado: construir uma nova vida, um sulco de cada vez.

Os primeiros anos na nova terra foram uma verdadeira prova de resiliência para os Casagrande. Acostumados ao clima ameno das colinas do Vêneto, enfrentar o calor sufocante e a umidade constante do clima tropical era um desafio diário. As chuvas torrenciais, que muitas vezes transformavam o solo em lama e faziam os riachos transbordarem, destruíam plantações inteiras em questão de horas. O sol escaldante, por sua vez, secava as folhas das culturas recém-plantadas e tornava o trabalho no campo extenuante.

Além disso, as pragas agrícolas, desconhecidas para Pietro e Anna, tornavam-se uma batalha constante. Gafanhotos, lagartas e outros insetos atacavam as plantações de milho e mandioca, e não havia conhecimento ou recursos suficientes para combatê-los. No entanto, Pietro era persistente, aprendendo com outros colonos e experimentando métodos rudimentares para proteger as culturas. Ele usava cinzas das fogueiras como repelente natural e criava barreiras simples para evitar que os insetos se alastrassem.

A saudade do Vêneto também pesava. As memórias das colinas verdes, do cheiro das videiras e do som dos sinos das igrejas eram como fantasmas que os acompanhavam. À noite, enquanto descansavam em seu abrigo improvisado, Pietro e Anna falavam em sussurros sobre a terra natal, temendo que mencionar suas saudades em voz alta pudesse enfraquecer o ânimo das crianças.

Apesar das dificuldades, os Casagrande começaram a ver o fruto de seus esforços. O pedaço de mata densa que haviam recebido transformava-se gradualmente em campos cultivados. Pietro, com as mãos calejadas e um espírito incansável, concentrou-se primeiro em construir um abrigo rudimentar, feito de troncos e folhas, para proteger a família da chuva e dos animais selvagens. Era precário, mas servia de refúgio enquanto ele planejava algo mais duradouro.

Com o tempo, e à medida que os campos davam suas primeiras colheitas, Pietro iniciou a construção de uma casa simples de madeira. Ele cortava as tábuas com cuidado, ajustando cada peça com paciência, mesmo sem ter ferramentas adequadas. A casa era pequena, com um único cômodo que servia de cozinha, sala e dormitório, mas era o suficiente para dar à família um senso de segurança e estabilidade.

Anna, com sua dedicação inabalável, transformou a estrutura básica em um verdadeiro lar. Ela pendurava ervas secas nas vigas de madeira, costurava cortinas com retalhos de tecido que trouxera da Itália e cuidava para que o pequeno jardim ao redor da casa estivesse sempre florescendo. À noite, quando a família se reunia ao redor da mesa improvisada, Anna preparava refeições simples, mas feitas com carinho, e suas histórias sobre o Vêneto ajudavam a manter vivas as raízes culturais dos Casagrande.

Pouco a pouco, a nova vida começava a tomar forma. Embora o caminho fosse longo e os desafios constantes, os Casagrande viam na transformação da terra e no lar que estavam construindo um sinal de que a coragem de deixar sua terra natal não havia sido em vão.

Com o passar dos anos, os frutos do árduo trabalho começaram a se manifestar de maneira mais evidente. As colheitas, antes tímidas e incertas, tornaram-se progressivamente mais abundantes, fruto de um aprendizado contínuo sobre a terra e suas peculiaridades. Com isso, a família finalmente pôde negociar o excedente da produção por outros bens essenciais, como ferramentas, tecidos e até pequenos luxos que antes pareciam inalcançáveis.

Luigi, agora na adolescência, emergia como um jovem forte e dedicado, assumindo com seriedade muitas das responsabilidades no campo. Ele não apenas auxiliava no plantio e na colheita, mas também começou a se interessar por técnicas agrícolas mais eficientes, que ouviu de outros colonos ou leu em antigos manuais trazidos da Itália. Sob sua liderança discreta, a produtividade da pequena propriedade deu novos saltos.

Teresa, por sua vez, encontrou na costura não apenas uma forma de complementar a renda da família, mas também um caminho para expressar sua criatividade e talento. Seus bordados, conhecidos por detalhes delicados e motivos tradicionais italianos, começaram a ser procurados por outras famílias da colônia. Logo, ela se tornara uma figura reconhecida pela comunidade, recebendo encomendas que lhe permitiram comprar materiais de melhor qualidade e até sonhar com uma máquina de costura moderna.

O crescimento econômico trouxe não só alívio, mas também uma nova esperança para a família. Aos poucos, começaram a planejar melhorias na casa de madeira, incluindo um novo quarto para Luigi e sua irmã mais nova, Rosa, que também crescia rapidamente e já ajudava a mãe em pequenos afazeres. Com cada conquista, sentiam-se mais enraizados naquele solo, que, embora distante de sua terra natal, começava a se parecer com um verdadeiro lar.

Os Casagrande encontraram nos outros colonos italianos não apenas vizinhos, mas uma verdadeira extensão de sua família. A solidariedade mútua era o alicerce daquela pequena comunidade, onde cada gesto de apoio fazia a diferença. Em momentos de necessidade, fosse para levantar um novo galpão, colher uma safra antes da chegada da chuva ou enfrentar os desafios impostos pelo clima tropical, os colonos estavam sempre prontos a ajudar uns aos outros, criando laços que iam além do sangue.

Aos domingos, as reuniões na igreja da colônia eram um ponto alto na semana. A pequena capela, construída em mutirão, era mais do que um espaço de oração; era um local onde a alma da comunidade se fortalecia. Ali, ao som de cânticos entoados no dialeto vêneto, os Casagrande sentiam a conexão com sua herança cultural e espiritual. As missas, simples, mas carregadas de emoção, eram seguidas por longas conversas e risadas ao redor de mesas improvisadas, repletas de pratos típicos como polenta, salame e pão caseiro.

Entre histórias sobre as dificuldades da travessia do oceano e as vitórias na terra nova, a saudade da Itália era constantemente compartilhada, mas, com o tempo, também transformada. Embora a nostalgia da pátria nunca desaparecesse por completo, os Casagrande perceberam que, naquele novo lar, haviam plantado raízes profundas. O solo que antes parecia tão estranho agora produzia os frutos de seus esforços. E, na companhia de seus conterrâneos, descobriram que o sentido de pertencimento não dependia apenas do lugar, mas das pessoas que os cercavam.

Com cada colheita bem-sucedida e cada celebração comunitária, ficou claro para os Casagrande que haviam encontrado mais do que um espaço para sobreviver: haviam construído um lugar onde poderiam sonhar, crescer e, acima de tudo, prosperar.

Décadas mais tarde, os Casagrande haviam se tornado uma referência em toda a região. Reconhecidos por sua incansável dedicação ao trabalho e pela visão inovadora, a família não apenas prosperou, mas também deixou um legado que ecoava além das fronteiras de suas terras. Seus descendentes expandiram a propriedade original, transformando-a em um complexo agrícola diversificado, que ia muito além do cultivo inicial de uvas e cereais. Vinhedos cuidadosamente cultivados deram origem a premiados vinhos regionais, enquanto plantações de frutas e hortaliças abasteciam mercados locais e contribuíam para o desenvolvimento da economia da jovem cidade de Caxias do Sul.

A participação da família não se restringiu à esfera econômica. Os Casagrande desempenharam papéis importantes na vida comunitária, ajudando a fundar escolas, associações culturais e até uma cooperativa agrícola que impulsionou o progresso de muitas outras famílias imigrantes. O espírito de união, que fora vital nos primeiros anos de luta, permaneceu uma característica marcante da família, transmitido de geração em geração.

Na Itália, na pequena frazione de Miane, a história dos Casagrande que partiram em busca de uma nova vida era contada com reverência e orgulho. Cartas enviadas ao longo dos anos, cheias de relatos sobre as conquistas e os desafios enfrentados no Brasil, eram lidas e guardadas como tesouros. Fotografias em preto e branco mostrando os campos férteis de Caxias do Sul e os rostos sorridentes dos descendentes eram compartilhadas nas celebrações familiares, uma ponte simbólica entre os dois continentes.

Hoje, a trajetória dos Casagrande é lembrada como um exemplo inspirador de coragem, determinação e fé no futuro. Suas conquistas não apenas enriqueceram a história de Caxias do Sul, mas também fortaleceram os laços culturais entre Brasil e Itália. A memória dos que ousaram sonhar com uma vida melhor em terras desconhecidas permanece viva, um testemunho de que o espírito humano é capaz de superar as maiores adversidades e transformar sonhos em realidade.

Nota do Autor


A história apresentada é parte do livro Raízes que Cruzaram o Oceano: do Veneto ao Novo Mundo. Trata-se de um romance fictício, porém amplamente inspirado em fatos reais e relatos coletados pelo autor junto a descendentes daqueles pioneiros que, com coragem e determinação, desbravaram novos horizontes em terras distantes. Os nomes dos personagens e alguns eventos foram adaptados ou recriados para preservar a identidade das famílias e tornar a narrativa mais envolvente. O sobrenome "Casagrande" foi escolhido para exemplificar e dar vida à história, sendo um sobrenome bastante comum na Itália, o que facilita sua identificação com os contextos históricos e culturais retratados. Apesar das adaptações literárias, o espírito das jornadas, os desafios enfrentados e as conquistas alcançadas são um tributo fiel ao legado deixado por esses imigrantes. Esta obra é uma homenagem à resiliência, ao trabalho árduo e ao amor que moldaram uma nova história, tanto para os que partiram quanto para os que ficaram.

Dr. Luiz C. B. Piazzetta



sábado, 2 de agosto de 2025

Radise de Speransa

  


Radise de Speransa

Un romanso de speransa, tera e destin


Capìtulo I — La Vose de Dio ´ntel Vento

Quando Alessandro Bellarossi el ga scrito a la famèia de Cismon, no lo ga fato apena con la pena — ma con l´alma intiera. Ogni parola da quela lètara paresea sgòciar sudor, speransa e l’eco de ‘na traversia ancora ressente. Pì de ´un messagio, el zera un testamento de fede: la promessa sudamericana no la zera un mito, la zera tera — e lu el gavea za calpestà. Vinti zorni primi, con la dona Annetta e i tre fiòi a fianco, Alessandro lu el gavea finalmente tocà la tera scura e ùmida de la Colònia Dona Isabel, strenà tra le brume alte del Rio das Antas, dove la foresta pareva antica come la creassion stessa.

El ghe rivava da un posto ndove i val respirava apena fra le ròsie dei Alpi Veneti — un vilagio modesto e strussià da l’indiferensa del tempo e la gananssia dei signori de la tera. Là, anca dopo l’unificassion de l’Itàlia, la libartà la restava solo ‘na parola mormorà, deta in scanton. I richi gh gaveva guadagnà bandiere e esèrssiti. I pòveri, dèbiti, fame — e tropi fiòi da nutrir.

La traversia no la zera mia solo un viaio: el zera un tàio profondo fra do mondi. El Vapor Roma, pien de contadin, lu el zera partì da Génova come ‘na nave de promesse — ma lu gavea navigà sora un ossean de inssertese. Na seconda setimana, l’odor de corpi e paura el zera pì forte che el sal del mar. Ghe zera morti quatro putèi e do mame. Le orassioni mormorà de note se smissiava con i lamenti sofocà ´ntei pòveri leti, intanto che el bilansio del bastimento ghe ricordava a tuti che la tera ferma la zera un privilègio lontan.

Ma Alessandro no se lassiava sgonfiar. L’alimentava la famèia con pan vècio e coraio. E, quando el ga vardà le prime araucàrie, alte come campanil e cargà de nèbia, lu el ga capì, con ‘na ciaresa che tocava el fondo de l’ànima, che el zera rivà. No a ‘na fin — ma a un scomìnsio.

Ze stà alora che el ga ricordà le parole del vècio prete Giustino, dite ‘na matina freda, prima de la partensa:

"A volte, la vose de Dio la vien del Sud.”

E in quel momento, tra la nèbia de la sera gaúcha e i urli dei òmeni che i taiava la foresta con le manare pesante, Alessandro el ga sintì ‘sta vose. No la zera alta, ne miraculosa. Ma la zera ciara. E la diseva, semplicemente: "Resta. Qua se pianta el destin."

Capìtolo II — La Tera Prometida

La Colónia Dona Isabel la zera ancora ´na picolina civilisassion — ‘na frontiera ndove tuto ghe restava da far. Con  manare lu gavea spalancà clarere che parea ferìde nove in meso a la foresta. I sentieri el zera pantani trabalanti, segnà da le rode dei cari e dai stivai dei emigranti. La tera, anca se selvàdega, la zera de loro. Par la prima volta in vita sua, Alessandro el gavea un toco de mondo che el podea ciamar de so.

Cento ètari par famèia. Un sónio imaginàbile ´nte le coline poarete del Vèneto. E adesso, là, tra i tronchi de araucària e i murmuri lontan dei macachi, lu e i altri coloni i tirava su case con i propri brassi. Ogni tavola inchiodà la zera ‘na orassion. Ogni mure, un scudo contro la paura del scognossesto. La farina la vegniva fata masinando i grani su piere improvisà. El pan el gavea el gosto de sudor, ma anca de libartà.

La lètara che Alessandro la gavea scrìto a so pare, setimane prima, la scomìnsiava con un entusiasmo quasi de putèo:

"Bea posission, tera fèrtile, ària sana, e el goerno el ghe assiste noialtri." 

E par la prima volta in so vita, no el esagerava. L’Impero del Brasile, ansioso de far piantar la gente ´ntel Sud, el ghe dava semense, feramenta basiche, bò magri, e el pì pressioso de tuti i risorsi: el tempo par pagar el lote. Nove mesi de aiuto prima che la tera ghe domandasse risposte. Nove mesi par trasformar la foresta in campi, i baracon in casete. El zera poco, ma el zera qualcosa. El zera pì de quel che la pàtria ghe gavea dà in sècoli.

Lucia, so mòier, la scomensiava a rider de novo — ancora pian, come chi che ghe teme a la pròpria speranza. I piè el zera sempre coerti de fòie fino ai cavéi, i diti gonfi de tanto lavar e portar, ma i oci… i oci ghe gavea tornà quel brilo che i gavea al altar de Cismon. Ghe zera qualcosa ´nte la foresta, forsi l’ària spessa de la matina, che la ghe dava ánimo. Forsi la zera el silénsio sensa fame.

Matteo e Elvira, i so do fiòi grandi, i corea sui campi come bèstie lìbare. I esplorava el mondo novo come se zera un orto de infansia eterna, sensa muri ne confini. I costruiva casete con i rami e i imitava i rumori dei caretieri. I ciamava i visin tedeschi “giganti biondi” e i ridea con l´acento smissià. Elvira la disea de piantar fiori selvadeghi. Matteo, de far ´na roda de aqua.

Anca el pìcolo Paolo, nato in traversia in meso al odor de sal, mal de mar e orassion sofegà, el parea za parte de ‘sta tera. El gavea i pulmoni forti, i oci svèi — e le man strete come se le tenesse za, con ostinassion, le radise de ‘sto mondo novo.

De note, quando el fogo de legna scaldava el pavimento de tera batuda e el vento de le araucàrie el mormurava tra i busi de la legna cruda, Alessandro el guardava intorno e el pensava: "No el ze el paradiso. Ma el ze un scomìnsio. E el scomìnsio, certe volte, el ze pì sacro de el fin."

Capìtolo III — Giacomo e il Fango de Sangue

El ze rivà quase note, quando el sole se nascondeva lento drio le creste de la montagna e il cielo se colorava de rame e vin. La carossa improvisà sbalotava par la strada scavà ´ntel fango, tirà da do boi magri e coerta con una tela segnà dal sale e dal tempo. Su di sora, con i oci scavà da la traversia e la barba longa fin al peto, el ghe gera Giacomo Bellarossi, il fradel pì zòvene de Alessandro.

Lucia la ze sta la prima a vardarlo, mentre che la tirava aqua con el sècio dal rieto. Lei la ze saltà. E la ze strassà. I putei ze vegnù drio, scalsi e sporchi, come can de muta che ritrova el paron sparì. Alessandro lu el ga molà la manara lì dove zera e el ze ndà pian pian fin al fradel.

I se ze abrassà in silénsio par un bel toco. Un abrassio de chi che porta la stessa crose e la stessa fede — la fede che l’altro no se gaveria mai mosso se el destin el ze ancora inserto. Ma i oci de Giacomo no i zera lusenti. No come queli de chi che ga trovà la pase, ma come de chi che ze scampà da na guera.

— “Cismon el ze pì vodo, Sandro. E pì vècio. El prete el ze morto. La mama la ze restà. La ga deto che il so cuor no el traversaria el mar... e forse la ga rason.

— “Te vien par speransa... o par desperassion?

— “Cossa che cambia?”

Lu el ga instalà Giacomo ´ntela baracca pìcola drio la casa grande. Par la prima setimana, Giacomo no parlava massa. El dava na man dove el podea — segava legna, cavava fosse, lu badava ai putei quando Lucia la ghe dovea ndar al russelo. Ma ´ntei so gesti ghe zera ´na tension dura, come se el spetasse che la tera ghe cascasse soto i piè.

E dopo ze rivà el zorno de la disgràssia.

Ze sta ´na matina coerta de nèbia, quando Giacomo lu el ze ´ndà con el Matteo al campo pì basso, drio al limite de la proprietà, par mèter su le recinsion. Un grupeto de coloni visin, de origine tedesca, laorava de l’altra parte del confine segnà. Ghe ze sta paroe. Dopo, strili. Dopo, el colpo seco de un pugno.

Matteo lu el ze tornà corendo, piansendo come un mato, tuto sporco de fango e sangue. Giacomo lo gavea colpìo in testa con un peso de legno. El zera cascà in terra, fermo, con la fàssia sfassià da un tàio fondo in fronte. I visin i disea che el gavea prinssipià lu. Che el zera sta preso da un colpo de ràbia.

“El disea che la tera la zera nostra, che el confine no zera giusto. Dopo lu el ga bestemià. E el ga siapà su el facon...”

Alessandro lu el ze rivà a tempo par evitar un linsàgio. El ga tirà indrio el fradel, mentre Lucia la strilava ordini e Elvira la corea a tor aqua calda. Paolo ghe strilava ´ntel so letino, senza capir el caos.

Par tre zorni, Giacomo lu el ze restà fra la febre e l’ombra de la morte. El delirava in italiano, el murmurava el nome de la mama, el contava i fiòi che no gavea. Alessandro no el ga mai lassà. Lucia lei la pregava.

La sera del quarto zorno, quando i grili i ze tornà a cantar, el ga verto i oci.

“Tanta tera, Sandro... e pur... se se litiga par un palmo.”

“Forse no ze la tera, Giacomo. Forse noaltri portemo ancora drento le catene de ndove vegnimo.”

Ze sta alora che tuti due i ga capì: la tera zera fèrtile, sì. Ma anca selvàdega. E il sangue, ´na semensa che no ghe podeva far nasser.

Capitolo IV — El Arado e la Promessa

La sicatrisse na fronte de Giacomo no la ze sparì. La ze restà come ´na riga storta e viola, che ghe traversa la fronte come un segno marcà con el fogo: anca la tera promessa la ciama sangue in càmbio de pase.

´Ntei zorni dopo la zufa, Alessandro el ga radunà i visin — italiani, tedeschi e qualcuni pochi luso-brasilian — soto el vècio capanon del colonel Gasparini, l’amministrador de la colónia. Ghe voleva pì de legno e tera per far un paeseto. Ghe voleva rispeto, regole s’empresie, e soratuto, fidùssia.

“Nissun el ze vignesto da l’altra banda del ossean par scominsiar na guera qua,” el ga deto Alessandro, in piè sora ´na cassa, la vose roca e con el so asento pesà. “Semo vignesti par costruir qualcosa che i nostri fiòi no gavarà da scampàr par catar.”

No ghe ze sta aplausi. Solo qualche ceno de capelo. Ma el zorno dopo, el colono Hans Jäger — queo stesso che avea minasià Giacomo — el ga lassà na cesta con pan nero e un saco de semense de segale sora la veranda dei Bellarossi.

Ntele campi, la tera ze scominsià a cambiar in solchi. L’aratro prestà dai visin el sgrignava drìo i buoi, scavando vene ´nte la tera scura. Giacomo, con la testa coerta da un vècio capel de ala larga, el zera el primo a levarse con el sole e l’ùltimo a lasar la zapa. Come se’l volesse espiaiarse davanti ai dei de sta nova tera.

Lucia la curava la rossa del fasòi e le galine, e trovava anca el tempo de insegnar a Elvira a lesar, doparà un vècio catechismo che la gavea portà su sconto fra le robe de la traversia. Matteo el cresseva svelto, con le spale dure come legno. Paolo el imparava a caminar sora la tera batua de la veranda, inciampando ´ntei scalini de legno e ridendo come se’l mondo el zera solo quelo: sol, formenton e el odor de la mama.

A la fin del autun, prima che i venti fredi ghe tagliasse la zona come lame, la ze vignesta fora la prima safra. Pìcena, ùmile. Ma la zera de loro. I sachi de formenton e patate dolse i ze sta portà ´nte’l capanon comun, dove na vècia asse de legno la servea de altar par ringraziamenti. El prete Celestino, vignesto da Caxias, el ga fato na messa fora, soto na croce fincà tra do pini bravi.

“La tera la xe dura, fiòi miei. Ma la ze vèrgine. E come tute le vèrgini, ghe vole paciensa, cura... e fede,” el ga deto, mentre el vento el sbateva fra le tavolete del teiado ancora incompleto.

Quela sera, ghe se sta mùsica. Un vècio violin, do armoniche e vosi roche che cantava le cansoni del Véneto. Le risa le ecoava fra la boscàlia. Par la prima olta da che i gavea passà l’ossean, i Bellarossi i se ga permetesto de balar. Anca Giacomo. Soto le stele, con un goto de vin aspro ´nte le man e i pantaloni sporchi de tera, el ciapava el cielo come se’l ghe domandasse perdon par gaver dubità.

Ze sta in quelo momento che Alessandro el ga ciapà un palo, lo ga segà e sora scrisse el nome de la famèia — "Bellarossi, 1888" — e el ga fincà al’entrada del campo.

No el zera solo un marco de possesso.

El zera ´na promessa.


Capìtoło V — L’Ombra su la Siera


Lo inverno el ze rivà calsado, come ‘n can de càssia che se move pian. Sole coste de la Siera Gaúcha, el fredo el calava fra łe piante come ‘na nèbia viva, coprindo łe colture con ‘n velo de sugo e strensendo le ossa dei pì veci come un morseto invisìbile.

El formento el se secava prima del so tèrmino. I fasòi i marsiva in meso łe pàie. E i bovi, che prima i zera mùscoli in movimento, adesso i mostrava le coste come squeletoni che camina.

Lucia la se sveiava tossendo, invelà in ‘na scoia reparà con fil de telar. Paolo — che gavea da poco imparà a caminare — el gavea febre ogni note. Alessandro el cavava fossi par far ndar via l’aqua che se fermava ntela tera, ma el zera come provar a svodar el mar con un cuciaro. E quando le vivande le ga scominsià a mancare su le tole dei visin, l’ombra pì temuda la ze entrà par le fese de łe finestre: el dùbio.

“E se le promesse i ze tuto un falso?” i spetava alcuni ´nte łe reunion de sera.

“E se l’imperadore el ga lassà noaltri come ga fato i nostri signori in Itàlia?”

E po’, i ga scominsià a rivar le vosi.

I diseva che a Porto Alegre l’Impero el trema. Che i abolissionisti i volea finire con el laoro schiavo, e che i fasendieri, par paura de perder i laoradori, i ga scominsià a vardar con sospeta i imigranti lìbari che adesso i ga le tere e l’aiuto del governo.

La tension la montava come ‘l fume dai fogolari a lena. Alessandro el sentiva in ària: qualcosa zé drio a rivar.

´Nte la seconda setimana de lùlio, el Gasparini — el vècio aministradore de la colónia — el ze rivà a cavalo, tuto bagnà e con el muso pì bianco che le neve del Véneto. El portava male notìssie: I aiuti del governo i saria sta fermà.

“L’ordine el vien da Corte. I dise che le casse ze vote. Che serve taiar le spese ´nte łe colònie.”

El silénsio che el ze vegnesto dopo ‘sta frase el ze sta pì pesante del fredo che intrava par la porta verza del cason.

— “Ma i nove mesi de aiuto che i ga promesso?” el ga domandà un colono tedesco, strensendo le cìlia.

El Gasparini no el ga deto gnente. El ga solo tirà su el capoto e el ze ‘ndà via. Lei ga via con el cavalo le ze sparì ´nte el fòsso, come se le notìssie le volea scondarse.

Lucia la ga strensù forte le man de Alessandro. No el ga dito gnente. El ga solo vardà i fiòi, che i ze drio a zogar con i rami drio al fogolar.

Ze stà quela note, dopo che tuti i gavea sonià, che el ze rivà a na decission.

Intel silénsio de ła cusina, soto la lampada de oio, el ga tirà fora el vècio quaderno che el gavea portà da l’Itàlia — l’ùnica eredità del pare. Là, frègole le recete de vin e le conti de le racolte, el ze scominsià a scrivar un piano. No un piano par resistar. Ma par prosperar, anca sensa lauto de l´impero, anca sensa promesse.

El scriverà ai parenti che i ze rimasti in Italia. Lori i mandarà semense, racònti, fotografie. Lui organizerà ‘na cołaborassion rudimentale con i visin, par far sì che chi ga racolto de più el sostegna chi ga racolto de manco.

— “La tera la ne vol qua,” el ga murmurà, come se confessasse un segreto ala note.

El zorno dopo, el ga radunà diese òmeni sol campo drio a la capela. Zera l’inìsio de na nova fase: la sopravivensa con l’union. I zera soli adesso. Ma no impotenti.

Dopo el ga entrà a casa, Giacomo el ze drio a limar ‘na zapa. Le scrise i saltava come le luse ´nte la sera. Matteo, che ga tredise ani, el ze drio a construir ´na trapa par i tatù con el legno de rami. E Elvira, desegnando letere ´nte la tera con ‘na frasca, la ze drio a scrivar el nome de la mare.

Lucia, vardando tuto da la finestra, la ga strensù Paolo drio el peto e la ga sussurà:

“L’ombra la pol ancò vegnir, ma noaltri... semo fata de luse.”


Capìtulo VI — Fumegà ´ntela Capela


El campanel de la capelina rinsòna tre olte — 'na toca lenta, de luto, che no proclamava mesa, ma tristessa. La fumassa bailava ancora tra i pini quando Alessandro el ga rivà, con el cuor a corer e la zapa su la spala. La capelina de legno, tirà su con la donassion e el laor de tuti, la zera a metà brusà. No 'l fogo la ga magnà tuta, ma l’altar el zera nero de fumo, i banchi scuri, e la Madona cascada, con la fàssia crepà e i òci puntà per tera.

El prete Giustino, pàlido e sensa fìa, zirava intorno a la porta mesa verta. Al so fianco, Giacomo el strenseva i pugni cussì forte che i nodi pareva ossi de cristalo.

“Son rivà bon’ora par ressitar la mesa… e go catà sto desastro.”

Alessandro el se toca la fàssia con la man. Ghe zera un odor dolse-amaro in l’ària — legno brusà mescolà col òlio de le candele e qualcos’altro: òdio.

“Ze sta qualcun che la ga meso fogo?” domandò sensa tanti giri.

Giacomo el rispose a denti strensià:

“No ze stà caso a infiamar sto inferno.”

Quela sera, tuti i colòni i se ga radunà soto el teiado dei Brandt — i primi rivà i ze i tedeschi, prima dei italiani. Se vedea tension ´ntei òci, paura nei sussùri e na domanda che pasava tra tuti i silénsi: chi che podaria far questo... e parché?

El prete Giustino el se alsò:

“Semo soto i òci. Ghe ze zente che no vol noaltri qua. Né le nostre funsion, né le nstre scuole. Mancoman che el nostro progresso.”

Gasparini, l’aministrador, el rivò tardi, con do soldà brasiliani a caval e na fàcia impensierìa. El provò calmar i ànimi co promesse: el governo el gavaria investigà, ghe saria pì securessa, ma nissun vandalismo se podaria scusar. Ma nisun ghe credeva. Cossa valeva 'na capelìna brusà in frente a la vastità de un império?

Alessandro, drio la porta, el parlò basso ma deciso:

“Se i vol farne paura, i ga sbaià popolo. Semo rivà de un posto brusà de guere e fame. Gavemo superà el mar, la peste e el fango. No sará fogo de vigliacchi a farne scampàr.”

Le so parole le pare 'na scintila in meso a la paia seca de l’ànimo dei colòni. Matteo, che ascoltava co i òci sbarelà, el strense la man del pare in silénsio.

El zorno dopo, i ga tacà a rifar la capelina.

Ogni omo el portava ´na tàvola, un cavìo, un martelo. Ogni dona, na candela o 'na imagine salvà dal fogo. Anca i putei i dava na man, catando piere par rifar le fondamenta. El prete Giustino el soriseva par la prima volta dopo tanto.

Lucia, intanto che la mescolava la farina magra par far el pan, la disse piano a Alessandro:

“I volea spenser la fè, ma i ga insendià el coraio.”

No tute le famèie però le ga reagì con forsa.

Ghe ze sta chi che ga ciamà a desister. Una carossa pien la ze partì da la colónia a sera. I zera i Cortese, che no i gavea piò resistensa: un fiòl col tifo, 'na racòlta persa, e adesso… paura.

Ma quando la caròzza la xe pasà dal camp de Alessandro, lù el ga tignù Paolo in brasso e el ga salutà. No par dir adìo, ma par avvisàr.

“Se sempre scampemo quando el mondo el trema, no gavaremo mai tera soto i piè.”

La sera che la nova crose la ze sta messa sora el teiado de la capelina, i campanèi i ga sonà de novo. Stavolta no de luto. Ma de resistensa.

Soto el cielo stelà del sud, intanto che i colóni i cantava a coro — in italiano, tedesco, portoghese —, Alessandro el gavea ‘na certessa: la colónia no zera pì un riparo, ma ‘na pàtria, fata de coraio, fè e ferìe.

E ogni pàtria, prima o dopo, la vol i so eròi.


Capìtolo VII — Le Vose del Silènsio


L'estate vegneva calda massa, seca massa, e i venti dal Sud, che prima portava solievo, adesso portava sol pòlvere. La tera se induriva. Le piantassion de formento se rimpicoliva soto el sol implacàbile. E con la sicità vegniva n'altro mal: el silènsio.

No el silénsio de la pase, ma quelo che precede l'esplosion.

Da quando che la capela ga brusà, le noti ´nte la Colònia Dona Isabel la ze diventà longhe massa. I òmeni se tirava a casa presto, con le sciopete tacà al cavedal. Le done parlava soto vose drio le cortine. Fin i putei parea che ´ndasse pian pianin — come se i so piè se podesse sveiar un mostro che dormiva.

Giacomo passava pì tempo ´nte i campi che a casa. Laorava con fùria. Batèa con la mara sul tereno come se podesse vendicarse de lu. No parlava del fogo, né de la mancansa de Gasparini, l'aministrador. Serava solo i denti.

Alessandro, tute 'ste robe le vedea con inquietudine. Ogni gesto taco era 'na alarma. Un pòpolo che smete de parlare su la sòlia de 'na rovina — o de 'na rivolta.

Ze stà Matteo el primo a capir che ghe zera 'na diferensa. Tornava da casa de un colono tedesco, Hans Müller, quando 'l ga sentì vose sofocà che vegniva dal tereno. El zera note. Là drento, ombre I se moveva soto la luse dèbole de 'na lamparina. Una la ga riconossesto: quela de so pare, Giacomo.

“Vien per nu,” diseva ´na vose. “Vogliono le nostre tere. Prima brusano la capela, dopo sbrissa i pì dèbole. Pian pianin, fano noialtri scampar.”

“Gavemo da far qualcosa prima che sia tarde.”

Matteo el ga tratenù el fià. Un piano se stava architetando. E so pare, Alessandro, no el savea gnente.

La matina dopo, Matteo ga contà tuto. La fassia de Alessandro la ze diventà dura.

“Se femo guera sensa prove, diventemo briganti. Se tacemo, diventemo complici de la nostra pròpia rovina.”

Lucia, che stava a sentir in silénsio, ga deto solo:

“Forse dovemo parlar con chi ancora ascolta.”

El zorno dopo, Alessandro el ga preparà el caval e ze partì verso Nova Palmira, un vilàgio distante tre lègue, ndove ghe zeva un posto imperial e un delegado. Portava con lu ´na copia de la carta de donassion de le tere, el raporto del prete Giustino sul inséndio, e el diàrio del signor Cortese, lassà drio — ndove se leseva 'na frase che dava da pensare: “Semu stà atacà dal timor, no dal nemico.”

La viaie ga durà due zorni. ´Nte la vila, el ga trovà el delegado Abílio Rocha: un omo negro, con i mustassi fini e un sguardo calcolador. El ga sentì tuto, ma no l'ha mostrà gnente.

“Sa ben che l'Impero ga i oci su el Norte. Qua semo retaguardia, signor Bellarossi. Tera de silénsio. E de dimenticà.”

— “Alora che sto silénzio scopie,” rispose Alessandro. “Parché no semo da dimenticar. E gnanca da tacere.

Rocha ga alzà i oci e, par la prima volta, ga sorriso.

“Te sì testardo. Me farè sudar… Ma me piase la gente che no inchina la testa.”

Quando i ze tornà, Alessandro ga trovà 'na tensione pesante. Durante la so assensa, Giacomo e altri òmeni i ga sfidà un grupo de guardie de tera — brasiliani assoldà da un fasendieor de le vissinanse, che se lamentava de ´na sovraposission de confin con la colónia. Ghe ze stà spintoni, spari in ària, e un ferì: el toso Pietro Moretti, colpì a 'na gamba.

El arivo del delegado ga evità el peso. El ga radunà i capi de le famèie, tedeschi e italiani insieme, e ga dito chiaro:

“Se ghe ze disputa de tera, ghe ze la lese. Se ghe ze deliti, ghe ze la giustissia. Ma se ghe ze guera… ghe sarà solo morti.”

Quela note, la colónia ga dormì come chi ga sopravissù a un teremoto.

Lucia la ga acendù 'na candela ´nte la capela nova e ga piansesto in silénsio. Paolo, che cominziava a rampicar, giocava co un steco in tera. Matteo guardava el ciel e sercava fra le stele ´na che ghe disesse che tuto saria ndà ben.

E Alessandro, par la prima volta da che xe rivà in Sudamérica, se ze sentìo picinin. Ma ga capì anca che la libertà — come la tera — se conquista solo con radise fonde e spine sul camino.

Capìtoło VIII — Le Cènare e ‘l Asso

La matina seguente no 'l ga portà alivio, ma solo la consapevolessa che tuto el zera cambià. La bala ´ntela gamba de Pietro Moretti la zera diventà un símbolo: l'inosénsa de la colónia l'aveva insanguinà. E gnente podea tornar drìo.

Giacomo ndava e vegnia su e zo par la veranda de casa, con i òci rossi de vegìa e ràbia. La mare de Pietro, dona Celina, ghe gaveva urlà la sera prima.

"Te ghe porté mio fio a la guera! No se copea par la tèra!"

Lui no el gavea risposto. Solo ghe gavea sercà i pugni e voltà la fàsia. La sólita dolor, quando vegnia, el la trangugiava in silénsio.

Intànto, Alessandro pasea de cà in là, par tor fora la pasión, parlando con i capi de famèia. Ghe portà parole de pase, ma anca de atenssion. L'arivo del delegà Rocha el zera sta un passo, no na vitòria.

"No gavemo nemìghi fra de noialtri", diseva. "Ma ghe ze chi che vole che ghe sia. E questo... la ze pì pericoloso del fogo o del fero."

In cesa, refata de corsa, el prete Giustino gavea convocà i coloni par na messa de reconsiliassion. Ghe zera pì mancansa che presensa. Tra queli rivà, sèrti stava con le bràssia crusà; altri no pregava. La comunità la zera spesà, come un toco de argila crepà dal sole.

Intla predica, el prete gavea parlà de Giob. De pèrde, de pròve, de fede ´nt'el meso de la desolassion.

"Ma anca Giob", el gavea deto co ‘na vose tremà, "gavea amissi che se sedeva colui int'el tòco. E, certe ólte, pì importe che capìr el dolor... la ze no lassàrla da sola."

A fin messa, Matteo gavea vardà Elvira che acèndea ´na candeia par Pietro. La candeia la zera pìcola, ma firmo. Ghe zera qualche cosa de novo ´nte i so òci. No la zera paura — la zera ràbia contenù. Na putela de diese ani che l'avea capì che anca l'infansa podea brusà ´ntel fogo del mondo dei òmeni.

El dì dopo, Alessandro el ga sta ciamà da Hans Müller. Là, el ga trovà un mapa — vècio, desbalà, ma ufissiàe. El mostrava le confine de le tere imperiai ´ntel Alto Taquari.

— "Varda qua", el disea Hans, indicando con el dito grosso e rugòso. 

"Le tere del fasendero Fontoura finìsse prima del nostro fiume. La colónia la ze sicura. Queło che’l vol... la ze poder. No i ectari."

Alessandro gavea assentì. No el zera solo question de tere — el zera de controlo. Fontoura el volea che i italiani savesse che i stava soto la so ombra. Un zogo de intimidassion sutil, fata de violensa dei só zagunsi e de rumore sparpalià fra i indìgeni. Na tàtica vècia.

Ma i coloni, sensa saver quelo, i gavea scominsià a armàrsi.

"Ghe serve far qualcosa prima che ghe sia un altro Pietro. O qualche cosa de pedo."

Na setimana dopo, Alessandro el ga partì de novo, stavolta par Caxias. Là, ghe zera ‘na sede de l’Intendensa Provinsial. El ga portà con se la mapa. E le so parole.

Ghe gavea portà anca Matteo. El toso el insìstea. El volea imparar. El voléa proteger. No el zera pì un putelo — el zera fiol de colono, e questo el càmbia tuto.

La strada la zera polverosa, passando tra campi verzi e boschi spéssi. I gavea dormì in staia, magnà quel che i gavea: pan de frumento, formàio duro, àqua tèbia. A ogni fermada, Alessandro el domandava de Fontoura — e ghe sentìa stòrie. Tere sequestrà. Gropi butà fora. Documenti scomparsi.

Caxias la comparìa lontana come na promessa — e un risco.

Int’el palaso del governo, i gavea stà recevù fredi. L'Intendente, un tal Amaral, vestì de lino bianco, parlava con parole misurà.

— "Sior Bellarossi, savemo de l’importansa de queste colónie. Ma savemo anca che le dificultà la ga nassesto quando i pópoli se insedié sensa comprender i confìni de l’òrdine."

"E che’l sior el ciamé órdine i incendi, le minàce, e le bale che colpisse un toso?"

L’Intendente no’l gavea risposto sùito. El gavea vardà la mapa.

"Ste tere le ga stà trassà dai ingegneri imperiài. Se ghe ze conflìto... lo analiseremo. Ma gavé pasiénsa. ‘Sto Brasil el ze grando. E lento."

Ussiti, Matteo el domandà:

"Papà... el ghe gà sentìo?"

"Ghe gà sentìo. Ma no ghe gà stà ad ascoltar."

Quando i ritornà a la colónia, el clima el zera diverso. Pietro el gavea scominsià a ´ndar con ‘na cròssola fata da Elvira. I òmeni, par òrdine de Giacomo, i scavava trincee discretamente drio le case, come se se preparava a na guera che nisun volea, ma tuti i temea.

E na matina, quando el vento el tornava a sofiar dal Sud — portando l’odor de pìno e umidità — rivò un mesagero.

El portava ‘na lètara. La vegnea da Porto Alegre. La zera ‘na comunicassion ufissial.

E drento, el diseva che el Ministero de l’Agricultura, soto la pression de diversi rapresentanti, el mandava un agrimensor intel posto tra trenta zorni par rivalutar i confìn de la Colònia Dona Isabel.

Lucia la tegnea la carta ´ntele man e la piansea. Par la prima olta, no la zera paura. La zera alìvio.

Trenta zorni. Un mese par resister.

El zogo el stava cambiando. Ma i rischi restava tuti.


Capitolo IX — La Misura de Tute e Cose

El rumore dei cavai rivò prima de la pòlvere.

João Vicente Lisboa apare ´ntela entrada de la colónia ´na matina freda, cuerto in un sopravesto de lana scura, seguì da do soldà e un assistente mulato che portava pransete e un livel topogràfico.

Lù no sorise.

El so sguardo girava par la radura come se stesse mapeando ánime, no ètari. I coloni, in silénsio, lassava i manari riposar. Le fasse sporche, i vestì rabucà, ma i oci... i oci brilava de dignità.

Alessandro rivò par incontrarlo, insieme a Hans Müller e Giacomo. Quando i ga arivà, João Lisboa se smontò del caval con calma. Ghe gavea la man — ma dopo averli studià.

— "Mi son João Vicente Lisboa. Agrimensore oficial, mandato dal Impèro. Go le demarcassion. Ma prima... voio sentir la verità."

El laoro gavea tacà.

Instalà in ´na de le poche case de alvenaria improvisà, Lisboa tacò a laorar come se fosse interrogando un tribunale invisìbile. Sentì testemonianse. Studiò documenti. Visitò i loti. Parlò con el prete. Rivò fin ala crose del putèo morto de sarampo — e no disse gnente, ma resto in zenòcio pì tempo del sperà.

Par tre zorni, el scrisse. Misurò. Comparò mape.

La sera del quarto torno, qualchedun provò a brusarghe el galpon dove el dormiva. El fogo la ze spensè prima — ma un dei soldà se brusò la fassia. Lisboa no mostrò paura. Ghe ordinò solo de montar guarda armada sui sentieri.

El quinto zorno, el convocò ´na assemblea.

La gavea al piè de la grande fighera, ndove i coloni fasea le messe fora porta. Pì de sento persone i zera radunà — putei in spale ai pupà, veci sentai sui tronchi, done con i oci fissà come sassi.

João Lisboa salì su na casseta e parlò come un giudice, ma con la vose de un omo straco:

— "Sta tera la zera promesa con el decreto imperial. E la ze sta conquistàa con zape, sudor e luto. El sigilo de la legalità... la ze qua."

El alzò la mapa sigilà con el sìmbolo del impero.

— "Da sto zorno, la Colónia Dona Isabel la ze riconossù come nùcleo agrìcola de povoamento lìbaro. I loti i sarà intestà ale famèie pionere. Chi che provà a sbutarve fora sarà giudicà secondo la lege de l'omo — e, se servirà, anca da quela de Dio."

Un mormorio passò par la zente. Qualchedun piansè. Altri chiudeva solo i oci.

Giacomo, che fin là zera sta fermo, sussurrò:

— "Gavemo vinto sensa copar nessun."

Ma Hans rispose, amaro:

— "Sì. Gavemo solo sepeli i nostri."

La sera dopo, qualchedun lassò na lètara anónima fincà ´ntela porta de casa de Alessandro. ´Na frase sola: "La tera la podarà aver un paron, ma la paura no ga confini."

No el zera la fin del conflito — ma la zera la fin de i dubi.

Fontoura scampò in Uruguai dopo qualche setimana, abandonando i so zagunsi e i falsi documenti. E par quanto riguarda el traditor tra i coloni — Lisboa lo gavea scovà. Ghe disse de andar via, discretamente, sotto scorta. Gnissun nome el ga deto. La pase costava pì del vero.

Ntei zorni dopo, el rumore de le zape i ga rivà pì forte. Come se ogni colpo ´ntela tera el zera ´na afermassion:

Semo vivi. Semo qua. Sta tera la ze nostra perché l’avemo fata nostra.

Elvira piantò fiori visin a la croce del pìcolo Paolo. Matteo scrisse el so nome sul stipite de casa. Lucia tornò a cantar mentre macinava el frumento. E Pietro... Pietro tacò a copiar ogni pàgina del so quaderno in un’altra letra, più ferma — perché, un zorno, altri potesse leserlo.

João Lisboa partì con el sole a le spale. Prima de ´ndar via, el ghe diede a Alessandro ´na busta sigilà.

— "Ze el registro de la posse legal. Firmà. Timbrà. Tegnelo ben — ma no par vu. Tegnelo... par i vostri nipoti."

E montò sul cavalo, sparendo tra le araucàrie.

La colonia dormì in pase sta note par la prima volta in ani. Ma gnissun se acorse che, lontan, el cìelo stelà pareva pì lìmpido — come se anca Dio stesse respirando con el fià in pase.

Epìlogo: Soto le Piante del Tempo

El vècio Pietro se sentò pian pianin soto l’ombra del pinaro pì vècio de la proprietà.

El tronco el zera grosso come tre òmini messi insieme. I rami i se levava su come brassi de giganti, e el vento che passava tra gli aghi fasea un murmurìo che pareva vosi desmentegà. A canto a lu, la so nipote Clara, de oto ani soltanto, tegneva in man un quaderno de coversio rosso.

— "Nono, contame ancora ‘na volta la stòria de la crose de legno..."

Lui la vardò e sorise. I òci, un poco spenti par la veciaria, i ghe luseva ancora de quel fogo che gnanca el tempo el gavea smorsà. El tocò pian pianin el pendente che pendeva dal so colo — ‘na pìcola crose de fero vècio, che lu stesso l’avea fato con i ciodi veci trovà ´ntel cason brusà.

— "Quela stòria no la ze mia, cara nipote. La ze de noaltri. La ze de ‘sta tera. La ze del sangue che el ga bagnà el teren prima de farlo fèrtile."

E lu scominsiò.

El ga contà del viaio ´ntei barchi streti, del sudor che restava tacà a le tole del vapor Roma. Parlò del so pare, Alessandro, che el scrivea lètare come chi che pianta sementi drento el cuor de chi che zera restà drìo. E de la so mare, Lucia, che la sorideva ancòi dopo aver sepultà un fiol in meso al mar. El descrivea la fàcia de Giacomo, sempre sporca de fango e de coràio. E de Hans, che no l’avea mai abandonà gnissun, gnanca quando l’avea ocasione. Parlò del Pare Giustino e de la so fede che resistiva a le febri, a le perdite, a le malatie. E parlò anca de Giovanni Lisboa — el omo de divisa che no portava spade, ma parole.

Clara la stava a sentir come chi che siapa un tesoro che no se pol veder.

— "E dopo, nono? Cosa la ze sucesso a la colónia?"

Pietro sospirò.

— "La ze cressù. La ze diventà sità. Le ze vegnù le scole, le cese, el mercato. Le case de legno le ze stà sostituì da muri de piera. Ma le radisi... quele no le ze mai cambià."

El segnò con el dito verso tera.

— "Le ze qua soto. ´Ntei fondamento. ´Ntei ossi de chi che ze restà. ´Ntei nomi che gavemo dà a le strade. ´Ntei che no i ze mai partì — gnanca da morti."

Clara la scriveva con calma, con cura. La scriveva con la stessa scritura ferma che el nono ghe gavea insegnà. Quando la ga finì, el sole se gavea già nasscondù drìo i coli. Le ombre le ze vegnù longhe come vèci amissi che i tornava casa.

Pietro el se slevò pian pianin. El vardò verso l’orisonte.

— "Prometi che un zorno ti la contarà a qualcun, Clara?"

La ghe fesse sì con el capo, con quei so do ocioni grande e seri.

— "Prometo, nono."

— "Alora, el ze fato."

Quela note, Pietro el dormì ´ntel quarto ndove lu el zera nato. A canto al leto, el quaderno rosso el stava posà. Sula ùltima pàgina, scrito con na caligrafia ancora de fioete, se leseva:

"Sta tera la ze sta conquistà con coraio, fede e làgreme. E par questo, la ze de noaltri. No perché la gavemo siapà. Ma perché la gavemo amà.”

Nota do Autor

Sto romanzo de Piazzetta el ze nassesto da la memòria coletiva de na saga silensiosa, ´ndove i protagonisti i compare raro ´ntei libri de Stòria. "Radise de Speransa" el ze ‘na omaio ai miliaia de emigranti italiani che, tra la fin de l’Otosento e el prinssìpio del Novesento, i ga lassà drio i so paeseti con le strade de piere, i campi pòveri e le promesse mai mantegnù de l’Itàlia unita, sercando ‘na nova vita in Brasil, ´nte le tere del Sud.

Alessandro Bellarossi el ze na figura inventà, ma el so viaio el fa eco a la realtà de tante famèie vegneste dal Véneto, dal Trentino, dal Friuli e da altre regioni italiane. La stòria la se basa su fati stòrici veri: le dificoltà de le viaie transatlàntiche su vaporeti stracargà, i primi ani de colonizassion inte le montagnete del Rio Grande do Sul, e el laor tremendo par far diventar boschi vèrgini in campagne, caseti de legno in case, e sopravivensa in futuro.

La Colónia Dona Isabel — che incòi se ciama Bento Gonçalves — la ze sta ‘na de le pì importanti esperiense de colonizassion italiana in Brasil, segnà da tanta duresa ma anca speransa. I documenti usà par scriver sto romanso i vien da lètare vere de emigranti, raconti orai de i dessendenti, verbai aministrativi imperiai e memòrie de comunità conservà ´ntei archivi comunai e ´ntei sentri culturai de la Serra Gaúcha.

"Radise de Speransa no la vol mia èsser solo un raconto stòrico, ma un ponte tra el passà e el presente — tra la nostalgia de chi la ze partì e la forsa de chi la ze restà. Con dando vose a personasi che no i ze mai esisti ufissialmente, ma che i ga vivesto in ogni gesto de chi ga laorà, piansesto e sonià soto el cielo brasilian, sto romanzo el vol ricordar al letor che la libartà, tante volte negà in tera nativa, la ga trovà radise in tera foresta — e che da quei radisi i ze nassesto no solo colònie, ma identità, culture e eredità che incòi dura.

Dr. Luiz C. B. Piazzetta