terça-feira, 2 de setembro de 2025

Lorenzo Bassi Entre a Esperança e a Fome


Lorenzo Bassi 

Entre a Esperança e a Fome

A vida de um imigrante italiano na Argentina


No verão de 1877, Lorenzo Bassi deixou para trás a aldeia pedregosa de Cimano, em San Daniele del Friuli, carregando consigo apenas a esposa e a promessa de um mundo melhor. O recém-unificado Reino da Itália, ainda vacilante e marcado por feridas políticas, nada oferecia à sua gente além de impostos, fome, dívidas e o peso sufocante de uma terra ingrata e estéril. Nos discursos persuasivos dos agentes de emigração, a Argentina ganhava contornos quase míticos: um paraíso de campos vastos e férteis, onde o solo parecia produzir sozinho colheitas fartas; vilarejos e cidades pulsando de oportunidades, com trabalho suficiente para todos e prosperidade que prometia colocar pão fresco sobre a mesa de cada família. Cada palavra carregava esperança e promessa, e para aqueles que enfrentavam a escassez e a dureza da terra natal, resistir a tais imagens era quase impossível. A fantasia de um futuro melhor acendia nos corações dos camponeses o desejo de deixar para trás o sofrimento cotidiano, seduzindo-os a arriscar tudo em nome de uma vida digna e promissora além-mar.

A travessia do Atlântico a bordo do Isabella, um imponente navio a vapor, transformou-se em um verdadeiro suplício de quarenta dias. Homens, mulheres e crianças amontoavam-se nos porões úmidos, dividindo um espaço exíguo onde o ar se tornava quase irrespirável, pesado pelo calor, pelo medo e pelo cheiro da maresia misturado à exaustão. A doença rondava como uma fera invisível, pronta a atacar os mais fracos, e cada amanhecer era recebido como uma pequena vitória, uma batalha silenciosa contra a morte que parecia caminhar entre eles a cada passo. Entre a fome contida, o enjoo constante e o cansaço que pesava nos corpos e nas almas, os emigrantes aprendiam, dia após dia, o significado cruel da esperança. Quando, finalmente, os primeiros contornos da costa de Buenos Aires surgiram no horizonte, Lorenzo sentiu um misto de alívio e incredulidade; por um instante, acreditou que o sofrimento havia chegado ao fim, que aquela linha tênue entre o medo e a liberdade finalmente se tornara real.

Mas Buenos Aires rapidamente desfez as promessas que haviam encantado Lorenzo durante a travessia. Ao desembarcar, encontrou uma multidão de imigrantes como ele, rostos marcados pela esperança e pelo cansaço, todos disputando os mesmos empregos e dispostos a aceitar qualquer salário, por mais irrisório que fosse. A imagem de um país fértil e generoso desmoronou diante de seus olhos; a Argentina, pensou ele, não estava livre das dificuldades, nem lhe oferecia milagres prontos para aqueles que chegavam. Sem terras próprias para cultivar, sem habilidades especiais que o distinguissem, Lorenzo compreendeu que tudo o que podia oferecer eram seus braços e sua força, e que cada dia seria uma luta silenciosa para conquistar um espaço nesse novo mundo que prometia tanto, mas cobrava ainda mais.

Meses depois, Lorenzo seguiu para Rosario de Santa Fé. Foi ali que compreendeu o tamanho do engano. Não havia lavouras à espera dos colonos, nem patrões generosos. O que encontrou foi uma cidade que sugava a força dos imigrantes, oferecendo-lhes em troca uma paga miserável. Ele e a esposa sobreviveram servindo nas casas dos ricos, aceitando humilhações e longas jornadas de trabalho por algumas moedas que mal compravam pão.

Os dias eram duros. Lorenzo recordava-se das noites na Itália, quando o estômago vazio lhe roubava o sono, mas ainda havia a certeza de estar entre os seus. Na Argentina, a fome vinha acompanhada de solidão. Os sinos de sua aldeia já não marcavam o tempo, e a saudade da pátria o consumia como uma ferida que não cicatrizava.

Enquanto alguns ainda escreviam à Itália exaltando as maravilhas da América, ele sabia a verdade. A Argentina não era uma promessa; era apenas outro palco de privações. Cada manhã era vencida com o mesmo esforço de ontem, e o futuro parecia sempre escorregar de suas mãos.

No entanto, Lorenzo não desistiu. A necessidade o obrigava a permanecer, mesmo diante de um mundo que parecia indiferente à sua esperança. Com o tempo, conseguiu trabalho assalariado nas extensas plantações de trigo e milho que se estendiam além dos arredores da cidade, campos que exigiam esforço diário e braços incansáveis. Cada dia de labuta era um teste de resistência, mas também uma lição de humildade: a vida naquele novo país não lhe ofereceria abundância, apenas a oportunidade de sobreviver. O pouco que conseguia juntar servia para manter-se de pé, aquecer o coração e, acima de tudo, alimentar o sonho silencioso de que seus filhos, quando viessem, poderiam colher frutos que a ele foram negados. Entre o suor e o pó da terra, Lorenzo aprendeu que a verdadeira riqueza não estava nos bens materiais, mas na perseverança e na esperança de que o futuro pudesse, finalmente, sorrir àqueles que vinham depois dele.

Assim se escreveu o destino de Lorenzo Bassi em Rosario de Santa Fé, em 1878. Não o destino de riqueza que lhe prometeram, mas o de resistência silenciosa. Sua vida tornou-se símbolo de uma geração de italianos que atravessou o oceano acreditando encontrar a terra da esperança e descobriu, em vez disso, que o maior milagre era simplesmente continuar vivo.

Nota do Autor

Esta narrativa busca dar voz aos imigrantes italianos que, no final do século XIX, deixaram suas terras em busca de uma vida melhor na Argentina. Inspirada em relatos históricos e cartas da época, conservadas no Arquivo Geral da Nação Argentina, acompanha a trajetória de Lorenzo, cujo esforço e esperança refletem a coragem e a resiliência de milhares que enfrentaram desafios inimagináveis para construir um futuro para suas famílias.

Dr. Piazzetta



La Zornada dei Imigrante Italiani ´ntel Rio Grande do Sul


 

La Zornada dei Imigrante Italiani ´ntel Rio Grande do Sul 

Sfide e Resiliensa


Dopo de rivà ´ntel Porto de Rio de Janeiro, i emigranti italiani sani i vegnia mandà a la ¨Hospedaria de la Ilha das Flores¨. Sto posto servia come punto de triagem par vardar le condission de salute dei emigranti. Se no ghe gera stòria de epidemie durante la traversia del Atlàntico, i emigranti i vegniva liberà in pochi zorni. Però, se ghe zera segni de malatie contagiose, la quarantena la se prolungava, essendo un processo rigoroso e controlà da le autorità sanitàrie de quela època.

Dopo la liberassion, i emigranti lori i scominsiava ´na altra parte del viaio, imbarcando su navi pì pìcole, a vapor, che i ndava lungo la costa fin al sud del Brasile. Par chi che zera destinà al Rio Grande do Sul, el percorso includeva fermade ´ntel Porto de Paranaguá, Rio Grande, Pelotas. Da questo posto dopo qualche settimana, imbarcava de novo adesso em vaporeti fluviale, atraversando la grande Lagoa dos Patos, passando fin a Porto Alegre e seguindo avanti Questi barchi, de fondo basso e a vapor, i navigava sui fiumi Caí o Jacuí, portando i coloni a le diverse colònie italiane fondà ´ntela provìnsia.

Par chi zera destinà a la Colónia Caxias, el percorso sul fiume Caí el durava circa 12 ore fin al Porto Guimarães, più tardi nominà São Sebastião do Caí. I emigranti che ndava verso le colònie de Dona Isabel (adesso Bento Gonçalves) e Conde D’Eu (adesso Garibaldi) i passava a Montenegro, fermandose dopo sirca sete ore de viaio.

Quei migranti che ndava verso la Colónia Silveira Martins lori i dovea far el percorso sul fiume Jacuí fin a la sità de Rio Pardo. Da lì, el viaio el zera ancora pî duro: la salita de la sera la voleva viaio a piè o su carosse tirà da bo, taiando sentieri in meso a la mata vèrgine.

´Na olta arrivà a le colònie, i emigranti i zera ospità in baracon coletivi, semplice, rusteghe ndove i stava fin che ghe zera la division dei lote de tera. El governo brasilian el dava strumenti bàsichi come zape, falci, manare e sementi, oltre a ´na aiuta finanssiera inisiale. Ma quelo che i ghe trovava zera ´na grande àrea de foresta da disboscar par podar coltivar e costruir le case.

I primi zorni su la nova tera i zera segnà dal taio dei àrbole e la netìssia del teren con el fogo, un laor che voleva na grande forsa fìsica. Con le senare de la foresta brusà come fertilsante, i coloni i seminava i primi grani, dipendendo de la natura par la soravivensa imediata. El magnar zera composto da alimenti bàsici dati dal governo, integrà con prodoti trovà ´ntela foresta, come pignon, fruti e qualche cassa.

La costruzione de strade e sentieri i zera essensial par integrar le colònie. In regime de mutiron, i coloni i laorava par vèrder le lìnie e i traverson, ricevendo pagamento dal governo in forma de sconto sui costi de le tere. Sti strade no solo conetava le comunità, ma anca simbolisava el spìrito de solidarietà tra le famèie italiane.

Nonostante le dificoltà, el laor duro e la solidarietà i gavea permesso ai emigranti de transformar le colònie in comunità pròspere. Ogni casa costruida, ogni campo coltivà e ogni strada verza zera testimoni de la forsa e de la resistensa dei pionieri che i gavea contribuì a formar l’identità culturae del Rio Grande do Sul.