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quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Alvise Pavesa – Entre a Terra e o Destino


Alvise Pavesa – Entre a Terra e o Destino


Alvise Pavesa veio ao mundo em 1857 na pequena localidade de San Vigilio, em Castiglione delle Stiviere, situado nas colinas da província de Mantova, onde os campos magros sustentavam mal aqueles que deles viviam. Desde a infância aprendera que a terra podia ser madrasta, oferecendo apenas colheitas ralas e trabalho sem descanso. A unificação da Itália não trouxera alívio; os impostos eram mais altos, os soldados levavam os jovens, e as famílias pobres viam-se esmagadas pelo peso das dívidas. Para os Pavesa, a sobrevivência era uma sucessão de invernos difíceis e verões ingratos.

Foi nesse cenário que começou a ouvir falar da América. As cartas vindas do outro lado do oceano enviadas por milhares de emigrantes que já tinham partido se tornavam cada vez mais frequentes e falavam de terras vastas, de colheitas fartas, de patrões sedentos por braços fortes. Homens bem falantes percorriam as aldeias espalhando papéis impressos, prometendo prosperidade do outro lado do mar. A miséria tornava aquelas palavras mais convincentes do que qualquer sermão. Alvise resistiu quanto pôde, mas o peso das dívidas e o medo de não poder alimentar os filhos que viriam o empurraram para a decisão irreversível. Vendeu o pouco que possuía, despediu-se do vilarejo e, com a esposa e a filha de 7 anos em novembro de 1888 e pôs-se a caminho do porto de Gênova.

O embarque foi o primeiro choque. O navio estava abarrotado de famílias inteiras, velhos, mulheres grávidas, crianças de colo, todos comprimidos em porões úmidos que cheiravam a mofo e a maresia. A travessia do Atlântico foi um suplício de semanas. O ar rarefeito misturava o cheiro de corpos, vômito e fezes. Cada tosse que ecoava no escuro parecia anunciar mais um condenado. Muitos sucumbiram à febre antes mesmo de ver terra firme, e os mortos eram enrolados às pressas em panos gastos e lançados ao mar, sob o olhar apavorado dos sobreviventes. Alvise rezava em silêncio a cada corpo que desaparecia nas ondas, temendo que sua própria família fosse a próxima.

Quando, enfim, surgiram as primeiras silhuetas da costa brasileira, um clamor percorreu o navio. Alguns se ajoelharam, outros choraram, e muitos agradeceram a Deus por estarem vivos. Alvise permaneceu calado, os olhos fixos na linha do horizonte. Aquela terra prometida não se parecia em nada com a Itália que deixara para trás. O verde intenso das florestas, o calor sufocante e o céu pesado anunciavam que ali nada seria familiar.

Instalado em Campinas, no interior de São Paulo, descobriu rapidamente a distância entre a promessa e a realidade. O clima úmido e abrasador castigava sem piedade. As lavouras de café e cana de açúcar, que dominavam a região, exigiam uma disciplina quase sobre-humana: o trabalho começava ao raiar do sol e só terminava quando a escuridão caía. O contrato com os patrões não era melhor do que servidão. Os salários mal bastavam para comprar farinha e feijão, e a possibilidade de um pedaço de terra própria parecia uma miragem cada vez mais distante.

Em janeiro de 1889, sua esposa deu à luz uma menina, chamada Caterina nome de uma das avós de Alvise. Foi recebida como sinal de esperança, uma pequena vitória contra a dureza do destino. Mas o calor e a febre o impediram de batizá-la de imediato. Decidiu esperar o tempo esfriar, como se o simples adiamento pudesse proteger a criança da morte precoce que rondava tantas famílias. Sua filha mais velha, Maria, estava doente havia semanas, a febre queimando-lhe o corpo. Alvise via nela o reflexo de sua impotência: a distância dos médicos, a falta de remédios, a única esperança depositada na providência divina.

A vida em Campinas era uma luta contra inimigos invisíveis. Os insetos penetravam na pele dos pés, deixando feridas que nunca cicatrizavam. A malária ceifava vidas sem aviso, e a febre amarela reaparecia em surtos que aterrorizavam a colônia. Muitos colonos, tomados pelo desespero, amaldiçoavam a América e até o nome de Colombo, acusando-o de ter aberto ao mundo uma terra que se revelava mais castigo do que bênção. Outros, resignados, repetiam que, se ao menos pudessem viver sem dívidas, estariam melhor na Itália.

Em São Paulo, a insatisfação explodira em rebelião. Colonos italianos, enganados por promessas falsas de terras, levantaram-se contra seus exploradores. A repressão foi dura, mas a notícia chegou rapidamente ao interior. Alvise sentia crescer entre os imigrantes uma nuvem de descrença. Muitos sonhavam em retornar, mas sabiam que a travessia custava mais do que poderiam juntar em anos de trabalho. Outros, já endividados com os próprios patrões, não tinham sequer a possibilidade de partir.

Ainda assim, pequenos gestos de fé sustentavam os que não sucumbiam à desesperança. Alvise fazia promessas silenciosas. Pedia para os parentes na Itália que missas fossem celebradas em sua aldeia natal, agradecendo a sobrevivência em meio a tantos perigos. Guardava consigo a lembrança das procissões de Castiglione, o toque dos sinos da igreja de São Luís Gonzaga, a imagem dos santos iluminados por velas. Essas memórias se tornaram seu consolo, a ponte invisível entre a vida que perdera e a que agora tentava construir.

A colônia italiana em torno de Campinas se reorganizava com solidariedade. Famílias dividiam sementes, ferramentas, pedaços de pão. As noites eram preenchidas por conversas à luz fraca de lamparinas, em que cada um recontava sua história, talvez na esperança de não se esquecer de quem fora antes. Mas a saudade corroía. Muitos sentiam a Itália mais viva nas lembranças do que o Brasil diante dos olhos. Alvise, que tantas vezes amaldiçoara os campos magros de sua província, agora os recordava como um lugar menos cruel do que a selva tropical que precisava enfrentar.

A pequena roça de milho recém-plantado entorno da casa prometia uma colheita modesta, mas suficiente para garantir alimento por muito tempo. A cana de açúcar, por sua vez, exigia esforço incessante, arrancando-lhe forças que julgava não ter. Cada manhã, ao pegar a enxada, Alvise sentia os ossos pesarem como chumbo. Mas sabia que, se fraquejasse, sua família pereceria.

No íntimo, compreendia que a vida lhe havia imposto o papel de geração de sacrifício. Não colheria a prosperidade que lhe fora prometida. Não teria descanso nem terras próprias. Mas alimentava a esperança de que seus filhos, e os filhos deles, herdariam mais do que penúria. Herdariam raízes fincadas nesta terra estranha, regadas com o suor e as lágrimas de quem pagara o preço mais alto.

E assim, entre dias de calor sufocante e noites de febre, entre memórias da Itália e orações murmuradas sob o céu estrelado de Campinas, Alvise Pavesa foi moldando sua vida ao destino que escolhera. A travessia não terminara no porto; estendia-se em cada jornada pelo cafezal, em cada lágrima diante da filha doente, em cada pedaço de pão dividido com vizinhos. Um homem arrancado da Lombardia pela fome, lançado no coração do Brasil pela esperança, e que agora compreendia que sua verdadeira herança não seriam riquezas nem terras, mas a resistência silenciosa de quem se recusa a ceder diante da adversidade.

Alvise Pavesa envelheceu entre o calor sufocante das lavouras e a sombra das colinas distantes de sua terra natal. Cada gota de suor, cada dor e cada oração se transformaram em raízes invisíveis, firmes no solo estranho que agora chamava de lar.

Seus filhos cresceram ouvindo histórias de uma Itália distante, aprendendo que o valor da vida não se mede em terras ou moedas, mas na coragem de atravessar oceanos, enfrentar doenças e manter a esperança acesa.

E assim, no silêncio das noites tropicais, Alvise compreendeu que sua verdadeira travessia não havia sido o Atlântico, mas a vida inteira: uma jornada de resistência, amor e fé, que floresceria em gerações futuras. A pátria que perdera permanecia em suas lembranças, mas a terra que conquistara com esforço se tornara eternamente sua.

Nota do Autor

A história de Alvise Pavesa – Entre a Terra e o Destino, aqui apresentada em forma resumida, é uma narrativa inspirada em relatos reais de imigrantes italianos que, no final do século XIX, atravessaram o Atlântico em busca de uma vida melhor no Brasil. Embora os personagens e os eventos aqui descritos sejam ficcionais, eles refletem a experiência coletiva de milhares de homens, mulheres e crianças que enfrentaram a fome, doenças, trabalho exaustivo e saudade de uma terra natal distante.

Ao escrever esta obra, procurei permanecer fiel ao espírito da época: à dureza das colônias agrícolas, às dificuldades impostas pelo clima e pelo trabalho, e, sobretudo, à resiliência e à esperança silenciosa que sustentava aqueles que se lançaram no desconhecido. O leitor encontrará nas páginas desta narrativa não apenas sofrimento e luta, mas também o poder da memória, da solidariedade e da coragem de quem, mesmo diante do destino mais adverso, não perdeu a fé na vida.

Este livro é, acima de tudo, uma homenagem a todos os imigrantes que construíram suas histórias e, através de seu esforço, plantaram raízes em terras estranhas, deixando um legado de resistência e esperança que atravessa gerações.

Dr. Luiz C. B. Piazzetta



sábado, 4 de outubro de 2025

A Vida de Pietro Zanotelli

 


A Vida de Pietro Zanotelli

Das Colinas de Vicenza às Terras Vermelhas de São Paulo

Pietro Zanotelli nasceu em San Pietro Mussolino, Vicenza, no dia 14 de março de 1900. O vilarejo era pobre, mas os bosques que se erguiam ao redor ofereciam o sustento possível. Com somente os três anos do ensino básico concluídos, desde criança, Pietro aprendera a manejar o machado, a serrar troncos e a arrastar toras pelas encostas. Sua juventude foi marcada pelo cheiro da resina dos pinheiros e pela aspereza das mãos feridas pela madeira.

A pequena aldeia se resumia a algumas ruas tortuosas e estreitas, uma antiga igreja, dominando a praça e pequenas casas de pedra úmidas salpicadas de liquens, onde as famílias se apertavam em meio à escassez. As colheitas raramente bastavam, e a maioria dos jovens partia ainda muito cedo, deixando atrás de si velhos e mulheres. Era um retrato de um Vêneto pobre que ainda lutava contra as feridas deixadas pela guerra.

Em 1922, como tantos outros jovens da região, partiu para a França em busca de uma vida melhor. Encontrou trabalho nos túneis do Jura, onde o corpo era consumido pela umidade e pela escuridão. Foram três anos de labuta subterrânea, até que a saudade o empurrou de volta a San Pietro Mussolino. O retorno, porém, trouxe-lhe apenas a constatação amarga: ainda não havia futuro possível em sua aldeia natal.

A ideia da América começou a rondá-lo. Já não era uma emigração em massa, como a dos tempos de seus pais e avós. Agora, cada partida era um gesto individual, uma tentativa desesperada de escapar do desemprego e da fome que a Itália do pós-guerra ainda não conseguira resolver. Pietro observava as cartas que chegavam de parentes já instalados no Brasil, com relatos de dificuldades, mas também de terras férteis e novas oportunidades.

Na madrugada de 2 de julho de 1926, o dia da partida chegou. Pietro levantou-se cedo. A pequena maleta de papelão, já meio consumida, o passaporte recém-emitido e algumas moedas no bolso eram tudo o que carregava. Os parentes o acompanharam até o ponto de onde partia uma carroça que fazia o transporte de passageiros. Quando o cocheiro gritou a ordem de embarque, sentiu um nó na garganta. O silêncio pesou mais do que qualquer palavra. Virou-se uma última vez para olhar sua terra, e num sussurro apenas para si mesmo disse: “Adio Mussolino, chissà quando ti rivedrò”.

Seguiu então de trem para Gênova. Instalado em um hotel barato em uma rua lateral não muito longe do cais, dividiu pão e salame com três companheiros de viagem. Ao passear pelo porto, ficou paralisado diante do navio Giulio Cesare, uma fortaleza de aço erguida sobre as águas, pronta para atravessar o oceano. O porto fervilhava de vozes em diferentes dialetos, famílias chorando separações definitivas, vendedores ambulantes aproveitando o último instante de comércio, padres abençoando os que partiam.

No 30 de junho, as formalidades se sucederam: corte de cabelo, banho obrigatório, inspeção médica, vacina. Quando finalmente embarcou, desceu a escadaria de ferro até o porão, onde se alinhavam beliches numerados. Aquele seria seu mundo durante semanas.

Ao soar os três apitos da partida, o navio começou a afastar-se do cais. Do porto, a multidão cantava hinos patrióticos; no convés, emigrantes agitavam lenços encharcados de lágrimas. O barulho da música e dos gritos se misturava ao choro sufocado. Pietro permaneceu imóvel, carregando no peito o peso da separação.

A travessia foi marcada pelo enjoo dos primeiros dias, pela comida escassa e pelo cheiro sufocante dos camarotes. Os limões comprados em Gênova ajudaram a suportar o mal-estar. No convívio com outros passageiros, surgiam histórias semelhantes: jovens arrancados pela necessidade, velhos em busca de filhos que já haviam partido, mulheres levando crianças pequenas na esperança de recomeçar. Todos unidos pela mesma esperança de um futuro do outro lado do mar. Havia também as noites em que o mar se revoltava, e o balanço violento lançava os corpos contra as paredes de ferro, lembrando a todos que a travessia era uma aposta de vida e morte.

Ao desembarcar no porto de Santos sem conhecer a língua do Brasil, Pietro não encontrou promessas fáceis, mas sim o desafio de recomeçar do nada. Seguiu de trem para o interior de São Paulo, onde já existiam comunidades italianas estabelecidas. Encontrou trabalho em armazéns, em pequenas indústrias, em roças arrendadas, mudando de ofício conforme apareciam as oportunidades.

O Brasil não foi para ele uma terra de riqueza, mas sim de sobrevivência e continuidade. Casou-se com Ana Luísa Marchette, filha de imigrantes, com quem teve filhos e netos. Sua vida tornou-se um equilíbrio entre o trabalho incessante e a saudade que nunca se apagou. O sotaque do Vêneto nunca o deixou, e até os últimos dias mantinha o hábito de cantarolar canções antigas, como se cada nota fosse um elo com sua terra perdida.

Morreu em Campinas, no ano de 1972, aos 72 anos. Foi enterrado sob uma cruz simples, com a frase escolhida pela família:

“Partiu da Itália por necessidade, viveu no Brasil por esperança.”

Assim se encerrou a trajetória de Pietro Zanotelli, um homem que carregou no coração o peso da despedida e a coragem da travessia, testemunha de uma geração que deixou o Vêneto não por escolha, mas por obrigação da vida.

Nota do Autor

Este relato nasceu da necessidade de dar carne e voz a uma geração que, apesar de ter marcado profundamente a história, corre o risco de ser esquecida. Pietro Zanotelli, personagem central desta narrativa, não é um homem isolado: ele representa milhares de italianos que, nas primeiras décadas do século XX, foram forçados a abandonar seus vilarejos, suas famílias e o chão onde aprenderam a caminhar.

Não partiram por aventura ou ambição, mas pela imposição da vida. A Itália que emergiu da Grande Guerra estava exausta: os campos devastados, o trabalho escasso, as promessas do Estado vazias. Para muitos, a única saída era olhar para o horizonte do Atlântico e imaginar que, do outro lado, pudesse existir uma chance de sobrevivência.

Foi esse gesto — levantar-se de madrugada, despedir-se em silêncio, carregar uma mala pobre de roupas e memórias — que fundou a epopeia anônima de tantos homens e mulheres. Eles não eram heróis, mas trabalhadores comuns. E ainda assim, sua coragem os tornou extraordinários.

Ao recriar a trajetória de Pietro, não busquei apenas relatar fatos, mas também reconstruir atmosferas: o peso das despedidas, o cheiro acre dos portos, o som metálico dos apitos de partida, a claustrofobia dos porões de navio e, sobretudo, a saudade que atravessava oceanos. A saga de Pietro é uma chave para compreendermos a dor e a força daqueles que transformaram o Brasil em sua nova pátria.

Esta narrativa não é uma biografia literal. É um romance baseado em cartas, documentos e testemunhos, tecido com o fio da ficção para iluminar o que os registros oficiais não contam: o silêncio, o medo e a esperança.

Que a vida de Pietro Zanotelle, aqui narrada, seja lembrada como símbolo de todos os que cruzaram o mar não para enriquecer, mas para sobreviver — e, ao fazê-lo, construíram as bases de um futuro que hoje chamamos de nosso.

Dr. Luiz C. B. Piazzetta




segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Os Ecos de um Destino

 


Os Ecos de um Destino 


Capítulo 1: A Partida

San Gimignano estava mergulhada em uma quietude densa, como se a própria cidade medieval, com suas torres altivas e vielas estreitas, soubesse do peso da decisão que pairava sobre a família de Domenico. A notícia foi dada numa manhã fria de outono, enquanto o sol, tímido, mal conseguia atravessar a névoa que cobria os campos. Domenico, filho único de um pai camponês e uma mãe tecelã, havia crescido à sombra das dificuldades. A terra magra que seu pai cultivava mal sustentava a família, e os fios que sua mãe entrelaçava noite adentro raramente geravam o suficiente para pagar as dívidas acumuladas. Desde pequeno, ele ouvia os viajantes que passavam pela região falando do Brasil – "terra de oportunidades", diziam, onde a terra era fértil e o trabalho recompensado com fartura. Por anos, essas histórias alimentaram sua imaginação e, aos 21 anos, impelido pela fome que apertava o estômago e pelas dívidas que esmagavam o espírito, Domenico finalmente decidiu partir. Seu destino seria Campinas, no interior de São Paulo, onde parentes distantes haviam se estabelecido como colonos. A decisão foi um golpe para a família. Angela, a irmã caçula de apenas 17 anos, foi a primeira a se opor, protestando com veemência. Apesar de sua juventude, a responsabilidade de cuidar da pequena propriedade familiar agora recaía sobre seus ombros. Domenico tentou acalmá-la, prometendo que enviaria dinheiro regularmente e que escreveria cartas para manter viva a conexão com o lar. Contudo, nem mesmo suas palavras gentis conseguiam conter as lágrimas que corriam pelo rosto de Angela, revelando o medo de perder o irmão e a insegurança sobre o futuro. Brigida, a mãe de Domenico, permaneceu em silêncio durante a maior parte da discussão. Apenas seus olhos marejados denunciavam a tempestade que se formava em seu coração. Quando finalmente falou, sua voz tremia como uma folha ao vento. "Você promete que voltará, Domenico? Promete que não nos esquecerá?" Ele respondeu com convicção, mas no fundo Brigida temia que aquelas palavras fossem levadas pelo vento, tal como as promessas de tantos outros jovens que haviam partido e nunca mais retornaram. A despedida na estação foi marcada por um misto de esperança e desolação. Domenico carregava uma pequena mala com seus poucos pertences: uma muda de roupas, um pedaço de pão e o medalhão de São Francisco que sua mãe lhe entregara com a bênção de um padre local. Angela segurava sua mão com força, como se pudesse impedir a separação com um último gesto de amor fraternal. Já Brigida, envolta em um xale, olhava o trem que se aproximava com um misto de temor e resignação. Quando finalmente o apito ecoou, sinalizando a partida, Domenico subiu a bordo, acenando para a família até que suas figuras se tornassem apenas sombras na distância. Enquanto o trem cortava os campos, Domenico olhou pela janela, sentindo o peso da responsabilidade que agora carregava. O Brasil, outrora um sonho dourado, agora era um desafio real, repleto de incertezas. E, embora suas palavras houvessem tranquilizado sua mãe e irmã, ele sabia que, no fundo, a promessa de retorno talvez fosse uma ilusão – algo que só o tempo poderia confirmar.

Capítulo 2: O Novo Mundo

Domenico desembarcou no porto de Santos após uma exaustiva travessia de 30 dias pelo Atlântico, marcada por tempestades, ansiedade e um estranho misto de esperança e medo. Ao pisar em solo brasileiro, foi imediatamente golpeado pelo calor úmido que parecia envolver cada pedaço de pele, um contraste brutal ao clima ameno da Toscana que ele deixara para trás. A imponência da natureza também o assombrou: palmeiras altíssimas, montanhas cobertas de verde exuberante e pássaros de cores que ele jamais imaginara existir. Contudo, o que mais o impactou foi o caos das ruas de Santos. A cidade fervilhava de pessoas de todas as partes do mundo, gritos em línguas desconhecidas, charretes cruzando ruas enlameadas e mercadores oferecendo de tudo, desde frutas tropicais até ferramentas rudimentares. Na primeira carta que enviou à família, escrita sob a luz trêmula de um lampião em uma hospedaria modesta, Domenico tentou descrever a experiência com um misto de fascínio e cautela. "É um mundo tão diferente, Angela," escreveu. "A terra é vermelha como o fogo, e o céu parece arder com o calor do sol. Aqui, tudo é maior, mais intenso, mas também mais confuso." Ele mencionou a gentileza de outros imigrantes que conhecera e a promessa de trabalho nas plantações de café do interior, embora não ocultasse o desconforto de estar tão longe de casa. Após alguns dias em Santos, Domenico embarcou em um trem para Campinas, deixando para trás o tumulto do porto e adentrando os campos que logo se tornariam sua nova realidade. O cheiro de terra e o som das cigarras acompanhavam o balanço do vagão, enquanto ele tentava imaginar a vida que o aguardava. Chegando à cidade, foi rapidamente contratado para trabalhar em uma das muitas fazendas de café que espalhavam-se pela região. As cartas seguintes pintavam um quadro mais sombrio. Domenico descreveu a dureza da vida nos cafezais com uma sinceridade que transparecia até nas palavras mais cuidadosas. O trabalho era extenuante; de sol a sol, ele e outros imigrantes arrancavam ervas daninhas, carregavam sacas de café e colhiam grãos sob um calor abrasador. Os fazendeiros, donos de vastas propriedades, frequentemente exploravam os trabalhadores, impondo dívidas que os prendiam a condições quase de servidão. "Há dias em que sinto como se fosse um dos grãos que esmago com as mãos, sufocado pela dureza da vida aqui," confessou em uma das cartas. Ainda assim, Domenico mantinha um fio de esperança. Ele via o Brasil como uma oportunidade que, embora dura, oferecia a chance de construir algo que jamais seria possível na Itália. Nas noites de domingo, quando o trabalho era suspenso, ele descrevia os momentos de alívio, reunido com outros italianos em improvisados serões. As canções da terra natal ecoavam pelos alojamentos, enchendo os corações de nostalgia. Domenico cantava com uma voz trêmula, as letras carregadas de saudade, enquanto imaginava Angela cuidando da propriedade da família e sua mãe, Brigida, acendendo velas para protegê-lo. Porém, nas entrelinhas de cada carta, Angela sentia a solidão que se infiltrava na vida do irmão. Ele mencionava com frequência o consolo de receber suas respostas, guardando-as como um tesouro raro em meio ao cansaço diário. "É como se, ao ler suas palavras, eu pudesse sentir o cheiro do trigo dos nossos campos e ouvir o som dos sinos de San Gimignano," escreveu em um momento de emoção. E, embora Domenico tentasse parecer forte, Angela sabia que as noites no Brasil eram longas e frias, mesmo sob o calor tropical, para um jovem que carregava nos ombros o peso de um futuro incerto e a saudade de um lar distante.

Capítulo 3: Laços e Conflitos

Com o passar dos anos, Domenico ascendeu à posição de capataz na fazenda de café, um feito notável para um jovem imigrante que começara sua jornada como simples colhedor. O novo cargo lhe trouxe algum alívio financeiro, permitindo que enviasse remessas regulares à família em San Gimignano. Contudo, a prosperidade relativa não apagava as cicatrizes de uma vida de labuta incessante. As responsabilidades acumulavam-se, e a pressão de comandar outros trabalhadores, muitos deles tão exaustos e frustrados quanto ele, começou a pesar. Nas cartas enviadas à família, a escrita de Domenico tornou-se cada vez mais carregada de conselhos práticos e, por vezes, de um tom quase imperativo. Ele insistia que Angela deveria gerir a pequena propriedade com eficiência, vendendo ferramentas e terras marginais para pagar as dívidas que ainda assombravam a família. "Angela, não podemos nos apegar a pedaços de terra que não nos dão retorno," escreveu em uma de suas cartas, numa tentativa de convencê-la. "O futuro da nossa família depende de escolhas racionais, não de sentimentalismos." Para Angela, contudo, o terreno familiar era muito mais do que um ativo financeiro. A casa, os campos áridos e as oliveiras que resistiam teimosamente ao tempo eram os últimos vestígios tangíveis de sua conexão com Domenico. Ela temia que vender qualquer parte da propriedade fosse como apagar a memória do irmão e do passado compartilhado. Em sua resposta, sua resistência transparecia em palavras cuidadosas, mas firmes. "Domenico, esta casa é o coração da nossa família. Vender qualquer parte dela seria como perder uma parte de nós mesmos." Com o tempo, os laços que antes uniam os irmãos começaram a se tensionar. As cartas, que outrora eram fontes de conforto mútuo, passaram a refletir uma relação em constante oscilação entre afeto e conflito. Domenico, por um lado, tentava proteger a família à distância, mas seu tom tornou-se, muitas vezes, autoritário, marcado pela frustração de sentir-se impotente. Angela, por outro lado, resistia ao que via como uma tentativa de controle sobre suas decisões, mesmo sabendo que o irmão agia com as melhores intenções. As correspondências alternavam entre momentos de ternura e recriminações veladas. Em uma das cartas, Domenico desabafou: "Angela, não posso trabalhar aqui como um burro de carga e assistir vocês se afogarem nas mesmas dívidas que me forçaram a partir. Façam o que for necessário para se manterem de pé." Em resposta, Angela escreveu: "Domenico, seu esforço é admirável, mas esta é a nossa casa. Não posso abandoná-la tão facilmente quanto você sugere. Cada pedra desta propriedade tem um pedaço de nossa história." O abismo entre os dois parecia crescer a cada troca de palavras. Domenico via-se isolado, não apenas fisicamente, mas emocionalmente, enquanto Angela se sentia pressionada e incompreendida. Apesar disso, o amor fraternal ainda pulsava nas entrelinhas, nos momentos em que Domenico perguntava pelo bem-estar da mãe ou Angela mencionava o quanto sentia saudades de suas canções de domingo. Eram lembranças que serviam como frágeis pontes entre duas vidas cada vez mais distintas, mas ainda ligadas por raízes profundas e indestrutíveis.

Capítulo 4: Um Amor no Brasil

Domenico encontrou consolo em Emilia, uma jovem imigrante da Calábria que trabalhava na mesma fazenda. Emilia era uma mulher de olhar doce e temperamento forte, características que conquistaram Domenico em meio aos dias árduos e solitários no Brasil. O relacionamento floresceu rapidamente, como uma flor que teima em crescer em solo pedregoso. Depois de alguns meses de convivência, decidiram se casar. A cerimônia foi simples, realizada na capela da fazenda, com poucos amigos e colegas como testemunhas. Domenico descreveu o dia como um raio de sol em meio às nuvens pesadas que pairavam sobre sua vida de imigrante. Quando Angela recebeu a notícia, sua resposta misturava emoções conflitantes. Ela expressou alegria sincera pelo irmão, mas não pôde esconder uma ponta de inveja que transparecia em suas palavras. "Domenico, fico feliz que tenha encontrado alguém para compartilhar sua jornada, mas confesso que, aqui, os dias são cada vez mais solitários. Gostaria de ter a mesma sorte." Angela sentia o peso de estar sozinha na Itália, carregando a responsabilidade de manter a casa e cuidar de sua mãe envelhecida. Para ela, a notícia do casamento era um lembrete de tudo o que ainda lhe faltava. Poucos anos depois, uma nova carta trouxe uma notícia que iluminou os dias de Angela: o nascimento do primeiro filho de Domenico, Pietro. Ele descreveu o momento com detalhes emocionados, desde o choro forte do bebê ao nascer até o brilho de orgulho nos olhos de Emilia. Domenico escreveu: "Angela, nunca pensei que seria possível sentir tamanha alegria depois de tantos anos de dificuldades. Pietro é pequeno, mas já carrega em si a esperança de um futuro melhor." Ao ler a carta, Angela sentiu algo raro e precioso: uma felicidade genuína pelas conquistas do irmão. Pela primeira vez, as dificuldades que os separavam pareceram menos importantes do que o vínculo que os unia. Ela respondeu com entusiasmo, pedindo mais detalhes sobre o sobrinho e expressando sua esperança de conhecê-lo um dia. "Domenico, ao ler suas palavras, quase posso ouvir o riso de Pietro e ver os olhos brilhantes de Emilia. Prometa-me que, um dia, eu também poderei abraçá-lo." Domenico respondeu com uma promessa que ele próprio não sabia como cumprir: "Angela, um dia você conhecerá Pietro. Sei que a vida nos mantém separados, mas esse encontro ainda acontecerá. Até lá, guardarei cada uma de suas cartas para que ele saiba como sua tia, mesmo à distância, sempre foi parte de sua história." Apesar das dificuldades, essa troca trouxe um alento aos dois irmãos. Para Domenico, era uma forma de manter viva a conexão com sua origem; para Angela, uma fagulha de esperança em meio à solidão. Pietro, ainda sem compreender seu papel, já unia dois mundos que lutavam para permanecer conectados, mesmo separados por um oceano.

Capítulo 5: O Retorno Impossível

Nos anos seguintes, as cartas entre Domenico e Angela assumiram um tom mais melancólico, refletindo o peso das décadas que haviam passado. Domenico, agora com uma família formada, relatava os desafios de criar os filhos em uma terra tão diferente de suas raízes. Ele falava da luta constante contra a instabilidade financeira e as dificuldades de preservar as tradições italianas em um ambiente que, embora oferecesse oportunidades, também exigia sacrifícios culturais e emocionais. "Angela," ele escreveu certa vez, "às vezes me pergunto se meus filhos compreenderão o que significa ser italiano. Tento ensinar-lhes nossas canções, mas suas vozes já carregam o sotaque desta nova terra." Enquanto isso, Angela enfrentava suas próprias batalhas na Itália. A propriedade da família, que ela cuidara com tanto zelo, tornou-se objeto de disputa entre parentes gananciosos que questionavam sua posse. Sentindo-se acuada e traída, ela encontrou nas cartas de Domenico um misto de conforto e frustração. Embora ele tentasse mediar os conflitos com conselhos e palavras de apoio, a distância tornava suas intervenções limitadas. "Domenico," Angela escreveu em resposta, "sua voz ainda é uma âncora para mim, mas há dias em que sinto que estou afundando. A terra que você tanto lutou para salvar está se tornando uma fonte de dor." Aos 60 anos, Domenico começou a sentir os efeitos da idade e das longas décadas de trabalho árduo. A febre amarela, que varria as colônias do interior paulista, não poupou sua família. Ele contraiu a doença em um surto devastador que ceifava vidas sem distinção. Fragilizado, ele sabia que seu tempo estava se esgotando. Incapaz de escrever, pediu a Emilia que transcrevesse sua última mensagem para Angela, carregada de emoção e despedida:

"Angela, 

Mesmo tão distante, nunca deixei de sentir sua presença ao meu lado. As palavras que trocamos ao longo dos anos foram os fios que mantiveram nossos mundos unidos, mesmo quando a vida nos separou. Sei que não cumpri minha promessa de voltar à Itália, mas espero que você compreenda: meu coração nunca partiu de verdade. Se meu corpo não puder mais retornar à nossa terra, saiba que minha alma já está ao seu lado. Cada oliveira, cada pedra daquele solo guarda um pedaço de mim. Cuide do que resta de nossa história e lembre-se de que sempre estivemos juntos, mesmo separados por um oceano." Quando Angela recebeu a carta, sentiu-se consumida por um misto de dor e gratidão. Sabia que aquelas palavras eram um adeus, mas também uma reafirmação do vínculo inquebrável entre os dois. No campo onde cresceu, plantou uma nova oliveira em memória do irmão, como um símbolo de que, apesar da distância e do tempo, as raízes que os uniam continuavam a crescer.

Epílogo

Domenico faleceu em 1938, nos arredores de Campinas, cercado por sua família brasileira, mas com o coração ainda enraizado na Itália que nunca mais viu. Emilia, seus filhos e netos cuidaram para que sua história não fosse esquecida, preservando suas cartas e as memórias dos sacrifícios que ele fizera para lhes proporcionar uma vida melhor. Domenico partiu em paz, mas deixando para trás um legado de saudade e resiliência. Angela, na Itália, sentiu a perda de forma profunda. Embora soubesse que aquele dia chegaria, a notícia trouxe uma dor que não poderia ser descrita. Nos anos que se seguiram, ela continuou a escrever cartas para o irmão, como se suas palavras pudessem atravessar não apenas o oceano, mas também o véu que separa os vivos dos mortos. Essas cartas, no entanto, nunca foram enviadas. Cada uma foi cuidadosamente dobrada e guardada em um baú de madeira envelhecido, junto com as correspondências que Domenico lhe enviara ao longo da vida. Décadas depois, em 1972, quando a propriedade da família foi passada para novos donos, o baú foi descoberto no sótão, intacto e cheio de histórias não contadas. Dentro dele, estavam as cartas de Angela, cheias de emoções contidas, de saudades imortalizadas no papel. As palavras escritas falavam de uma irmã que se recusava a deixar o elo com seu irmão desaparecer, mesmo após sua morte. Lá também estavam as cartas de Domenico, que narravam com uma sinceridade tocante as lutas, os sonhos e as realizações de um homem que viveu entre dois mundos. Reconhecendo o valor histórico e emocional daqueles escritos, a família que encontrou o baú decidiu doá-lo ao Arquivo Histórico de São Paulo. Hoje, as cartas de Domenico e Angela estão preservadas em uma coleção especial, acessíveis a estudiosos, descendentes de imigrantes e visitantes curiosos. Elas não são apenas documentos; são testemunhos de uma época em que o oceano era uma barreira quase intransponível, separando não apenas terras, mas vidas e corações. Os textos revelam a luta de uma geração que vivia entre o passado e o futuro, dividida entre a terra natal e a nova pátria. Eles falam das dificuldades enfrentadas pelos imigrantes, do esforço para manter a conexão com aqueles que ficaram para trás e das esperanças que surgiam mesmo nas circunstâncias mais difíceis. As cartas são, acima de tudo, uma prova de que o amor e a família podem resistir ao tempo, à distância e até mesmo à morte. Nas palavras de um curador do arquivo: "Essas cartas não são apenas histórias pessoais; são um pedaço da alma de uma geração que ajudou a construir o Brasil enquanto sonhava com a Itália. Elas nos lembram que, por trás de cada ato de emigração, há corações que nunca deixaram de buscar um ao outro."

Nota do autor:
A saga de Domenico Salvietto é inspirada em fatos reais, com nomes e eventos moldados pela imaginação do autor para homenagear os milhões de imigrantes italianos que cruzaram o oceano em busca de uma vida melhor. Embora os personagens e algumas situações sejam fictícios, eles refletem com fidelidade o espírito, os desafios e as esperanças vividas por uma geração. Sob o céu de dois continentes, esta história busca preservar a memória daqueles que, com coragem, sacrifício e amor, construíram legados duradouros e transformaram sonhos em realidade.



domingo, 14 de setembro de 2025

La Vita de Pietro Zanotelli


 

La Vita de Pietro Zanotelli

Da le Coline de Vicenza fin a le Tere Rosse de San Paolo


Pietro Zanotelli el ze nassesto a San Pietro Mussolino, Vicenza, el 14 de marzo del 1900. El paeseto el zera pòvero, ma i boscài che se tirava su intorno i dava quel tanto che podéa bastar. Con sol tre ani de scola bàsica, da putelo Pietro el gavea imparà a menar la manara, a segar tronchi e a strassinar le tore zo par i costoni. La so zoventù la zera segnà dal odor de resina dei pins e da la ruvidesa de le man ferì da la legna.

La pìcola vileta la se resuméa in do tre stradete storte e strete, na cesa vècia che la comandava la piassa e casete de piere ùmide, tacà de licheni, ´ndove le famèie se strensea in meso a la misèria. Le racolte rare volte bastava, e la maior parte dei zóveni partia presto, lassando indrìo veci e done. Zera el retrato d’un Véneto pòvero, che ancora lotava con le feride lassà da la guera.

Int el 1922, come tanti altri zòveni de la region, el ze partì par la Fránsia in cerca de na vita mèio. El trovò laoro ´ntei tùnèi del Jura, ’ndove el corpo el se consumava con l’umidità e la scurità. Ghe zera tre ani de fadiga sototera, fin che la nostalgia lo strense indrio fin a San Pietro Mussolino. Ma el ritorno ghe portò sol la constatassion amara: gnanca là ghe zera futuro.

L’idea de l’Amèrica la scominsià a rondarlo. No zera pì ´na emigrassion de massa, come ai tempi dei so pare e noni. Adesso ogni partensa zera un gesto solo, un tentativo disperà de scampar da la disocupassion e da la fame che la Itàlia del dopoguera no gavea ancora risolto. Pietro el vardava le lètare che rivava da parenti zà sistemà in Brasil, che contava sì de fadighe, ma anca de tere fèrtili e de ocasion nove.

A la matina del 2 de luglio del 1926, el dì de la partensa la zera rivà. Pietro el se alsò presto. ´Na valiseta de carton, zà mesa consumà, el passaporto novo e qualche moneda in scarsea: tuto el so ben. I parenti lo acompagnarono fin al ponto ’ndove partiva la carossa con i passegieri. Quando el condotier urlò “su”, lu sentì un nodo in gola. El silénsio pesava pì de qualunque parola. Se voltò ´na ùltima volta a vardar la so tera, e in un bisbiglio par so el dise: “Adio Mussolino, chissà quando te rivedarò”.

Da là el seguì con el treno fin a Génoa. Sistemà in un albergo poco costoso su na stradela visin al porto, el spartì pan e salame con tre compagni de viaio. Girando par el molo, el restò paralisà davanti al vapor Giulio Cesare, na fortessa de fero che se alsava sora l’aqua, pronta a traversar l’ossean. El porto ferviva de vosi in dialeti diversi, famèie che piangea la separassion definitiva, venditori che sfrutava l’ùltimi momenti, preti che benediva chi partia.

El 30 de giugno, i controli: taiada de cavèi, bagno obligatòrio, visita mèdica, vacuna. Finalmente el imbarcò, scendendo par na scala de fero fin al sotoponte, ’ndove ghe zera le brande numerà. Quela zera la so casa par setimane.

Ai tre fischi de la partensa, el vapor scominsiò a stacarse dal molo. Dal porto, la zente cantava ini patriòtici; sora la coperta, i emigranti agitava fasoleti bagnà de làgreme. El rumore de la mùsica e dei gridi se mescolava con el pianto sopresso. Pietro el restava fermo, con el peso de la separassion drento el peto.

La traversia la zera stà segnà dal mal de mar dei primi zorni, da la magnar scarsa e dal odor sufocante dei cameroti. I limoni comprà a Génoa ghe dava na man contro el malessere. Tra i passegieri nasséa stòrie sìmili: zóveni cassià via da la misèria, veci che rivava in serca de fiòi già partì, done con puteleti sperando in un rescomìnsio. Tuti unì da la speransa de un futuro oltre el mar. Ma ghe zera anca le noti che el mar se rivoltava, e el rolìo feroce sbatìa i corpi contra le pareti de fero, ricordando a tuti che la traversia zera un’azardo de vita e de morte.

Quando el sbarcò al porto de Santos, sensa saver la léngua brasilera, Pietro no trovò promesse fàssili, ma solo el desafio de rescomissiar da zero. El seguì con el treno fin a l’interno de lo stato de San Paolo, ’ndove zà ghe zera comunità taliane. El trovò laoro in magazini, in pìcole indùstrie, in rosse in afito, cambiando ofìssio ogni volta che saltava fora l’ocasion.

El Brasil no zera par lu ´na tera de ricchessa, ma de sopravivensa e de continuità. El se ga sposà con Ana Luisa Marchette, fiola de emigranti, con la quale el ga avù fiòi e dopo nepoti. La so vita la diventò un equilìbrio tra la fadiga sensa fine e la nostalgia che mai se spense. El parlar vèneto no el lo lassò mai, e fin ai ùltimi zorni el gavea l´àbito de cantarolar vècie canzonete, come se ogni nota ghe zera un filo che lo ligava a la tera perdù.

El morì a Campinas, ´ntel 1972, a 72 ani. El ze stà sepelì soto ´na crose sèmplisse, con la frase decisa da la famèia:

“El ze partì da l’Itàlia par bisogno, el ze vivesto in Brasil par speransa.”

Cusì se conclude la vita de Pietro Zanotelli, un omo che portò drento el cor el peso del distaco e el coraio de la traversia, testimónio de ´na generassion che ga lassà el Vèneto no par scelta, ma par obligo de la vita.

Nota de l’Autor

Sto raconto el ze nassesto da la necessità de dar carne e vose a na generassion che, benché la ga segnà profondamente la stòria, la cor el risco de vegnir desmentegà. Pietro Zanotelli, personàio sentral de sto raconto, no el ze un omo da solo: el rapresenta miaia de taliani che, ´nte le prime dècade del Novessento, i ghe ze stà forsà a abandonar i so paeseti, le so famèie e el teren ’ndove i ga imparà a caminar.

Lori no i ga partì par aventura o par ambission, ma par imposission de la vita. L’Itàlia che ussì da la Gran Guera la zera straca: i campi devastà, el laoro scarso, le promesse del Stato vode. Par tanti, l’ùnica via zera vardar l’orisonte de l’Atlàntico e imaginar che, de l’altro lato, podéa esister na chance de sopravivensa.

Zera sto gesto — alsarse a la matina, dir adio in silénsio, portar ´na valisa pòvara de roba e ricordi — che fondò l’epopea anònima de tanti òmini e done. No i zera eroi, ma laoranti comun. E pur cusì, la so coraio i ga rendé straordinari.

Ricreando la vita de Pietro, no mi go volesto sol contar i fati, ma anca refar le atmosfere: el peso dei distachi, l’odor aspro dei porti, el son metàlico dei fischi de partensa, la claustrofobia dei sotoponti e, sora tuto, la nostalgia che traversava oceani. La saga de Pietro la ze na ciave par capir la pena e la forsa de chi ga trasformà el Brasil in la so nova pàtria.

Sta narativa no la ze ´na biografia precisa. La ze un romanso basà in lètare, documenti e testimoni, tessù con el filo de la fission par iluminar quel che i registri no conta: el silénsio, la paura e la speransa.

Che la vita de Pietro Zanotelli, racontà qua, la sia ricordà come sìmbolo de tuti che i ga traversà el mar no par diventar richi, ma par sopravìver — e cusì i ga costruì le base de un futuro che incòi noaltri ciamemo nostro.

Dr. Luiz C. B. Piazzetta



segunda-feira, 4 de agosto de 2025

I Echi de un Destin

 


I Echi de un Destin

Capitolo 1: La Partenza

San Gimignano zera avolta in ´na calma pensante, come se la stessa sità medievale, con le so tori alte e le strade strete, la savea del peso de la resolussion che gravava sora la famèia de Domenico. La notìssia la ga rivà 'na matina fresca d'autuno, mentre che el sole, tìmido, el ghe rivava a pena a passar drento la nebiassa che la copriva i campi. Domenico, l'ùnico fiol de un pare contadin e na mare tessitrice, el zera cressù soto l'ombra de le fadighe. La tera magra che el pare la coltivava no bastava a mantener la famèia, e quel che la mare tesseva la note no rendea mica gnente par pagar i dèbiti che se somava.

Fin da puteo, el ghe sentiva i viaianti che i passava de par là parlar del Brasile – "tera de oportunità", i disea, dove la tera la zera grassa e el lavor el vegniva ricambià co l'abondansa. Par anni, ste stòrie le ghe alimentava la fantasia e, a 21 anni, spinto da la fame che ghe strensea el stómego e dai dèbiti che ghe strasea el spìrito, Domenico el decise de partir. El so destin el zera Campinas, drento el Stado de San Paolo, dove parenti lontani i se ghera sistemà come coloni.

La resolussion la zera un colpo par la famèia. Angela, la sorea picolina de 17 anni, la zera la prima a protestar, contrària cussì forte. Nostante la so zoventù, la responsabilità de tegner in piè la pìcola proprietà de la famèia la ghe cascava sora i so spali. Domenico el tentò de calmala, prometendo de mandarghe dei schei regolarmente e de scriver lètare par tegner viva la conession con el so paese. Ma manco le parole soave ghe riusciva a fermar le làgreme che ghe coreva sora la fàcia de Angela, mostrando el so timor de perder el fradel e el dùbio su el futuro.

Brigida, la mare de Domenico, la stava zita par la maior parte del discorso. Solamente i so oci bagnà i tradiva la tempesta che ghe se movea drento al cuor. Quando finalmente la parlò, la so vose la tremava come 'na foia col vento. "Me prometi che te torni, Domenico? Che no te ne scordi de nu?" El ghe rispose co resolussion, ma Brigida, drento, la savea che ste parole le podea svanir come l'ària, cussì come tante promesse de altri zoveni che i ghera partì e mai rivà indrio.

La despedida a la stassion la zera sta drio pien de speransa e desolassion. Domenico el gavea 'na borsa pìcola con pochi de so robe: un cámbio de vestì, un toco de pan e el medaion de San Francesco che la mare ghe gavea dà con la benedission de un prete del paese. Angela la ghe strenseva la man forte, come se la volesse fermar el distacamento co l'ùltimo gesto de amor de sorela. Brigida, avolta ´nte 'na sciarpa, la vardava el treno che se avisinava con un misto de paura e rassegnassion.

Quando finalmente el apito del treno el s'è sentì, Domenico el ze salì sora, salutando la fameja fin che i so figure i ze diventà ombre lontan. Mentre che el treno el taiava i campi, Domenico el vardava fora dala finestra, sentindo el peso de la responsabilità che adesso el gavea sora. El Brasile, che prima ghe pareva un sogno d’oro, adesso el ghera 'na sfida vera, piena de incertesse. E, nonostante le so parole le gavea tranquilsà la mare e la sorea, el savea che, drento, la promesa de tornar forse ghe ghera solo 'na ilusion – qualcosa che sol el tempo el podea confermar.

Capìtolo 2: El Nuovo Mondo

Domenico el sbarcò al porto de Santos dopo na traversia massacrante de 30 giorni ´nte l’Osseano Atlantico, segnada da tempeste, ansietà e un misto strano de speransa e paura. Quando el mete el piè su sta tera brasilian, el vien colpì subito da el caldo ùmido che pareva inguantar ogni toco de pele, un contrasto bruto col clima dolse de la Toscana che lel gavea lassà indrio. L’imponensa de la natura lo lassà a boca verta: palme altìssime, monti coperti de verde lussurioso e osei de colori che no ghe imaginava gnanca esistessi. Ma quel che lo colpì de pì el zera el caos de le strade de Santos.

La cità fremìa de gente de ogni parte del mondo, con urli in língue sconossiù, carete che taiava via strade fangose e mercanti che vardava a vender de tuto, da fruti tropicai a strumentassion rudimentai. Ntela prima lètera che el mandò a la famèia, scrita soto la luse tremolante de un lume in te na locanda pòvera, Domenico tentò de descriver sta esperiensa con un misto de fascino e atenssion.

"Ze un mondo tanto diverso, Angela," el scrisse. "La tera ze rossa come fogo, e el cielo par brusar col caldo del sol. Qua tuto ze pì grande, pì intenso, ma anca più confusion." El racontò de la bontà de altri emigranti che el gaveva conossù e de la promessa de laoro su le piantagion de cafè ´nte l’interno, anca se no la ghe mancava el discorar el desàgio de èsser tanto lontan da casa.

Dopo un paro de zorni a Santos, Domenico el s’imbarcò su un treno verso Campinas, lassando indrio el tumulto del porto e intrando ´nte i campi che saria diventà presto la so nova realtà. El odor de tera e el ciar de le sigare lo acompagnava con el mover del vagon, mentr’el provava a imaginar la vita che lo aspetava.

Quando el rivò a la sità, el trovò sùbito un posto ´nte una de le tante fazende de cafè sparse par la zona. Le lètare seguenti descriveva un quadro più scuro. Domenico el contava la duresa de la vita ´ntei cafesai con na sincerità che traspariva anca da le parole pì atente. El laoro el zera massacrante; da l’alba al tramonto, lui e altri emigranti i gavea strapà via erbe, cargà sachi de cafè e coliè i frutti su na tera infocada dal sole. I paron de la grande tenute, che i gheva poder e teritori, spesso i sfrutava i laoradori, imponendo dëbiti che i gaveva tegnerli come schiavi.

"Qua ze i giorni che me sento come un di quei grani che sbrìssio con le man, sofocà da la duressa de sta vita qua," el confessò in una delle so lètare. Ma nonostante tuto, Domenico el gaveva un filo de speransa. El vardava al Brasile come na oportunità che, anca se dura, ghe dava la speransa de costruir qualcosa che in Itàlia no saria mai stà possìbile.

Le domeniche de sera, quando el laoro se fermava, ghe raconta i momenti de solievo, ritrovandose con altri italiani ´nte serade improvvisà. Le canson de la tera natia risuonava tra le case, riempiendo el cuor de nostalgia. Domenico el cantava con na vose tremante, le parole pesanti de nostalgia, mentre el imaginava Angela che curava la proprietà de la famèia e so mama Brigida che acendea candele par protegerlo.

Ma tra le righe de ogni lètara, Angela la gaveva senso la solitudine che se infilà ´nte la vita del fradel. El parlava spesso del conforto de ricever le so risposte, tegnendole come tesori rari in meso al straco de ogni zornoì. "Ze come se, lesendo le to parole, podesse sentir el odor del trigo de i nostri campi e el ciar de le campane de San Gimignano," el scrisse con emossion. E, anca se Domenico el tentava de parer forte, Angela la capiva che le noti in Brasile i zera longhe e frede, anca in te sto caldo tropical, par un punto che portava su le spale el peso de un futuro incerto e la nostalgia de un casa lontan.

Capitolo 3: Lassi e Contrasti

Con el passar dei ani, Domenico el ze rivà a far el capo ´nte la fasenda de café, un sucesso notèvole par un zovene emigrà che gaveva scominsià la so strada come semplice laorante. Sto novo incàrico ghe gaveva portà un toco de respiro ´ntei schei, permetendoghe de mandar dei soldi regolarmente a la famèia a San Gimignano. Ma sta prosperità relativa no ghe ze bastà a cancelar le feride de ´na vita de fatica contìnua. Le responsabìlità ze cressè, e la pression de comandar altri laoradori, tanti de lori strachi e frustrà come lu, scominsiava a pesar.

´Ntele lètare mandà a casa, Domenico scrivea con un tono sempre pì cargà de consigli pràtici e, qualche volta, quasi imperativo. Lu insistea che Angela dovea gestir la pìcola proprietà con eficiensa, vendendo utensili e i campi marginai par pagar i dèbiti che ancora gavea la famèia.
"Angela, no podemo star atacà a tochi de tera che no dà gnente," el scrisse in u´na delle so lètare, tentando de convinserla. "El futuro de la nostra famèia dipende da scelte rasionài, no da sentimentalismi."

Ma par Angela, el teren de famèa el zera molto pì che un semplice património. La casa, i campi aridi e i ulivi che ghe resisteva testardamente a el tempo zera i ùltimi legami tangìbili con Domenico. Lei gavea paura che vender qualche parte de la proprietà el zera come cancelare i ricordi del fradèo e del passà che i gavea condiviso. ´Nte la so risposta, la resistensa de Angela ze spuntà fora in parole caute, ma ferme.
"Domenico, sta casa ze el cuor de la nostra famèia. Vender qualche parte de ela saria come perder na parte de noialtri."

Con el tempo, i lassi che prima i ghe univa come fradèi i ze scominsià a tenderse. Le lètare, che ´na volta gera fonti de conforto mùtuo, ze diventà riflessi de ´na relassion che alternava afeto e contrasti. Domenico, da ´na parte, tentava de proteggr la famèia da lontan, ma el so tono, tante volte, pareva autoritàrio, segnà da la frustrassion de sentirse impotente. Angela, da l'altra parte, resisteva a tutio che la vardava come un tentativo de controlo de le so resolussion, pur sapendo che el fradèo fasea tuto con le mèio intenssion.

Le corrispondense alternava momenti de teneressa e recriminassion velà. In una de le lètare, Domenico se sfogò:
"Angela, no posso laorar qua come un musso e vardarti ´ndar via con i stessi dèbiti che me ga costreto a partire. Fè quel che ze necessàrio par restar in piè."

In risposta, Angela ghe scrisse:
"Domenico, el to sacrifìssio ze sta amiràbile, ma sta ze la nostra casa. No posso abandonarla così fassilmente come ti disi. Ogni piera de sto posto ze parte de la nostra stòria."

El fosso che separea i do ze parva diventar sempre pì largo a ogni scámbio de parole. Domenico se sentìa isolà, no solo fisicamente, ma anca emosionalmente, mentr’Angela se sentìa pressà e no capitava. No stante tuto, l'amor fra fradèi ancora vibrava ´nte le righe, ´ntei momenti in cui Domenico domandava de la salute de la mama o Angela mensionava quanto la sentìa la mancansa de le so cansoni la doménega. Zera ricordi che serviva come fràgili ponti fra do vite sempre pì diverse, ma ancora ligà da radise profonde e indestrutìbili. 

Capitolo 4: Un Amor in Brasile

Domenico el ga trovà conforto in Emilia, ´na zòven emigrante de la Calabria che laorava ´ntela stessa fasenda. Emilia la zera na dona con 'na mirada dolse e 'n carater forte, qualità che ga conquistà Domenico fra i zorni duri e solitari in Brasile. El raporto ze sbocià ràpido, come 'na fiore che vol cresser su na tera pien de sassi. Dopo qualchi mese insieme, i ga deciso de sposarse. La serimónia ze stà semplice, fata ´ntela capelina de la fasenda, con pochi amissi e coleghi come testimoni. Domenico ga descrito quel zorno come 'n ràgio de sol tra le nùvole scure che ghe pesaria dosso ´nte la vita de emigrante.

Quando Angela la ga ricevù la notìsia, la risposta ghe smistava emossion contrastanti. La ghe ga mostrà na gioia sincera par el fradèo, ma no la ze riussìa a nasconder un filo de invìdia che traspariva tra le parole.
"Domenico, so contenta che te ga trovà na persona con cui spartir la to strada, ma te confesso che qua i zorni ze sempre pì solitari. Me piaseria gaver la stessa fortuna."

Angela sentiva el peso de star da sola in Itàlia, con la responsabilità de mantegner la casa e curar la mama che vegnìa sempre pì vècia. Par lei, la notìsia del matrimónio el zera un ricordo de tuto questo che ancora ghe mancava.

Pochi ani dopo, ´na nova lètara ghe ga portà 'na notìsia che ga iluminà i zorni de Angela: la nàssita del primo fiol de Domenico, Pietro. Lù ghe ga descrito el momento con detai emosionanti, dal pianto forte del neonato quando ze nato fin al sguardo pien de orgòio de Emilia. Domenico el ga scrito:
"Angela, no gavevo mai pensà che podesse sentir na gioia cusì grande dopo tanti ani de dificoltà. Pietro ze pìcolo, ma el ga drento la speransa de un futuro mèio."

Quando Angela la ga leto la lètara, la ga sentì qualcosa de raro e presioso: ´na felissità sincera par le conquiste del fradèo. Par la prima volta, le dificultà che i ghe separava ghe ze parse meno importanti del lasso che i ghe univa. La ghe ga risposto con entusiasmo, domandando pì detai del nevodo e esprimendo la so speransa de conosserlo un zorno.
"Domenico, quando mi go leto le so parole, quasi me par de sentir el riso de Pietro e de vardar el brilo ´ntei oci de Emilia. Prometeme che, un zorno, podarò abrassiarlo."

Domenico ghe ga risposto con na promessa che gnanca lù no savea come mantegner:
"Angela, un zorno te conoserà Pietro. So che la vita te tien lontan, ma sto incontro el sucederà. Fin là, tegnerò ogni to lètara par che el sapi che la so zia, anca da lontan, ze sempre stà parte de la so stòria."

Nonostante le dificultà, sto scambio ghe ga portà conforto a i do fradèi. Par Domenico, gera 'na maniera de tegner viva la conession con le so radise; par Angela, 'na scintila de speransa fra la solitùdine. Pietro, anca sensa capir el so rol, zera già 'na ponte tra do mondi che lotava par restar unì, anca se divisi da un osseano.

Capìtolo 5: El Ritorno Impossìbile

´Ntei ani seguenti, le lètare fra Domenico e Angela i ga assumì un tono pì malincónico, rifletendo el peso de le dècade passà. Domenico, adesso con ´na famèia formà, ghe scriveva sui dificoltà de cresser i fioi in na tera cussì diversa da le so radise. Ghe parlava de la lota contìnua contro l’instabilità finansiària e de le dificoltà de tegner vive le tradission italiane in un ambiente che, se da un lato ofriva oportunità, da l’altro domandava sacrifìssi culturai e emosionai.
"Angela," lù ga scrito 'na volta, "a volte me domando se i me fiòi i capirà mai cossa vol dir èsser italiani. Provo a insegnarghe le nostre canson, ma le so vosi ga za 'l acento de sta tera nova."

Intanto, Angela combateva le so batàie in Itàlia. La proprietà de la famèia, che la ghe gavea curà con tanto zelo, zera diventà el sentro de dispute fra parenti àvidi che metea in discussion la so possesion. Sentendose tradita e sensa scampo, la ghe trovava, ´nte le lètare de Domenico, 'na spèssie de conforto e frustrassion. Anca se lù tentava de mediar i confliti con consigli e parole de sostegno, la distante rendeva le so intevenssion limità.
"Domenico," Angela ghe scrito in risposta, "la to vose ze ancora 'na àncora par mi, ma ghe ze zorni che me sento de ´ndar fondo. La tera che te ga lotà tanto par salvar la ze diventà 'na fonte de dolor."

A sessant'ani, Domenico el ga scominsià a sentir i segnai del tempo e de le dècade de laoro duro. La febre zala, che spasava le colónie del interior paulista, no ga risparmià la so famèia. Lu el ga ciapà la malatia in un surto devastante che portava via vite sensa distinssion. Indebolì, el saveva che el so tempo se stava finindo. No potendo pì scriver, el ga domandà a Emilia de trascriver l’ùltima lètara par Angela, càrica de emossion e de adio:

"Angela

Anca se lontan, no mi go mai smesso de sentir la to presensa al mio fianco. Le parole che gavemo scambià in ste ani ze stà i fili che ga tegnù unì i nostri mondi, anca quando la vita ne ga divisi. So che no go mai mantegnù la promessa de tornar in Itàlia, ma spero che te capissi: el me cuor no ze mai partì davero. Se el me corpo no podarà pì ritornar a la nostra tera, ti te devi saver che la me ànima ze za al to fianco. Ogni ulivo, ogni sasso de quel teren el ga un peseto de mi. Tiegni cura de quel che resta de la nostra stòria e ricordite che semo sempre stai insieme, anche se divisi da un osseano."

Quando Angela ga ricevù la lètara, la ghe ze sentì consumà da 'na mescola de dolor e gratitùdine. La saveva che quele parole zera un adio, ma anca 'na reafirmassion del lassio indissolùbile fra i do. ´Ntel campo ndove la zera cressiù, la ga piantà un novo ulivo in memòria del fradèo, come un sìmbolo che, nonostante la distansa e el tempo, le radise che i ghe univa continuava a cresser.

Epìlogo

Domenico lu el ze morto ´ntel 1938, visin de Campinas, in meso a la so famèia brasilian, ma con el cuor ancora radicà in Itàlia, che no'l ga mai pì revista. Emilia, i so fiòi e i so nevodini I ga tegnù viva la so stòria, conservando le so lètare e i ricordi dei sacrifìssi che el ga fato par darghe ´na vita meiore. Domenico el ze ´ndà via in pase, ma el ga lassà drio un legado de nostalgia e de resistensa.

Angela, in Itàlia, la gasentì la perda in maniera profonda. Anca se la savea che quel zorno saria rivà, la notìsia ghe gà portà un dolore indescrivìbile. ´Ntei ani che ze vegnù doparà, la ga continuà a scriver lètaee al fradèo, come se le so parole podesse traversar no solo l'osseano, ma anca el velo che divide i vivi dai morti. Queste lètare, però, no le ze mai stà mandà. Ognuna la ze stà piegà con cura e guardà in un baule de legno invecià, insieme con le corispondense che Domenico ghe ga mandà durante la so vita.

Decade dopo, ´ntel 1972, quando la proprietà de la famèia la ze passà a nuovi paron, el baule el ze stà scoperto ´ntel sofito, intato e pien de stòrie mai contà. Drento ghe xe stà trovà le lètare de Angela, caricà de emossion contenù, de nostalgia imortalisà su carta. Le so parole ghe contava de ´na sorela che no volea lassiar sparir el lasso con el so fradèo, anca dopo la morte. Là ghe ze anca le lètare de Domenico, che ghe racontava con ´na sincerità tocante le lote, i soni e i sucessi de un omo che el ga vivù tra do mondi.

Capindo el valor stòrico e emossional de quei scriti, la famèia che la ga trovà el baule la ga deciso de donarlo al Archivio Stòrico de San Paolo. Incòi, le lètare de Domenico e Angela ze stà conservà in una colession speciale, disponìbile ai studiosi, ai dissendenti dei emigranti e ai visitador curioso. No ze solo documenti; ze testimoni de un'època ndove l'osseano zera na bariera quasi intraversàbile, che divideva no solo le tere, ma anca le vite e i cuori.

I scriti rivela la lota de 'na generassion che ga vissù tra el passà e el futuro, spartì tra la tera natìa e la nova pàtria. Ghe parla de le dificoltà afrontà dai emigranti, del sforso de tegner viva la conession con quei che zera restà drio, e de le speranse che nassea anca ´ntele situassion pì difìssili. Le lètare ze, soratuto, 'na prova che l’amor e la famèia pode resistar al tempo, a la distansia e anca a la morte.

´Ntele parole de un curador de l'archivio:
"Queste lètare no le ze solo stòrie personai; lori le ze 'na parte de l'ànima de 'na generassion che la ga contribuì a costruir el Brasile mentre soniava l'Itàlia. Lore le ze ricorda che, drio ogni ato de emigrassion, ghe ze cuori che no i ga mai smesso de sercarse un con el altro."

Nota del autore:

La saga de Domenico Salviero la ze ispirá a fati veri, con i nomi e i eventi modelà con la imaginassion del autore par onorar i milioni de emigranti italiani che i ga traversà l'oceano in serca de 'na vita milior. Anche se i personagi e qualcheduna situassion i ze fitissi, i ghe riflete fedelmente el spìrito, i desafios e le speranse de una generassion. Soto el cielo de do continenti, sta stòria la vol conservar el ricordo de quei che, con coraio, sacrifissio e amor, i ga costruì un legado duraduro e i ga trasformà i soni in realtà.
Dr.Luiz Carlos B. Piazzetta




quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Da Sicília ao Brasil: Uma Saga de Coragem em Campinas



Era o ano de 1868, em uma pequena vila no interior da Sicília, onde o sol dançava sobre as colinas de Agrigento, banhando tudo em uma luz dourada e perfumada pelo aroma do Mediterrâneo. Foi nesse cenário que Aniello viu pela primeira vez a luz do dia, em uma casa modesta na zona rural.
A família, composta por pequenos agricultores, enfrentava desafios para obter o sustento a partir de uma parcela de terra com menos de um hectare, que eles arrendavam. O ambiente que antes era idílico e próspero agora estava imerso em dificuldades devido a vários anos de conflitos pelo poder. A unificação da Itália resultou em um aumento significativo de impostos e taxas, levando a economia local à ruína. Aniello, o filho mais velho, sentia a responsabilidade de alimentar não apenas a si mesmo, mas também seus pais, esposa Maria Giovanna, três irmãs e quatro irmãos mais jovens.
Os ventos da mudança sopraram na forma de oportunidades além do horizonte. O Brasil, um vasto país sul-americano, oferecia uma promessa de esperança. O governo brasileiro buscava mãos trabalhadoras e, generosamente, concedia passagens gratuitas para aqueles dispostos a emigrar. Aniello, encantado com a perspectiva, assinou um contrato de quatro anos com uma empresa que representava uma imensa fazenda de café em São Paulo.
Em dezembro de 1888, ele e Maria Giovanna, abençoados pelos pais e emocionados com as despedidas dos irmãos, embarcaram no navio Príncipe de Astúrias, partindo de Nápoles rumo ao Brasil. A viagem, no entanto, não foi uma jornada fácil. O navio estava superlotado, com a falta de água potável e alimentos causando tumulto entre os passageiros. Nos porões úmidos e escuros, a falta de higiene tornava o ar insuportável.
Ao cruzarem o equador, enfrentaram tempestades que deixaram todos a bordo aterrorizados. Contudo, a esperança os guiou, e finalmente, em dezembro de 1888, Aniello e Maria Giovanna pisaram em solo brasileiro, prontos para enfrentar os desafios que a nova vida lhes reservava.
Chegando ao Brasil pelo porto de Santos, Aniello e Maria Giovanna foram recebidos pelos empregados das fazendas que os aguardavam. Após serem examinados, seguiram para o interior do estado de São Paulo, onde a maioria dos 1260 passageiros permaneceu; quase 500 deles foram para diferentes destinos, como o Rio Grande do Sul. Subiram a Serra do Mar até a capital, São Paulo, onde ficaram dois dias hospedados na Hospedaria dos Imigrantes, antes de embarcar em um trem rumo às fazendas que os contrataram.
A fazenda de Aniello e Maria Giovanna era uma propriedade vasta, administrada por um capataz; uma terra que já havia testemunhado os dias da escravidão, com mais de 300 escravos. Era coberta por milhares de pés de café, uma visão que se tornaria familiar ao casal nos anos seguintes. No segundo ano na fazenda Arari, receberam a bênção do nascimento de Pasquale, o mesmo nome do pai de Anielle, homenageando assim a tradição familiar.
Após os quatro anos iniciais, Aniello e Maria Giovanna decidiram permanecer por mais algum tempo na fazenda. Dois anos depois, com o nascimento de Salvatore, vislumbraram uma nova oportunidade que chegou através da informação de um amigo. Deixaram a fazenda e mudaram-se para Campinas, uma cidade já significativa, onde Aniello começou a trabalhar em um pastifício local. Inicialmente, alugaram uma casa na periferia, mas à medida que o tempo passava, adquiriram um lote de terra e construíram sua própria casa.
Em Campinas, a família Aniello floresceu, recebendo a chegada de mais cinco filhos: Maria Augusta, Nicola, Alessandro, Luigia e Caterina. O passado na Sicília e a jornada através do Atlântico deram origem a uma nova história, cheia de desafios superados e sucessos conquistados. Assim, na terra prometida do Brasil, a família cultivou não apenas café, mas também raízes profundas que se estenderam por gerações. O legado de Aniello e Maria Giovanna se entrelaçou com o tecido de Campinas, uma tapeçaria rica em histórias de coragem, esperança e resiliência.