Mostrando postagens com marcador Vicenza. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Vicenza. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 14 de outubro de 2025

A Vida de Edoardo Bellino



Edoardo Bellino – De Lonigo a Limeira


No final do verão de 1890, Edoardo Bellino partiu de Lonigo, uma pequeno município agrícola na província de Vicenza, ao lado de sua jovem esposa Rosetta Ferri, do irmão Giuseppe com sua família e do pai viúvo e já idoso. Lonigo, outrora próspera em vinhas e campos de trigo, vivia sob a sombra da crise que assolava o Vêneto: terras cada vez mais fragmentadas, salários insuficientes e perspectivas reduzidas para os mais jovens. Para Edoardo, permanecer significava condenar-se à repetição da pobreza, deixando aos filhos apenas a herança das dificuldades.

O apelo de um futuro melhor no Brasil tornara-se irresistível. Relatos de terras férteis, lavouras promissoras e oportunidades de trabalho corriam de boca em boca, inflamando sonhos que cruzavam o Adriático e o Atlântico. A decisão de partir não foi tomada de um dia para o outro; nasceram dela muitas noites em claro, nas quais o dilema se impunha: abandonar a pátria, com seus vínculos e memórias, ou arriscar tudo na promessa de sobrevivência e dignidade.

Depois de venderem o pouco que possuíam, os Bellini concentraram-se apenas no essencial para a longa travessia. Embarcaram em Gênova, no vapor Príncipe de Asturias, abarrotado de homens, mulheres e crianças que, como eles, buscavam um futuro longe da penúria europeia. Desde os primeiros dias no mar, a viagem mostrou-se dura e implacável: cubículos apertados, ar rarefeito, higiene precária, alimentação insuficiente. Rosetta, grávida de seu primeiro filho, suportou a travessia com um silêncio corajoso, escondendo o cansaço atrás de gestos firmes e discretos.

No meio da jornada, trouxe ao mundo um menino, pequeno e frágil. O choro breve da criança misturou-se ao rumor do oceano, mas a vida recém-nascida se apagou pouco após o desembarque. A perda abriu uma ferida profunda, mas não apagou a chama da esperança que mantinha a família erguida.

Após quarenta dias de mar, a família chegou ao porto de Santos e, em seguida, iniciou nova jornada por trem até uma pequena estação isolada e quase perdida. Depois um longo trecho de carroça rumo ao interior de São Paulo. O destino era Limeira, uma região marcada pelo cultivo da cana e pela presença crescente de imigrantes italianos. A paisagem que encontraram era exuberante e, ao mesmo tempo, intimidante: terras extensas e férteis, mas que exigiam braços fortes para serem domadas, e uma infraestrutura quase inexistente.

Nos primeiros meses, Edoardo contou com a ajuda do pai e do irmão. A dureza da adaptação, porém, revelou-se insuportável para o velho Bellini e para seu filho Giuseppe, de saúde frágil. Incapazes de resistir às privações crescentes da nova terra, ambos decidiram regressar à Itália, levando consigo o peso do fracasso e a renúncia ao sonho americano. Sobre os ombros de Eduardo, ainda jovem mas já marcado pela responsabilidade, recaiu a missão de conduzir a família no desconhecido e imenso Brasil. A partida do pai e do irmão representou uma perda dolorosa, mas também uma lição de que o caminho exigia firmeza e renúncia.

Edoardo e Rosetta ergueram uma pequena casa de madeira, limparam o terreno e semearam milho, feijão e mandioca. Cada amanhecer trazia consigo uma nova batalha: insetos devastadores, o clima imprevisível, a exaustão do corpo. À noite, a saudade da Itália e a memória do filho perdido pairavam no silêncio. Mas Rosetta, com mãos calejadas e espírito inquebrantável, transformava o improviso em lar, conservando viva a cultura italiana em cada refeição, canto e reza.

O tempo trouxe novos filhos — ao todo, seriam onze, cada um representando não apenas responsabilidade, mas também esperança. A lavoura prosperava pouco a pouco, e o casal aprendia a explorar o solo brasileiro, diversificar colheitas e negociar excedentes no mercado local. A rede de vizinhança com outros imigrantes tornou-se vital: a cooperação mútua garantia não só sobrevivência, mas também identidade coletiva.

Com os anos, Edoardo revelou-se mais que agricultor. Investiu em pequenos empreendimentos ligados à cana-de-açúcar, construindo instalações para moagem e transformação. Sua visão empreendedora, aliada à disciplina herdada do Vêneto, consolidou a posição da família na região. O sobrenome Bellino tornou-se sinônimo de trabalho e perseverança em Limeira.

Em 1924, mais de três décadas após a partida, Edoardo e Rosetta puderam regressar à Itália por alguns meses. Encontraram um Vêneto transformado, ainda marcado por dificuldades, mas reconheceram que seu destino estava irrevogavelmente atado ao Brasil. Trouxeram de volta memórias e saudades, mas retornaram ao lar definitivo: a terra paulista onde haviam fincado raízes.

A história de Edoardo e Rosetta Bellino sobreviveu ao tempo como um símbolo de coragem e resiliência. Sua descendência multiplicou-se por todo o Brasil, espalhando não apenas sangue e sobrenome, mas a herança de uma luta que atravessou oceanos. Mais do que terras ou patrimônio, deixaram como legado a prova de que a fé no futuro e a determinação podem transformar gerações inteiras.

Nota do Autor

A narrativa que o leitor tem em mãos baseia-se em uma história real, transmitida de geração em geração pelos descendentes de imigrantes italianos que chegaram ao Brasil no final do século XIX. Os fatos relatados — a travessia do Atlântico, a chegada a São Paulo, as lutas e conquistas no novo país — correspondem fielmente às experiências vividas por uma família que enfrentou as agruras da emigração e conseguiu, com coragem e trabalho, transformar sofrimento em esperança.

Por razões de privacidade, os nomes dos personagens, bem como alguns detalhes específicos de localidades de origem, foram modificados. A família, cujos membros compartilharam essas memórias, preferiu não se identificar, mas autorizou que sua trajetória fosse contada para que não se perdesse no silêncio do tempo.

Assim, este relato não é apenas a história de Edoardo e Rosetta, mas também a de milhares de homens e mulheres que, entre lágrimas e esperanças, deixaram a Itália em busca de um futuro no Brasil. Trata-se de um testemunho de resiliência, amor e legado, preservado pela oralidade familiar e agora eternizado em palavras.

Dr. Piazzetta


sábado, 4 de outubro de 2025

A Vida de Pietro Zanotelli

 


A Vida de Pietro Zanotelli

Das Colinas de Vicenza às Terras Vermelhas de São Paulo

Pietro Zanotelli nasceu em San Pietro Mussolino, Vicenza, no dia 14 de março de 1900. O vilarejo era pobre, mas os bosques que se erguiam ao redor ofereciam o sustento possível. Com somente os três anos do ensino básico concluídos, desde criança, Pietro aprendera a manejar o machado, a serrar troncos e a arrastar toras pelas encostas. Sua juventude foi marcada pelo cheiro da resina dos pinheiros e pela aspereza das mãos feridas pela madeira.

A pequena aldeia se resumia a algumas ruas tortuosas e estreitas, uma antiga igreja, dominando a praça e pequenas casas de pedra úmidas salpicadas de liquens, onde as famílias se apertavam em meio à escassez. As colheitas raramente bastavam, e a maioria dos jovens partia ainda muito cedo, deixando atrás de si velhos e mulheres. Era um retrato de um Vêneto pobre que ainda lutava contra as feridas deixadas pela guerra.

Em 1922, como tantos outros jovens da região, partiu para a França em busca de uma vida melhor. Encontrou trabalho nos túneis do Jura, onde o corpo era consumido pela umidade e pela escuridão. Foram três anos de labuta subterrânea, até que a saudade o empurrou de volta a San Pietro Mussolino. O retorno, porém, trouxe-lhe apenas a constatação amarga: ainda não havia futuro possível em sua aldeia natal.

A ideia da América começou a rondá-lo. Já não era uma emigração em massa, como a dos tempos de seus pais e avós. Agora, cada partida era um gesto individual, uma tentativa desesperada de escapar do desemprego e da fome que a Itália do pós-guerra ainda não conseguira resolver. Pietro observava as cartas que chegavam de parentes já instalados no Brasil, com relatos de dificuldades, mas também de terras férteis e novas oportunidades.

Na madrugada de 2 de julho de 1926, o dia da partida chegou. Pietro levantou-se cedo. A pequena maleta de papelão, já meio consumida, o passaporte recém-emitido e algumas moedas no bolso eram tudo o que carregava. Os parentes o acompanharam até o ponto de onde partia uma carroça que fazia o transporte de passageiros. Quando o cocheiro gritou a ordem de embarque, sentiu um nó na garganta. O silêncio pesou mais do que qualquer palavra. Virou-se uma última vez para olhar sua terra, e num sussurro apenas para si mesmo disse: “Adio Mussolino, chissà quando ti rivedrò”.

Seguiu então de trem para Gênova. Instalado em um hotel barato em uma rua lateral não muito longe do cais, dividiu pão e salame com três companheiros de viagem. Ao passear pelo porto, ficou paralisado diante do navio Giulio Cesare, uma fortaleza de aço erguida sobre as águas, pronta para atravessar o oceano. O porto fervilhava de vozes em diferentes dialetos, famílias chorando separações definitivas, vendedores ambulantes aproveitando o último instante de comércio, padres abençoando os que partiam.

No 30 de junho, as formalidades se sucederam: corte de cabelo, banho obrigatório, inspeção médica, vacina. Quando finalmente embarcou, desceu a escadaria de ferro até o porão, onde se alinhavam beliches numerados. Aquele seria seu mundo durante semanas.

Ao soar os três apitos da partida, o navio começou a afastar-se do cais. Do porto, a multidão cantava hinos patrióticos; no convés, emigrantes agitavam lenços encharcados de lágrimas. O barulho da música e dos gritos se misturava ao choro sufocado. Pietro permaneceu imóvel, carregando no peito o peso da separação.

A travessia foi marcada pelo enjoo dos primeiros dias, pela comida escassa e pelo cheiro sufocante dos camarotes. Os limões comprados em Gênova ajudaram a suportar o mal-estar. No convívio com outros passageiros, surgiam histórias semelhantes: jovens arrancados pela necessidade, velhos em busca de filhos que já haviam partido, mulheres levando crianças pequenas na esperança de recomeçar. Todos unidos pela mesma esperança de um futuro do outro lado do mar. Havia também as noites em que o mar se revoltava, e o balanço violento lançava os corpos contra as paredes de ferro, lembrando a todos que a travessia era uma aposta de vida e morte.

Ao desembarcar no porto de Santos sem conhecer a língua do Brasil, Pietro não encontrou promessas fáceis, mas sim o desafio de recomeçar do nada. Seguiu de trem para o interior de São Paulo, onde já existiam comunidades italianas estabelecidas. Encontrou trabalho em armazéns, em pequenas indústrias, em roças arrendadas, mudando de ofício conforme apareciam as oportunidades.

O Brasil não foi para ele uma terra de riqueza, mas sim de sobrevivência e continuidade. Casou-se com Ana Luísa Marchette, filha de imigrantes, com quem teve filhos e netos. Sua vida tornou-se um equilíbrio entre o trabalho incessante e a saudade que nunca se apagou. O sotaque do Vêneto nunca o deixou, e até os últimos dias mantinha o hábito de cantarolar canções antigas, como se cada nota fosse um elo com sua terra perdida.

Morreu em Campinas, no ano de 1972, aos 72 anos. Foi enterrado sob uma cruz simples, com a frase escolhida pela família:

“Partiu da Itália por necessidade, viveu no Brasil por esperança.”

Assim se encerrou a trajetória de Pietro Zanotelli, um homem que carregou no coração o peso da despedida e a coragem da travessia, testemunha de uma geração que deixou o Vêneto não por escolha, mas por obrigação da vida.

Nota do Autor

Este relato nasceu da necessidade de dar carne e voz a uma geração que, apesar de ter marcado profundamente a história, corre o risco de ser esquecida. Pietro Zanotelli, personagem central desta narrativa, não é um homem isolado: ele representa milhares de italianos que, nas primeiras décadas do século XX, foram forçados a abandonar seus vilarejos, suas famílias e o chão onde aprenderam a caminhar.

Não partiram por aventura ou ambição, mas pela imposição da vida. A Itália que emergiu da Grande Guerra estava exausta: os campos devastados, o trabalho escasso, as promessas do Estado vazias. Para muitos, a única saída era olhar para o horizonte do Atlântico e imaginar que, do outro lado, pudesse existir uma chance de sobrevivência.

Foi esse gesto — levantar-se de madrugada, despedir-se em silêncio, carregar uma mala pobre de roupas e memórias — que fundou a epopeia anônima de tantos homens e mulheres. Eles não eram heróis, mas trabalhadores comuns. E ainda assim, sua coragem os tornou extraordinários.

Ao recriar a trajetória de Pietro, não busquei apenas relatar fatos, mas também reconstruir atmosferas: o peso das despedidas, o cheiro acre dos portos, o som metálico dos apitos de partida, a claustrofobia dos porões de navio e, sobretudo, a saudade que atravessava oceanos. A saga de Pietro é uma chave para compreendermos a dor e a força daqueles que transformaram o Brasil em sua nova pátria.

Esta narrativa não é uma biografia literal. É um romance baseado em cartas, documentos e testemunhos, tecido com o fio da ficção para iluminar o que os registros oficiais não contam: o silêncio, o medo e a esperança.

Que a vida de Pietro Zanotelle, aqui narrada, seja lembrada como símbolo de todos os que cruzaram o mar não para enriquecer, mas para sobreviver — e, ao fazê-lo, construíram as bases de um futuro que hoje chamamos de nosso.

Dr. Luiz C. B. Piazzetta




domingo, 14 de setembro de 2025

La Vita de Pietro Zanotelli


 

La Vita de Pietro Zanotelli

Da le Coline de Vicenza fin a le Tere Rosse de San Paolo


Pietro Zanotelli el ze nassesto a San Pietro Mussolino, Vicenza, el 14 de marzo del 1900. El paeseto el zera pòvero, ma i boscài che se tirava su intorno i dava quel tanto che podéa bastar. Con sol tre ani de scola bàsica, da putelo Pietro el gavea imparà a menar la manara, a segar tronchi e a strassinar le tore zo par i costoni. La so zoventù la zera segnà dal odor de resina dei pins e da la ruvidesa de le man ferì da la legna.

La pìcola vileta la se resuméa in do tre stradete storte e strete, na cesa vècia che la comandava la piassa e casete de piere ùmide, tacà de licheni, ´ndove le famèie se strensea in meso a la misèria. Le racolte rare volte bastava, e la maior parte dei zóveni partia presto, lassando indrìo veci e done. Zera el retrato d’un Véneto pòvero, che ancora lotava con le feride lassà da la guera.

Int el 1922, come tanti altri zòveni de la region, el ze partì par la Fránsia in cerca de na vita mèio. El trovò laoro ´ntei tùnèi del Jura, ’ndove el corpo el se consumava con l’umidità e la scurità. Ghe zera tre ani de fadiga sototera, fin che la nostalgia lo strense indrio fin a San Pietro Mussolino. Ma el ritorno ghe portò sol la constatassion amara: gnanca là ghe zera futuro.

L’idea de l’Amèrica la scominsià a rondarlo. No zera pì ´na emigrassion de massa, come ai tempi dei so pare e noni. Adesso ogni partensa zera un gesto solo, un tentativo disperà de scampar da la disocupassion e da la fame che la Itàlia del dopoguera no gavea ancora risolto. Pietro el vardava le lètare che rivava da parenti zà sistemà in Brasil, che contava sì de fadighe, ma anca de tere fèrtili e de ocasion nove.

A la matina del 2 de luglio del 1926, el dì de la partensa la zera rivà. Pietro el se alsò presto. ´Na valiseta de carton, zà mesa consumà, el passaporto novo e qualche moneda in scarsea: tuto el so ben. I parenti lo acompagnarono fin al ponto ’ndove partiva la carossa con i passegieri. Quando el condotier urlò “su”, lu sentì un nodo in gola. El silénsio pesava pì de qualunque parola. Se voltò ´na ùltima volta a vardar la so tera, e in un bisbiglio par so el dise: “Adio Mussolino, chissà quando te rivedarò”.

Da là el seguì con el treno fin a Génoa. Sistemà in un albergo poco costoso su na stradela visin al porto, el spartì pan e salame con tre compagni de viaio. Girando par el molo, el restò paralisà davanti al vapor Giulio Cesare, na fortessa de fero che se alsava sora l’aqua, pronta a traversar l’ossean. El porto ferviva de vosi in dialeti diversi, famèie che piangea la separassion definitiva, venditori che sfrutava l’ùltimi momenti, preti che benediva chi partia.

El 30 de giugno, i controli: taiada de cavèi, bagno obligatòrio, visita mèdica, vacuna. Finalmente el imbarcò, scendendo par na scala de fero fin al sotoponte, ’ndove ghe zera le brande numerà. Quela zera la so casa par setimane.

Ai tre fischi de la partensa, el vapor scominsiò a stacarse dal molo. Dal porto, la zente cantava ini patriòtici; sora la coperta, i emigranti agitava fasoleti bagnà de làgreme. El rumore de la mùsica e dei gridi se mescolava con el pianto sopresso. Pietro el restava fermo, con el peso de la separassion drento el peto.

La traversia la zera stà segnà dal mal de mar dei primi zorni, da la magnar scarsa e dal odor sufocante dei cameroti. I limoni comprà a Génoa ghe dava na man contro el malessere. Tra i passegieri nasséa stòrie sìmili: zóveni cassià via da la misèria, veci che rivava in serca de fiòi già partì, done con puteleti sperando in un rescomìnsio. Tuti unì da la speransa de un futuro oltre el mar. Ma ghe zera anca le noti che el mar se rivoltava, e el rolìo feroce sbatìa i corpi contra le pareti de fero, ricordando a tuti che la traversia zera un’azardo de vita e de morte.

Quando el sbarcò al porto de Santos, sensa saver la léngua brasilera, Pietro no trovò promesse fàssili, ma solo el desafio de rescomissiar da zero. El seguì con el treno fin a l’interno de lo stato de San Paolo, ’ndove zà ghe zera comunità taliane. El trovò laoro in magazini, in pìcole indùstrie, in rosse in afito, cambiando ofìssio ogni volta che saltava fora l’ocasion.

El Brasil no zera par lu ´na tera de ricchessa, ma de sopravivensa e de continuità. El se ga sposà con Ana Luisa Marchette, fiola de emigranti, con la quale el ga avù fiòi e dopo nepoti. La so vita la diventò un equilìbrio tra la fadiga sensa fine e la nostalgia che mai se spense. El parlar vèneto no el lo lassò mai, e fin ai ùltimi zorni el gavea l´àbito de cantarolar vècie canzonete, come se ogni nota ghe zera un filo che lo ligava a la tera perdù.

El morì a Campinas, ´ntel 1972, a 72 ani. El ze stà sepelì soto ´na crose sèmplisse, con la frase decisa da la famèia:

“El ze partì da l’Itàlia par bisogno, el ze vivesto in Brasil par speransa.”

Cusì se conclude la vita de Pietro Zanotelli, un omo che portò drento el cor el peso del distaco e el coraio de la traversia, testimónio de ´na generassion che ga lassà el Vèneto no par scelta, ma par obligo de la vita.

Nota de l’Autor

Sto raconto el ze nassesto da la necessità de dar carne e vose a na generassion che, benché la ga segnà profondamente la stòria, la cor el risco de vegnir desmentegà. Pietro Zanotelli, personàio sentral de sto raconto, no el ze un omo da solo: el rapresenta miaia de taliani che, ´nte le prime dècade del Novessento, i ghe ze stà forsà a abandonar i so paeseti, le so famèie e el teren ’ndove i ga imparà a caminar.

Lori no i ga partì par aventura o par ambission, ma par imposission de la vita. L’Itàlia che ussì da la Gran Guera la zera straca: i campi devastà, el laoro scarso, le promesse del Stato vode. Par tanti, l’ùnica via zera vardar l’orisonte de l’Atlàntico e imaginar che, de l’altro lato, podéa esister na chance de sopravivensa.

Zera sto gesto — alsarse a la matina, dir adio in silénsio, portar ´na valisa pòvara de roba e ricordi — che fondò l’epopea anònima de tanti òmini e done. No i zera eroi, ma laoranti comun. E pur cusì, la so coraio i ga rendé straordinari.

Ricreando la vita de Pietro, no mi go volesto sol contar i fati, ma anca refar le atmosfere: el peso dei distachi, l’odor aspro dei porti, el son metàlico dei fischi de partensa, la claustrofobia dei sotoponti e, sora tuto, la nostalgia che traversava oceani. La saga de Pietro la ze na ciave par capir la pena e la forsa de chi ga trasformà el Brasil in la so nova pàtria.

Sta narativa no la ze ´na biografia precisa. La ze un romanso basà in lètare, documenti e testimoni, tessù con el filo de la fission par iluminar quel che i registri no conta: el silénsio, la paura e la speransa.

Che la vita de Pietro Zanotelli, racontà qua, la sia ricordà come sìmbolo de tuti che i ga traversà el mar no par diventar richi, ma par sopravìver — e cusì i ga costruì le base de un futuro che incòi noaltri ciamemo nostro.

Dr. Luiz C. B. Piazzetta



sábado, 16 de agosto de 2025

L’Ùltima Lètara de Giovanni Barone

 

L’Ùltima Lètara de Giovanni Barone


El vento fredo de l’inverno el fa dansar i rami sechi de le piante, come se lore le ze drio a rompersi. In ´na casa modesta sora la periferia, Giovanni Barone intingea la pena ´ntel calamaro, scrivendo quelo che lu savea èsser ´na de le lètare pì importante de la so vita. Ogni parola portava el peso de la nostalgia, de la speransa e de ‘na colpa che no’l saveva se mai la saria espià.

“Cara Mariella,” el ga tacà, con la man tremante, “no ghe ze zorno che no me venga in mente el lucente dei to òci quando te me ga saludà in stassion. Mi gave prometesto che saria tornà, che te portaria qua con Piero apena el laoro in Amèrica rendesse. Ma el tempo el ze crudele e le promesse, fràgili.”

Giovanni lu el zera partì par el Brasile do ani prima, lassando indrio la so mòier zòvene e el fiol pìcolo Pietro. L’Itàlia la passava ‘na crisi sensa pietà: i campi stèrili, le tasse de governo esagerà e ‘na fame che pareva ‘na sombra che no el volea sparir. Quando el ga sentì parlar de l’oportunità in Brasile, Giovanni, come tanti altri, no gavea altra scelta che provar fortuna.

La traversia la ze stà un’odissea. A bordo del vapor Laurenti, ghe ze stà tempeste che fasea scricolar el scafo del barco come se el zera drio a spacarsi. Drento ai scure caneve, Giovanni el stava stipà con dessene de altri emigranti, con un’ària impestà de sudor e disperassion. Ogni matina, un’altro compagno de viaio el cascava per malatie o sconforto. “No sarà invano,” el se ripetea, come ‘na preghiera.

Quando lu el ze rivà in Brasile, Giovanni el ga trovà na realtà dura. Le promesse de tere fèrtili e de laoro in abondansa i zera solo fole contà da agenti sensa scrùpoli. El ze stà mandà in ‘na grande proprietà drento el stato de San Paolo, ndove lu el ze diventà un de quei tanti che sapava de l’alba a la sera, quasi schiavo ´ntei campi de cafè. Ma de note, el se perdea in sòni e càlcoli: gavaria messo via tuto quel che podesse, anca a costo de patir la fame, par portar qua la so famèia.

´Ntele rare zornade de libartà, Giovanni el scrivea lètare a Mariella, provando a nasconder le dificoltà. “Di’ a to cugnà de no farsi imbroiar da le stòrie de richessa,” el gavea scrito al so caro amico Antonio de Giusti, in ‘na lètara che mai el ga ricevesto risposta. Forse che la lètara se gavea persa, come tante altre, ´ntel caos de le comunicassion de quei tempi. “Sta tera consuma l’ànima, e chi vien con gnente el resta anca con meno.”

Le parole de Giovanni no le zera solo un aviso, ma anca un grido. Lu savea che la so assensa la zera un peso par Mariella, che dovea crèsser da sola Piero e mantegner viva la pìcola piantassion che ghe dava quel tanto par sopravìver, anca contro el tereno duro e la fatica infinita. “Quando te pode, mandame notìssie,” el la pregava. “El to silénsio el ze un abisso che me magna drento.”

Mentre Giovanni el se sforsava, Mariella la vivea i so pròvi. ´Ntela località de Rozzampia, ´ntel comune de Thiene, Vicenza, la crisi económica la zera pegiorà ancora. De note, el pianto de Piero che domandava del so papà el riempiva el silénsio. Mariella ghe contava stòrie de speransa, inventando aventure che Giovanni se ga finto de viver, mentre la sofriva in silénsio con le làgreme nascoste.

La lètara che Giovanni el scrivea quela sera freda la ze stà diversa. Finalmente el gavea messo via abastansa par pagar el viaio de Mariella e Pietro. “Vegni pì presto che podè,” el scrivea. “Anca se tuto el ze difìssile, credo che qua podaremo èsser felissi insieme. Sta tera no ga dato a noaltri tuto quel che gavea promesso, ma insieme podaremo lavorarla e farla nostra. No sarà fàssile, ma el nostro amore el darà la forsa.”

El ga chiuso la busta e ga la portà al coréio local, Giovanni el savea che el tempo el saria ancora un nemico. La strada lunga che la lètara dovea far par rivar in Itàlia e el organisar el viaio de la so famèia i saria stà ´na prova de passiensa e fede. Lu savea anca i perìoli che Mariella e Pietro i saria drio a enfrentar, ma el ga preferì no parlarghe par no spaventarli.

El ricontro de Giovanni con la so famèia saria stà lo scomìnsio de un novo capìtolo. Insieme, i saria drio a superar le aversità, come tante altre famèie taliane che le ga costruì la so loro vita con sudore e làgreme. E, nonostante tuto, i saria stà la prova che la forsa e l’amor i pode fiorir anca ´ntei teren pì stèrili. Giovanni el savea che el futuro el restava inserto, ma, par la prima volta da ani, el sentiva che la speransa la zera viva, reale come la tera che ogni zorno el laorava par trasformarla in casa.


Nota del Autore

Sto raconto el ze na riflession profunda sui dilemi umani vivesti dai emigranti italiani in uno dei perìodo pì difìssili de la nostra stòria. La figura de Giovanni Barone no la ze solo un omo, ma un sìmbolo de ´na generassion segnà del coraio de lassar tuto drio par provar a construir un futuro novo in tere sconossù. La stòria la prova a coglier l’essensa de sta lota – el dolor de la lontanansa, la soferensa de condission disumane e la speransa che, anca tra le adversità, no se spegne mai. Pì che un omaio, el ze un invito a capir la forsa de chi, mosso dal amor e dal bisogno, el ga plasmà el futuro con le pròprie man.

Dr. Luiz C. B. Piazzetta



sábado, 9 de agosto de 2025

Achille Scapinetto – Entre Dois Mundos e Duas Guerras


 

Achille Scapinetto – Entre Dois Mundos e Duas Guerras

Entre a terra que o viu nascer e a que lhe deu abrigo, ele aprendeu que o verdadeiro campo de batalha é o coração.

O cheiro da terra vermelha e quente da região de Piracicaba nunca abandonou Achille Scapinetto, mesmo décadas depois de ter deixado o Brasil. Ele nascera ali, num pedaço de chão que não pertencia à sua família, sob o sol inclemente que queimava tanto a pele quanto as esperanças. Seu pai, Vittorio Scapinetto, e sua mãe, Luigia Sacaron, tinham atravessado o Atlântico em 1890, vindos de Rozzampia, no comune de Thiene, província de Vicenza.

Não vieram sozinhos. Trouxeram a filha mais velha, Santina, e o segundo filho, Giacomo, ambos ainda pequenos. No Brasil, nasceriam os outros: Francesco, Mansuetto, Umberto, Vittoria e, por último, Achille. A promessa que os trouxera da Itália era sedutora: trabalho remunerado, vida melhor, futuro para os filhos. Mas as promessas, tão abundantes no cais de Gênova, evaporaram no calor dos cafezais paulistas.

O latifundiário que os contratara ainda na Itália tinha as próprias dívidas e, com o café em queda no mercado, não havia generosidade para com os colonos. O pagamento vinha minguado, corroído por débitos constantes: a compra de mantimentos, as ferramentas de trabalho, a doença de Santina que, durante um parto difícil, precisou de uma cesariana no hospital de Piracicaba — tudo pago pelo patrão e cobrado, com juros, no acerto.

As dívidas eram uma prisão invisível. Fugir não era opção; a liberdade só viria com a quitação total, e isso parecia inalcançável. Os anos se arrastaram em meio ao calor sufocante, aos gritos de comando nos cafezais e à rotina exaustiva.

Quando finalmente retornaram a Rozzampia, em 1920, estavam um pouco menos pobres que antes, mas muito mais velhos do que a idade sugeria. Vittorio, obstinado, apesar da idade, investiu as economias de três décadas de suor na abertura de uma pequena casa de comércio, onde vendia mantimentos além de tabaco e licores. O comércio, situado em uma das esquinas mais movimentadas de Thiene, tornou-se ponto de encontro e sobrevivência para a família.

Mas a Itália não ofereceria tranquilidade por muito tempo. O avanço do regime fascista instalou-se como uma sombra espessa sobre as ruas, as praças e até sobre as conversas familiares. Cartazes de propaganda, desfiles militares e discursos inflamados tentavam disfarçar a crescente falta de liberdade. Nas casas, a prudência passou a ser lei: portas fechadas, janelas semiabertas, olhares desconfiados para cada passo na calçada. O silêncio tornou-se refúgio, pois qualquer palavra mal interpretada poderia atrair vigilância, interrogatórios e humilhações.

O clima era sufocante, como se o ar estivesse carregado de chumbo. Pequenos gestos — uma carta recebida do exterior, um comentário sussurrado no mercado, um livro escondido no fundo do armário — podiam se tornar perigosos. A incerteza pairava como neblina que não se dissipa.

Quando a Segunda Guerra Mundial explodiu, a tensão atingiu o ponto máximo. O som distante das rádios transmitindo notícias do front parecia ecoar dentro das paredes, misturando-se ao peso de um medo que não ousava se mostrar em voz alta. Foi então que a casa de Vittorio mergulhou no silêncio mais denso de sua história. As conversas rarearam, as refeições tornaram-se breves, e os olhares evitavam se encontrar, como se a troca de sentimentos fosse abrir fissuras por onde o pavor pudesse escapar.

A convocação chegou como um golpe seco, sem espaço para apelos ou despedidas prolongadas. Três de seus filhos — Mansuetto, Umberto e Achille — receberam a ordem de apresentar-se. As mãos de Vittorio tremeram ao segurar aquelas cartas oficiais, seladas com o brasão do Estado, pois sabia que não eram apenas folhas de papel: eram bilhetes de entrada para um destino incerto, talvez sem volta.

A guerra não teve piedade. Mansuetto encontrou a morte a cinquenta graus abaixo de zero, congelado nas trincheiras da Rússia, em Nikolayevka, no Oblast de Belgorod. Umberto tombou sob um sol implacável, a cinquenta graus acima de zero, nos desertos do norte da África. E Achille, o mais jovem dos três combatentes, foi ferido na Grécia.

Capturado numa manhã cinzenta, quando o frio parecia morder até os ossos, Achille foi empurrado para dentro de um vagão de carga. O ar era denso, carregado do cheiro agridoce de suor, palha úmida e medo. Amontoado entre homens que tremiam mais pela incerteza do que pela temperatura, não sabia se o destino seria o trabalho forçado ou um campo de extermínio.

O Lager onde foi confinado parecia ter sido erguido para apagar lentamente qualquer vestígio de humanidade. Barracões de madeira mal vedados, chão de terra batida, e um vento gelado que atravessava cada fresta, arrancando o calor dos corpos como se quisesse lembrar que até o ar estava sob domínio dos guardas.

A comida chegava em formas quase irônicas: uma tigela de caldo ralo com um fiapo de repolho, um pão escuro e duro como pedra, algumas cascas de batata que, se não fossem devoradas, serviriam de alimento para os ratos. Beber água significava abaixar-se sobre um barril onde a superfície estava coberta por um fino véu de sujeira. A fome não era apenas física — era um peso constante na mente, que tornava cada pensamento mais lento, cada movimento mais custoso.

Ainda assim, Achille se agarrou a algo que nenhum regime ou campo de prisioneiros podia confiscar: a esperança. À noite, deitado sobre a palha infestada de piolhos, fechava os olhos e se transportava para Thiene. Sentia o calor de um forno aceso, o cheiro do pão recém-assado, o som ritmado de passos conhecidos na rua de pedra. Na penumbra, recordava o rosto da mãe como quem segura uma fotografia desbotada — frágil, mas indispensável para sobreviver.

Meses se arrastaram. Dias e noites misturavam-se, e a contagem do tempo era feita não pelo calendário, mas pelo número de companheiros que não resistiam. Alguns partiam sem um som, apenas fechando os olhos e entregando o corpo ao frio.

Quando a guerra finalmente afrouxou suas garras e Achille foi libertado, ele já não era o mesmo homem. Caminhou durante dias até reconhecer, no horizonte, os contornos familiares das montanhas que cercavam Thiene. A cada passo, a paisagem despertava lembranças adormecidas: o sino da igreja que ecoava ao longe, o cheiro de terra molhada após a chuva, a curva da estrada onde, em tempos de paz, ele brincava quando menino.

Parou diante do portão da casa. O ferro estava frio ao toque, e por um momento, Achille temeu que ninguém abrisse. Quando finalmente a porta se escancarou, ele ficou imóvel. Carregava no corpo as marcas profundas das balas — cicatrizes que riscavam a pele como mapas de batalhas que ninguém queria recordar — e, na alma, feridas invisíveis. Trazia nos olhos a memória de um abismo que não devorou apenas homens, mas também futuros inteiros.

Achille viveu ainda longas décadas, resistindo como um velho tronco de oliveira que, retorcido e marcado pelo tempo, permanece de pé apesar das tempestades que lhe arrancaram galhos e folhas. Os anos não lhe pouparam o corpo — os passos tornaram-se lentos, as mãos carregavam o tremor discreto da idade, e os olhos, antes vivos como brasas, agora guardavam um brilho calmo, quase crepuscular.

Chegou aos noventa anos como quem atravessa um continente inteiro: com o cansaço estampado no rosto, mas com a dignidade intacta. Dentro de si, conservava dois mundos que se misturavam como águas de rios diferentes. Havia o Brasil ardente da infância — os dias de sol que queimava a pele, o cheiro doce da terra molhada após as chuvas tropicais, o riso fácil das gentes que acolhem com braços abertos. E havia a Itália sofrida da maturidade — o frio cortante dos invernos, o som dos sinos ecoando entre as colinas, as ruas estreitas onde a vida corria devagar, mas onde a guerra deixou marcas que o tempo jamais apagou.

Carregava também a lembrança de duas guerras, que haviam moldado não apenas o seu destino, mas o de toda a sua família. Foram guerras que roubaram amigos, dispersaram parentes e transformaram sonhos em silêncio. E, no entanto, ele também guardava memórias de coragem — dos que se ergueram apesar da fome, dos que partilharam o pouco que tinham, dos que mantiveram acesa a chama de um futuro melhor mesmo quando tudo parecia perdido.

Nos últimos anos, gostava de se sentar à sombra da velha oliveira no quintal. Passava horas ali, olhando para o horizonte como se ainda pudesse ver, ao mesmo tempo, o céu claro do Brasil e o entardecer dourado da Itália. Talvez soubesse que, quando chegasse a sua hora, levaria consigo não apenas as lembranças, mas o peso e o orgulho de ter vivido entre dois mundos e sobrevivido a duas guerras — uma herança invisível, destinada a permanecer no sangue e na memória de todos que vieram depois dele.

Nota do Autor

O que o leitor encontrará nestas páginas não é pura ficção, mas a recriação de uma história real, preservada ao longo de décadas por memórias familiares, relatos orais e fragmentos de registros históricos. Por respeito à privacidade dos descendentes e para preservar a liberdade narrativa, todos os nomes e alguns detalhes geográficos foram modificados.

Achille Scapinetto é, portanto, um nome escolhido. Mas por trás dele viveu um homem de carne e osso, que atravessou a vida dividido entre dois países, dois idiomas, dois afetos — e que carregou no corpo e na alma as marcas de duas guerras. Ele não foi herói perfeito nem mártir imaculado: foi humano, e justamente por isso sua história fala tão fundo ao coração.

Escrevi este livro como quem recolhe e costura retalhos de um manto antigo: cada linha busca unir as tramas da dor e da esperança, da coragem e da renúncia, para que não se perca a lembrança daqueles que construíram nossas raízes longe de sua terra natal. Não é apenas o retrato de um homem. É o eco da jornada de milhares de imigrantes que viveram na encruzilhada entre a saudade e o recomeço, entre o dever e o sonho.

Que estas páginas sejam, para o leitor, um abraço através do tempo — e um tributo àqueles que viveram entre dois mundos e sobreviveram a duas guerras.

Dr. Piazzetta



domingo, 13 de julho de 2025

La Saga de un Emigrante Italiano in Brasil


 

La Saga de un Emigrante Italiano in Brasil

A la fin del sècolo XIX, nasseva a Albettone, ancora ´na modesta vila in meso a le dolse coline verdesianti del Basso Vicentino, Giuseppe Zanon, ciamà con afeto Beppi da tuti quei che ‘l conosséa. El gera ‘n zovene de spìrito inquieto e de soni grandi, che a 23 ani portava in cuor el peso de le dificoltà de la so tera—‘na Italia segnata da mancanse, dal lavoro duro sui campi strachi e da ‘na speransa che no se volea mai ‘ndar via, malgrado el sconforto. Intel 1886, movesto da ‘na voia ardente de ‘n futuro mèio, Beppi el ga dessidesto de lassàr indrio le so radisi che ‘l gavea sempre sostegnù, partendo verso el Brasil. Là, el credeva, che’l podesse siapar ocasioni che ghe cambiarìa la vita, permetendoghe de siapar richessa e prosperità a basta par, un dì, tornar in Italia e viver con dignità e conforto che mai ghe iera stai dati.

La partenza la xe stada segna da lacrime e saludi pieni de dolore a la stazion dei treni de Vicenza. Sota ‘l celo grigio de ‘na matina fredda, el vapor del treno se mescolava co’l fià de parole no dite, co’l dolor che se tegnéa drento nei sguardi che se incrociava par l’ultima volta. El gavea dito ciao a la so mare, ‘na dona che la so pella rugàa contava ani de sacrifici, segnata dal tempo e da ‘na lota sensa fine par nutrir la fameja.

I do fradei più zoveni, coi facci bagnài da ‘n’innocenza spaventada, i gavea l’ocio spalancà, come se i podesse capir el destino incerto che spetava el fradeo più vecio. A ogni fischio del treno, i sentiva la proximità de ‘na assenza che no savea come ciamar, ma che pèsava come ‘na pèdra sul cuor de ‘sti putèi.

Drio de lori, el campo che la fameja coltivava con man callose restava mut, testimone muto de ‘n sforzo che no bastava più. La tera, ingrata e stanca, no voleva restituir el sudor versà, regaland solo rasi e senza speransa. Là, dove ‘na volta sbocciava el sogno de la prosperità, adesso regnava ‘n vuoto che rimbombava nel cuor de chi dovea partir.

In tel momento, ogni dettaglio paréa stampàrse nella memoria come ‘na foto sfumada, piena de ‘na melanconia che no se podéa scancelar. El rumore ritmàico delle rote de fero contro i binari sunava come el ticcheteo de ‘n orologio che no molava, segnando el tempo che restava prima del saluto definitivo. L’odor acre del carbon brucià se mescolava col freddo umido de la matina, impregnando i vestii e i sensi, facendo la scena ancora più viva e indelebile.

Le voci sussurrate dei viaggiatori intorno creava ‘na tela de fondo quasi insignificante, lontani dala so bolla de solitùdine. Ogni parola parea senza peso diante la vastità de la partenza. El tegnéa fissi i oci sulla figura fragile de la so mare, che la provava, invano, a mascheràr le lacrime che scendeva sul viso segnào dal tempo. La tegnéa in man un fazoletto bianco, ‘n gesto quasi inutile, ma pien de significati. Parea volèr fermàr el momento, impedir che ‘l scapasse via.

Drio de le, i fradei più zoveni, coi visi pallidi e i oci inquieti, no capiva ben la profondità de quel che stava per suceder. El più vecio tegnéa la man del più picin, come ‘n scudo contro ‘na minaccia invisibile che sentiva nel cuor. Par ‘n attimo, el se domandava come i saria stai fra qualche ano, se i saria stai boni de affrontàr la dureza de la tera e de la vita senza de lu a dividar el peso.

El savea che, attraversando la linea del orizonte, no solo lassaiva indrio la tera natia — la vila coi so stradini streti, l’odor del pan fresco de matina, el murmurio delle preghiere nella ceseta — ma anca ‘n pezzo de lu stesso, ‘n frammento de la so identità che jera stà forgià da generazioni de lota e sacrificio. Partir gera ‘na sorta de morte lenta, ‘n strappo de radisi che sempre lasaria segni indelebili.

Intanto che el tren fasea el so pito, segnando el imbarco, un misto de paura e determinazion el gà ciapà el so cuor. Fora, un mondo sconossiùo lo spetava, un posto dove forsi ghe sarìa stae oportunità, ma anca dubi e solitudine. El gavea serà i oci par un momento, assorbendo ogni detajo de quel che el lassava indrìo, come un colecionador de ricordi pronto a perder la so piassa reliquia.

Quando el tren el gavea tacà a moverse, el sentì el cor che 'l bateva pì forte, no par speransa, ma par un vuoto profondo, una coscienza amarga che, anca se un dì el tornaria, no sarìa pì el stesso. Ogni metro fatto gavea l'aria de stracare un filo invisibile che el collegaiva a quella vita. E, intanto che la stazion spariva pian pianin tra la nebbia de la matina, el se domandava se quel che el trovaria in futuro sarìa abbastanza par coprir quel che l'avea appena perso.

“Far l’America”, come tanti italiani i disea con un misto de speransa e paura, jera na frase che la portava sia la promessa de un novo começo, sia el peso de un salto nel scuro. L’idea de traversar un oceano intero par rivar a na tera che i conossèa solo par voci, jera tanto sedusente quanto spaventosa. Jera la promessa de na vita mejò, un futuro dove i fioi no i dormirea col stomaco vuoto e i pare no i se piegarea più nei campi aridi par poco. Ma quel che la maggioransa no savea — o forsi preferiva no vardar — jera che el inizio de quella strada sarìa un test de fede e resistenza.

Sul molo de imbarco, el fredo tagliava le robe strope, come se el vento stesso fusse là par metter in discussione le decisioni. L’aria jera un misto de sal, carbon e sudor, mentre el murmurar continuo de centinaia de voci in dialeti diversi creava un sfondo inquietante. Le done strincea i fioi, provando a scaldarli mentre i dava sguard nervosi ai grandi bastimenti ormeggiati, le cui ombre pareva mostri pronti a ingolarli. I òmini i portava valise semplici, qualcossa strinse con corde, che tegnìa tutto quel che i gavea — ricordi, speranse e un poco de pan duro.

L’incertezza stava nel petto de tuti. Cossa ghe spetava dall’altra parte? Sarìa la tera promessa che tanti elogiava nelle lettere e ne i conti, o n’altra trappola del destino? Par tanti, l’imbarco jera na sceta forzà, l’ultima carta contro la fame, la miseria e l’oppression. Eppur, nisuni ne parlava a voce alta. Ghe jera qualcosa de sacro in quel momento, un patto silenzioso tra tuti che i gera lì: se decidiessen de partir, i gavera da afrontàr quel che vien senza vardar indrìo.

E dopo ghe jera el mar, un gigante vivo, misterioso e minaccioso. Par la maggioransa, abituà ai monti e ai valadi de l’Italia, l’oceano jera na forza incomprensibile, na vastità infinita che pareva sfotter la fragilità umana. Tanti no i gavea mai visto el mar, e la so immensità la portava sia fascinazion che paura. Le onde sbatèa forte contro i scafi, come se volesse impedir quella traversada. I fioi piangea, spaventai par la dimension e i suoni che no i capiva, mentre i veci gavea sguardi rassegnà, mormorando preghiere a bassa voce quasi inaudibili.

Quando el campan del bastimento el sonò, chiamando i passeggeri al imbarco, el movimento cominciò. Jera come se na corrente invisibile tirasse la massa inanz, un flusso de corpi e emozioni che no se podìa fermar. Tanti esitava alla base de la rampa, guardando un’ultima volta el porto, le terre che i conossèa ben e i visi de chi i lasciava indrìo. Lacrime le gera versà, no solo par le despedide, ma par la certezza che qualcosa dentro de lori el cambiaressi par sempre.

Al passar el limbo del bastimento, un mondo novo se presentava: corridoi streti, camerotti strapieni e un odor opprimente de legno umido e corpi stanchi. Jera lì che i passarìa settimane, forse mesi, afrontando un mar che no gavea promesse de sicureza. Ma, anca in quel ambiente ostile, ghe jera un filo de speransa che i tegneva in pé. Parceché “Far l’America” no jera solo un viagio — jera un atto de fede nel futuro, una dichiarazion che la vita, per quanto dura, la valeva la pena de esser vissua con coraggio.

Sul tren che pian pianin el se allontanava, el cigolar delle rote sui binari pareva accompagnar el passo veloce del so cuor, facendo eco al dolore de na partenza irreversibile. El gà guardà fora dala finestra offuscà, provando a fissar in memoria ogni detajo de quel che el lassava. La streta nel petto jera quasi insopportabile, come se l’anima stessa la fusse strasciada, pezzo par pezzo, e abbandonada in quei campi familiari che oramai se stava facendo sempre più lontani a ogni secondo.

La figura de so mare restava ferma sulla piattaforma, el corpo piccolo e curvà quasi perso tra la massa. La gavea fato ciao con man tremanti, i dei increspài tignui a un fazolet che a mala pena teneva le lacrime. I oci bagnài de ea la incrociava i so par un momento — un attimo breve, ma eterno —, e el sentì come se tutte le parole non dette, le storie condivise e i silenzi confortanti i fusse racchiusi in quel sguardo. Jera na despedida, ma anca un segreto invito a no scordarse mai da dove el vegnìa.

Più indrìo, i so fradei picioti correva lungo la piattaforma, urlando cose che se perdea nel rumore del tren e nel caos intorno. El se imaginava che i domandava de tornar presto, de no lasciarli soli con responsabilità troppo grosse par lori. Ma jera impossibile fermarse, impossibile scender e prometter che tut jaria andà ben. El savea che quelle parole de conforto saria stà vuote, parceché nel profondo, manco el gavea la certezza che un dì el tornaria.

Intanto che el tren prendeva velocità, el paesaggio familiare gavea tacà a cambiàr. I campi aridi che el conossèa ben gavea cedeù el posto a monti e boschi sconossiùi, e el sentì el peso schiacciante de la promessa silenziosa che gavea fatto: quella de no scordar mai le radici, anca se la distanza jera grande. Ma come tegner vive le radici quando se parte par una tera completamente nova? Come conservar quel che jera essenziale quando la sopravvivenza pretenderà cambiamenti cosi profondi?

El gavea serà i oci un momento, provando a contener le emozioni che minacciava de trabocar. La strada sarìa longa, e la nostalgia jera già compagna inevitabile. In contemporanea, un lampo de speransa el brillava nella mente. La promessa de na vita mejò, de giorni dove so mare no gavaria più dovù lavorar fin a stancarse, dove i so fradei i gavaria la possibilità de studiar e crescer senza la costante ombra de la fame. Jera questo el sogno che lo teneva in moto, che dava forza ai piè stanchi e coraggio al cuor pesaroso.

Ma, anca con sta speransa, el savea che qualcosa dentro el gavea cambià par sempre. Su quel tren, intanto che el passato se ne andava via all’orizzonte, el se gavea trasformà in un altro — un om diviso tra do mondi, portando con sé el ricordo de un casso che no sarebb mai smesso de esser suo, ma che, pian pianin, se faria solo un ricordo.

Arrivà al porto, el se fermò un momento, guardando l’immensità che se stendeva davanti a lui. El bastimento, grosso e scuro contro el cielo grigio, pareva un gigante pronto a divorar tuto quel che ghe metteva davanti. Ma el passo el fu deciso, forte, come se la paura la podesse esser vinta solo col coraggio e la determinazion.

El cuore batteva forte, ma el sapeva che ogni passo verso quel destino incerto el gavea un senso, un valore. Perché “Far l’America” no jera solo na partenza, ma la speranza de costruir un futuro, un doman dove la fame, la miseria e la paura sarebbero restà un ricordo lontan, nascosto tra le pieghe del tempo e della memoria.

Le note nel fondame del navio jera 'na mistura de rumor e silensio che dava fastidio. El sonar continuo del mar che batteva sul casco jera acompagnià da tuse e murmuri de preghiere in dialeto italiano. Tra le ciacoe, Beppi e i Zocante contea storie delle so vigne, dei so campi e dei sogni che i ghe gavea portà fin qua. I parlava del Brasil come se fosse un paradiso lontan, con tera fertili e oportunità che i ghe gavea da liberar dal gir de la miseria. Sti momenti i dava a Beppi 'n senso de appartenenza, 'na ancora emozionale che no savea de aver bisogno.

Ma la traversada gavea portà anca sfide che no se spetava. Prima de imbarcarse, i passageri i gavea da far la vaccinazion contra la vaiolo, 'na precauzion che gavea portà sia conforto che preoccupazion. Par Beppi, quel che pareva solo 'na formalità se trasformò in 'n incubo. Pochi giorni dopo la puntura, el cominciò a sentir febre alta, dolori nel corpo e 'na deboleza che no ghe permetteva de star co i altri nel fondame. La matriarca Zocante la se prendeva cura de lu come podèa, con impiastri freddi e preghiere sussurate, ma la febre no calava.

Quando finalmente el navio rivò al porto de Rio de Janeiro, el destino gavea fato 'na bruta giocada. Beppi el jera stado identificà dai ispettori sanitari come malato e subito separà da la fameia Zocante. No gà tempo manco par dir addio, solo un cenno de man debole mentre el vegnìa portà via su 'na barella improvvisada. I so oci i incrociò i de i so compagni par l'ultima volta, pieni de tristeza e de 'na certezza amara che forse no se rivaria a veder più.

Portà a l’Isola dei Fiori, Beppi el jera messo in quarantena con altri maladi che gavea ciapà mal durante el viaggio. El posto jera insieme 'n rifugio e 'na prigione, con i so padiglioni austeri e el sonar continuo del mar intorno. El gavea una branda de legno, circondà da altri pazienti, coi volti che rispecchiava el stesso disperar silenzioso. La solitudine jera quasi insopportabile. La mancanza del calore dei Zocante, l’unica rete de sostegno, la pesava più della febre che lo consumava.

I giorni se trasformava in settimane, e Beppi i passava tra scoppi de febre e momenti de lucidità. El sentiva i gridi soffocati degli altri maladi e i passi frettolosi de medici e infermieri, che pariva che i lottasse contro 'na forza invisibile. L’isolamento facea che el tempo el se tirasse via, ogni minuto segnà da l’incerteza de un futuro che adesso pareva più lontan che mai.

Nonostante tutto, 'na scintilla de determinazion la restava dentro de lu. Beppi el savea che sopravvivere volèa dir più che solo batter la malatia — voleva dir compier el scopo che el ghe gavea portà fin qua. El sogno de costruir 'na vita mejo in Brasil, per quanto lontano che adesso el paresse, el batteva ancora nel so cuore, come 'na promessa che no voleva mollàr.

Quando finalmente rivò a São Paulo, Beppi el se sentì come se fosse sbarcà su 'n altro pianeta. La cità jera 'na massa confusa de suoni, odori e facce sconosciude. El jera solo, senza amici, senza fameia, senza nemanco un filo de familiarità a cui aggrapparse. El fatto de esser analfabeto lo rendeva vulnerabile, incapace de capir i fogli che i impiegà de l’ufficio d’immigrazione i ghe dava, e la bariera dela lengua trasformava ogni interazion in 'n gioco de indovinelli ansiosi. Le voci intorno pareva un ronzio incessante, 'na mistura de parole in portoghese e frammenti de altre lingue che el ghe riusciva a mal interpretar.

All’ufficio d’immigrazione, Beppi el vegnìa preso da un om che pareva abituà a comandar. Giovanni Barba, padrone de la Fazenda Monte Alegre, jera un contadino robusto, col viso duro e oci acuti. El jera lì par trovàr lavoratori, e Beppi, con la so costituzion forte e 'l viso determinà, pareva el candidato perfeto. Barba el parlava un italiano mescolà col portoghese, ma le so intenzioni jera chiare. El gavea bisogno de mani disposte a lavorar la tera, e Beppi gavea bisogno de un posto dove ricominciar.

"Ti te ne va a Araraquara," el diseva Barba, indicando un mapa rozzo. "Xe lontan da qua, ma ghe xe tera e lavoro. Se ti fa quel che te chiedo, ti ga dove dormir e da magnar."

Araraquara la pareva lontana come el Brasil stesso quando Beppi el jera ancora a Vicenza. La xe ‘na cità alla fin dela linea del treno, i diseva, e dopo no ghe xe altro che selva. Beppi no gavea scelta. El acceptò, sentendo el peso de ‘na decision presa par lu, no par so volontà.

El viaggio fin a la Fazenda Monte Alegre jera stanco e lungo. El treno el sobbalzava sui binari, e ogni fermada lo menava più dentro ‘n mondo sconosiù. La campagna dava posto ai campi vasti e alle radure mescolate a foreste fitte, e Beppi el sentiva ‘na mistura de fascinazion e paura. El Brasil jera vasto, e la so immensità jera al tempo stesso prometente e schiacciante.

Quando finalmente el treno se fermò a ‘na stazion picina in mezzo a la selva, Beppi el scese e trovò Giovanni Barba ad aspettarlo, insieme a do om che i gavea el viso duro come el so. I lo portarono su ‘na carreta tirada da mule e cominciarono el viaggio final fin alla fazenda. La strada jera fragile, tra alberi alti che pareva che magnaresse la luce del sol.

La Fazenda Monte Alegre la se rivelò un pezzo de tera isolà, circondà da foreste fitte e colline ondulate. Le case dei lavoratori jera picine e semplici, fatte de legno grezzo, con i tetti de paglia che prometteva poco conforto. La casa principale, dove stava Barba, jera più grande ma sempre rustica. Intorno, le piantagioni de café se stendeva fin dove se vedeva, mescolate a radure ancora da liberar col machad e la vanga.

Beppi el jera portà in ‘na delle baracche più lontane e ghe dissero che quel saria stado el so lar. No ghe gavea tempo da abituarse. La mattina dopo, prima che el sorgesse el sol, el saria stado già nei campi, a imparar a curar i piedi de café e a lavorar la tera rossa che pareva impastar tuto intorno.

Mentre se sistemava nela nova vita, Beppi el sentì el peso de la solitudine come mai prima. Era a più de 400 chilometri da la capitale, in un posto dove l’orizzonte jera dominà da foreste fitte e campi senza fine. Ma anca lì, in meso al nulla, el savea che no podèa mollàr. La promessa de ‘n futuro mejo la jera quel che lo manteneva in piè, anche se quel futuro pareva lontano come le luci de Vicenza nei so ricordi.

Beppi el jera el primo immigrante italiano a lavorar in Fazenda Monte Alegre, e presto el capì che jera ‘n pioniere anca par altri motivi. No ghe jera altri compatrioti con cui parlar la so lingua o condivider la so cultura, e l’isolamento rendeva ogni giorno più duro del precedente. I campi de café jera vasti, pareva che no finisse mai, e ghe voleva forza e resistenza oltre quel che el pensava de podèr dar.

El lavoro cominciava prima del sorgere del sol. El son del campanèl de la fazenda sveiava i lavoratori dai loro letti duri, e tuchi se dirigeva ai campi ancora sotto la poca luce delle stelle. Beppi, che gavea sognà de "far l’America" e costruir ‘na vita nova, el se trovava chinà sui piedi de café, a tirar via le erbe malvate sotto el sol cocente, mentre la so pelle bianca diventava rossa e dolente. Ogni giornata jera ‘na battaglia contro la stanchezza, la fame e el calor, e el sudor facea la tera rossa attaccarse come ‘na seconda pelle.

A so fianco i lavorava veci schiavi liberà dalla Lei Áurea nel 1888, pochi ani prima. I jera uomini e donne con storie che Beppi capiva a malapena, ma le cicatrici fisiche ed emotive se vedea anca da fora. El se sentiva spaesà, al tempo stesso sollevà de no condividir quel passato brutale e pien de colpa par esser parte de un sistema che ancora i sfruttava. I se muoveva nei campi con ‘na efficacia che el admirava e cercava de imitar, ma i so sguardi spess jera vuoti, come se tuta la speranza javesse già sparìa insieme ai frutti dei piedi de café.

‘Na dona, Maria, con la faccia segnata dal tempo e dalle difficoltà, la prese Beppi sotto la so protezion non ufficiale. "Ti ga da imparar in fretta," la diseva in portoghese col so accento, indicando i calli che ghe cominciava a far sui man. "Qua chi no sta al passo no sopravvive." Maria la ghe insegnava i segreti del lavoro, come capir le piante malate e usar gli attrezzi. La parlava poco, ma i so gesti e i sguardi ghe dava forza.

Beppi el se sentiva lontan dal so paese, da la so famiglia, ma anca lontan da ‘na parte de lu stesso che ghe pareva se perdera in quel mondo nuovo, duro e implacabile. Ogni sera, prima de dormir, el pensava a la so madre, al so paeselo, e al sogno che ghe avea fatto partir. Ma la vita nova el se facea sentire, lentamente, come ‘na pianta che spunta fra le rocce.

Nei ani dopo, el paesaggio de la Fazenda Monte Alegre gavea come a cangiare. L’arrivo de più immigranti italiani gavea portà na nova dinamica in tel posto. Le fameje, in gran parte vegnùe da Treviso, gavea tacà a formar ‘na picina comunità drento a la vasta solitudine de la fazenda. Fra lori gavea anca la fameja Paolon, de Venegazzù, che portava poche robe, ma ‘na rica cargada de tradission, fede e resistenza.

L’è stà durante ‘na festa comunitaria che Beppi el ga conossù Rosa Paolon. El evento, fato fora, sota el lusor de le stele, gera ‘na rara pausa dal lavor sfiancante. Ghe gera magna semplice, come polenta e pan fato in casa, e musica viva suonada da un fisarmonico, suonà da un dei neo arrivài. El suono alegre gavea ‘l poder de cacciar via, anca solo par ‘n momento, le ombre de la stanchezza e de la nostalgia.

Rosa la spicava tra le altre. I so oci i lucéa come le luci dei lumi, e el so soriso caloroso gera ‘na medicina par el cuor stanco de Beppi. La gera ‘na zovene col spirito vivo, con un’aria de determinazion che se metteva ben con la vita dura che i gavea. Durante la festa, i do ga ciacà poche parole, ma gera basta par far naser quarcossa de unico tra lori.

Beppi no ga perso tempo. Nei giorni dopo, el ga tacà a cercar de star drio a Rosa. El gavea proposto aiuto a la fameja Paolon, sia nei cafè, sia a riparar i strument. Sti gesti, anca se semplici, i gera bastanti par far nascere un legame. Rosa, che prima gera un poco timida, la ga tacà a slargar, contand storie de la so tera e dividendo i sogni che la gavea par el futuro.

El innamorarse gera breve, come gera comune tra i immigranti, che i gera sottoposti a continue pression par metter a posto la vita presto. No ghe gera tempo par tante ciacole quando el lavor e la sopravivenza i dominava i giorni. El matrimônio el gera stao in ‘na capela picina e improvvisada, fata dai stessi immigranti con legno locale. El parocho, anca lui italiano, el ga celebrà la cerimonia in latino, mentre i invitai, omini e done stanchi ma contenti, i cantava inni che i risonava tra i boschi intorno.

Par Beppi, el matrimonio con Rosa gera ‘n momento de cambiamento. L’idea de tornar in Italia, che prima el dava forza par affrontar le sfide del Brasil, la tacà a svanir. Stando con Rosa, el ga capìo che podéa far quarcossa de novo, anche in tera straniera. El so desegno de futuro el gera più el passato nostalgico dei colli italiani, ma el presente — ‘na casa semplice ma calda, un orto piccolo dove Rosa la coltivava verdure, e la speranza de un giorno veder i fioi zugar liberi tra i campi.

Inseme, Beppi e Rosa ga tacà a transformar la so parte de tera. I ga piantà no solo cafè, ma anca vigneti, portando un toco de Treviso in Brasil. Rosa la coltivava fiori intorno a casa, disendo che bisognava “imbelir quel che ghe gavea, anca se poco.” Ogni piccolo progresso gera festeggià no con feste, ma con occhiate silenziose e contente scambiate a fine giornata.

Col tempo, la vita in fazenda la gera più de solo sopravivenza. La gera costruzion. E par Beppi, ogni giorno novo gera la prova che, anca lontan dalle radici, el podéa crescer e fiorir. El sogno de “far l’America” el se trasformà in quarcossa de più semplice e profondo: far ‘na casa dove amore e coraggio podéa prosperar.

Rosa e Beppi ga visto la so fameja crescer veloce — otto fioi i nasé, quatar omini e quatar done, portando vita e speranza a le matine de la Fazenda Monte Alegre. El primogenito, Antonio, el nascè nel 1891, un putìn forte che da picinin el segueva el pare nei campi e imparava el ritmo pesante de la tera e del lavor.

Beppi, immerso ne la rutina sfiancante dela coltura, el se dedicava senza pausa. I so giorni i tacava prima che el sol nascesse e i finiva solo quando l’ultima lus del crepuscolo spariva in orizzonte. El coltivava el cafè con mani callose, piantando ogni pianta come se lì riposasse el futuro dei fioi. Oltre ai cafè, el gavea fato ani a le galine che girava libere intorno a casa, ‘na picina fonte de cibo e sostegno che aliviava el peso dela fame costante.

La Fazenda Monte Alegre, pian pianin, tacava a prosperar. El sudor de Beppi e la forza de Rosa trasformava ‘sta tera prima arida e desmentegada in un toco vivo de speranza e resistenza. El cafè, colto con sforzo e pacienza, el guadagnava qualità e fama tra i mercati locali, e la produzione aumentava ogni anno. I fioi i cresceva tra le racolte, i zugar nella tera rossa e le storie che Rosa contava a l’ombra dei alberi.

Ma, anca se la vita gera costruida maton par maton, Beppi no ga mai podesto metter da parte abbastanza par far el sogno più caro — tornar in Italia, riveder i volti cari rimasti indrio, sentir ancora la lengua de la tera natia e caminare par le strade de Vicenza. Ogni moneta risparmiada la pareva scappar via tra le dite, consumada da i bisogni de ogni giorno, dai imprevisti de la fazenda, dai problemi che minaciava la fragile stabilità dela fameja.

Eppure, no ga mai smesso de guardar verso l’orizzonte con ‘na mescolanza de nostalgia e volontà. I ricordi dela mare, dei fradei spaventà alla stazion, dela tera arida che l’avea caccià fora, i restava vivi dentro de lu — ‘na spinta silenziosa che el tegniva in pé, giorno dopo giorno, piantando e racogliendo, lottando contro el tempo e la distanza.

In quella tera lontana, tra le piantagioni e el calor del lavor duro, Beppi el ga costruìo el so lascito — no fato de oro o ricchezze, ma de resistenza, amore e speranza. Un lascito che cresceva insieme ai fioi e che, in qualche modo, faceva diventare reale el sogno de “l’America,” anca se l’Italia la restava ‘na stela lontana nel cielo dei ricordi.

Nonostante la distanza immensa che i separava, Beppi no ga mai rotto i legami con la so mare e i so fradei in Italia. Con le lettere scrite con cura, el manteneva viva la conessione con quei che i era restà indrio. Spesso, la grafia de Beppi gera lenta e incerta, e gera Rosa che, con pazienza e attenzione, l’aiutava a tradur i sentimenti in parole, guidando la so man par far passar el messagio attraverso l’oceano senza perderse nel silenzio.

Ste lettere, segnate da nostalgia e speranza, gera el filo invisibile che univa do vite lontane — el vecio paeseto de Vicenza e la viva Fazenda Monte Alegre, nel interno de San Paolo. Ogni busta consegnada portava un toco de storia de la fameja, notizie sul crescer dei fioi, le difficoltà del lavor, le feste e le picine vittorie del giorno a giorno. E portava anca, come risposta, racconti dela tera natia, dei parenti veci e delle stagioni che se sussegueva, ricordando el passato che Beppi no podéa tocare più.

Quando Beppi el morì, lassando un lascito de sforzo e perseveranza, toccò a Antonio, el primogenito, prender quel delicàto ruolo. El zovene, ora om, el diventò el legame tra le do generazion, continuando a scrivar e ricevar lettere con la stessa dedizione. El capiva el valor de ste parole, che supera confini e tempi, e che manteneva viva la fiamma de l’identità e de la memoria de la fameja.

Cussì, anca in mezze a i cambiamenti e a le difficoltà dela vita in Brasil, el legame tra i Zanon dei do lati de l’Atlantico el restava vivo. Gera ‘na corrente invisibile, fata de carta, inchiostro e sentimenti, che garantiva che, anca con la distanza granda, el passato e el presente i restava intrecciài, fermi e indistrutibili.

Oggi, i discendenti de Beppi i porta nel sangue el corajo vecio — quel stesso che el spingeva a traversar ‘n oceano sconosciùo, a enfrentar la paura e la solitudine in cerca de un futuro che pareva prometter tuto, ma che chiedeva sacrifici grandi. Le storie de lota e resistenza de quel zovene italiano le risona in ogni gesto, in ogni parola tramandada da generazion a generazion, come ‘n lascito invisibile e potente che ga formato no solo ‘na fameja, ma ‘na identità forgiada col calor del lavor duro e la durezza della speranza.

Albettone, el paeseto dove Beppi el nascè e che no ga mai rivisto, el vive nei ricordi raccontai a voce bassa intorno a la mesa, nelle fotografie ingialide tenude in casse de legno, ne le canzoni che Rosa la insegnava ai fioi e che oggi culla i neoti e bisneoti. Anche se lontan e inaccessibile, Albettone no ga mai smesso de esister par lori. L’è diventà ‘n simbolo sacro, ‘n punto de partenza fisso e immutabile in mezzo al turbin dei cambiamenti, el legame che collega la tera del passato con le radici che resta ferme nel presente.

Par ognuno dei fioi e neoti de Beppi, Albettone el xe più de ‘n posto su la carta — el xe el cuor pulsante de la fameja, el testimone silenzioso de ‘ndo i vegnì e de la forza che ghe vol par ricominciar. Anca in mezzo alle vaste terre brasiliane, col cielo aperto e l’orizzonte largo, el nome de quel paeseto italiano el rison come ‘na promessa de appartenenza, un ricordo che, anca con la distanza, el passato el resta vivo dentro a ogn’uno de lori.

E cussì, tra le storie raccontade in serate de festa, i ricordi che fiorisse tra le parole scambiate, e l’impegno continuo par tener viva la eredità culturale, la fameja de Beppi la onora la memoria de quel zovene immigrante. Lu, che partì con el sguardo fisso nel sconosciuto, el ga piantà no solo cafè e speranza, ma radici profonde — radici che ga attraversà mari, resistì al tempo e che continua a crescer, forti e indomabili, in le terre dove i so discendenti oggi i vive, i ama e i lota par i so sogni.

Nota del Autor

Sta storia l’è ‘na opera de fantasia, ma la gà radìsi profonde ne la storia vera. Inspirada da esperiensa de mile e mile de emigranti italiani che, tra el sécolo XIX e el XX, gà lassà la so tera natìa, la vol onorar el coraggio, la resistenza e i sacrifici de chele persone che gavéa el sogno de ‘na vita megio. Anca se Beppi e la so fameja i xe personaggi inventài, la so avventura la riflete i dificoltà e i sforzi de chi che gà navigà el Atlantico, lassando drìo tuto quel che conosseva. Albettone, Monte Alegre e tanti altri posti i xe scenari de un dramma umano, e sta storia la vol dar vose a chi che spesso el xe stà scordà, ma che l’è sta la fondamenta de le comunità che ogi le xe vive e fioreti.