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terça-feira, 5 de agosto de 2025

A Saga de um Emigrante Italiano no Novo Mundo

 


A Saga de um Emigrante Italiano 

no Novo Mundo

 


Capítulo I – A Partida

Em 1878, a luz pálida do amanhecer tingia os campos de Bassano del Grappa com tons de melancolia. Pietro Morello, um jovem camponês de 28 anos, permaneceu imóvel à beira do terreno árido que um dia fora a maior dádiva de sua família. As oliveiras, outrora símbolos de fartura, agora eram espectros retorcidos, testemunhas silenciosas da crise que devastara a região. As histórias que ouvira na infância sobre colheitas abundantes e vinhedos férteis pareciam agora ecos de um mundo que nunca existiu. A pequena mala de madeira repousava ao seu lado, repleta de ausências mais do que de pertences. Continha uma muda de roupa, um caderno vazio e uma relíquia da avó: uma imagem desgastada de Santa Lúcia, que prometia proteção em tempos de incerteza. Ao longe, o galo anunciava o início de mais um dia de lutas infrutíferas, mas Pietro sabia que aquela manhã marcaria o fim de uma era. A vila parecia mergulhada em uma quietude pesada. As paredes descascadas das casas e os rostos cansados dos poucos que se aventuravam pelas ruas eram reflexos de um destino comum: a resignação. Ao caminhar em direção à estrada que o levaria ao porto de Gênova, Pietro sentia o peso de uma despedida não pronunciada. Cada passo parecia selar a distância crescente entre ele e tudo o que conhecera. No porto, o cenário era um caos organizado. Havia fileiras de malas improvisadas, multidões de camponeses vestidos com trajes simples, e um ar denso de ansiedade. O navio, imponente e metálico, destacava-se contra o céu nublado, uma promessa de salvação para uns, de ruína para outros. Pietro observou as águas turvas do Mediterrâneo que começavam a refletir a luz do meio-dia, tentando encontrar nelas algum sinal de direção. O embarque era lento e marcado por tensões. Famílias inteiras, carregando o que podiam, se moviam com uma urgência silenciosa. Os olhares perdidos eram similares, histórias diferentes condensadas em um mesmo destino: o desconhecido. Pietro sentia o cheiro do sal misturado ao suor das multidões, enquanto enfrentava a longa espera para pisar no convés. Uma vez a bordo, o espaço era apertado e sufocante. Os porões do navio eram preenchidos por camas improvisadas, cordas soltas e um calor úmido que fazia o ar parecer pesado. Pietro encontrou um pequeno canto onde poderia guardar sua mala e repousar durante a longa travessia. Ali, cercado por estranhos que compartilhavam a mesma miséria, ele finalmente se deu conta da magnitude de sua decisão.

Enquanto o Città di Napoli deixava o porto, o horizonte mudava rapidamente. As colinas italianas desapareciam, consumidas por uma névoa que parecia carregar consigo o passado de cada passageiro. O som das ondas, constantes e hipnóticas, contrastava com o ritmo acelerado de seu coração. Pietro agarrou o caderno vazio, ainda sem saber que tipo de história ele contaria, mas certo de que seria uma história de luta. O mar aberto se estendia à frente, vasto e insondável, refletindo o destino incerto que esperava por ele e por todos os que compartilhavam aquela travessia. As águas não prometiam respostas, apenas a certeza de que nada seria como antes.

Capítulo II – A Travessia

A bordo do Città di Napoli, Pietro foi engolido pela realidade brutal de uma travessia que desafiava tanto o corpo quanto o espírito. O porão do navio, onde ele foi confinado junto a centenas de outros emigrantes, era um labirinto claustrofóbico de camas improvisadas, baús desgastados e rostos marcados pela exaustão. A madeira rangia a cada balanço da embarcação, misturando-se aos gemidos e tosses persistentes que ecoavam no ambiente abafado.

O ar, saturado pelo odor de corpos suados, alimentos deteriorados e fezes, tornava a respiração um ato penoso. As poucas ventilações disponíveis eram disputadas como se fossem portais para a sobrevivência, mas mesmo ali, o vento marítimo carregava a umidade salgada que impregnava a pele e os pulmões. Na penumbra, Pietro via figuras esqueléticas lutando para encontrar um sono inquieto, enquanto crianças choravam, seus lamentos dissolvendo-se na monotonia do casco enfrentando as ondas.

As doenças tornaram-se companheiras inseparáveis. Escabiose transformava o sono em tortura, enquanto a tuberculose, com sua tosse profunda e constante, parecia consumir os infectados à vista de todos. Pietro observava as marcas da enfermidade nos rostos ao seu redor: olhos encovados, lábios rachados e uma palidez que sugeria que alguns não completariam a jornada.

Os poucos alimentos distribuídos — pedaços de pão seco e sopas insípidas — não eram suficientes para apaziguar a fome que corroía a todos. As longas filas para um balde de água, muitas vezes contaminada, eram outro lembrete das limitações impostas pela travessia. Pietro, no entanto, mantinha uma disciplina rígida em relação a sua pequena ração, ciente de que ceder à fraqueza seria como permitir que o navio o derrotasse.

Havia momentos, entre os balanços do navio e os sons das ondas quebrando no casco, em que Pietro encontrava pequenos respiros de contemplação. Ele abria o caderno que trouxera consigo, mas as páginas em branco continuavam a zombar de sua tentativa de registrar os dias. Não eram as palavras que lhe faltavam, mas a coragem de enfrentar a profundidade do que estava vivendo.

Nas noites mais calmas, subia até o convés, onde o céu aberto oferecia um consolo inesperado. O manto estrelado, ininterrupto e indiferente à miséria dos passageiros, era ao mesmo tempo um lembrete de sua insignificância e uma promessa de algo maior além do horizonte. Nessas ocasiões, Pietro encontrava forças para acreditar na promessa do Brasil — terras férteis, trabalho e a possibilidade de reconstruir a dignidade perdida.

Ao longo dos dias, ele percebia como a convivência forçada criava laços inesperados. Um aceno de cabeça, um gesto de solidariedade ao dividir um pedaço de pão ou uma troca de olhares que dizia mais do que palavras — esses pequenos atos humanizavam a experiência desumana. Mesmo nos momentos mais sombrios, Pietro sentia a força coletiva de centenas de pessoas que, como ele, tinham escolhido o exílio em nome da esperança.

Quando o Città di Napoli enfrentava tempestades, a fragilidade da embarcação tornava-se assustadoramente evidente. A água invadia os compartimentos inferiores, e os gritos de pânico ressoavam como ecos em uma caverna. Pietro, encharcado e agarrado a um poste de madeira, enfrentava essas noites com uma determinação quase mecânica, movido pela única certeza que lhe restava: a necessidade de sobreviver.

Após semanas que pareciam intermináveis, o ritmo do mar e o sofrimento constante tornaram-se quase normais. No entanto, Pietro sabia que aquele não era o fim da provação. A travessia era apenas o início de uma jornada cujo destino prometia tanto redenção quanto novos desafios. Mesmo assim, a chama de sua coragem permanecia acesa, alimentada pela fé em um futuro melhor e pela certeza de que nada seria mais difícil do que deixar tudo para trás.

Capítulo III – O Novo Mundo

Quando o navio finalmente atracou no porto de Santos, Pietro Morello foi tomado por uma mistura de alívio e apreensão. O aroma salgado do mar se fundia ao cheiro pungente de óleo e mercadorias descarregadas, enquanto o caos do porto se desenrolava diante de seus olhos. Homens e mulheres se amontoavam com suas malas e caixas improvisadas, olhares perdidos em meio à cacofonia de gritos de capatazes, mugidos de gado e o ranger de carroças sobre as pedras do cais. Pietro, como tantos outros, carregava não apenas sua bagagem física, mas também o peso de uma nova vida ainda por começar.

Encaminhado à imponente Hospedaria dos Imigrantes, um edifício de paredes brancas e janelas largas que se erguia como um bastião de transição entre o velho e o novo mundo, ele foi recebido com uma série de procedimentos rígidos. Inspeções médicas avaliavam a saúde dos recém-chegados, enquanto listas intermináveis de nomes eram recitadas e registrados com meticulosidade. No grande salão repleto de beliches, Pietro dividia o espaço com dezenas de outros homens, mulheres e crianças, cujas línguas misturadas criavam um som contínuo e desconcertante.

Ali, o tempo parecia se arrastar. Aguardava-se a chegada dos fazendeiros ou de seus representantes, que selecionavam trabalhadores como se escolhessem ferramentas. Pietro observava com atenção, estudando aqueles que poderiam definir os próximos passos de sua jornada. Havia nos olhares dos recém-contratados uma mistura de alívio e resignação, um reconhecimento tácito de que o verdadeiro desafio estava apenas começando.

Quando finalmente chegou sua vez, Pietro foi designado a uma fazenda de café no interior de São Paulo. A viagem, agora por trem e carroça, revelou um Brasil diferente daquele imaginado: vasto, verdejante e hostil. As plantações de café se estendiam até onde os olhos podiam alcançar, dominando a paisagem como um tapete interminável de arbustos simétricos. Porém, a beleza da paisagem contrastava com a realidade brutal que o esperava.

Na fazenda, Pietro foi conduzido a uma habitação coletiva, uma precária estrutura de madeira com telhado de sapê que oferecia pouco em termos de conforto ou privacidade. O espaço era dividido por famílias e solteiros, todos apertados em cubículos que mal continham um colchão de palha e uma arca para guardar pertences. O calor era sufocante, e à noite, o som de insetos e o murmúrio de vozes cansadas ecoavam no ar pesado.

As jornadas de trabalho começavam antes do amanhecer, quando a escuridão ainda abraçava os campos. Sob a luz trêmula de lamparinas, os trabalhadores se organizavam em filas, caminhando em silêncio para as plantações. O trabalho era incessante: colher grãos, carregá-los em sacos pesados, e transportá-los para as áreas de secagem, tudo sob o olhar vigilante dos capatazes. O sol escaldante castigava sem piedade, tornando o suor uma segunda pele e a sede uma companheira constante.

A alimentação era simples e insuficiente. Milho, feijão e pequenas porções de carne eram distribuídos com parcimônia, enquanto a água, retirada de poços improvisados, muitas vezes carregava um gosto metálico ou de terra. Pietro, no entanto, aproveitava cada migalha com uma gratidão forçada, ciente de que qualquer desperdício seria um luxo que ele não podia se permitir.

Mesmo nas condições mais adversas, Pietro recusava-se a sucumbir ao desespero. Havia uma força quase obstinada em seu caráter, um fogo que se recusava a ser apagado. Nos raros momentos de pausa, ele observava o céu amplo e aberto, que se estendia sobre as plantações como um lembrete da vastidão do mundo e das possibilidades que ele ainda não explorara.

A vida na fazenda era uma luta constante, mas Pietro via em cada dia sobrevivido uma pequena vitória. Sua perseverança não era motivada apenas por um desejo de sobrevivência, mas por uma determinação inabalável de que, em algum momento, o solo que ele cultivava daria frutos não apenas para o patrão, mas também para ele mesmo. Cada semente que plantava era uma promessa silenciosa de que sua existência naquele novo mundo não seria em vão.

Capítulo IV – A Luta e a Esperança

Os anos passaram como ciclos das estações, cada um trazendo consigo um misto de sacrifício e progresso. Pietro Morello, antes um simples camponês submetido às intempéries do destino, começou a vislumbrar o fruto de seu trabalho árduo. As moedas acumuladas com parcimônia, cada uma conquistada ao custo de dias extenuantes e noites insones, tornaram-se o alicerce de um sonho que ganhava forma: a posse de sua própria terra.

A propriedade adquirida não era extensa, tampouco fértil à primeira vista. Tratava-se de um pedaço de solo bruto e inclinado, rodeado por mata cerrada e marcado por pedras que desafiavam o arado. Mas para Pietro, aquele pequeno domínio era um reino em potencial, uma tela onde ele poderia pintar sua visão de um futuro digno. Com as mãos calejadas, iniciou o trabalho incessante de desbravar o terreno, limpar a mata e preparar o solo para o cultivo.

O espírito coletivo que marcava a convivência dos imigrantes italianos revelou-se uma força motriz nesse processo. Ao redor de Pietro, outros conterrâneos que haviam compartilhado as mesmas adversidades e esperanças uniram-se para construir uma nova comunidade. O isolamento que antes definia suas existências deu lugar a um senso de pertencimento. Casas de madeira começaram a surgir entre as clareiras, cada uma erguida com o esforço conjunto de homens e mulheres que entendiam o valor de apoiar uns aos outros.

Pietro, guiado por uma memória viva de sua Bassano del Grappa natal, propôs o cultivo de uvas. As encostas pedregosas e a terra que muitos julgavam ingrata tinham uma semelhança sutil com as colinas de sua terra de origem. Ele via ali não apenas a possibilidade de sustento, mas também uma forma de perpetuar as tradições que carregava consigo. As mudas de videiras, cuidadosamente transportadas por outros imigrantes ou adquiridas com esforço, foram plantadas com reverência.

O cultivo das uvas exigia paciência e dedicação. As plantas, frágeis nos primeiros anos, demandavam cuidado meticuloso contra pragas, intempéries e a imprevisibilidade da natureza. Pietro e seus companheiros enfrentaram cada desafio com determinação, aprimorando técnicas que mesclavam o conhecimento herdado de seus antepassados com a adaptação às condições do novo mundo.

Quando as primeiras colheitas começaram a dar frutos, o vinho tornou-se mais do que uma bebida. Era uma celebração da resistência e da identidade cultural. As barricas improvisadas, armazenadas em adegas escavadas à mão, guardavam um líquido que simbolizava a ligação entre o passado e o presente, entre a Itália distante e a nova pátria que construíam.

A comunidade crescia em torno desse esforço comum. Além das videiras, os imigrantes introduziram pomares de frutas, pequenas hortas e até mesmo animais de criação, garantindo uma economia diversificada. Estradas improvisadas conectavam as propriedades, e aos poucos, uma pequena vila surgiu. A igreja, construída com madeira local, tornou-se o coração espiritual do lugar, e as celebrações religiosas eram marcadas por festas que uniam famílias inteiras.

Pietro tornou-se uma figura de respeito entre seus pares. Sua história personificava o ethos do imigrante: resiliência, trabalho árduo e a capacidade de transformar adversidades em oportunidades. Sob sua liderança tácita, a vila prosperou. Em poucos anos, tornou-se um ponto de referência na região, atraindo comerciantes e outros imigrantes que buscavam integrar-se a um ambiente promissor.

Mais do que uma conquista material, o sucesso de Pietro e da comunidade era uma afirmação de sua contribuição ao Brasil. Eles não apenas desbravaram a terra; moldaram uma cultura que combinava o melhor de suas origens com as possibilidades de um novo lar. Cada videira que florescia, cada garrafa de vinho produzida, era um testemunho de que a identidade italiana não fora perdida, mas transformada em algo maior e duradouro.

Quando Pietro contemplava os campos ondulados de videiras ao entardecer, o sol pintando o céu com tons de ouro e carmesim, sentia-se finalmente parte de um destino maior. Ele havia plantado não apenas raízes na terra, mas também no coração de um país que agora chamava de lar.

Epílogo

Décadas transcorreram desde os primeiros passos de Pietro Morello em terras brasileiras, e o eco de sua jornada reverbera como um cântico silencioso entre as gerações que se sucederam. O nome Morello, outrora pertencente a um jovem camponês que deixou Bassano del Grappa com pouco mais do que esperança e determinação, tornou-se sinônimo de resiliência e visão.

Seus descendentes, agora espalhados por vilas e cidades do interior, não apenas relembram, mas vivem o legado que Pietro construiu. A terra que ele cultivou, resgatada de sua condição bruta e indomada, transformou-se em campos produtivos que geravam não apenas sustento, mas também um orgulho indelével. As vinhas, que floresciam em fileiras ordenadas como soldados em formação, não eram apenas plantações; eram um símbolo da tenacidade e da capacidade de adaptação dos imigrantes italianos.

Mas o impacto de Pietro ia além do tangível. Sua história, contada e recontada em almoços de família e celebrações anuais da colheita, tornou-se uma narrativa fundadora para seus descendentes. A epopeia do jovem que cruzou o oceano, enfrentou o calor abrasador das plantações de café e, por fim, ergueu uma comunidade próspera em meio às adversidades, era um lembrete constante do poder do trabalho árduo e da visão coletiva.

A vila que Pietro ajudara a fundar, inicialmente uma aglomeração humilde de casas de madeira, floresceu em um núcleo cultural e econômico. Ao lado das vinhas e dos pomares, ergueram-se oficinas, padarias e pequenas fábricas de conservas, onde o vinho produzido pelos Morello ganhava forma e identidade. A tradição vinícola que Pietro iniciara tornou-se um emblema da comunidade, com garrafas que exibiam rótulos adornados com o nome da família, um ramo de videira entrelaçado com a cruz de sua fé.

Ao longo das décadas, o Brasil mudou, assim como a vila. Estradas que antes eram trilhas rudimentares deram lugar a vias pavimentadas, conectando o pequeno vilarejo ao restante do estado. Os descendentes de Pietro não apenas preservaram sua herança agrícola, mas também expandiram suas ambições. Alguns tornaram-se professores, outros advogados e engenheiros, mas todos, sem exceção, carregavam consigo o espírito pioneiro de seu antepassado.

A história de Pietro Morello, no entanto, não era apenas pessoal; era coletiva. Era uma fração de uma narrativa maior que unia milhares de imigrantes italianos que desembarcaram no Brasil ao longo do século XIX. Cada um deles trouxe consigo sonhos fragmentados que, unidos, ajudaram a moldar a paisagem econômica e cultural do país.

Os italianos trouxeram muito mais do que braços para o trabalho; trouxeram alma. Trouxeram uma cozinha rica que se fundiu aos sabores locais, música que animava celebrações comunitárias, e uma ética de trabalho que se enraizou profundamente nas gerações subsequentes. Pietro foi parte integrante desse movimento, um dos milhões de fios que teceram o tecido vibrante da nova nação.

Quando seus descendentes erguem taças de vinho em festas familiares, brindam não apenas ao presente, mas à memória de Pietro e de tantos outros como ele. O vinho, que escorre rubro como o sangue que regou aquela terra, é o testemunho líquido de que o esforço e a coragem de seus antepassados não foram em vão.

E assim, a história de Pietro Morello transcende a mortalidade. Ele não é apenas lembrado como um nome em um registro genealógico ou um rosto em uma fotografia desbotada. Ele vive nos campos cultivados, nas tradições mantidas e no espírito indomável de uma comunidade que, como ele, nunca deixou de acreditar que até mesmo o solo mais árido pode florescer sob as mãos de quem tem fé no futuro.

Nota do Autor

Embora esta história seja fruto da imaginação, ela se entrelaça com eventos reais que marcaram profundamente a trajetória dos imigrantes italianos no Brasil. O personagem de Pietro Morello e os desafios que ele enfrenta ao longo de sua jornada representam uma homenagem simbólica a todos os homens e mulheres que, movidos pela necessidade e pela esperança, deixaram suas terras natais em busca de um futuro mais promissor.

Para a criação deste romance, mergulhei em extensas pesquisas sobre as condições sociais, econômicas e culturais que impulsionaram o êxodo italiano no final do século XIX e início do XX. Consultei documentos históricos, cartas de imigrantes, registros de hospedarias e relatos orais que preservam as memórias desses pioneiros. Cada detalhe, desde os porões dos navios até os campos de café e as vilas emergentes, foi inspirado por fontes confiáveis e pelo desejo de retratar, com fidelidade, os desafios e conquistas desse período.

Esta obra também é, em essência, uma celebração da coragem e da resiliência de nossos antepassados, que enfrentaram o desconhecido para construir não apenas novas vidas, mas também contribuir para o desenvolvimento de uma nova pátria. Suas histórias, muitas vezes silenciadas pelo passar do tempo, merecem ser lembradas e compartilhadas.

Através deste romance, espero não apenas entreter, mas também resgatar e valorizar a memória daqueles que, com sacrifício e determinação, ajudaram a moldar a identidade cultural e social do Brasil. Que as páginas desta obra possam honrar seu legado e inspirar em nós a mesma força de espírito que os guiou em suas jornadas.

Dr. Piazzetta


quinta-feira, 24 de julho de 2025

A Odisseia de um Imigrante Italiano


Enrico Castellari 

A Odisseia de um Imigrante


Em 1899, já no final do século, Enrico Castellari, um agricultor mantovano, vivia os dias difíceis de uma Itália marcada pela fome, desemprego e crise social. Com 34 anos, Enrico era um homem dedicado à família e ao trabalho na pequena localidade rural de Piubega. Contudo, as terras de sua região, empobrecidas por décadas de cultivo intensivo, já não ofereciam o sustento necessário para ele, sua esposa Rosa e seus dois filhos, Carlo e Bianca.

A decisão de emigrar surgiu como uma luz em meio às trevas. Nos dias sombrios em que o peso da fome apertava e os campos, antes férteis, se tornavam incapazes de sustentar a família, a visita de um agente de imigração trouxe um misto de esperança e incerteza. Ele passava pelas pequenas cidades e vilas italianas com discursos eloquentes, pintando o Brasil como um paraíso distante. "Uma terra onde a riqueza brota do solo e o trabalho honesto é recompensado", dizia ele, enquanto distribuía panfletos e mostrava ilustrações de vastos campos e famílias sorridentes.

Enrico ouviu falar do agente durante a missa dominical. A pequena igreja de pedra ecoava murmúrios sobre as promessas da nova terra, e, embora muitos hesitassem, ele sentiu algo despertar dentro de si. Movido pela esperança e pelo desespero, reuniu-se com o agente na praça principal de sua aldeia. A conversa foi breve, mas cada palavra parecia carregar um peso imenso: uma promessa de futuro ou uma armadilha disfarçada de oportunidade.

Após dias de reflexão e noites insones, Enrico tomou sua decisão. Vendeu seus poucos pertences: a velha carroça, os utensílios de cobre herdados da mãe, e até mesmo o pequeno rebanho que restava. Com o dinheiro, comprou passagens para ele e sua esposa no próximo navio que zarparia de Gênova rumo ao Brasil. A visão da travessia era ao mesmo tempo assustadora e excitante; o desconhecido os atraía como um chamado irresistível.

Enquanto empacotava os poucos pertences que restaram, Enrico sentiu um nó na garganta ao dobrar as roupas simples de trabalho e guardar o velho rosário que pertencera ao seu pai. Sua casa de pedra, pequena e humilde, parecia agora mais cheia de memórias do que de paredes. Ao lado da esposa, olhou pela última vez para os campos que os viram crescer e sofrer. A terra que sempre fora seu lar agora era apenas um peso de dor e despedida. O dia da partida chegou sob o céu cinzento de uma manhã fria. A vila inteira parecia estar presente para se despedir daqueles que embarcavam na jornada. Lágrimas se misturavam com sorrisos encorajadores, enquanto Enrico subia na carroça que os levaria ao porto. O som das rodas no cascalho parecia marcar o início de uma nova vida.

A jornada começou em Gênova, onde o cais fervilhava de atividade. Homens gritavam ordens, bagagens eram empilhadas desordenadamente, e o cheiro de maresia misturava-se ao aroma agridoce da ansiedade que pairava no ar. Enrico e sua família chegaram cedo, mas mesmo assim enfrentaram longas horas de espera. O navio a vapor, um gigante metálico com chaminés que cuspiam fumaça negra, parecia quase vivo, com suas máquinas ruidosas e tripulação apressada.

Quando finalmente embarcaram, foram direcionados ao convés inferior, um espaço apertado e abafado que parecia mais uma caverna metálica do que um lar temporário. Ali, centenas de famílias se amontoavam com suas posses, tentando criar alguma ordem no caos. O calor era insuportável, e o ar pesado trazia uma sensação de sufocamento constante. Bebês choravam, mães cantavam baixinho tentando acalmá-los, e o murmúrio de orações em diferentes dialetos italianos preenchia os momentos de silêncio.

Durante as semanas no mar, enfrentaram desafios que testaram tanto o corpo quanto o espírito. Os mares revoltos balançavam o navio de forma implacável, deixando muitos à mercê do enjoo e do desespero. As doenças, inevitáveis em um ambiente tão insalubre, começaram a se espalhar rapidamente. A febre e a tosse eram visitantes frequentes entre os passageiros. Rosa, sempre vigilante, cuidava de Bianca com uma devoção incansável, enquanto Carlo, com sua energia infantil, encontrava maneiras de transformar aquele espaço limitado em um campo de brincadeiras, usando um pedaço de corda como um jogo improvisado.

Enrico, por sua vez, passava longos momentos em silêncio, observando a família e refletindo. Ele se perguntava se havia tomado a decisão certa. A saudade do que haviam deixado para trás era uma dor persistente, um peso invisível que carregava a cada instante. No entanto, cada vez que olhava para Rosa embalando Bianca, ou ouvia o riso inocente de Carlo, sentia uma centelha de esperança. Talvez o sacrifício valesse a pena.

Então, um dia, após o que parecia uma eternidade, o navio entrou em águas mais calmas. A tripulação começou a correr pelo convés, e um burburinho tomou conta do ambiente. Enrico subiu ao convés superior, seguido por Rosa, que carregava Bianca, e por Carlo, com os olhos brilhando de curiosidade. Lá, no horizonte, ele viu pela primeira vez o porto do Rio de Janeiro. Montanhas imponentes erguiam-se contra o céu azul, enquanto as águas reluziam sob o sol. A paisagem era majestosa, quase surreal. Enrico sentiu um nó na garganta; as dúvidas que o haviam assombrado começaram a se dissipar. Ele segurou a mão de Rosa com firmeza, compartilhando com ela aquele momento que parecia um sonho. “Estamos aqui”, sussurrou, mais para si mesmo do que para ela. Era o começo de uma nova vida, e pela primeira vez em muito tempo, ele acreditou que poderiam vencer.

Do Rio de Janeiro, a família seguiu para o Espírito Santo. Após dias costeando a praia, chegaram ao porto de Vitória e, dali, foram transportados em pequenos barcos para uma colônia chamada São Antônio. Giuseppe Artioli, um italiano que já vivia ali há anos, os acolheu e explicou as dificuldades que enfrentariam.

“Essa terra é generosa, mas precisa ser domada”, disse Giuseppe. As terras designadas a Enrico eram vastas, mas cobertas por uma floresta densa e desconhecida. Ele passou os primeiros dias limpando o terreno, aprendendo sobre o clima e tentando se adaptar à comida local. A mandioca, o feijão e as frutas tropicais eram estranhos ao paladar lombardo, mas, com o tempo, tornaram-se parte de sua dieta.

O cultivo do café era a principal promessa de riqueza. Enrico, com a ajuda de Rosa e Carlo, começou a plantar as primeiras mudas. O trabalho era extenuante, mas ele nunca reclamava. Cada semente plantada representava a esperança de um futuro melhor.

A floresta também era fonte de aventura e perigo. Carlo adorava explorar, mas Enrico sempre o alertava sobre os animais selvagens. Certo dia, um grupo de colonos encontrou uma preguiça gigantesca, que despertou a curiosidade de todos. “Esse lugar é cheio de surpresas”, disse Rosa, sorrindo.

A colônia era um mosaico de culturas. Italianos, alemães, franceses e suíços conviviam, trocando conhecimentos e experiências. As ocasionais festas comunitárias, onde se misturavam músicas italianas e danças locais, eram momentos de união e alegria.

Enrico começou a ensinar os vizinhos sobre técnicas de cultivo que havia aprendido na Lombardia. Em troca, aprendeu a lidar com as particularidades do solo brasileiro. “Aqui, todos dependem de todos”, dizia ele.

À noite, quando o trabalho terminava, Enrico escrevia cartas aos parentes que haviam ficado na Itália. Contava sobre as dificuldades, mas também sobre as conquistas. “Esta terra é diferente de tudo que conhecemos, mas tem um potencial imenso. Se tivermos coragem, construiremos algo grandioso”, escreveu ao irmão Matteo.

A saudade era uma constante. Rosa, às vezes, chorava ao lembrar dos campos da Lombardia. Mas Enrico a consolava dizendo: “Estamos plantando nossas raízes aqui. Um dia, nossos netos falarão deste lugar como sua casa.”

Anos se passaram, e a família Castellari prosperou. O café floresceu nas terras de Enrico, e sua colônia tornou-se um exemplo de sucesso. Carlo cresceu e começou a ajudar o pai, enquanto Bianca se tornou uma jovem forte e alegre, adaptada à vida no Brasil.

Enrico Castellari nunca voltou à Itália, mas seu espírito aventureiro e sua dedicação deixaram um legado. Ele e Rosa encontraram no Brasil não apenas um novo lar, mas uma nova identidade, onde as raízes italianas se misturaram com o solo brasileiro, criando uma história de coragem, resiliência e esperança. 

Nota do Autor

Escrever Enrico Castellari: A Odisseia de um Imigrante foi como traçar um mapa das complexas emoções e desafios que envolvem o ato de recomeçar em terras desconhecidas. Inspirada em histórias reais de imigrantes italianos, esta obra é uma homenagem à coragem daqueles que, movidos pela necessidade e pela esperança, deixaram para trás suas raízes para plantar novas em um solo distante.

Enrico Castellari é mais do que um personagem; ele é um símbolo da resiliência humana e da capacidade de sonhar mesmo em tempos de adversidade. A narrativa busca capturar não apenas os grandes feitos, mas também os pequenos momentos de dúvida, dor e triunfo que marcam a jornada de cada imigrante. Ao mergulhar nas dificuldades da viagem transatlântica, nos desafios do trabalho árduo e no esforço para adaptar-se a uma cultura diferente, espero que o leitor possa sentir a profundidade da luta e da fé de famílias como a de Enrico. Mais do que um relato histórico, esta é uma história sobre a alma humana, que persevera e floresce mesmo nas condições mais difíceis.

Dedico este livro aos descendentes daqueles que vieram antes de nós, que trazem em seu sangue a força de seus ancestrais, e a todos que acreditam no poder transformador da esperança. 

Dr. Luiz C. B. Piazzetta



terça-feira, 1 de julho de 2025

Odissea de Vittorio Marani


Odissea de Vittorio Marani

L’inverno del 1875 el ze rivà impetuoso sora la pìcola frasion de Castel San Giovanni, fra le coline de la provìnsia de Piacenza. El vento el penetrava tra le pareti de le case de piera, portando con el l’eco de le fatiche che no se podea pì gnorar. Vittorio Marani, un contadin de 32 ani, el savea che quel zera el fin de un’era par la so famèia. Le tere che par generassion i Marani i gavea coltivà, le zera consumà, no bone par dà la racolta necessària a mantegner la tola.

Con i piè interà ´nte la neve ùmida, Vittorio el se fermava a vardar par l’ùltima olta i campi che prima i zera vivi, adesso redoti a un mare de tera nera con l’inverno. Da canto, Giulia, la so mòier, la tegnia streta la man de Rosa. La putela de sinque ani la vardava el orisonte con curiosità, sensa capir che quel zera un adio par sempre. Vittorio el la ga strinse el so capoto stracà contro el peto, sentindo el peso de quel momento. La resolussion de partir par el Brasile, benché presa par necessità, la portava su un misto de colpa e speransa.

El viaio el ga scominsià con un adio corto e doloroso. Famèie e amissi i ze radunà ´ntela piasseta, un posto pìcolo dominà da na cesa de piera e na fontana che ogni inverno la se gelava. I abrassi i ze stà pì longhi de le parole, e quando el toco de la campana de la cesa el sonava, Vittorio el ze montà su la carossa con la so famèia, direti a la stassion del treno pì vissin.

El treno, na màchina de fero che sbufava vapor e scintile, el zera là come ´na bèstia che dormiva. El vagon, pien de emigranti, el gavea ogni sorte de roba e stòrie che la gente la preferiva desmentegarse. El movimento del treno, el rumore dei roti sora i trili e l’odore de fumo misto al sudor umano i zera ´na novità e ´na promessa de quel che zera da vegnir. Durante el trageto fin a Genova, Giulia la tegnea Rosa in colo e la vardava fora, in silénsio, con el viso bianco che rifletea l’incertessa del futuro. Vittorio, sentà da canto, el gavea na fàssia sèria, ma i so òci i zera un mar de pensieri.

Quando finalmente lori i ze rivà a Genova, la imagine del porto la ze stà na scossa. Le barchete le zera in contìnuo movimento: i scaricatori i portava le casse con na velossità impressionante, i venditori ambulanti i strilava con vosi roche che se confondeva con el rumore del porto, e i emigranti i zera dispersi in file desordenà, con òci pien de speranse e paure sercando de capir i ordini gridà da un omo in uniforme scolorì. L’ària la gavea un misto de odor de sal, carbon e pesse, che la pareva impregnar ogni canton.

El vapor che i aspetava, el San Giorgio, el gavea na presenssia granda e intimidente. I lati de ferro, coperti de fuligin, i rifleteva na luce opaca de inverno. I àlbari alti se stagliava contro el cielo griso, e el rumore contìnuo de le onde contro el navio el zera un ricordo del vasto mar che i gavea da traversar. Vittorio el sentiva un peso sora el peto vardando la dimension del vapor e la quantità de zente che zera da èsser messa là drento. Ma el gavea fermo la man de Giulia e el ze ´ndà avanti, determinà a seguir el destin che el gavea scielto.

Sora el ponte de soto, ´tela caneva ´ndove i emigranti i zera sistemà, la situassion la zera ancora pì cruda. I coridoi streti, scuri, i zera iluminà solo da lampadine atacà a le division interne. I leti de legno, un sora l’altro, i pareva gàbie improvisà. L’ària la zera pesà de umidità, e le boche de ventilassion i portava poca ària. Rosa, streta a la mama, ogni tanto la tossiva, ma Giulia la faséa el possìbile par distrarla, segnando le poche stele che se podeva vardar. Vittorio el aiutava altri òmini a sistemar i so bagali, tirando fora i primi raporti con compagni de viaio che, come lu, i gavea lassà tute le so radise.

Mentre el San Giorgio se preparava par partir, una campana rimbombava ´ntel porto, segnalando lo scomìnsio de 'na nova aventura. Vittorio el embarca sul ponte de sora par un momento, desiderando imprimer in memòria l’ùltima visione de la so tera natia. Soto, 'na marea de zente el gridava adiì tra làgreme, ciamade e anca qualche imprecasion, mentre el barco el se distansiava pian pian. El vento del mar el zera fredo, ma el portava un odor de libartà. E, par la prima olta dopo tanto tempo, Vittorio el sentì 'na ponta de otimismo. Ghe zera tempo de lassar drìo la povertà e le limitassion, par andar verso un posto ´ndove, forse, un futuro pì sereno i li stava aspetando.

El San Giorgio el zera un barco costruì par resìster a la vastità del Atlántico, ma no par ospitar con dignità le zente disperà che adesso se trovava imucià ´ntela caneva. Le lastre de fero del scafo le amplificava el rumor del mar, creando un fondo costante de scrichioli e murmurìi che i pareva contar stòrie scure ai passagieri. L’ària lì zera densa, piena de umidità, sudor e ‘na mescola insuportàbile de odori corporai, magnà mal conservà e el sale che impregnava tuto.

I comparti i zera poco pien de leti de legno messi uno sora l’altro. Ogni spasi, streto e mal iluminà, i zera spartì tra le famèie. Qualchedun el zera improvisà dei separassion con i lenzoi o coperte, sercando de crear 'na spèssie de privacità. Ma i soni no i conosseva bariere: tossi strasianti, piansai de putei, discorsi bassi in un marasma de dialeti italiani, che qualche volta i se trasformava in canti malinconici, riempiendo l'ària de nostalgia.

Giulia Marani la se sforsava de tegner la calma. Sedùta drìo a Rosa, con le man impegnà a ramendar un vestìo che el se zera consumà durante el viaio fin a Genova, la gavea ogni tanto un òcio a la putea, che, ignara de la gravità de la situassion, la desegnava figure imaginàrie in ària con i so diti. La pìcola la fasea domande sensa fin sul Brasile, come se el nome del paese el zera 'na parola màgica. “Brasil el ga castèi? Ga fate?” domandava, e Giulia, con la voce pian, la rispondeva con stòrie che mescolava realtà e fantasia, ntel tentativo de salvar l’inocensa de la fiola.

Vittorio, lì drìo, el ghe zera atacà ai so pensieri. Sentà in un de i leti bassi, con le man el tegnìa un peso de legno che el scolpiva con ´na brìtola, un modo par pasar el tempo e par murmurar i consili che el gavea sentì prima de partir: "Laora duro e el Brasile te sarà generoso." Sta frase, deta da un visin che el zera partì ani prima, adesso la zera diventà 'na sorta de mantra, ripetù in silénsio par tegner fisso el sguardo verso un futuro inserto.

Le magnà el zera el momento ndove l’ambiente del fondo rangiava el culmine del disàgio. File longhe se formava intorno ai barili de aqua e a le scodele che ghe dava un brodo scarso, quasi sensa gusto. ´Ntei zorni fortunai, ghe gera qualche toco de pan duro o un po’ de riso o pasta, ma mai in quantità sufissiente par tuti. Qualcuni i se nascondeva proviste par i zorni pì duri, alimentando un senso silensioso de tension tra chi gavea e chi no gavea.

Le noti i zera particolarmente difìssili. Quando el San Giorgio el incontrava le onde grosse, el rolìo del barco el faseva scrichiolar i leti come 'na sinfonia de legno in agonia. Parechi passagieri i sofriva de mal de mar, gomitando ´ntei scchi improvvisà che aumentava ancora pì el disàgio generale. Le lanterne atacà ai ganci le se moveva sensa fin, creando ombre grotesche sule pareti de fero. Giulia la tegneva streta Rosa contro el peto, cercando de protegerla dal caos. La putela la piansava piano, mentre Giulia la cantava na vècia nina-nana in dialeto piacentin.

El peor nemico, però, no'l zera el mar, ma la malatia. La tosse seca e i visi con el febrón diventava ogni dì pì comuni. La mancansa de igiene e el star chiusi in tanti faseva del soto ponte un tereno fèrtile par quele infession. Ma i Marani, no' stante tuto, resistea, trovando ´nte la loro complissità un bastion contro el sconforto.

'Na note, mentre el navio se confrontava con 'na tempesta feroce, Vittorio se ga slongà al ponte de sora. El vento ghe segava la piel come lamete, ma el ga sentìo el bisogno de respirar fora de quela gabia. El ga alsà i oci al cielo, ndove le stele faseva capelìn fra le nuvole scure, e lu el ga sentì 'na mescolana strana de pìceno e determinassion. Sapeva che quel che i ghe aspetava in Brasil no zera fàssile, ma la alternativa — tornar a la misèria de Castel San Giovanni — no' zera pensàbile.

Quano lu el ga tornà al soto ponte, ga trovà Giulia e Rosa che dormìa strete ntel loro cuchetón. Giulia tegneva la manina de la fiola, e i lori visi, no' stante el stanco, pareva tranquìli. Sentàndose drìo de lori, Vittorio el ga serà i òci e se el ze permitìo de soniar, ancò che par 'na frassion de segundo, con le tere fèrtili e el laoro onesto che imaginava de trovar là de l'altro lato del ossean.

Dopo sinque setimane de viaio da Genova, el San Giorgio el ga finalmente fato sosta al porto de Rio de Janeiro. L'alba portava con sè un spetàcolo par quel che pareva un sònio: el cielo, d'un blu lìmpido, parèa infinito, mentre el sol dorava le onde de la baia, mostrando monti coerti de un verde rigoglioso. L'odor del mar se mescolava con queo de 'na sità viva, portando un senso de novità e speransa.

Vittorio Marani el ga 'ndà al ponte con Rosa in brasso, par farla vardar sora la folta. La toseta, con i oci che lusea de curiosità, indicava el Pan de Zùcaro, che pareva tocar el cielo. "Ze el castèo de le fade?" la ga domandà, in un suspiro pien de meraviglia. Vittorio el ga sora, caresandoghe i cavei, sentìndose pìcolo davanti a quel momento imponente. Giulia, al so lato, la ga tegnu la fàcia sèria, ma i oci ghe tradiva un misto de solievo e aprension.

El sbarco zera lento e caòtico. Sentenaia de passagieri, strachi morti dopo la traversia, spetava impasienti de mètar piè su tera. Òmeni uniformà dava indicassion gesticolando e strilando in un linguagio che tanti el no capiva. Quando i piè de Vittorio i ga tocà finalmente la tera brasiliana, lu el ga tirà 'na sofiada profonda, sercando de impissar con tuto quel mondo novo. Zera un vibrare ´nte l'ària — el suon de le carosse, i colpi de martel de i operài, e i canti lontan de i venditori ambulanti.

La strada, però, no la zera finì. Passar la dogana zera obligatòrio e strancante. In un edifìssio grande, i novi rivà fasea file interminàbili davanti a i banchi ndove i impiegà e i dotori i ghe dava 'na siavada. Le man ben curate de un dotore ga tocà Vittorio con indiferensa, sercando segni de malatie contagiose. Giulia tegneva streta Rosa, temendo che 'na tossida o 'na febrina li mandasse indrìo. A la fin, i Marani i ga portà el via lìbara, anche se el sguardo crìtico del ufissial ghe restava scolpìo ´nte la memòria.

I ga finì in un edifìssio improvisà là in porto, dove i ga trovà alogio temporáneo. El posto el zera grande, ma rudimentae, con file de leti divise solo da qualche asse. Ogni angolo gera pieno de famèie come la loro: qualcuna speransosa par el futuro, altre distrùte dal straco e dal'incertessa.

Rosa, ancora afascinada da quel che lei ga vardà, ga domandà: "Ze tuto cussì bel e grande el Brasil?" Giulia ga soriso par la prima volta da zorni e ghe ga risposto: "Forse là ndove 'ndaremo el ze ancora pì bel." Ma no stante le paroe speransose, lei no riusiva a liberarse de quel nodo al peto vardando torno. El posto el zera rumoroso, e i visi de i altri emigranti rifletea un misto de speransa e disperasion.

Ntei zorni seguenti, i Marani i ga avù un breve contato con la sità. Partì in grupi pìcoli, esplorava le vie atorno al porto, ndove le strade de piere zera contornà da case coloniai e bancarele de venditori. El caldo zera forte, e l'umidità rendeva ogni passo pì pesante del pressedente. Rosa, incantà, indicava i venditori che ofriva frute tropicai colorà, qualcuna che no l'avea mai vardà prima. Vittorio ghe gà comprà 'na pìcola manga, e el soriso de la fiola ga fato che i zorni de soferensa ghe sembrasse, par un àtimo, lontan.

Mentre i spetava el pròssimo navio par 'ndar a Santos, i ga sentì le stòrie de altri emigranti rivà prima de lori. Qualchedun parlava de modesti sucessi, altri lamentava de imbroio e promesse false. Vittorio ascoltava atento, registrando ogni parola come lession par quel che li aspetava.

Na l'ùltima sera al Rio, senta drio a Giulia su un dei banchi improvisà ´ntel alogio, el ga vardà Rosa che dormiva, straca morta ma in pase. El caldo del posto pareva manco opressivo in quel momento, e el ghe ga sussurà a la mòier: "Se gavemo fato a traversar l'ossean, podemo afrontar qualsiasi roba." Giulia ga fato si con la testa, stringendo forte la so man. Le parole de Vittorio no ghe ga tolto tuti i so timori, ma le ga fato rinassere qualcosa de importante — la fede che, insieme, i podea costruir el futuro che i sperava tanto.

El secondo bastimento, un carghero modesto adaptà par i passagieri, contrastava brutalmente con la robustessa del San Giorgio. La nave pareva massa pìcola par l’ossean che la stava traversando, come se ogni onda la podesse inghiotirla. Le tavołe scrichiolava soto el peso de la zente e de le promesse carregà. Zera pì pìcola e ancora pì precària del bastimento che i gavea portà da l’Itàlia, e el odor de sal e de òlio impregnava ogni cantón. Ma, nonostante tuto, ghe zera ´na strana sensassion de solievo ´nte l’ària. El destin, fin a quel momento lontanìssimo, pareva finalmente a portata de man.

I zorni a bordo i zera segnà da desconforto e incertesse. La tempesta che se ga formà la seconda sera la ga squassà la pìcola nave come na foia al vento. Onde alte le sbatea contro i finestrini dei compartimenti inferiori, fassendo i putèi pianser e i òmeni agraparse a qualsiasi roba fissa. Rosa, strucà ´ntel colo de Giulia, piansea pian pianin, mentre Vittorio tegneva i piè ben fermi in tera, cercando de parer impassìbile. "Ze solo un fià ancora," el ga murmurà par conto suo, come se le parole podesse calmar tanto el rugio del mar quanto i timori che el portava drento.

El magnà, che già el zera scarso sul San Giorgio, lei el zera diventà quasi inesistente in sto tragito de viaio. Minestrine rùdole e tocheti de pan durì i zera distribui in porsion pìcole, e l’aqua la gavea gusto de rùsene. E pur, ghe zera un fil de speransa che coreva tra i passegèri. Tanti i se consolava vardando l’orisonte, tentando de intravedar la costa brasiliana che i portaria a le promesse de tera fèrtile e laor.

Quando la nave la ga finalmente atracà al porto de Santos, na sensassion de solievo la ga avù el sopravento sul grupo. El sol scaldante el se rifletea ´nte l’aqua de la baia, lanssando riflessi che momentaneamente ghe acecava i oci ai neo-arrivà. L’odor che se sentia ´nte l’ària el zera un misto de sal, legno ùmido e quañcossa de dolse, forse cafè, che impregnava l’ambiente. Vittorio, con i piè fermi in tera par la prima volta da quando i gaveva lassà Rio de Janeiro, el ga respirà fondo, sercando de assorbir el momento.

El porto de Santos el zera un caos organisà. Estivadori che coreva portando sachi de cafè, mentre barche de tuti i tipi i ndava e i vegniva a ritmo incessante. Ghe zera urli in portugués, mescolà a framenti de altre lìngoe che i emigranti no i capiva. Intorno, lavoradori neri i portava carichi pesanti soto l’ocio atento de òmeni bianchi che brandiva fruste o bastoni. La scena la ghe ha causà un silénsio desconfortante tra i Mariani, che no i gaveva mai visto na roba cusì.

Giulia la tegnìa Rosa forte sul peto, protesendola dal caos intorno. La pìcola, benché straca, la pareva incantà dal movimento incessante del porto. "Mama, quele montagne là le ze pì alte de quele de casa?", la ga domandà, indicando la Serra do Mar, che la se alzava maestosa al’orisonte. Giulia la ga soriso, ma la ga preferì no risponder, sercando de restar conssentrà su quel che i gavea da far dopo.

Sul pontil, ghe zera grupi de òmeni vesti con robe semplici e capéi consumà che i aspetava i neo-arivà. Ghe zera funsionari, rapresentanti de le fasende de cafè che gavea contratà i emigranti. I parlava un portoghese velose, gesticolando par far meter insieme le famèie e identificar i destini. Un funsionàrio, con un quaderno de note in man, el conferìa i nomi su le liste e el distribuìa documenti con informassion basiche su le fasende.

Vittorio lu el ga siapà el folio con cura, vardando i nomi strani scriti con grafia fretolosa. El ghe provava a desifrarli, murmurando pian mentre Giulia, al so fianco, la tegnìa Rosa visin a sé. "Andaremo su par la montagna col treno", el ga deto un dei rapresentanti in un italiano rudimentale, indicando la stassion del treno che se vedeva in lontanansa, in meso al porto movimentà.

Soto la guida de sti òmeni, le famèie le ze stà portà in pìcoli grupi fin a la stassion. Mentre i passava sul pontil, portando quel poco che gaveva, i emigranti i se scambiava sguardi de dùbio e speransa. La promessa che el treno i portasse pì visin al so destino el zera tanto un solievo quanto un ricordar che el sconossuto el ghe zera ancora davanti.

La salita par la Serra do Mar la ze stà un’esperiensa stracante. Le carosse, caregà oltre el limite, le andava piano par le strade de tera, che pì che strade le pareva sentieri. Le rode le sbateva contro i sassi e i buchi, facendo ondear i passegieri a ogni metro. Giulia, con Rosa in brasso, la ghe provava a tenerla proteta. "Stemo ´ndando in cielo, papà?" la ghe domandà Rosa, indicando la vegetassion fita che se serava intorno a la strada. Vittorio lu e ga rìdo, nonostante la strachessa. "Stemo ´ndando su, ma ghe ze ancora tanto da far."

La vegetassion lussuriosa l’impressionava. Palme gigantesche, rampissoni che pareva che i balasse con el vento e ´na infinità de rumori sconossuti che riempiva l’ària. Ma par i emigranti, sto paesagio el pareva pì minassioso che ospitale. La foresta la zera densa e impenetràbile, un mondo totalmente diverso da le coline coltivà che lori i gavea lassà.

Quando ze vegnù note, la carovana la ga fato ´na pausa. Soto la luse de un fuoco improvisà, i viagiatori i se contava stòrie e suposission su come che le fasende le sarìa stà. Un vècio, con na vose roca, el li ga avertì: "Le terre le ze bone, ma no sperè fassilità. Qua, ze tuto forsa de brasso." Le parole le ze rimaste nte l’ària come ´na verità indiscutìbile.

Par i Mariani, el viaio verso le fasende de cafè el segnava lo scomìnsio de un nuovo capìtolo. El zera la fine de la traversia del ossean e l’inìssio de ´na nova traversia, stavolta par la tera che prometea de èssar la so casa. La stranchessa e l’insertessa restava, ma qualcosa de pì forte i ghe sosteneva: la fede che, nonostante tuto, i zera un passo pì visin al futuro che i gavea sonià.

Le coline del interior paulista le se alsava in lontanansa, ondegiando in toni de verde e oro, soto el caldo insoportàbile del sol. Zera là, in fasenda Santa Clara, che la famèia Mariani la ga trovà la so nuova abitassion. La casa che i gavea destinà par lori la zera un baracon de legno con el teto de zinco, con i spiraghi che lassava passar la luse del zorno e, di note de vento, el sussurro de le foie de cana visin. Ma par Vittorio, sto baracon el zera un palasso in confronto al confinamento ùmido del alogiamento del San Giorgio.

La rotina l’era dura. Le matine scominsiava prima del sòrgere del sole, con Vittorio e Maria che insieme ´ndava ai cafesai. El laoro de scancar, catar e portar i sachi de cafè l’era pesante. Le man, prima abituà a manegiar strumenti semplici in Itàlia, adesso le zera dure e calegà dal sforso de ogni zorno. Epure, Vittorio trovava conforto ´ntel cielo vasto e ´nte le montagne che sircondava Santa Clara, che ghe ricordava lontanamente la so tera natìa.

Giulia, da parte soa, quando no la zera ocupà ntela scanca, la se dedicava a trasformar el baracon in ’na casa. Nte ’na radura a canto de casa, la ga piantà un’orteta con le semense portà da l’Itàlia: basìlico, prezemolo, rosmarin e pomodori. Le prime foie verdi le ze spuntà come sìmbolo de rinassita. Drento casa, la ga improvisà qualcosa par miliorar. Zera ´ntei picoli detali che la riportava ’n toco de familiarità al sconossuto.

Rosa, de sinque ani, pareva trovar felicità in tute le robe. La coreva su la tera tra le file de cafè con i altri putei, imparando paroe in portughes con ’na fassilità che sorprendeva i genitori. “Mama, guarda qua!” la diséa contenta, mostrando fiori selvadeghi o inseti strani che la trovava. La so rida la zera ’n bàlsamo par el cuor straco de Vittorio, che ´ntel brilo dei òci de la fiola vardava la promessa d’un futuro mèio.

Le noti le zera pì calme. Radunà torno a 'na tola semplice, la famèia se contava stòrie de l’Itàlia, intanto che Giulia preparava minestre con quel che la riusiva a recuperar dai avansi de la cusina de la fasenda. Qualche olta, Vittorio tirava fora del taschin un quaderneto ndove el scrivea sòni e piani: “Un zorno gaveremo la nostra tera.” Era 'n mantra che el ripeteva par sé stesso, come se le paroe podesse moldar la realtà.

Con el passar dei mesi, la comunità de Santa Clara la scominsiava a formar. La doménega, le famèie se radunava quando ghe zeva messa in 'na capela improvisà in 'n paiol de la proprietà. Dopo la preghiera, i putei coreva tra i adultri, mentre i òmeni discoréa de lavoro e le done se scambiava ricete e semense. Qualche olta ghe zera anca feste animate, ndove le danse e le musiche italiane risuonava soto el cielo pien de stele, ’na tentativa de mantegner viva la cultura che lori i gavea lassà.

Col tempo, el par ga riussio a sparagnar soldi par catar un tochetin de tera drio la fasenda, ndove se stava formando 'na vileta. Ghe zera un lote modesto, ma pien de potensial. I ga scominsià a piantar le vigne, scegliendo con cura le palete e sistemandoghe ´ntel posto giusto par sfrutar al massimo el sole de matina. Giulia ghe dava 'na man ´ntei fin de setimana, mentre Rosa correva tra le file de parère zovani, ridendo.

Qualche ano dopo, la prima racolta la ze sta modesta, ma par Vittorio la zera come tocar el cielo. El ga tegnù i gròpi de ua in man come se i zera un tesoro. El vin che el ga fato in baril improvisà el zera semplice, ma el sabor gavea quel de màgico: el gavea el gusto de l’Itàlia in 'na nova casa.

Nonostante le dificultà – le piove impreviste, la nostalgia par chi gavea restà e i problemi de imparar 'na nova léngoa e i novi costumi – la famèia Marani la ga catà 'na forsa che pareva nasser da le radisi che gavea piantà in quele tere. Lori i ga scoperto che el vero significà de casa no el zera un posto, ma 'na conessión che costruiva tra de lori e con la nova vita che stava criando.

Su la veranda del baracon, in 'na sera de cielo lìmpido, Vittorio el ga vardà Giulia e Rosa che i dormiva e el ga mormorà, quasi come 'na preghiera: “Semo lontan da casa, ma gavemo scominsià qualcosa qua. Qualcosa che sarà pì grando de noialtri.”
E cusì, soto el stesso cielo blu che iluminava sia l’Itàlia che el Brasil, la famèia Marani la continuava la so strada, trasformando sòni in realtà.

´Ntel 1890, quìndese ani dopo che i gavea lassà l’Itàlia, Vittorio Marani el stava in piè su la costa che ospitava el so vigneto. El sole dorà del fin de la sera el piturava le foie de le vigne con toni caldi, e le vite, cargà de gròpi pesanti, le parea un tributo vivo a la resistensa de la famèia. Vittorio, con le man calegà crociade drio la schena, el sentiva un misto de orgòlio e riverensa par quel che gavea costruì.

A so fianco, Giulia la supervisionava Rosa, che adesso gavea vent’ani, mentre màma e fiola le racolieva le ue con l’abilità de chi ga trasformà el laoro in arte. Rosa, alta e sicura de sé, la discoréa in portoghese con 'n grupo de operài che aiutava ´ntela vendémia, ma, al stesso tempo, la passava al italiano quando la parlava con la so màma. Era un ricordo vivo de come la so fiola gavea deventà un ponte tra la cultura che loro gavea lassà e la nova tera che gavea abrassià.

El profumo dolse de la ua matura el se mescolava con l’odor de la tera scaldà dal sole, creando 'na atmosfera al stesso tempo familiar e profondamente simbòlica. Par Vittorio, ogni grapo el rapresentava no solo el fruto de la tera, ma anca el triunfo dopo ani de laoro duro, incertese e nostalgia.

La proprietà dei Marani la gavea deventà 'na pìcola referéncia ´ntela vila che se stava trasformando in 'na sitadina. No la zera solo un vigneto, ma anca un posto ndove altri imigranti i se radunava par contar stòrie, festegiar le racolte e rinovar la so fede. Ai inizi, Vittorio e Giulia i produsseva vin par consumo pròprio, ma, con el tempo, la qualità del prodoto la ga atirà l’interesse de i comerssianti. Adesso, el marchio "Marani" el scominsiava a èssar conossiuto in le sità visin, un sìmbolo de perseveransa e qualità.

Dopo la racolta del zorno, la famèia la se radunava su la veranda de la casa, che ormai no la zera pì el vècio baracón de legno. La nova costrussion, fata de matoni brustolà, la gavea 'n teto sòlido e finestre grandi che lassava entrar la bresa de la sera. Giulia la ga portà 'na botìlia de vin de la prima racolta, tenuda par tuti quei ani come testimónio del so viaio. La ga servi Vittorio e Rosa, intanto che 'na torcia la iluminava le so expression serene.

“Quando penso a quel che gavemo passà par rivar fin qua,” el scominsiò Vittorio, tegnendo la tasa come se zera un ogeto sacro, “sento che ogni sacrifìssio el ga valso la pena. No solo par quel che gavemo costruì, ma par quel che gavemo imparà.”

Giulia la fece sì con la testa, el so viso segnà dal tempo, ma ancora iluminà da 'na determinassion calda. “No gavemo mai desmentegà chi che semo e ndove semo vignù. Ma gavemo anca imparà a amar sta tera, che gà acolti noaltri quando gavèvimo pì bisogno.”

Rosa, guardando i so genitori, la sorise con 'na mistura de teneresa e orgòlio. “E adesso, sta tera la ze nostra come la zera l’Itàlia.”

El vento el sofiava pian pian, muovendo le foie de le vite come se el Brasil stesso el stesse batando le man par la stòria dei Marani. Quela no la zera solo la stòria de 'na famèia, ma quela de mile de italiani che i ga traversà i osseani spinti da un misto de bisogno e speransa. Lori i gavea rivà in Brasil con poco pï de sòni e determinassion. Incòi, Vittorio el contemplava no solo la so tera, ma anca la so dissendensa, savendo che ogni fruto racolto là el portava el segno de la so stòria. Mentre el sole el spariva ´ntel orisonte, el alzò la tassa e ga fato un brindisi con vose ferma:

“A chi ze vegnesto prima de noialtri, a chi vegnirà dopo, e a la tera che ne gà dà 'na nova oportunità.”

L’eco de le so parole el se perse ´ntela note, ma el so significato el restò, scolpì ´nte la stòria de Santa Clara e ´nte la memòria de tuti quei che, come i Marani, i ga trasformà i sfidi in un lassito che durarà par generassion.


Nota del Autor

Scrivendo sta òpera, go trato profonda ispirassion da le stòrie vere de coraio e resiliensa dei emigranti italiani che i ga traversà l’ossean par catar 'na vita nova in Brasil. Sto flusso migratòrio, che el ga segnà la fine del sècolo XIX, no el ze solo 'na pàgina de stòria fra do paesi, ma un testimónio universal del spìrito umano de fronte a le adversità.

Durante le me ricerche, go sfogià lètare, apuntamenti e raconti de famèie che gavea afrontà viaie massacranti, malatie e l’isolamento de tere sconossiute. I raconti i zera pien de dolor e sacrifìssio, ma anca de speransa, amore e ´na fede incrolàbile in un futuro mèio. Questi documenti personai me ga ricordà che, anca se le pàgine de stòria le ze spesso scrite da re e governanti, ze le vite comune – e straordinàrie – de le persone normae che veramente le modela el mondo.

La famèia Marani, protagonista de sta stòria, la ze fitìssia, ma le esperiense che descrivo le rispechia la realtà vissuta da tanti altri. Le condision ´ntei stivi dei bastimenti, le sfide dei campi de café e la rinvension de una comunità in tere foreste le ze stae ricostruì dai raconti documentà con cura. Dando vose ai Marani, el me intento el ze sta de caturare l’essensa del viaio de milioni de emigranti.

El me scopo scrivendo sto libro el ga sta duplise: contar 'na stòria emosionante, ma anca portar luse su un peso de stòria che spesse volte el ze dimenticà. Spero che, lesendo sta òpera, no solo te ti senti coinvolto con le lote e i susscessi dei Marani, ma anca che te rifleti sul coraio de chi ze partì par costruir un novo scomìnsio – e su la gratitudine che tuto gavemo par chi ze vignesti prima de noialtri.

Par finire, mi vorìa ringrasiar de cuore i stòrici, i ricercatori e i dessendenti dei emigranti che i ga condiviso le so stòrie e el so saver. Le so contribussion le ze sta fondamentai par la creassion de sto libro.

Scriver sto romanzo ze sta un viaio arichente, e spero che leserlo te sia par ti altretanto gratificante.

Con stima,

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta



quinta-feira, 12 de junho de 2025

Le Aventure de Giuseppe Morettini: Un Viaio tra do Mondi

 


Le Aventure de Giuseppe Morettini: 

Un Viaio tra do Mondi

- resumo de un libro de Piazzetta -


Capìtolo 1: La Partensa

Albettone, Itàlia, 1886

Giuseppe Morettini se senteva su la sponda del leto, con le man incalì a pianar el capel vècio. La decision la zera siapà: el sarìa 'ndà in Brasil in serca de 'na vita pì bona. Le lètare de 'n so conossesto che lu el zera 'nda do ani prima parlava de gran tere e promesse de laor. "Torno tra pochi ani, con i schei 'n sufissiensa par ricominssiar qua", diseva a tuti che ghe domandava el motivo de la partensa. Ma drento de lu, el savea che forse no ghe gavaria pì de vardar la so tera.

So mare, Giulia, pianseva in silénsio mentre lei la meteva un rosàrio drento la valìsa del fiol. "Prega, Giuseppe, e Dio te protegerà. No importa quanto che te sia lontan, saremo sempre ligà par la preghiera."

Al porto de Genova, Giuseppe el ga imbarcà su el Vittoria, un vapor pien de speranse e de incertese. Tra i passegieri, el ga conossesto la famèia Zanetti, che, come lu, sercava de ricominssiar la vita in un posto sconossesto.

Capìtolo 2: La Quarantena

Isola de le Fiori, Brasil, 1886

La traversia la zera dura, con poco magnar e la paura contìnua de le malatie. Quando el vapor el ga rivà al porto de Rio de Janeiro, tuti i passegieri i ghe ga da far la vassinassion contra la variola. Giuseppe, però, el no la ga suportà ben la ingestion e el ga siapa 'na forte reasion. Lui i ze metesto in quarantena su lo ospedal de l'Isola de le Fiori, mentre i Zanetti i vano avanti con la so destinassion.

Par setimane, Giuseppe el lota contro la solitù e l'agonia. Ogni zorno el vardava i vapor che partìva e el pensava a cosa che lu gavaria far. "Son da solo, in 'n posto che no so gnanca cossa vol dir. Saria questo la fine del me sònio?"

Dopo tanto, el ga a rivar a São Paulo, ma no el savea lèser, scriver, né anca parlar la léngoa del posto. Se sentiva sperduto in 'na sità che se ga ingrandito velose, ma el gaveva 'na determinassion che no se podea spegnar.

Capìtolo 3: El "Fasendero"

Al l'ufficio de l'imigrassion, Giuseppe el vien sta notà da Bartolomeu Franco, un "fasendero de Araraquara, che el sercava man de laor italiane. Ma tute le femèie i zera zà destinà. Sensa altre scelte, Bartolomeu el se ga portà drio Giuseppe da solo sensa famèia.

El viaio in treno fin Araraquara el zera interminàbile. Quando lori i ga rivà al fin del traieto, Giuseppe scopri che el resto del camin el zera a piè, tra la foresta. La "fasenda" Monte Alegro la zera isolà, sircundà da fiti boschi a perdita d’òcio. Giuseppe lu el zera tra i primi italiani a laorar là, con condission dure e zornade stracanti.

Capìtolo 4: Una Comunità Nova

Dopo che la schiavitù la ze stà abolì in 1888, la "fasenda" la ga scominsià a ricèver pì imigranti italiani. Tra questi, ghe zera la famèia Paolon, de Treviso. Giuseppe el ga restà sùito incantà da Elena Paolon, 'na tosa con i òci vivi e un soriso che scaldava el cuor. No’stante la resistensa de so pare, lo i se ga marità in 'na seremonia semplice ´ntela capela de la proprietà.

Elena la porta speransa in Giuseppe. Insieme, i ga scominsià a costruir 'na vita onesta, coltivando café par el paron, slevando qualche pìcola bèstia visin a casa, risparmiando ogni centèsimo, e pian pian, dopo 4 ani lori i ga comprà 'na pìcola proprietà in 'na vila che se stava formando no tanto lontan da "fasenda".

Capìtolo 5: L´Eredità

Tra 1890 e 1905, Giuseppe e Elena i ga tegnù oto fiòi. Giuseppe, i ga imparà a lèser e scrìver con l’aiuto de Elena e el ga diventà un punto de riferimento par i altri imigranti, aiutando chi rivava a trovar laor e sistemarse. 

La nostalgia de l'Itàlia no la ga sparì mai, ma el sònio de tornar indrio el ga diventà sempre pì distante. Giuseppe el mantegne el contato con la so famèia in Itàlia scrivendo létare, racontando le dificultà e le conquiste. "Qua no ze mia fàssile, ma la tera la ze generosa par chi laora. Stemo costruendo qualcosa che i nostri fiòi e i nostri nipoti i pol tegner con orgólio."

Capìtolo 6: Un Segno ´ntel Tempo

In 1938, a l'età de 72 ani, Giuseppe Morettini el se ga sparì, sircondà da la so grande famèia. Al so funeral, tanti i ga ricordà el so coraio e la so resistensa. Le tere che na olta le zera solo boschi e campi desolà, adesso le gaveva piantassion, case e 'na comunità viva.

Al centro de la pìcola sità, i ghe alza un segno de memòria, con la scrita:

"A chi che ga trasformà i sòni in radise profonde. El lassà de Giuseppe Morettini el vive in ogni racolto e in ogni generassion."

La stòria de Giuseppe la ze diventà un sìmbolo de la forsa e de lo spìrito dei nostri avi che, no'stante le dificoltà, i ga costruì la so vita e lassà 'n segno eterno.


Nota del Autore 

"Le Aventure de Giuseppe Morettini" de Piazzetta, no el ze solo un raconto de fantasia o de viaio — el ze, in fondo, un ato de memòria. Scrivar ‘sto libro el ze stà come scavar con le man ‘nte le radìse de na vita che la ze sta vissuta da tanti, anca se mai contà. Giuseppe Morettini, con la so valisia de carton e el capèl consumà, lu el ze ´na figura inventà, sì, ma la so strada la ricalca passi veri de miliaia de emigranti che, tra fine '800 e scomìnsio del '900, i ga traversà mari e monti par catar un destino novo.

El viaio tra “do mondi” no el ze solo geogràfico — Itàlia e Brasile, povertà e speransa, fame e futuro — ma anca umano, spirituale. Lu el zeel viaio de chi parte sensa saver se tornarà, de chi lota contro le sfide d’un mondo novo che no parla la so lèngoa, che no conosse i so santi, ma che, con el tempo, el diventa casa.

Le vissende de Giuseppe le ze ambientà tra le campagne magre del sentro Itàlia e le colònie italiane del sud Brasil, ma le emossion che le transpira — el coraio, la malinconia, la resiliensa — le ze universae. Come tanti altri, anca Morettini el scontra el pregiudisio, la solitudine, e la dura realtà del laoro bruto, ma lu el ze anca testimone de amissisie nuove, de solidarietà tra i diseredà, e de ´na lenta, ma forte, rinassita.

Me inspirassion la ze vegnesta da le stòrie racontà dai me noni, da vècie lètare scrite in véneto, e da documenti che dormiva ´ntei archivi. Ghe go messo drento tuto el amore che go par la nostra stòria de pópolo che no ga mai smesso de soniar, anca quando el pan no bastava.

Se ‘sto libro el fa sentir a qualchedun el frùssio del mare che divide e unisse, o el cantar de le zigale ‘nte le campagne nove, alora la stòria de Giuseppe la sarà rivà, finalmente, a bon porto.

— El Autor Dr. Piazzetta

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

L'Emigrassion Véneta e la Traversia del Mar Sconossùo


L'Emigrassion Véneta e la Traversia del Mar Sconossùo


Riva el momento de imbarcharse, el movimento zera intenso al porto, e'l rumor de voci, de comandi urlà e de apiti intorno al vapor fasea vegnìr 'na gran ánsia a tuti quei emigranti, che i se ga imucià par no perder la ciamà. Sul barco, lori i segui i comandi da i marinai incaricà e se spostava in grupi verso i fondi scuri e sufocanti de la tersa clase che i gavea destinà a lori. Là i ghe trovava catri imbotìi de pàia, ndove i starea strucà e senza gnente de privassidà.

Qualche famèia, par no vegner separà, tornava su dai fondi e decidea de viaiar in coberta, a l'ària, ndove almanco lori i podèa starghe visin e respirar mèio. Su la coberta del vapor i ghe sofrìa el fredo inteso e el caldo sufocante, oltre ai inconvenienti de i venti forti, soratuto, durante le tempeste frequenti in alto mar, specialmente quando el navio el incrosea la lìnea de l'Equador.

A l'inìsio de 'sta gran emigrassion, le imbarcassion i zera ancora lenti, gnanca passava de veci navi a vela o misti vela-vapor, solitamente usà par portar cargo e apena maladatà par transportar cristiani. Dopo, i ze vignesti i navi a vapori, alimentà a carbon, ma anca sti vapori prima i zera quasi sempre barche de cargo, come carbon e cereai, che i ghe adaptà de pressa par ciaparse la zente.

La situassion igienica a bordo e la alimentassion non zera bona. A volte mancava magnar par tuti quei a bordo. Senza gnente de conforto, i viaiava con animai vivi, destinà a vegner sgoià e magnà durando la viàio. I regolamenti in vigor in Itàlia par portar emigranti zera indegni de 'na nassion civilisà. El transporte de 'sti migliaia de persone che i volea imbarcarse zera un vero sfrutamento disumano dei emigranti.

Se zera sicuro una gran conivensa tra l'autorità del goerno italiano e l'indùstria navale nova del paese. Fino a quel momento, el transporte marìtimo de l’Itàlia i zera picinin in confronto a altri paesi européi, e el se ga alsà gràssie ai milioni de emigranti. Le autorità, in quel perìodo, i zera preocupà de pì con i interessi de le compagnie e no con el sofrimento de i emigranti.

Sensa cura de igiene e sensa mèdico a bordo, el rìs-cio de epidemie i zera sempre presente, e, difati, tante ghe n'ea, che fasea morire sentinaie de persone, sopratuto putéi e veci, che dopo el defunto i zera butà in mar, par el gran dolore de le so famèie.

La memòria de 'sta gran traversà la ze restà segna profondamente nel cor de i nostri veci, e la vive anca desso ´ntele narassion de i so discendenti. Questo fato el ze stà, sensa gnente dùbio, l'episòdio più segnante de la vita de quei pionieri.