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quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Caminho de Terra Vermelha

 


Caminho de Terra Vermelha

A vida de Cesare Travaglini, emigrante da Úmbria para o Brasil


Úmbria, Reino da Itália — Outubro de 1887

Naquele outono tardio, os campos da Úmbria pareciam ter desistido da colheita. A chuva fina se infiltrava pelas telhas de ardósia e os ventos gelados rasgavam as estradas de terra como se quisessem apagar os rastros de uma geração inteira que se preparava para partir. Cesare Travaglini, com vinte e dois anos e os olhos carregados de inquietude, sentia que não pertencia mais àquelas colinas cobertas de oliveiras retorcidas. Era o primogênito de sete filhos, neto de camponeses, filho de um sapateiro que há muito desistira de sonhar. Seu pai, Giovanni, aceitava a miséria com resignação endurecida. Quando ouviu do filho a palavra “emigração”, cuspiu no chão como quem rejeita uma praga. Mas sabia que a pobreza não segurava ninguém. E quando finalmente consentiu com a partida, fê-lo com a frieza de quem sabia o que o aguardava do outro lado: “A terra dos outros, Cesare... te cobra em carne o que oferece em pão.”

Cesare partiu numa madrugada escura, levando apenas um terço da mãe, um caderno de anotações e a coragem de quem não tem mais onde cair morto. Deixava para trás os irmãos esfomeados, a casa com goteiras, os olhos silenciosos da mãe à porta. Seu destino: o Brasil.

Porto de Gênova — Novembro de 1887

O navio Príncipe de Asturias zarpou sob céu de chumbo, carregando quinhentas almas comprimidas no porão. Não havia espaço para a dignidade — apenas corpos empilhados como mercadoria de segunda ordem, sacudidos pelo mar e pela incerteza. O cheiro de suor, enjoo e medo se espalhava pelos corredores como uma névoa que não cedia. Era um odor espesso, pegajoso, impregnado nas roupas, na pele e nos pensamentos. Ratos corriam entre os fardos de bagagem, disputando migalhas com crianças desnutridas. Os gritos de náusea misturavam-se às preces sussurradas em dialetos que já morriam antes mesmo de cruzar o Atlântico.

Crianças choravam sem consolo, agarradas às saias das mães ou a pedaços de pão duro. Mulheres rezavam com os olhos fechados, murmurando ladainhas de aldeias esquecidas, invocando santos que o Novo Mundo talvez não conhecesse. Homens se agarravam a cartas amareladas, dobradas com reverência, como se fossem mapas para a terra prometida. Eram palavras escritas com esperança e exagero por parentes que juravam ter encontrado fartura além-mar — terras férteis, colheitas abundantes, salários em moeda forte, casas com telhado e liberdade com nome próprio.

Durante os trinta e três dias de viagem, Cesare escreveu, mesmo doente. A febre vinha em ondas, como o próprio mar. Suas mãos tremiam, mas ele não largava o lápis. Registrava tudo como quem finca estacas numa terra ainda invisível. Descreveu a tempestade que quase os jogou contra os rochedos das Canárias — os gritos, o ranger do casco, o estômago virado do navio e das almas. Homens rezavam em voz alta, outros se calavam como condenados. Um barril solto esmagou o braço de um estivador. Cesare anotou até a cor do sangue escorrendo pelo convés.

Descreveu o rosto de um menino de Piacenza que morreu no quinto dia e foi lançado ao mar embrulhado num lençol — o corpo leve demais, quase sem peso, como se o oceano o tivesse chamado de volta antes mesmo de ele conhecer a terra firme. A mãe permaneceu muda, sentada à beira do beliche por dias, com o lenço do filho entre as mãos, enquanto os outros passageiros desviavam o olhar.

Descreveu, acima de tudo, o silêncio aterrador das madrugadas, quando o oceano parecia respirar mais alto que os vivos. Era um som fundo, ancestral, como se a própria terra tivesse sido engolida e regurgitada pelo mar. À noite, a embarcação parecia imóvel, suspensa no vazio, como uma sombra sobre o nada. O sal entrava pelas frestas do porão e ardia nos olhos. O escuro era tão espesso que o horizonte desaparecia. E ali, sob aquele céu sem estrelas, Cesare escrevia — não para registrar o horror, mas para não esquecê-lo. Sabia que o que se esquece morre duas vezes.

Fazenda São Domingos, Província de São Paulo — Janeiro de 1888

A terra era vermelha como ferrugem e grudava nos pés como se quisesse puxar de volta quem ousasse fincar raízes. Espessa, quente, quase viva, deixava marcas no tornozelo e no pensamento. Sob o sol inclemente, transformava-se em pó fino que se infiltrava nas roupas, nos pulmões, nas dobras do tempo. A fazenda São Domingos se estendia por mais de mil alqueires de cafezais e canaviais, alinhados como exércitos sob comando mudo. Era um império de terra e dívida, onde os coronéis andavam a cavalo e os colonos curvavam as costas até parecerem parte da lavoura.

Os recém-chegados — italianos, portugueses e alguns poucos espanhóis — logo compreendiam que liberdade era palavra escassa ali. Na boca do feitor soava como ironia. Trabalhando sob o sistema de parceria, os colonos teoricamente dividiam a produção, mas na prática colhiam apenas cansaço. A comida vinha do armazém da própria fazenda, sempre com preços inflados, listados em folhas que ninguém sabia ler. Arroz quebrado, farinha grossa, sabão preto, café de segunda — tudo era descontado antes da colheita. Os vales substituíam o dinheiro; notas coloridas com o nome da fazenda, aceitas somente ali, criando um círculo fechado de servidão. Qualquer doença, qualquer dia de chuva ou cansaço, qualquer filho com febre era anotado no caderno de capa dura do feitor, um objeto mais temido que o chicote. E o saldo final era sempre negativo — não importava o esforço, o suor, o número de sacas entregues. Era como nadar contra a correnteza com os bolsos cheios de pedra.

Cesare, porém, não se entregava. Não por teimosia, mas por princípio. Sabia ler. Sabia somar. Sabia, sobretudo, resistir. Trazia do Vêneto uma desconfiança ancestral pelos poderosos e uma fé silenciosa na força da comunidade. Em pouco tempo, tornou-se referência entre os colonos. Lia os contratos com atenção de advogado, desfiava as cláusulas armadilhadas, ajudava a calcular os juros embutidos nas contas do armazém. Explicava a diferença entre “adiantamento” e “endividamento” com palavras simples, mas certeiras. Ensinava as crianças a escrever seus nomes com gravetos no chão batido, mesmo depois de doze horas na roça. Era um rebelde de olhos calmos, desses que não precisam levantar a voz para fazer-se ouvir. Não incitava motins, mas plantava perguntas. E isso, para os patrões, era perigoso. A cada nova colheita, seu nome circulava em cochichos — uns o chamavam de capitão sem patente, outros de anarquista de bíblia. Mas os colonos o viam como um farol: alguém que, mesmo coberto de barro e cansaço, enxergava além do café e da dívida. Alguém que lembrava a todos que ainda havia espaço para dignidade, mesmo em meio à servidão disfarçada de contrato.

1894 — As margens do Rio Turvo

Foram sete anos de suor, febres e noites sem pão. Sete anos em que a terra parecia conspirar contra ele e os céus não respondiam a preces. Mas Cesare guardava cada tostão como quem recolhe sementes para um solo que ainda não existe. Evitava as festas dos conterrâneos, os almoços de domingo em casas alheias. Poupava no fumo, não bebia nem em batizados. Trabalhava de sol a sol, fazendo biscates nas lavouras dos outros, roçando mato por diária ou serrando madeira em troca de farinha e feijão. Quando surgiu a oportunidade de comprar um pedaço de mata virgem na beira do rio Turvo, não hesitou. A escritura foi feita às pressas, em cima de um balcão de armazém, com testemunhas analfabetas e firma reconhecida a suor e desconfiança. Pagou em moedas de cobre guardadas em latas de querosene e em promissórias riscadas com dedos trêmulos. O lugar não tinha estrada, nem vizinhança, nem sombra de capela. Só mato, pedra e silêncio. A terra era bruta. Pedregosa. Áspera como os calos de sua mão. Mas era sua. Pela primeira vez, algo no mundo lhe pertencia.

Ergueu uma casa de pau-a-pique com as próprias mãos, misturando barro com palha e esperança. Reutilizou tábuas de um galpão abandonado e amarrou as traves com cipó e paciência. Fez telhado de taquara e cobriu de folhas secas até conseguir telhas de verdade. Batizou o lugar de Monte Scheggia, homenagem silenciosa à vila natal que agora habitava apenas sua memória — uma colina modesta nos arredores de Belluno, de onde via, na infância, os sinos das igrejas balançarem contra o céu das Dolomitas.

Logo depois, casou-se com Rosa Carminati, viúva de um tanoeiro morto de febre na última epidemia de verão. Rosa sabia lidar com forno, horta e silêncio. Trazia consigo dois filhos ainda pequenos, que Cesare aprendeu a chamar de seus sem distinção de sangue. Com ela teve mais três: dois meninos de temperamento diferente como o fogo e a água, e uma menina de olhos atentos, que nasceu ouvindo a leitura de um trecho do Purgatório.

Todos foram criados entre enxadas e cadernos de escola. Durante o dia, ajudavam na roça ou nas lidas do terreiro; à noite, se sentavam ao redor da lamparina, onde o pai, de mãos calejadas e alma inquieta, lia Dante em voz alta. Lia com sotaque de gente que mastigava duas línguas ao mesmo tempo, com os erres enrolados do Vêneto e a cadência dos que lutam para não esquecer. Lia para que seus filhos soubessem que haviam nascido de homens que ousaram atravessar o oceano para plantar o amanhã com as próprias mãos. Cada verso era um testemunho. Cada canto, um alicerce.

Nas noites de lua cheia, quando o rio Turvo refletia as estrelas como se fosse um espelho de prata, sua voz se confundia com o farfalhar das folhas e os uivos distantes das corujas. E assim, naquela clareira esculpida à força de machado e fé, Monte Scheggia foi deixando de ser só lugar e passou a ser destino — um pedaço da Itália enterrado no coração da terra brasileira.

São Paulo, 1932 — O fim do caminho

Cesare Travaglini morreu velho, curvado, mas inteiro. A espinha vergada pelos anos de enxada e silêncio, os músculos endurecidos pela luta contra a terra, a seca, a febre e o tempo. O rosto era um mapa de sulcos e cicatrizes, mas os olhos — aqueles olhos castanhos que sempre miravam o longe — nunca perderam o brilho de quem crê em algo além do imediato. Morreu com as mãos manchadas de terra vermelha, a mesma terra que, décadas antes, lhe havia rasgado os pés, mas que agora se deitava sobre ele como um manto amigo.

Foi enterrado à sombra de uma grande árvore que ele mesmo plantara, no alto de uma colina da fazenda Monte Scheggia. Era uma figueira brava, nascida de um caroço trazido da Itália, embrulhado em um lenço de algodão que Rosa guardara entre os peitos durante a travessia. Cesare costumava dizer que ela sobrevivera porque tinha a alma dos que emigraram: raízes fortes, corpo retorcido e uma teimosia de pedra. Ali, sob aquela copa generosa, onde as crianças se escondiam nas brincadeiras de domingo e os pássaros armavam ninhos no tempo das águas, repousava agora o corpo de quem dera forma e destino àquela terra.

Depois de sua morte, enquanto a família desmontava a velha casa de pau-a-pique — agora já abandonada, em ruínas de barro e saudade — encontraram, escondida entre as paredes de taipa, uma caixa de madeira simples, com ferragens enferrujadas e cheiro de tempo parado. Dentro, estavam seus cadernos. Alguns já amarelados, outros com folhas soltas e anotações escritas com letra firme, porém vacilante nos últimos anos. Misturavam-se ali contas da roça, esboços de cartas nunca enviadas, listas de sementes, poemas curtos, trechos de Dante, e pensamentos lançados como sementes em solo seco. No último caderno, a derradeira anotação era de uma simplicidade que atravessava os ossos:

“A terra dos outros primeiro nos come. Depois nos aceita. E, por fim, se deixa amar.”

Essas palavras, escritas com tinta preta e caligrafia envelhecida, tornaram-se a epígrafe de sua vida. Um de seus netos, professor de história e filho do menino que aprendera a ler ouvindo Dante sob a luz da lamparina, decidiu doar os manuscritos ao Museu da Imigração de São Paulo. O gesto não foi apenas um tributo familiar, mas um resgate de tudo o que Cesare representava — não só para os Travaglini, mas para tantos outros que, como ele, haviam deixado para trás um continente e semeado outro com trabalho, silêncio e fé. E foi lá, entre vitrines empoeiradas e corredores onde o passado parece respirar, que a história de Cesare Travaglini ganhou nova vida. Seus cadernos, agora protegidos por vidro e etiquetas de inventário, passaram a ser consultados por pesquisadores, estudantes, e netos de outras famílias que também vinham de longe. Ali, onde o tempo se dobra e os nomes se tornam memória, a voz de Cesare continuava a ecoar. Não mais com sotaque carregado, mas com a solidez de quem construiu algo que ultrapassou sua própria existência. Como o próprio caminho de terra vermelha que ele trilhou — abrindo mato, carregando pedra, vencendo o tempo, mas sempre em frente.


Nota do Autor

Esta é uma história inventada com nomes fictícios — mas a maior parte dela é verdadeira. Caminho de Terra Vermelha nasceu da escuta atenta de vozes esquecidas. Vozes que, embora não tenham deixado livros ou monumentos, deixaram pegadas reais nos cafezais, nos trilhos da ferrovia, nas pequenas colônias do interior brasileiro. Cesare Travaglini, personagem central desta narrativa, é ficcional. No entanto, ele carrega dentro de si a soma de muitos homens e mulheres que cruzaram o oceano no final do século XIX em busca de pão, terra e futuro — às vezes com esperança, quase sempre com dor.

Entre 1870 e 1920, mais de um milhão de italianos desembarcaram no Brasil. Vinham principalmente do Norte da Itália: Vêneto, Lombardia, Trentino, Piemonte, Úmbria, Toscana. Fugiam da fome, da miséria, das guerras e dos impostos abusivos. Chegavam a um país onde o fim da escravidão criara uma demanda urgente por mão-de-obra nas fazendas de café. Os contratos ofereciam promessas. A realidade impunha dívidas, trabalho forçado, isolamento e discriminação. Ainda assim, resistiram. Plantaram, construíram, adaptaram-se, criaram raízes. Muitos sucumbiram. Outros prosperaram — mas todos pagaram um preço alto.

O título desta obra remete à terra vermelha do interior paulista, símbolo de fertilidade e também de sacrifício. Era sobre ela que os colonos italianos — como tantos outros imigrantes — dobravam a espinha, enterravam filhos, erguendo com mãos ásperas a esperança de um novo começo. Embora os fatos históricos sejam respeitados com rigor, esta é uma narrativa literária, construída com liberdade criativa. Misturam-se aqui a pesquisa histórica, o imaginário popular, os registros da tradição oral e o desejo de dar rosto, nome e voz aos que muitas vezes foram reduzidos a estatísticas nos livros oficiais.

A história de Cesare Travaglini é, portanto, um espelho. Não para ver o passado como um museu, mas como parte viva da nossa identidade — feita de partidas, perdas, lutas e, sobretudo, de reinvenções.

Que este livro sirva como um tributo à coragem anônima dos que vieram antes. E que os seus rastros e pegadas na terra vermelha nunca se apaguem.

Dr. Luiz C. B. Piazzetta

terça-feira, 29 de julho de 2025

La Stòria de Domenico Scarsel


La Stòria de Domenico Scarsel


Domenico Scarsel, un contadin ùmile de le pitoresche coline de la region de Belùn, 'nte l'Itàlia, vivea incatenà ai strasi de 'na vita che no ghe dava pì speransa. Le coline che 'na olta pareva un rifùgio sicuro e caloroso, adesso se zera trasformà in un quadro malincónico de sterilità e mancansa. Le forse invisìbili de la povertà, come un vento incessante che no'l smete mai de sofiar, ghe sospingeva via da la casa dei so antepassà. I so òci, fondi e strachi, rifleteva la strachezza de chi ga lotà sensa respiro contro 'na tera che ormai no ghe rendeva pì niente.

Da zòvene, le so man, indurì e ruvide dal peso de la zapa e del aratro, gavea cavà da la tera ogni grano de sostegno. Ma el teren, che 'na volta el zera generoso, el se ga trasformà in 'na superfìsie àrida, incapase de nutrir la so famèia. Lucia, la so mòier, la se sforsava in silénsio par tegner viva la armonia del lar, mentre i tre fiòi i zera el ritrato vivo del contraste tra inocensa e mancansa. Angelo, el pì vècio, scominsiava a portar el peso de responsabilità pì grando de quel che podesse soportar; Catarina, de nove ani, gavea da man a la mare ´ntele fassende de casa, ma speso vardava le coline con un mescoio de curiosità e tristessa; e Giuseppe, con so quatro ani, lu el zera l’ùnica fiameta de gioia in quela casa segnata da la lota de ogni zorno.

L’Itàlia, con la só rica stòria e i paesagi incantèvoli, pareva gaver renegà Domenico. El paese che lu e i so antepassà gavea sempre ciamà “casa” adesso no el zera altro che 'na prigionia de dificoltà insuperàbili. Ogni matina portava la stessa preocupassion: come sfamar la famèia? Come protègerla da un futuro inserto che pareva rivàr come 'na tempesta inevitàbile? La promessa de 'na nova vita in tere lontan ghe incominsiava a germoliàr ´ntel so cuor, anca se la scelta la zera impregnà de paura e sacrifìssi.

La decision de emigrar no la ze sta mia fàssile par Domenico Scarsel. Le note sensa sònio, segnalà dal silénsio opressivo de ‘na casa semplice, zera pien dei so pensieri inquieti. Lucia, sentà visio al fogolar quasi spento, lei cusea remendi su vestiti già consumà, mentre la luse tremolante de ‘na làmpada ghe iluminava solo a metà l’espression tesa del so òmo. Lu ghe pensava ai rischi de traversar el vasto Atlàntico verso ‘na destinassion sconossiuta, ndove le promesse de speransa se scontrava con stòrie de perìcoli e delusion.

El timor del sconossiuto no el zera l’ùnico peso ´nte’l so cuor. Domenico sentiva ‘na colpa come un spìn fisso, che ghe tormentava par aver rischià tuto quel che gavea la famèia – anche se poco. Portarli via da l’Itàlia, l’ùnico posto che i gavea conossiù, ghe pareva ‘na tradission a le si radise. Ma quali radise? La tera che doveva sostegnerli se zera trasformà in un peso. Dopo ani de guere par l’unificassion e la formazione del novo Regno d’Itàlia, el paese se trovava devastà. I contadin, come Domenico, sofregava i efetti de politiche disiguali che favoriva i richi proprietari e lassiava i pìcoli agricoltori in bàlia de la fame e del abandono.

El teren che lu coltivava con fatica no rendeva pì quel che bastava. L’Itàlia, divisa par sècoli, se era unì politicamente, ma i so fiòi più poveri i restava separà da le promesse de prosperità. Le tasse alte, i afiti esagerà e la competission par le tere fèrtili rendeva impossibile la sopravivensa. La fame zera ‘na presensa constante su le tole ùmili, e anca la speransa pareva aver lassà ste coline che ‘na volta le zera tanto pitoresche.

Anca cussì, le carte dei quei che i ga già partì gavea portà un filo de luse in meso a la scurità. El Brasile el zera descrito come ‘na tera de oportunità, ndove la tera fèrtile se stendeva in vastità quasi inimaginàbili. I racolti, come diseva la zente, i zera generosi, e el laoro duro el zera ricompensà con dignità. Ste parole ghe risuonava ´nte’l cuor de Domenico come ‘na melodia lontan, sveiandoghe ´na mescola de speransa e dùbio. Intanto che Lucia ghe dava i ùltimi punti a un mantel remendà par la tersa olta, Domenico vardava i fiòi che i dormiva. El savea che la decision no podea pì aspetar. No el zera solo ‘na scelta par un novo scomìnsio, ma par la loro sopravivenza. El Atlànticolu el zera vasto e spietà, ma restar el zera come aspetar la morte.

‘Na matina freda de novembre, mentre l’autuno colorava le coline de Belùn de oro e rosso, Domenico i ga fato l’anùnsio a la famèia.
“Andaremo in Brasile”, dise lu, con voce ferma nonostante el nodo in gola. Lucia ghe assentì in silénsio, nascondendo le làgreme drio a ‘n soriso forsà. I fiòi, sensa capir del tuto l’importansa de sta decision, ghe reagì con curiosità e un toco de entusiasmo de fiòi.

I preparativi zera svelti, ma dolorosi. La vendita de strachi, mòbili e anca el orològio de scarsea de Domenico, ‘na eredità del nono, ghe servia par pagar i bilieti del viaio. Ogni adio con parenti e visin i zera segnà da abrassi lunghi e làgreme tratenute. “Porté via la nostra benedission”, dise el pàroco locae, dando a Domenico ‘na pìcola imagen de Sant’Antonio par proteierli durante el viaio.

Finalmente, a l’inìsio de zenaro, la famèia ghe salì su ‘n treno pien che i portò fin al porto de Génova.
I fiòi zera incantà da la novità, ma Domenico e Lucia i sentia el peso del adio in ogni chilometro percorso. Quando lori i ga rivà al porto, i restò sbalordì da la grandessa del barco che i aspetava: un gigante de ferro con i camini che butava fumo su’l celo nuvolà.

El imbarco el zera ‘na mescola de caos e speransa. Sentinaia de emigranti i zera amassà sui ponti, portando valìsie de legno e soni pì grandi del ossean che i dovea traversar. Intanto che el barco salpava, Lucia ghe strinse forte la man a Domenico, e finalmente le làgreme ghe scominsiò a scender. Lu ghe strinse la man in ritorno, sussurrando: “Noi ce la faremo. Par lori”, vardando i fiòi che se stava streti, curiosi e pien de ànsia.

In quel momento, l´Itàlia sparìa all’orisonte, ma l’imagine de le so coline a Belun restava viva ´ntela memòria de la famèia, un ricordo constante del lar che gavea lassà e del coraio che li spingeva verso lo sconossiuto.

La via verso el Brasile la zera tuto, meno che fàssile. A bordo del vapor pien, Domenico e la so famèia i ga afrontà ‘na sèrie de prove che metea a dura prova no solo i corpi, ma anca el spìrito. El barco, che parea imponente stando fermo al porto de Génova, se rivelò un labirinto claustrofòbico apena i ga salpà. Le condission insalubri no gavea lassià spasi a ilusion de conforto: l’ària zera pesante con el odor de sudor, umidità e magnar in decomposission, e i stivi ndove i emigranti zera sistemà somiliava pì a cele improvisà che a spasi par èsseri umani.

El magnar, distribuito con parsimónia, malamente bastava a mantegner vivi i passegieri. I zorni sul mar, che se alungava in monotonia opressiva, zera segnà da scopi de malatie che se spargea come el fogo in la pàlia seca. I fiòi e i veci zera i pì vulneràbili, e ogni tosse o febre la zera un presàgio de tragèdia. Domenico, sempre atento, ghe faceva tuto el posibile par proteger la so famèia, ma ghe zera dei limiti a quel che un òmo podea far in un ambiente così ostile.

Dopo setimane de tormento, vardar el porto de Santos dovea èssar un momento de solievo, ma la realtà la zera diversa. El sbarco ghe portò ‘na nova ondata de dificultà. La Casa de Imigrazione, ndove i zera porti, pareva pì ‘na fortessa austera che un rifùgio caloroso. Le pareti, frede e ùmide, ghe serbia i echi de sentinaia de vose — speranse e paure mescolà in un coro sensa risposta. I leti improvisà, fati de legno ruvìo, no zera miliori del pavimento del barco. La strachesa e l’incertesa ghe se stendeva come ‘na ombra su tuta la zente nova che i ga rivà.

Ze sta lì, in quel posto che dovea èssar ‘na porta par un futuro mèio, che Domenico patì la pérdida pì devastante. So pare, el nono Sisto, se gavea siapà da febri che se spargeva come ‘na piaga invisìbile. El vècio, che zera sta el pilastro de la famèia in Itàlia, el ga afrontà el viaio con coraio, ma el corpo indebolì no ghe resistè a le aversità. El adio el zera sta velose e sensa serimònie, segnà solo dal peso del dolore e dal’impotensa davanti a la situasione.

La morte de Sisto gavea scosso profondamente la famèia, lassando un vuoto che no se podea colmar. Par Domenico, quel momento el zera ‘na prova crudele de la sua determinassion. Fra i singhiosi sofocà de Lucia e i sguardi spaventà dei fiòi, el sentìa la responsabilità de restar forte, de portar avanti la fiama de speransa che pareva stava per spegnersi. No i podea tornar indrìo — el costo del viaio gavea consumà tuto quel che i gavea. E cussì, anca con el cuor pesante e i òci ancora pien de làgreme, Domenico el ga fato l’ùnica scelta possìbile: ndar avanti. La tera che sercava, credeva lu, zera ancora ‘na speransa de novo scomìnsio.

La fasenda, con i so vaste piantaion de cafè, la zera gestì con rigore e stratègia dal Comendador Aurélio, un òmo de origini portoghesi che gavea fato fortuna ´ntel comèrssio prima de investir in tera. Domenico restò colpì da la grandiosità del posto: coline coerte de piante de cafè in fila come soldà in formasione, strade bordà da aranci e limoni, e un pìcolo fiume che forniva aqua a un molino.

La casa de legno ndove i Scarsel i zera stà sistemà la zera semplice, ma funsional. Con quatro camere, ‘na cusina con el forno e tègole rosse de terra cota, la residensa la zera ‘n sìmbolo de modèstia e sicuresa. Domenico, però, no se fasea ilusion. El laoro el zera stracante, e i guadagni modesti. El primo compito el zera de siapar via l’erba grossa che cresseva in meso ai piè de cafè, ‘na fatica che consumava ore e dava poco fruto.

Anca cussì, el comendador el mostrava rispeto par i coloni. El dava carne de porco ogni setimana, distribuiva porsioni generose de grasso par far condimento, e zera conossiuto par far in modo che nissuna famèia la passasse fame. El sabo, la fasenda se trasformava in sentro de incontro, con bali e canti che mescolava italiani e brasiliani in momenti rari de contentessa e spasso.

Domenico presto se acorse che el Brasile el zera ‘na tera de contrasti. Mentre la fertilità del tereno gavea racolte abondanti, el isolamento e la nostalgia de l’Itàlia la zera pesi costanti. Lucia, con la sua devossion religiosa, la sentiva la mancansa de la cesa e de le feste de comunità che le zera parte de la sua vita in Itàlia. La distansa da la sità e le messe poco regolari aumentava la sua malinconia, ma lei trovava forsa ´ntel curar l’orto e i fiòi.

Angelo, el più vècio, el diventò ‘na mano pressiosa par el pare, imparando in freta le tècniche de coltivassion e de conservassion del gran de mais. Catarina, con la sua curiosità da fiola, la se incantava con le nove viste e con la fauna locae. Giuseppe, el pì pìcolo, el zera la contentessa de la famèia, che coreva par i campi e esplorava el novo mondo con i òci che lusea de meravìlia.

Con el tempo, i Scarsel i ga scominsià a prosperar. Domenico imparò a gestir el cafè e a sfrutar al massimo i risorsi naturai. Lucia coltivava erbe e verdure che ‘ndava a completar la dieta de la famèia. Nonostante le dificoltà, i Scarsel i conquistò el rispeto dei altri coloni e anca del comendador stesso.

In ‘na carta scrita al professore che el gavea lassà in Itàlia, Domenico el scrisse:
Qua, in sta tera strana, gavemo trovà molto pì che dificoltà; gavemo trovà anca oportunità. Anca se la nostalgia fa mal come ‘na ferita profonda, el laoro dà senso a noialtri, e la speransa dà forsa. Semo a piantar no solo cafè, ma anca el futuro de la nostra famèia.”

I Scarsel i costruì un lar in tere lontan, afrontando sfide che ghe ga siapà coraio e resiliensa. La sua stòria, come quela de tanti emigranti, la ze un tributo a la forza del spirito umano e a la capacità de trasformar i sòni in realtà, anca ´nte le condisioni pì dure.

Nota del Autor

"La Stòria de Domenico Scarsel" la ze un raconto vero con nomi inventà, profondamente ispirà a le stòrie vere de miliaia de emigranti italiani che ga traversà l’Atlàntico a la fin del XIX sècolo, in serca de ‘na nova vita in Brasile. La narassion la segue Domenico, un contadin ùmile de le coline de Belùn, e la sua famèia, che afronta dificultà inimaginàbili ´nte la so tera, agravà da le guere de unificassion de l’Itàlia e da le condission economiche oprimenti de quei ani. Sto pìcolo riassunto del libro ofre un sguardo su le lote e i conquisti de sta via èpica.

La stòria no la parla solo de sopravivensa fìsica, ma anca de la forsa del spìrito umano, de la resiliensa davanti a la pèrdita e de la speransa che spinge le persone a sercar un futuro mèio, anca davanti la adversità che pare impossìbili da superar. Mentre Domenico e la sua famèia i afronta el dolore, le malatie e l’incertessa de ‘na tera straniera, i trova anca momenti de solidarietà, coraio e rinovassion.

Atraverso le so esperiense, spero de onorar la memòria de tute quei che, come Domenico, i ga avuto el coraio de soniar e de ricostruir la pròpria vita in tere lontan. Sto libro el ze un tributo ai pionieri e a le so stòrie de sacrifìssio e speransa — stòrie che continua a rissonar tra le generassion.

Dott. Luiz C. B. Piazzetta


terça-feira, 8 de julho de 2025

La Promessa de un Novo Orisonte

 


La Promessa de un Novo Orisonte


Inte 'na frasion quasi desmentegà, ciamà Alberoro, ´ntel comune de Monte San Savino, con solo ‘na dùsia de case de legno, ´nte le vale mosse de la Toscana, ´ntel ano 1884, le parole su la "Mèrica" le comandava le piasse e le incontri de famèia. Piero Galvani, un omo de 36 ani, ascoltava atento le stòrie contà dopo la messa de doménega su la piasseta da qualche vissin che gavea recivuto lètare de l’Argentina o dal Brasile. Se disea che ste tere le zera ‘na sorta de paradiso, con l’oro che corea ´nte l’aqua de i fiumi e le coltivasion che le vegnia su par conta soto un sole generoso.

Piero el zera un contadin modesto, sposà con Francesca De Martino, ‘na dona risoluta e forte. Gavea quatra fiòi: Emilio, de 12 ani, che zà dava ‘na man al pare ´ntel campo; Giulia, de 10, che soniava e zera pratica con aghi e fil; Antonio, de 7, sempre curioso e pien de domande; e el pìcolo Luca, che gavea solo 2 ani. La vita ´nte la Toscana la zera dura in quei ani. Le tere la zera pòvere, i le tasse del goerno le zera pesà e la famèia Galvani no gavea quasi gnanca par magnar. La fame la zera ´na compagna frequente. 

Quando el zio de Piero, Domenico Galvani, el ga scrito dal Brasile contando de le terre fèrtili e de i stipendi pagà in oro, Piero e Francesca i ga scominsià a pensar a quel che pareva impossìbile: partir anca lori, seguendo la gran onda de compatrioti che, dal 1875, lassava tuto par inseguir ‘na nova vita de là dal mar.

Francesca la zera in dùbio. Lassar l’Itàlia vol dir lassar tuto quel che lori gavea: la léngoa, le tradission. Ma Piero el savea che no gavea altra strada. ´Nte ‘na sera freda de fin novembre, con el vento che urlava ´nte le finestre, el ghe dise:
"Francesca, ze adesso o mai pì. Se restemo qua, no gavemo futuro. Se ´ndemo, podemo dar ai fiòi ‘na vita che manco soniemo".
Con le làgreme ´ntei òci, Francesca la gavea deto de sì. Lori i vendè tuto quel che gavea: i mòbili, la vècia mula, anca i piati. ´Ntel marso 1885, lori i se imbarcò dal porto de Genova sul vapor "Principe de Asturias", con el rumo Brasil.

El viaio el ze stà un calvàrio. Par 33 zorni, i ga patì tempeste, mal de mar e la monotonia del oceano. Luca, el picinin, el se ga becà ‘na febre, e Francesca ghe stava drio note e zorno. Nonostante tuto, Piero el manteneva viva la speranza, racontando ogni sera ai fiòi stòrie su le tere che i ghe aspetava.

Lori i ze rivà al porto de Santos un zorno de piova. La visione del molo, pien de emigranti, lavoratori e mercanti, la zera insieme spaventosa e stimolante. Dopo qualche zorno de atesa, i gavea imbarcà en un altro navio che ghe portò a sud ´netta provínsia de Rio Grande do Sul. Finalmente, lori i ze rivà al porto de Rio Grande, el 13 maggio del 1888, el stesso zorno de la stinsion de la schiavitù lin Brasile.

I Galvani lori i ze mandà in ‘na colónia ´nte ‘na zona de foresta densa, ciamà Colónia Dona Isabel. Ogni famèia e ga comprà, con rate interminabili, un bel toco de tera, ma tuto in meso al bosco. La prima impresa la zera de taiar le grosse àlbari. Piero e Emilio lori i laorava sensa sosta, taiando e preparando la tera par seminar formento, granoturco e fasòi, mentre Francesca curava i fiòi e anca ghe dava ´na man al marì.

Le sere le zera longhe e difìssili. Giulia, che ghe mancava tanto la nona e i cusini, la piansava pian par no preocupar i genitori. Antonio el ghe domandava sensa fin su le bèstie e i rumori del bosco. E Francesca, nonostante la so forsa, ogni tanto la disea piano:
"Se trovassi Cristoforo Colombo, el pagaria caro par aver scoprì sto posto".
Dopo ani de fatiche, la famèia la ga scominsià a veder i fruti del so lavoro. La prima racolta la zera poca, ma zera bastansa par sopraviver. Piero el gavea costruì ‘na pìcola cantina, ndove el fasea el vin con le prime ue. El vin el divene conossesto tra i coloni, e i Galvani i ga scominsià a farse un nome.

´Ntel 1892, Emilio, che gavea 19 ani, el se sposò con Teresa Benvenuto, ‘na tosa de ‘na colónia vissina de Caxias. Insieme, i ga ingrandì i vigneti de la famèia, piantando nove varietà de ue portà de l’Italia. Antonio, sempre curioso, el diventò un bravo marangon, fasendo mòbili che i vendea fin a Porto Alegre. Giulia, con la so abilità, lei insegnava altre putele de la colónia, e Luca, el picinin, el zera el contàbile de la famèia.

Piero el morì ´nte el 1912, con 63 ani, lassando un grande esempio de coraio e perseveransa. Francesca la ze vivesto fino al 1925, circondà dai nevodi che ascoltava le so stòrie de l’Itàlia e de la grande traversia del mare che gavea cambià el destino de la famèia. La colónia la fiorì, diventando el comune de Bento Gonçalves, e la cantina de i Galvani la ze incòi ´na de le pì famose de la region.

I dissendenti de Piero e Francesca lori i contìnua a onorar le tradission italiane, ricordando i sacrifìssi de chi ga avuto bisogno de partì tanti ani fa e el coraio che i ga portà ´nte ‘sta nova tera.


Nota de l’Autor


Scrivar La Promessa de un Novo Orisonte el ze stà un viaio sensa tempo ´ndove ve porta in meso a le ànime e ai cuor de chi, come i nostri noni e bisnoni, ga lassà tuto par seguir un sònio. Le parole de sto libro no le ze solo ‘na rievocassion stòrica, ma un tributo a quel coraio, a quei sacrifìssi, e a la grande speransa che le animava ogni gesto e ogni decission de tanti veneti che ga traversà el mar. Le stòrie de Piero, Francesca e de la so famèia no le ze solo ´na cronaca, ma ‘na fotografia viva de le speranse, de le paure e de le scoperte che lori i ga fato ´nte ‘na tera sconossesta. El ze un raconto che ne ricorda de le radise e del pressio del sònio, che spesso le gavea de gran fadighe ma anche de grande sodisfassion. A voi, letori, auguro che ogni pàgina de sto libro ve porti a refleter su le tradission e su la forsa de chi ga fato de l’itineràrio de la speransa un peso de la nostra identità. Sto libro el ze dedicà a tuti quei che ga traversà el mar, e anca a quei che ancora, in altri contesti, cerca un “novo orisonte”.

Con afeto e gratitùdine,
Dr. Luiz C. B. Piazzetta

segunda-feira, 3 de março de 2025

Navios a Vapor e os Emigrantes Italianos


 

Navios a Vapor e os Emigrantes Italianos


No final do século XIX, quando os italianos do norte começaram a emigrar regularmente em massa para o Brasil e outros países americanos, a frota italiana de navegação estava extremamente atrasada em comparação com as de outras nações europeias. Havia pouquíssimos navios de passageiros sob bandeira italiana, o que representava um grande obstáculo para atender à crescente demanda de transporte de imigrantes. Os empresários e armadores italianos, ansiosos para lucrar com o boom da emigração que se iniciava, decidiram recorrer a uma frota envelhecida e obsoleta de cargueiros lentos. Muitos desses navios estavam prestes a ser desmanchados, tendo passado anos transportando carvão e outras mercadorias entre portos europeus.

Esses cargueiros, concebidos para o transporte de cargas, foram adaptados de maneira rudimentar para se tornarem navios de passageiros. Em seus porões fétidos, onde antes eram armazenados carvão e outros materiais, divisórias de madeira foram improvisadas para criar salões amplos, mas de baixa altura. Esses espaços eram escuros e mal ventilados, localizados abaixo da linha d’água, sem acesso à luz natural ou à circulação de ar. A transformação foi feita de forma apressada e inadequada, resultando em condições precárias para os passageiros que seriam forçados a suportar semanas de viagem atravessando o Atlântico.

As instalações sanitárias nesses navios eram insuficientes para todos os passageiros. Baldes de madeira com tampas foram distribuídos ao final de cada corredor de beliches para serem usados como banheiros improvisados. A ausência de qualquer tipo de privacidade ou dignidade transformava essa solução em um desafio humilhante e insalubre. A falta de água potável também era um problema crônico. Reservatórios de ferro revestidos com cimento eram utilizados para armazenar água, mas rachaduras no revestimento faziam com que a água entrasse em contato com o ferro, causando ferrugem conferindo à água uma cor escura e um gosto metálico forte e desagradável. Os passageiros eram obrigados a consumir essa água, muitas vezes contaminada, que se tornava uma das principais causas de doenças a bordo.

Os beliches de madeira eram montados em três ou quatro níveis, empilhados uns sobre os outros para maximizar o espaço. Cada passageiro tinha direito a um pequeno espaço para se deitar, dividido com outros imigrantes em condições igualmente precárias. O calor e o mau cheiro de dejectos  humanos e corpos mal lavados eram sufocantes, agravados pela ausência de ventilação. Em dias de tempestade, os porões se tornavam armadilhas perigosas, onde os passageiros eram sacudidos pelas ondas sem chance de fuga. Muitos adoeciam devido à combinação de alimentos estragados, água contaminada e falta de higiene.

No final da década de 1880, a frota italiana começou a receber novos navios mais adequados para o transporte de passageiros. Embora maiores e tecnologicamente superiores aos cargueiros adaptados, esses navios ainda apresentavam condições deploráveis para os passageiros de terceira classe. A estrutura básica melhorou ligeiramente, com espaços um pouco mais amplos e a introdução de algumas ventilações artificiais. Contudo, os porões continuavam sendo usados como alojamentos para os imigrantes mais pobres, a chamada 3ª classe, que constituíam a maioria dos passageiros.

Os novos navios eram projetados para transportar o maior número possível de pessoas, frequentemente excedendo a capacidade recomendada pela legislação do porto, as quais eram burladas pela conivência de fiscais corruptos. As condições de superlotação transformavam esses espaços em verdadeiros caldeirões de doenças. Epidemias de cólera, tifo e sarampo eram comuns, e a falta de assistência médica a bordo significava que muitos passageiros sucumbiam antes de chegar ao destino. Os corpos das vítimas eram frequentemente jogados ao mar, em cerimônias breves e tristes que reforçavam a fragilidade da condição humana diante das adversidades da travessia.

Embora os novos navios tivessem cabines mais confortáveis para os passageiros das classes superiores, os imigrantes de terceira classe continuavam a enfrentar situações desumanas. As instalações sanitárias melhoraram apenas marginalmente, e os baldes de madeira foram substituídos por sanitários comunitários rudimentares, que frequentemente transbordavam devido ao uso excessivo. A água potável continuava sendo um problema crônico, apesar dos avanços na construção dos reservatórios.

A vida a bordo era marcada por uma monotonia opressiva, interrompida apenas por tempestades ou emergências médicas. Muitos passageiros passavam os dias sentados no deck superior ou deitados em seus beliches, sem espaço para se mover ou atividades para ocupar o tempo. Alguns tentavam distrair-se cantando, rezando ou compartilhando histórias de suas terras natais e esperanças para o futuro. No entanto, a saudade e a incerteza pesavam sobre todos, criando um clima de melancolia e resignação.

Apesar de todas essas dificuldades, os imigrantes italianos viam na travessia uma chance de escapar da miséria e buscar uma vida melhor nas Américas. Muitos haviam vendido tudo o que possuíam para pagar pela passagem, embarcando nesses navios com uma mistura de medo e esperança. Para eles, cada onda enfrentada no mar representava um obstáculo rumo a um futuro incerto, mas potencialmente promissor.

Assim, os navios que transportaram os primeiros imigrantes italianos para o Brasil tornaram-se símbolos de resiliência e sacrifício. Apesar das condições subumanas, eles desempenharam um papel crucial na história da emigração italiana, levando milhões de pessoas a atravessar o Atlântico em busca de novas oportunidades e uma vida digna.



sábado, 8 de fevereiro de 2025

Relação de Passageiros Italianos Desembarque no Porto do Rio de Janeiro ano 1889


 

NAVIO PACIFICA

RELAÇÃO DE PASSAGEIROS ITALIANOS 
DESEMBARQUE NO PORTO DO RIO DE JANEIRO 
24 DE MARÇO DE 1889


nº de Ord.
SobrenomesNomeIdadeest.civilnac.ProfissãoData de chegadaData de saidaDestino

5333
PegorariAchille50viuvoItalianoOleiro24.03.188930.03.1889São Paulo
5334PegorariErnesto23solt.ItalianoOleiro24.03.188930.03.1889São Paulo
5335PegorariEurico19solt.ItalianoOleiro24.03.188930.03.1889São Paulo
5336BosiLuigi47cas.ItalianoOleiro24.03.188930.03.1889São Paulo
5337BosiMaddalena40cas.ItalianoOleiro24.03.188930.03.1889São Paulo
5338BosiCarlo15solt.ItalianoOleiro24.03.188930.03.1889São Paulo
5339GianfreItalo38cas.Italianojornaleiro24.03.188930.03.1889São Paulo
5340GianfreTereza40cas.Italianojornaleiro24.03.188930.03.1889São Paulo
5341GianfreRomeo8xItalianojornaleiro24.03.188930.03.1889São Paulo
5342GianfreBradamante3xItalianojornaleiro24.03.188930.03.1889São Paulo
5343GianfreBinaldo6xItalianojornaleiro24.03.188930.03.1889São Paulo

5344PedrazziCirillo55cas.Italianooperario24.03.188913.03.1889São Paulo
5345PedrazziAntonia34cas.Italianooperario24.03.188913.03.1889São Paulo
5346PedrazziTereza2xItalianooperario24.03.188913.03.1889São Paulo
5347FrancesconDomenico37cas.Italianoagricultura24.03.188930.03.1889São Paulo
5348FrancesconT. Carolina30cas.Italianoagricultura24.03.188930.03.1889São Paulo
5349FrancesconGirolamo7xItalianoagricultura24.03.188930.03.1889São Paulo
5350FrancesconGiuditta6xItalianoagricultura24.03.188930.03.1889São Paulo
5351FrancesconRoza3xItalianoagricultura24.03.188930.03.1889São Paulo
5352MarchettoGiovani61cas.Italianoagricultura24.03.188930.03.1889São Paulo
5353MarchettoLucia54cas.Italianoagricultura24.03.188930.03.1889São Paulo
5354BoscatoBortolo42cas.Italianoagricultura24.03.188927.03.1889Volta Redonda
5355BoscatoLuigia42cas.Italianoagricultura24.03.188927.03.1889Volta Redonda
5356BoscatoElisa15xItalianoagricultura24.03.188927.03.1889Volta Redonda
5357BoscatoPierina13xItalianoagricultura24.03.188927.03.1889Volta Redonda
5358BoscatoAngelo11xItalianoagricultura24.03.188927.03.1889Volta Redonda
5359BoscatoRoza10xItalianoagricultura24.03.188927.03.1889Volta Redonda
5360BoscatoAgostino7xItalianoagricultura24.03.188927.03.1889Volta Redonda
5361BoscatoCarlo3xItalianoagricultura24.03.188927.03.1889Volta Redonda
5362BoscatoCecilia8xItalianoagricultura24.03.188927.03.1889Volta Redonda
5363SambinMassimiliano22solt.Italianoagricultura24.03.188930.03.1889São Paulo
5364SambinModesto44cas.Italianoagricultura24.03.188930.03.1890São Paulo
5365SambinMaria35cas.Italianoagricultura24.03.188930.03.1891São Paulo
5366SambinAngela11xItalianoagricultura24.03.188930.03.1892São Paulo
5367SambinRomana8xItalianoagricultura24.03.188930.03.1893São Paulo
5368SambinLuigia2xItalianoagricultura24.03.188930.03.1894São Paulo
5369CavallettoAntonio40cas.Italianocarpinteiro24.03.188930.03.1895São Paulo
5370CavallettoElisa40cas.Italianocarpinteiro24.03.188930.03.1896São Paulo
5371CavallettoRomano16xItalianocarpinteiro24.03.188930.03.1897São Paulo
5372CavallettoArtura14xItalianocarpinteiro24.03.188930.03.1898São Paulo
5373CavallettoAdele6xItalianocarpinteiro24.03.188930.03.1899São Paulo
5374CavallettoZaira4xItalianocarpinteiro24.03.188930.03.1900São Paulo

5375CavallettoBeatrice2xItalianocarpinteiro24.03.188930.03.1900São Paulo
5376CavallettoAgostino2xItalianocarpinteiro24.03.188930.03.1900São Paulo
5377TimbolatoAntonia47viuvaItalianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5378TimbolatoLuigi21xItalianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5379TimbolatoAgataxxItalianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5380BullianiValentino60cas.Italianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5381BullianiRoza54cas.Italianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5382BullianiCatterina23solt.Italianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5383BullianiMaria20solt.Italianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5384BullianiPietro17xItalianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5385BullianiAngela14xItalianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5386BullianiOsvaldo24solt.Italianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5387LucconVincenzo38cas.Italianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5388LucconLuigia32cas.Italianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5389LucconAngelo7xItalianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5390LucconMaria2xItalianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5391LucconGino1xItalianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5392FachiniPiertro53cas.Italianoferreiro24.03.188930.03.1900São Paulo
5393FachiniLuigia47cas.Italianoferreiro24.03.188930.03.1900São Paulo
5394FachiniPresidio15xItalianoferreiro24.03.188930.03.1900São Paulo
5395BordignonIginno27solt.Italianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5396SaraiPietro26solt.Italianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5397BordignonAugusto29solt.Italianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5398De ZottePo--te17solt.Italianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5399FinelliCamillo23solt.Italianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5400MigliLuigi43solt.Italianoagricultura24.03.188930.03.1900São Paulo
5401CanniGiuseppe17xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889São Paulo
5402LingossiAttilia33solt.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889São Paulo

5403PalladiniGiuseppe51viuvoItalianoagricultura24.03.188931.03.1889São Paulo
5404PalladiniMaria10xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889São Paulo
5405PalladiniPaolo7xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889São Paulo
5406PalladiniPasqua6xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889São Paulo
5407PalladiniStefano4xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889São Paulo
5408PalladiniAntonio1xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889São Paulo
5409Dal BelloBeniamino37solt.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889São Paulo

5410ESPANHOL
5411Conte AugustoGiusto32solt.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5412Conte AugustoRoza30cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5413Conte AugustoLuigia Regina7xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre

5414Conte AugustoMª Tereza3xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5415Conte AugustoVirgilio Vitorio1xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5416Conte ValentinoGeremias34cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5417Conte ValentinoAntonia26cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5418Conte ValentinoFelice8mxItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5419Conte GremiaFu Valentino69cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5420Conte GremiaMª Tereza70cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5421Conte GremiaAntonio45xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5422Conte GremiaMartino40xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5423PasquinoliGiuseppe41cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5424PasquinoliMargheritta38cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5425AndorniAnna31solt.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5426GuglielmoniTereza41viuvoItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5427GuglielmoniPasqualini Paolo41cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5428GuglielmoniRoza36cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5429GuglielmoniMaria15xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5430GuglielmoniAlessandro8xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5431GuglielmoniCarlotta3mxItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5432SardiLuigi41viuvoItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5433SardiGiuseppe14xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5434BrunelliVincenzo34cas.Italianoagricultura24.03.188915.04.1889Porto Alegre
5435BrunelliLaura20cas.Italianoagricultura24.03.188915.04.1889Porto Alegre
5436BossoniBazilio32solt.Italianoagricultura24.03.188915.04.1889Porto Alegre
5437TrevisanBenedetto35solt.Italianoagricultura24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5438Da PieveGiacomo20solt.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre

5439Da PieveGiovani24solt.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5440ChianditMaria44viuvoItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5441BaranaGaetano17solt.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5442PozeiGiacomo30solt.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5443PozeiBattista54viuvoItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5444PozeiGiuseppina10xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre

5445MariniGiovani42cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5446MariniFrancisca40cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5447MariniCatterina7xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5448MariniAngela12xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5449SampriGuadencio34cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5450SampriSantina32cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5451SampriClementina6xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre

5452SampriSantino5xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5453SampriNovello11mxItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5454ArdigoniAdeodato24solt.Italianoagricultura24.03.188925.03.1889Porto Alegre
5455AllerghiniVincenzo20solt.Italianoagricultura24.03.188925.03.1889Porto Alegre
5456FrancheschiniAmadio32solt.Italianoagricultura24.03.188925.03.1889Porto Alegre
5457ConstantinDomenico49viuvoItalianoagricultura24.03.188925.03.1889Porto Alegre
5458ConstantinGeovanni16xItalianoagricultura24.03.188925.03.1889Porto Alegre
5459Del MistroGiacinto24solt.Italianoagricultura24.03.188925.03.1889Porto Alegre
5460MarinttiAntonio35solt.Italianoagricultura24.03.188925.03.1889Porto Alegre
5461CrossioAndrea37cas.Italianoagricultura24.03.188909.04.1889Parahibina
5462CrossioCarolina30cas.Italianoagricultura24.03.188909.04.1889Parahibina
5463CrossioFerdinando6xItalianoagricultura24.03.188909.04.1889Parahibina
5464CrossioAntonia2xItalianoagricultura24.03.188909.04.1889Parahibina
5465MaisoneCarlo38cas.Italianoagricultura24.03.188909.04.1889Parahibina
5466MaisoneMaria38cas.Italianoagricultura24.03.188909.04.1889Parahibina
5467MaisoneGiuseppe18xItalianoagricultura24.03.188909.04.1889Parahibina

5468MaisoneTereza9xItalianoagricultura24.03.188909.04.1889Parahibina
5469MaisoneAndrea7xItalianoagricultura24.03.188909.04.1889Parahibina
5470MaisoneMaria5xItalianoagricultura24.03.188909.04.1889Parahibina
5471GiarettaPietro37cas.Italianoagricultura24.03.188909.04.1889Parahibina
5472GiarettaClara34cas.Italianoagricultura24.03.188909.04.1889Parahibina
5473GiarettaLuigi8xItalianoagricultura24.03.188909.04.1889Parahibina
5474CavallotteGiuseppe27cas.Italianoagricultura24.03.188909.04.1889Parahibina
5475CavallotteMaria23cas.Italianoagricultura24.03.188909.04.1889Parahibina
5476BrugnezaGiuseppe37cas.Italianoartista24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5477BrugnezaMarina30cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5478BrugnezaAngelo6xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5479BrugnezaEugenio4xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5480BrugnezaUmberto1xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5481BisutiOnorio43cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5482BisutiRoza38cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5483BisutiMaria9xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5484BisutiCarmella7xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5485BisutiVittorioxItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5486VicceliVictore43cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5487VicceliMaria Madd.ª41cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5488VicceliGeivanna10xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5489VicceliP. Pasqua8xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5490VicceliAgnese7xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5491VicceliPietro4xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5492VicceliErnesto4mxItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5493VicceliMaria Tereza36solt.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5494Torre Roccofu Pietro26cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5495Torre RoccoGiulia22cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5496Torre RoccoGiuseppa6xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5497Torre RoccoLuigi2xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5498VicceliAntonio56cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5499VicceliTereza34cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5500VicceliMaria29solt.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5501MalossoAntonio44cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5502MalossoGiovanna40cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5503MalossoGiovanni18xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5504MalossoGiuseppe10xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5505ZanelliGio Tereza70viuvaItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5506MarcasiniAngelo38viuvoItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5507MarcasiniBussalari Isab.e59viuvaItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5508MarcasiniLeone8xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5509MarcasiniPietro22solt.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5510OrsinaLorenzo32cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5511OrsinaRoza40cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5512OrsinaGiuseppe18xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5513OrsinaBattista13xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5514OrsinaGiovani11solt.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5515OrsinaMarianna9xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5516DaghettiLuigi23solt.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5517DaghettiTereza17xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5518DaghettiPalma9xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5519ValleFrancesco24solt.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5520De BastianiGiacoma25viuvaItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5521De BastianiBazilio3xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5522De BastianiMadalena2xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5523De BastianiCatterina2mxItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5524DeottiAngelo41cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5525DeottiTereza34cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5526DeottiGiuseppe15xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5527DeottiGiacomo13xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5528DeottiRozalinda11xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5529DeottiPaolo8xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5530DeottiEurico6xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5531DeottiGiovanna2xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5532DeottiMaria6mxItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5533SilvaniCarlo38cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5534SilvaniLauri Maria32cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5535SilvaniSante7xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5536SilvaniVirginia1xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5537CavagnoliOrsola66viuvaItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5538FassiniFrancesco62cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5539FassiniCatterina59cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5540FassiniAntonio26xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5541FassiniPasqua18xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5542FassiniPaolo15xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5543GrazioliGiacomo37cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5544GrazioliGiovanna31xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre

5545GrazioliLucia13xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5546GrazioliAngelo10xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5547GrazioliGio Andrea7xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5548GrazioliAngela4xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5549GrazioliVirginia2xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5550ViamminiGaspare42cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5551ViamminiVittoria29cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5552ViamminiMaria2xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5553ViamminiS-urandio9mxItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5554ViamminiGhilandi Aless.º27xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5555ViamminiAngela60viuvaItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5556SchiaviniRaffaele29cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5557SchiaviniMaria27xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5558SchiaviniArmelina2solt.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5559SchiaviniGiovani1xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5560TirelliFrancesco53cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5561TirelliBranca18xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5562TirelliGiuseppe16xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5563TirelliSanta Roza15xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5564TirelliEmilio11xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5565TirelliMonica8xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5566TirelliPietro13xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5567TirelliLucia54cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5568SevergniniAgostino34cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5569SevergniniGiuliana28cas.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5570SevergniniGiuseppe10xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5571SevergniniBartolomeo9xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5572SevergniniCarmela1xItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5573SevergniniFrancesco2mxItalianoagricultura24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5574BonatoGiuseppe30solt.Italianoagricultura24.03.188931.03.1889Paraná
5575PelotSacchin Maria51viuvaItalianoagricultura24.03.188926.03.1889Vitória
5576RoveranMaria59viuvaItalianoagricultura24.03.188927.03.1889Macacas
5577RoveranParolo Giovano9xItalianoagricultura24.03.188927.03.1889Macacas
5578RoveranGiuseppina36viuvaItalianoagricultura24.03.188927.03.1889Macacas
5579RoveranEmilia16xItalianoagricultura24.03.188927.03.1889Macacas
5580RoveranConstantin Desiderio9xItalianoagricultura24.03.188927.03.1889Macacas