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sexta-feira, 19 de setembro de 2025

A vida de Carlo Benedetti


 

A vida de Carlo Benedetti

Carlo Benedetti nasceu na vila de Bottonasco, município de Caraglio, uma pequena localidade agrícola na província de Cuneo, no ano de 1893. Os campos áridos da sua infância mal sustentavam as famílias camponesas que ali viviam, e o horizonte parecia sempre fechado, pesado como as montanhas vizinhas. Aos dezessete anos, movido por uma inquietação profunda, convenceu-se de que o destino não poderia limitar-se àquele pedaço de terra ingrata. Cresceu ouvindo falar da América como uma promessa de abundância, e dentro dele germinou a ideia de partir.

A oportunidade surgiu quando um primo distante, Luigi Parodi, regressou brevemente ao Piemonte para visitar parentes. Homem experiente, com trinta anos já passados, prometeu-lhe trabalho nas colinas ou nos vales da Califórnia. A garantia desse parente foi suficiente para que Carlo, mesmo menor de idade, obtivesse o passaporte e embarcasse em outubro de 1910.

A travessia começou no porto de Genova a bordo do transatlântico La Provença. Pela primeira vez Carlo viu o mar aberto, que lhe pareceu infinito. Corajoso pela juventude, não mediu perigos nem incertezas. No navio viajavam centenas de famílias emigrantes, todos pobres, vindos das mais diversas regiões da Europa. Durante os dias, reuniam-se no convés, trocando palavras com outros italianos, ainda que a maioria preferisse permanecer entre os conterrâneos de Caraglio.

A viagem durou dezoito dias, até a chegada a Nova York. Lá, no imponente edifício de recepção de Castle Garden, todos passaram por exame médico rigoroso. Um vizinho de sua terra, de rosto cansado, quase fora barrado: recebeu uma marca de giz na roupa, como se fosse gado, mas conseguiu disfarçar-se e avançar com os demais.

Sem demora, Carlo e os companheiros seguiram de trem rumo à Califórnia. O destino final era San Mateo, nos arredores de São Francisco, onde o trabalho agrícola abundava. As terras eram férteis e generosas: pêssegos, ameixas e uvas cresciam em fileiras intermináveis. Instalaram-se nas vinhas de um grande proprietário, o senhor Miller, cuja fazenda ultrapassava mil hectares. Havia estrangeiros de toda parte: chineses encarregados da cozinha, um capataz iugoslavo, operários alemães e italianos, e dezenas de japoneses contratados para a colheita.

O serviço era duro, mas estável, e rendia trinta escudos por mês. Ainda assim, Carlo buscou oportunidades melhores e encontrou trabalho em uma fábrica de cimento. O salário superava o do campo, mas o corpo pagava o preço. O pó fino impregnava pulmões e roupas, e durante quatro anos suportou aquele ambiente hostil, sustentado pela esperança de poupar o máximo possível.

Foi então que a guerra irrompeu na Europa. Os jornais em língua italiana que circulavam nos bairros de imigrantes anunciaram que os filhos da Itália deviam regressar para defender a pátria. Carlo não hesitou. Embarcou de volta levando consigo o fruto do sacrifício: dez mil liras de economia, conquistadas com a juventude consumida entre vinhedos e fábricas. Enquanto o navio partia em direção ao velho continente, acreditava que aquele não seria o fim do mundo, mas apenas mais um capítulo de uma vida destinada à luta e à resistência.

Quando Carlo Benedetti desembarcou em Gênova, o ar lhe pareceu mais pesado do que lembrava. As ruas, ainda mais miseráveis do que na época da partida, estavam cheias de jovens convocados, de famílias em pranto e de oficiais apressados. A Itália enfrentava não apenas a guerra, mas também as próprias divisões internas.

Carlo, com pouco mais de vinte anos, foi enviado a um regimento do norte. O treinamento era breve, marcado por improviso e por armas insuficientes. A guerra, quando chegou, não se apresentou como aventura heroica, mas como lama, frio e sangue nas encostas íngremes das montanhas do Isonzo. O jovem que atravessara o oceano em busca de futuro agora enfrentava trincheiras onde o tempo se arrastava em silêncio, interrompido apenas pelo rugir da artilharia.

Durante meses sobreviveu a condições que poucos suportariam. A poeira de cimento que impregnara seus pulmões nos Estados Unidos parecia menor diante da fumaça dos obuses. Via homens tombarem ao seu lado sem aviso, e cada noite acreditava que talvez fosse a última.

Quando a guerra terminou, em 1918, Carlo não era mais o mesmo rapaz que partira de Caraglio com sonhos de abundância. Voltou ao Piemonte com a magreza dos que haviam visto a morte de perto, mas também com a firmeza dos sobreviventes. Das dez mil liras que trouxera da América, restava apenas uma parte, consumida por longos anos de incerteza.

Com o fim do conflito, Carlo encontrou a sua terra natal ainda mais empobrecida. Os campos estavam abandonados, e muitas famílias haviam emigrado. Caraglio, antes pequeno mas vivo, tornara-se quase uma aldeia fantasma. Ele mesmo sentiu-se um estrangeiro, incapaz de se reencontrar com as colinas da infância.

A experiência americana voltava-lhe à mente constantemente. Recordava-se das fileiras intermináveis de videiras na Califórnia, do sol dourando os pêssegos e da precisão com que os japoneses colhiam a uva. Recordava também o pó sufocante do cimento, mas até aquele ambiente árduo lhe parecia menos hostil do que a pobreza que reencontrava em casa.

Por um tempo pensou em voltar ao outro lado do Atlântico. Guardava endereços rabiscados em pedaços de papel, contatos de companheiros que haviam permanecido na Califórnia. Mas a guerra lhe roubara não apenas anos, mas também a juventude. A coragem de partir parecia-lhe agora um luxo que já não possuía.

Carlo Benedetti acabou por permanecer no Piemonte. Casou-se com uma jovem viúva da região, herdeira de um pequeno pedaço de terra. Dedicou-se à agricultura, cultivando vinhas modestas, mas sempre narrava aos filhos que, em San Mateo, as videiras eram tão numerosas que se perdia a vista no horizonte.

Aqueles que o ouviam, sobretudo os mais jovens, imaginavam a América como um mundo distante e luminoso. Ele, porém, sabia que também lá a vida exigia sacrifício. Guardava consigo uma convicção silenciosa: a verdadeira herança que podia deixar não era a riqueza acumulada, mas a história de um homem que ousara atravessar oceanos, enfrentar trincheiras e sobreviver a dois mundos.

Quando envelheceu, costumava sentar-se diante das colinas de sua terra e observar o entardecer. Em seu silêncio havia algo de definitivo: a certeza de que vivera mais vidas do que a maioria dos homens de sua aldeia.

Nota do Autor

Os nomes aqui apresentados, incluindo o de Carlo Benedetti, são fictícios. No entanto, a história que sustenta esta narrativa é real. Ela chegou até mim através de relatos preservados por descendentes do protagonista, guardados em arquivos familiares e complementados por registros históricos da época. A escolha de alterar os nomes não diminui a veracidade dos acontecimentos. Pelo contrário: trata-se de um recurso literário que me permitiu reconstruir, com maior liberdade narrativa, a trajetória de um jovem camponês piemontês que ousou cruzar o oceano em busca de futuro, enfrentou o trabalho árduo nas fazendas e fábricas da Califórnia, e foi chamado de volta para lutar nas trincheiras da Grande Guerra. Cada episódio aqui descrito tem raízes em memórias transmitidas entre gerações, documentos de viagem, cartas e testemunhos. O romance apenas entrelaça esses fragmentos em uma linha contínua, procurando dar vida a uma experiência que pertenceu não apenas a um homem, mas a milhares de imigrantes italianos que viveram dilemas semelhantes. Assim, “A Vida de Carlo Benedetti” é mais do que uma história particular: é um retrato coletivo, uma homenagem às vozes que atravessaram oceanos, sobreviveram a guerras e, apesar das perdas, deixaram como legado a coragem de recomeçar.

Dr. Luiz C. B. Piazzetta




quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Lorenzo Beledetti – Un Orisonte ‘Oltre el Mar

 


Lorenzo Beledetti – Un Orisonte ‘Oltre el Mar

Quande Lorenzo Beledetti lu el ze passà via da ‘sto mondo, in na sera calda del 1911, l’ùltima roba che el ga sentì la ze stà el fìscio grosso d’un treno che ‘ndava via da la stassion lì visin. El son el ze passà par la fenestra verta e el si ga smissià con l’odor de tera bagnà che vegniva da l’orto. Za dèbole, el ze lassà portar da la memòria. No de la malatia che lo consumava, ma de ´na vita che la zera scominsià a miliaia de chilometri da là, in un paeseto del Piemonte, ndove le vigne le se ciapava forte ai coli, come se le gavesse paura de cascar zo in val.

Nassù in 1844, Lorenzo el ga cressù in Osasco, in Piemonte, un grupeto de stradete strete, case de piera e campi divisi da muri bassi. L’inverno, seco e taliente, obligava la famèia a stà quasi rintanada, e l’istà el zera tempo de laorar sensa fin in vigneti e campi de formento. Da zòvene, el ga imparà dal pare el mestier de marangon, ma la mancansa de comission e el peso de le tasse rendeva la vita dura.

Le stòrie del Brasile le rivava prima par boca de viandanti che passava par la fiera, dopo par le lètare inzalì mandà da conosenti che gavea traversà el mar. Se parlava de tere larghe, fiumi grossi e sità che se ‘ndava formandose intorno a le ferovie. La resolussion de ‘ndar via la ze stà fata sensa gran parola, dopo la vendita d’un peso de tera e de atresi. A mità del 1871, Lorenzo lu  el ze si imbarcà a Genova in un vapore che portava contadin, operài, famèe e soni.

El viaio el ze stà longo, segnà da febri che se spargeva tra i passegieri e da la monotonia rota solo da tempeste che sbateva el navio come un zogàtolo. Quando el ze rivà al porto de Santos, l’ària ùmida e pesà ghe paré quasi sòlida. Lu el ze ´ndà verso l’interno, mandà a Piracicaba, ndove el ga laorà a far baraconi e ponti de legno par portar via la produssion agrìcola.

Par pì de ´na dècada, el ze passà tra vàrie sità de l’interno paulista — Rio Claro, Itu, Jundiaí — sempre drento a laori ligà a la crèssita de le ferovie. ‘Sto laor de giro ghe ga dado do robe pressiose: qualche soldo e na conossensa profonda de le region che se svilupava pì in freta. La zera ‘sta vista svèia che, in 1885, ghe ga fato meter via i so sparagni in na pìcola proprietà visin de la linea ferata de Sorocaba, a quìndese chilometri de la capital.

El posto el gavea poche costrussion: na casa de taipa, un paiol e un forno rùstego par seràmica. Poco a poco, Lorenzo el ga ingrandì la proprietà, comprando tere visin. Invece de far un ingegno de sùcaro, el ga scielto de piantar cafè, che el scominsiava a diventar na forsa granda de l’economia paulista. Lu el ga piantà anca morari par el crésser del baco-da-seda, na scomessa ardita che ghe portà curiosità ´nte la zona.

In 1889, za ben sistemà, lu el ga mandà a ciamar la so fiola e el zenero par vègnere viver con lu. El zenero, bravo ´nte le robe de comèrssio, el ze diventà sòcio in na pìcola fàbrica de matoni de seràmica. Al prinssìpio del novo sècolo, lori si ga messo in sossietà con un comerssiante luso-brasilian, Manuel Vieira, par modernisar la produssion. Lori i ga scominsià a far matoni idràulici e blochi de teracota, che i forniva a le òpere de le sità visin.

La proprietà, che adesso se ciamava Fazenda Nova Osasco, la ze diventà un nùcleo de atività. Lorenzo el ga tirà sù galponi, el ga fato un pìcolo molin par macinar formenton e lu el ga costruì case par i laoranti. El si ga impegnà a far orti comunitari e, par fermar le piovane forti che vegniva da sù de la ferovia, el ga piantà file de eucalipti. No ghe ze volù tanto tempo che, intorno a la stassion nova e ingrandìa, el ze nassù un paeseto con el so comèrssio.

No contento de se ocupar solo de le robe de negòssi, Lorenzo el ga pagà par far na capela e el ga aiutà a mantegner na scola par i fiòi de imigranti. Lu el ga fato sù anca un sistema de prèstiti informai a contadin apena rivà, permetendo a tanti de se meter in piè con dignità.

Da vècio, ghe piaseva vardar da la veranda de so casa el movimento dei vagon, sentendose parte de qualcosa de pì grande de lu. El vardava ´ntel treno la metàfora de la so vita: un camin che no tornava mai indrio, sempre avanti sù binari sicuri verso destin che no se conossea.

Quando lu el ze morto, ´ntel 1911, el ga lassà no solo tere e imprese, ma anca un quartier che continuava a cresser fin a diventar sità. Incòi, l’Osasco brasilian la bate forte come sentro urbano, ma la porta ancora, ´nte le so ferovie e ´nte le so strade, el segno silensioso d’un omo che el ga traversà el mar par costruir, piera sora piera, un orisonte oltre el mar.

Nota de l’Autor

La stòria de Lorenzo Beledetti no la ze mica solo la stòria d’un omo che el ga traversà el mar; la ze anca el ritrato de mile vite anónime che, come la so, le ga segnà in silénsio el Brasile che conossemo incòi. Par contar ‘sta stòria, no go volù solo meter in fila date, posti e fati. Mi go volù far rivar el respiro umano drìo ogni decision, la solitùdine de le partense, la speransa che stava drento un baule e el laor duro, ripetù zorno dopo zorno, sensa gnanca un sicuro prémio.

Lorenzo el ze un personaio de fantasia, ma la so essensa la ze vera. La ze fata con pesi de lètare, memòria de famèia, registri stòrici e stòrie contàe a canto al fogo. La ze un mestura che mete insieme el coraio del contadin, la vista lunga del imprenditor e la generosità de chi sa che el futuro se fa tuti insieme.

Scrivendo de lu, me son sentì caminar a fianco de tanti imigranti che, quando i sbarcava in porti lontani, i portava con lori no solo strumenti, ma anca tradission, modi de parlar, ricete, gesti e valori che se mescolava con la tera brasilian. In ogni ato de Lorenzo — che sia piantar un eucalipto par fermar l’aqua, far na capela o dar na man a un visin — ghe ze l’eco de un spìrito comunitàrio che no se perde con el tempo.

Par i dessendenti de ‘sti imigranti, che incòi vive in sità construì sora le fondamenta de stòrie come quela de Lorenzo, el me invita de guardar indrìo con orgòio. No come chi serca glòria, ma come chi capisse che la vera eredità la ze fata de laor silensioso, resistensa e amor par el pròssimo.

Che sta stòria no sia solo da leser: che la sia un tornar a casa. Che, voltando ogni pàgina, ti possa sentir l’odor de tera bagnà, el fìscio lontan d’un treno, e capir che, in qualche maniera, sto orisonte oltre el mar el ze anca el to.

Dr. Piazzetta



quarta-feira, 30 de julho de 2025

I Zorni de Tera Rossa


I Zorni de Tera Rossa

Stòrie de sangue, sudor e speransa su ‘na tera nova

La nave la zera partì da Génova soto el manto scuro del inverno del 1877. Al porto, el vento portava un odor de carbon bagnà e pesse màrcio, smissià con el odor de l’aqua ferma e de i corpi che da zorni i no savea pì cossa la zera un bagno. L’imbarco el zera stà lento e ruvìdo, segnà da spintoni e urli dei marinai che tratava i emigranti come carga da stiva. Òmeni e done i entrava in barco con le spale basse e el sguardo sbusà, come se i sentìsse che i gavea da dir adio no solo a la tera natìa, ma anca a ‘na parte de l’ànima so.

Sora el barco, streti tra corde, valise e barili de aqua salmastra, i viaiava ànime mosse no da l’ambission, ma da la urgensa de sopravivar. No ghe zera tra lori esploradori, gnanca soniadori romántici. I zera contadin strachi da la tera, operài cacià fora da le fàbriche, vedove con putèi, veci che preferiva morir fora da l’Itàlia che continuar a mendicar in casa. L’ària i quel fondago la zera grossa, pien de umidità, scremento umano e l’odor àssido de gòmito. Chi che no rivava a siapar un posto su i leti improvisà dormiva sora i sacha de farina, facendo turni de riposo come in ‘na trincera invisìbile.

Tra quei poareti ghe zera Giuseppe Miazani, contadin del Véneto, che portava su el corpo le màrchie de ‘na vita consumà da la fadiga. I diti, duri e storti, pareva de legno. La schena, incurvà da quando che el avea quindese ani, la disea tuto: ´na vita passà tra zape, sassi e solchi sechi. A quarantado ani, no el sperava miràcoli, ma solo ‘na nova oportunità. Ghe zera con la so moièr Teresa, con li oci fondo e la vose smorsà, e con i tre putei che no savea gnanca cossa che i stea lassando drio, ma che lesea su la fàcia dei genitori la gravità de chi che parte sensa saver se torna.

La fame l’avea cacià via da l’Itàlia. No ‘na fame de un zorno, ma ‘na fam longa, sossial, de generassion. La tera del Véneto la zera massa cara, massa streta, e i paroni del grano e del poder no gavea pì uso per zente come Giuseppe — zente sensa tìtoli, sensa schei, sensa studi. El Brasile el lo ciamava con promesse che lu no capiva. I manifesti atacà sui muri de le paròchie disea de tera bona e libartà, ma nisun i lesea ben. Le parole le vegniva ripetù in fiere, smorsade dal’analfabetismo e da la speransa. Promesse scrite su carti timbrà che nisun savea decifrar, ma che pareva mèio che la fame su la pansa, le nove tasse che no se podea pagar, e la umiliassion lenta de inchinarse davanti al usuraro del paese.

La prima note in barco, Giuseppe el ga capì che la traversia no saria stà solo un cambiamento de continente, ma un rito de purgassion. L’aqua da bever zera poca e tiepida, el magnar, ´na polenta, dà come ‘na carità. I sorci combatéa posto con i malà. I pianti dei putei se smisciava con la tosse seca e le preghiere basse. El mar, indiferente, butava onde che strenzea el vapor  e fassea gomitar i pì debòi.

Ma par tuta la scomodesa, el mal de mar, el spavento, Giuseppe el tegneva ‘na convinssion muta — quela traversia la zera l’ùltimo gesto de dignità che ghe restava. Morir in barco, o anca in tera nova, saria almanco morir provando a scampar da ‘na condana a ‘na vita sensa doman. E cussì, con i piè tremanti e l’ànima sospesa, el passava el oceano come miaia e miaia de altri contadin scancelà dal mapa de l’Europa, provando a scrivar con el pròprio corpo el primo paragrafo de un mondo novo.

La traversia la zera stà un lento de se stacar del mondo vècio — no solo geogràfico, ma spiritual. Ogni zorno in alto mar, le robe che prima tegneva in piè la vita — el campanil del paese, l’odor de le stagion, i nomi de le strade e dei santi — i se sfumava come tinta lavà. In fondago, ndove sentene de ànime le se strinseva sora asse mal inchiodà, la traversia del mar la diventava pì che fìsica: la zera ‘na traversia interior, ‘na eroson lenta de l’identità. No zera pì italiani, ma gnanca brasiliani. I zera, par adesso, naufraghi del passà.

Gibraltar, el vapor el ga restà fermo par zorni interi, sensa che gnanca un spiegassion fusse dà. Le autorità del porto controlava el fondago con sospeto, contava teste, guardava carte strasse e timbri smorfi. I emigranti, da la so parte, i vardava el movimento del porto con un sguardo misto de desidèrio e rassegnassion. I òmeni i se sentava sora l’orlo de la nave e i vardava la schiuma del mar come se vardasse un altar. El zera un gesto istintivo, quasi ‘na liturgia: vardar l’orisonte come chi che prega, come chi che prova a contratar con el destin ‘na traversia manco crudele. El silénsio zera assoluto tra i colpi.

Un silénsio che no zera mancansa de rumore, ma la mancansa de tuto che i gavea conossesto: i campanei de cesa, i passi sui ciòdoli, le vosi ´nte le fiere, i canti del tramonto. Tuto quel zera restà drio del mar. Adesso ghe zera solo la boscaia e el tempo — un tempo che pareva muoversi pian, indiferente al straco, a la febre e a la nostalgia. La mata vèrgine no se dava via fàssil.
Lei resistea come un animal ferì, feroce ma muto. No ghe zera sentieri pronti, gnanca righe drite. Ogni metro conquistà zera fruto de setimane de lavoro ripetitivo, duro e pericoloso. Àlbari con diametro de un abràssio bisognava che cascasse prima che na semense tocasse la tera. I manare, ancora sensa el fil giusto, bateva sui tronchi che pareva de piera, e ogni colpo domandava pì che forsa: domandava paciensa, disciplina e ‘na fede strana ´ntel futuro. Quando finalmente i cascava, pareva che parte del mondo vècio cascasse insieme a lori.

La tera, rossa forte, sanguinava quando la vegniva scomodà. Sto baro grosso, che se atacava ai cavìcie e impastava i brassi, tensava tuto quel che tocase — robe, pele, óngie, soni. I strassi de le done se sporcava par sempre; i taloni se sgrepolava soto el peso de la moita dura; le ongie se negava. Ma chel no zera solo sporco. Zera batèsimo. El sigilo bruto de ‘n posto che no voleva coloni — solo sopraviventi.

Con le man feride, i diti taiài dal fil storto del fero e da le spin dei tronchi spacà da poco, e con i piè infià da portar l’aqua in sècie improvisà, Giuseppe el imparò no solo a resistar, ma a trasformar.
El imparò a coltivar formenton e fasòi coi semi passà tra visin con parlar diversi, a segnarse el tempo dei racolti co i sicli de le piove, a riconosser i rumori de la mata come segnali o benedission. El imparò anca a tirar su muri sensa piere, solo baro e pàia seca mescolà con el sudor del matìn e el silénsio del dopopranzo. I baracón cressea da drento in fora, formà pì da l’urgensa che da la tècnica, ma ognidun de lori zera ‘na vitòria contro l’oblio.

La léngua, però, zera ‘na selva ancor pì infasà. Giuseppe no capiva el idioma dei òmeni che lo comandava, no leseva le òrdine atacà su la sede de la colónia, gnanca capiva le ordinanse dei registri agrari. Le parole del potere rivava filtrà da interpreti improvisà, da visin che savea leser, da putei più adatà che i genitori. Zera un governo sensa fàssia, ‘na autorità che stava in alto sui coli, fra carte timbrà e promesse vaghe. E però, anca in quel silénsio obligà, la vita la ‘ndava avanti.

De doménega, con la stessa dignità straca con la qual i netava i òci dei fiòi, Giuseppe e Teresa se meteva dosso le robe manco sporche e montava el sentiero de tera batua fin la ceseta improvisà — un galpon de legna con un crucifisso rùstego e banchi de tronchi spacà.
Quel no zera ‘na cesa. Zera ‘na idea de cesa. Un sìmbolo pì che ‘na casa de fede, un tentativo de refar el sacro in un mondo che zera ancora in costrussion.

Là, soto la luse fioca che passava tra le fessure dei muri, se sentiva ‘na messa mescolà, ndove el latin antico se mescolava con el portughes strassinà del prete cavaler e con i mormori dei coloni che rispondeva in talian, o in dialeti che gnanca i visin capiva.
Ma no importava. Tuti zera confusi uguali, curvà soto el peso de la setimana, unì da la stessa fame, dai stessi dolori, da la stessa speransa. E in quel momento breve, soto el suono dissonante de le léngue e el odor de legna verde, ghe zera un fià — picin, fràgil, ma vero — in meso a la vastità selvàdega del mondo novo.

Le carte zera l’ùnico fil col mondo de prima. In mezo a la boscàia che se magnava le distanse e desfaseva i riferimenti, quel tochetin de carta zera tuto quel che restava de un tempo prima del mar, de la selva, de la tera rossa. No ghe zera pì strade, gnanca segni, gnanca cesete familiari. Ghe restava solo el ricordo, e sto ricordo, par no sparir, bisognava scrivarlo.

A ogni racolto, dopo setimane de laoro tosto e noti mal dormì, Giuseppe se parava un momento, sempre al scuro, sempre straco, par scrivar al fradèo pì vècio, che zera restà in Véneto.
Se sentava su un toco de legno, con ‘na candela che tremava su el fólio bagnà de sudor, e faseva quel che no gavea mai imparà ben: scrivar. Le parole vegniva fora con fadiga, letra dopo letra, come se ogni sìlaba dovesse traversar la resistensa de la strachessa. Frase corte, semplissi, ma càriche de significà invisìbili.

Contava le dificoltà — la febre che gavea tirà via un puteo del visin, l’aqua granda che gavea portà el formenton, la morsicada de serpe che gavea quasi costà la man del fiòl pì picinin.
Ma contava anca le vitòrie, anca se picolete: la carossa nova fata con legna del posto, el primo pan coto in un forno che l’avea costruì con baro cruo e coto, l’arivo de un visin de Trento che portava novità fresche de l’Itàlia e ricordava cansonete che tuti gavea desmentegà. Sti trionfi picinin zera tratà come imprese èpiche. No perché i zera cussì grandiosi, ma perché i simbolisava qualcosa de pì profondo — la lenta, dolorosa ma inevitàbile trasformassion de ‘na vita strapà da le radisa. Ogni carta zera un ato de resistensa contro l’oblio. Un gesto volù de tegner viva la scintila del ricordo, anca quando tuto atorno pareva voler el contràrio. La scritura tremolante, macià da man sporche de tera e cali, mostrava pì che analfabetismo.
La rivelava el sforso fisico e del cuor de un omo che tentava de tegnir insieme do mondi. Da ‘na parte, el Piemonte, con l’òrdine, la léngua, la stòria. Da l’altra, el Brasile — inòspito, fèrtile, incontrolàbile. In mezo, un omo che no zera pì ne uno ne l’altro. Brasilian? Italian? Gnente. Sol coloni.

Sto nome — “colono” — che ´ntei èditi ofissiai voleva dir categoria produtiva, là el gavea ‘n peso diverso. Èsser colono no zera ‘na profession. Zera ‘na condission. Zera viver sospeso tra quel che se zera e quel che mai se savaria èsser. Zera piantar radisa in tera strànea sensa saver se ste radise durava. Zera scrivar carte a chi forse no risponderia mai, solo par ricordarse che ‘na volta se zera stà da un’altra parte, soto un altro cielo,  con un altro nome.

I fiòi cressea con i piè fermi su la tera de la colónia — no par scelta, ma par instinto. Zera come se el corpo, pì in pressa che el pensar, capisse che lì bisognava piantar radise presto, senò se vegneva tirà via da la brutalità del posto. I corea tra i tronchi cascà e le stecadure improvisà con la sicuressa de chi no gavea mai visto el mondo de prima. Par lori, la boscaia, el baro rosso, el odor dolse de la cana fermentà ´nte l’ària calda del mesodì, no zera ostàcoli. Zera paesàgio. Zera casa.

Imparea a leser in portughes, su le tavole grezze de ‘na scola improvisà a canto la ceseta, ndove ‘na maestra zòvene, anca lei fiola de emigranti, insegnava le sìlabe con carbone.
I quaderni zera pochi, el silénsio impossìbile, ma lori imparava. La léngua nova entrava pian pian, come un rivolet che siàpa le sponde, e prendeva forma ´nte le vosi dei putei. Se leseva con l’acento, ma se leseva. Se scriveva mal, ma se scriveva. El idioma de la tera che i gavea acolto, par forsa e par bisogno, se impiantava ´nte le generassion nove con ‘na naturalessa inevitàbile.

Ma in casa, torno al fogo basso e al pan duro, se cantava le canson vècie del nord de l'Itàlia. Cansoni de sposalìssio, de vendemia, de Nadal — imparate dai veci, mormorà da le mare con la ose bassa mentre che impastava la farina o lavava i pani ´ntel rieto. Le parole vegniva in talian, carighe de imàgini che i putei no capiva par intero, ma che i savea a memòria. Zera parole eredà, come el color dei oci o la forma del mento. E in quele parole, anca sensa capir, i sentiva ‘na apartenensa che no se podea spiegar. Zera come recordar qualcosa che no se ga mai vissù, ma che, in qualche maniera, se riconosseva.

El tempo i fasea diventar qualcosa de novo. No i zera pì italiani — la léngua la scampava, le feste tradissionai se perdeva in meso ai calendari confusi dei coloni. E gnanca brasiliani i zera, almanco no par quei che zera nassesto là da generassión, che i ghe vardava storto, come intrusi che parlava strambo e che magnava polenta al posto del fasòi. I zera un’altra roba. ‘Na zente che se stea formando, ancora sensa nome, sensa ‘na stòria scrita, ma con ‘na identità che fasea le prime mosse. ‘Na generassion che no la perteneva a gnente, ma che, par ‘na ironia granda, la metea radise pì fonde de qualunque altra — radise piantà no su ‘na tradission o ‘na pàtria, ma su ‘na resistensa de ogni zorno.

E quele radise, invisìbili ai oci dei governanti e dei nùmari, le se piantava fonde ´nte la tera che prima zera solo bosco — ‘na tera che no zera stà dada, ma che i ga siapà con el badil, con el siénsio e con el tempo.

Ani dopo, quando Giuseppe rivava sora al monte ndove, piere su piere, lu aveva tirà sù con le so man la casa che teneva insieme la famèia, no vardava mia a la ricchessa. Con quei oci consumà dal sol e dal tempo, el vardava la restansa. No ghe zera mia lusso ne le serche che segnava el campo — solo legna grezza, scurìa da la piova e dal caldo. Ma ogni palo piantà ´ntel teren zera ‘n segno: no de proprietà, ma de resistensa. ‘Na prova muda che là, pròprio là, el a deciso de restar, anca quando tuto ghe disea de molar tuto e tornar indrio.

I solchi ´nte la tera, ndove el gran cresseva in filare che se muoveva con el vento, no i volea dir abondansa o bancheto. I volea dir tempo investì con speransa tegnù, come chi che prega sensa saver se el sarà sentì. A ogni stagion, sempre la stessa domanda: el sarà bon? Ma la tera, con el tempo, la gavea imparà a risponder con ‘na generosità cauta. E Giuseppe, anca se el savea che no saria mai diventà rico là, el capia qualcosa de pì fondo — che restar, da solo, iera za ‘na forma de vitòria.

Ogni sicatrisse su le so man — tàia fà dai badili sbusà, cali duri da la corda de la carossa — zera ‘na riga scrita su la stòria muda de quei che zera vegnesto par piantar el futuro là ndove prima ghe zera solo dùbio. No ghe zera libri che contava le so strade. Gnanca un giornal che contasse la fatica del colono piemontese tra i monti sofeganti del sud del Brasile. Ma lu el savea, come con el istinto, che el stéa lassando segni fondi tanto quanto quei del vasor ´nte la tera bagnà.

E la ze sta pròprio sta verità sconta che la ze vegnesta fora in quela lètara scrita in marzo del 1878. El folio, sporcà de suor e tera, el portava al fradèo lontan in Itàlia ‘na nova semplice, quasi seca: “Mi son vivo a Santa Maria Boca do Monte.” 
Nissun fronsolo. Nissun lamento. Nissuna epopea. Solo la verità nuda che lu, Giuseppe Miazani, contadin, pare, imigrante, el zera là — che respirava, che laorava, che spetava. Lu gavea patì la fame, sì. Lu gavea dormì con la paura, sì. Ma lu gavea tirà sù la so casa. Lu gavea seminà el so gran. El ciamava quel toco de tera no pàtria, ma soa.

E questo, par un che el zera partì con le man vode e l’ànima mesa spalancà, zera pì che bastansa.


Nota de l’Autor

I Zorni de Tera Rossa el ze nassesto da ‘na voia profonda de salvar e tegner vive le stòrie de chei che, con coraio e speransa, ga lassà la so tera natìa par costruì ‘na vita nova sora un solo scognossesto. Sto libro el ze ‘na reverensa silensiosa a le generassion de emigranti che, afrontando gran fatiche, i ga trasformà ‘el solo duro in campi fèrtili e ga piantà rade profunde in tere lontan.

Par tuto el camin de ste pàgine, mi go provà a entrarghe drento l’ànima de ‘sti òmeni e done comun, che la vita ghe la ze stà segnada da la fadiga, da la nostalgia che strenza el cuor, e da ‘na fede che no se spalma mai, gnanca con i zorni neri. No se trata mia sol de ‘na crónaca stòrica, ma de ‘na contassion che vol coglier el batito de l’esperiénsa umana – le so alegrie, i so afronti, le so picole-grandi vitòrie.

Speto che l’òpera I Zorni de Tera Rossa spinga chi la lese a tegner caro el ricordo e l’eredità de chi ga fato el presente che viven – un presente che tante volte el resta scondù soto la pòlvare de la stòria. Che sta stòria la possa èsser un invìto a pensar su el senso de pertenensa, de laor e de speransa – robe che serve par metar su ogni doman.

Dr. Luiz C. B. Piazzetta






quinta-feira, 5 de junho de 2025

Horizontes de Esperança

 


Horizontes de Esperança

Marmora, província de Cuneo em 1883

Um romance histórico inspirado enm fatos reais


Giovanni Morandello nasceu em 1883 na pacata vila de Marmora, situada a poucos quilômetros de Dronero, na província de Cuneo. A família Morandello era composta por camponeses humildes, que dependiam da agricultura de subsistência para sobreviver. Giovanni, desde muito jovem, conheceu o peso da responsabilidade. Aos dezesseis anos, seguiu os passos de muitos jovens da região e tornou-se um emigrante sazonal, viajando para a França para trabalhar nas colheitas e economizar o máximo possível.

A vida na casa dos Morandello seguia um ciclo imutável: primavera e verão eram dedicados ao plantio e à colheita nos campos da família, enquanto o inverno levava Giovanni de volta à França, onde enfrentava jornadas árduas no frio intenso. Todo o dinheiro que ele ganhava era entregue aos pais, que o utilizavam para manter a família à tona. Contudo, o passar dos anos trouxe um sentimento crescente de insatisfação e inquietação a Giovanni.

Em 1905, aos 22 anos, Giovanni tomou uma decisão que mudaria sua vida para sempre. Dois conhecidos de Marmora, que haviam emigrado para o Brasil, enviaram cartas cheias de promessas sobre as oportunidades no novo continente. Eles afirmavam que, com trabalho duro, era possível construir um futuro melhor, longe da pobreza e das restrições do Piemonte. Giovanni não hesitou. Conversou com os pais, que venderam uma vaca para financiar sua viagem, e decidiu partir.

Giovanni não viajou sozinho. Na mesma caravana estavam Rosa e Teresa, duas jovens de Marmora. Rosa queria reencontrar o noivo, que trabalhava como pedreiro em São Paulo, enquanto Teresa buscava escapar das perspectivas limitadas oferecidas às mulheres de sua aldeia. Os três partiram a pé em direção a Nice, onde pegaram um trem para Le Havre. Ali, no movimentado porto, embarcaram no navio “La Bourgogne” em uma manhã fria de janeiro de 1906.

A travessia do Atlântico foi tudo menos tranquila. As tempestades de inverno agitavam o mar com fúria, e o balanço constante do navio deixava muitos passageiros debilitados. Giovanni, no entanto, parecia incansável. Ele ajudava Rosa e Teresa quando elas ficavam doentes, mantendo a esperança viva com histórias sobre o que encontrariam do outro lado do oceano.

Ao chegar ai Porto do Rio de Janeiro, o trio passou pelo controle de imigração na Ilha das Flores. Giovanni carregava pouco dinheiro mas sua saúde robusta e disposição para o trabalho o ajudaram a atravessar o processo sem maiores problemas. Após alguns dias na Hospedaria dos Imigrantes, Giovanni seguiu viagem para São Paulo, onde ouviu falar de empregos na construção civil.

São Paulo era um mundo completamente diferente de Marmora. Giovanni ficou fascinado e assustado com o tamanho da cidade, mas não deixou que isso o intimidasse. Trabalhou em várias obras, levantando pontes e prédios que moldariam o horizonte da metrópole. Foi nesse período que conheceu Luigi Bruni, outro imigrante italiano, que lhe falou sobre oportunidades no sul do Brasil. Decididos a buscar melhores condições, Giovanni e Luigi embarcaram em um outro navio no porto de Santos rumo ao Rio Grande do Sul.

No Sul, Giovanni enfrentou os maiores desafios de sua vida. Em Porto Alegre contratado para trabalhar na construção de uma barragem, um projeto colossal em meio à paisagem semi tropical ao lado do rio Guaíba. Em um trágico incidente, uma explosão acidental de dinamite matou dois colegas de trabalho, lembrando Giovanni dos perigos constantes daquele ambiente. Ainda assim, ele perseverou, economizando cada centavo com o sonho de voltar para a Itália.

Mais tarde, Giovanni se juntou a uma equipe de operários que instalava trilhos para a expansão da ferrovia que ligava o Rio Grande do Sul com resto do país. Embora o trabalho fosse exaustivo, ele encontrou conforto no fato de estar ao ar livre, rodeado por montanhas e vastas planícies. Durante as noites, escrevia cartas para sua amada, Maria, que havia prometido esperá-lo em Marmora.

Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, Giovanni decidiu que era hora de retornar à Itália. Com uma pequena economia acumulada, ele embarcou em um navio em direção ao Rio de Janeiro e dali para Gênova. No entanto, ao chegar, encontrou um país devastado pela inflação e pela iminente guerra. O dinheiro que ele havia economizado com tanto sacrifício perdeu rapidamente o valor.

Giovanni voltou a Marmora, onde casou-se com Maria e retomou a vida de camponês. Devido a sequela da ferida em uma das pernas devido a explosão de dinamite na barragem brasileira, ele não foi chamado para servir o exército. Apesar das dificuldades, ele nunca perdeu a esperança. Contava histórias sobre suas aventuras no Brasil para seus filhos e netos, lembrando-os de que a coragem e a resiliência eram as maiores riquezas que um homem podia possuir.


Nota do Autor

A história de Horizontes de Esperança nasceu do desejo de dar voz aos milhares de imigrantes italianos que deixaram suas terras em busca de um futuro melhor no Brasil. Embora este romance seja uma obra de ficção, ele é profundamente inspirado nas experiências reais dos pioneiros que enfrentaram desafios imensuráveis, desde a travessia do Atlântico até a luta por dignidade e progresso em terras desconhecidas.

Giovanni Morandello representa o espírito resiliente de tantas pessoas que, como ele, partiram de vilarejos como Marmora, na província de Cuneo, deixando para trás famílias, histórias e raízes. Ao longo de sua jornada, ele se depara com dificuldades que refletem as condições de muitos imigrantes: trabalhos árduos, a distância de seus entes queridos e a constante busca por um lugar no mundo.

Minha intenção ao escrever este romance foi trazer à tona não apenas as adversidades, mas também a coragem, a esperança e os pequenos triunfos que moldaram essas vidas e ajudaram a construir a história do Brasil. Que esta obra seja um tributo aos sonhos e sacrifícios daqueles que cruzaram oceanos carregando consigo a força de sua cultura e a esperança de dias melhores.

Dr. Piazzetta