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quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Vozes Silenciosas: A Luta das Mulheres no Passado



Vozes Silenciosas 
A Luta das Mulheres no Passado


No passado, o casamento não era uma escolha guiada pelo sentimento, mas uma necessidade prática para garantir a sobrevivência. Por muito tempo, a única forma de uma mulher conseguir um lar seguro, alimento e proteção era através do matrimônio. A ideia de que uma mulher pudesse trabalhar, ter propriedades ou direitos legais era simplesmente inimaginável.

A vida delas girava em torno da tutela masculina: primeiro protegidas pelo pai e, depois, pelo marido. Para aquelas que não se casavam, a situação era difícil. Muitas permaneciam na casa dos pais até quando era possível, e, quando isso não era viável, eram entregues a parentes com melhores condições ou enviadas para conventos — muitas vezes não por uma vocação religiosa, mas por falta de outras alternativas.

O amor não era um fator relevante nesse contexto. O casamento era uma instituição social e econômica, e raramente algo ligado aos sentimentos. Enquanto o amor era tema para poesias e histórias, na realidade, as mulheres eram preparadas para cumprir seu papel de esposas submissas e mães cuidadosas, sem espaço para opiniões ou desejos próprios.

A verdadeira transformação aconteceu apenas com a chegada da Revolução Industrial. Foi nesse período que algumas mulheres começaram a trabalhar fora de casa e a conquistar uma renda própria, alcançando um grau de independência econômica. Isso lhes permitiu, pela primeira vez, viver sem depender totalmente de um homem e até recusar casamentos arranjados.

Cada direito que as mulheres conquistaram foi fruto de batalhas silenciosas, sacrifícios pessoais e muita coragem. Conhecer essa trajetória não serve apenas para valorizar o passado, mas para fortalecer a proteção das conquistas que temos hoje.

A liberdade não é algo que recebemos de presente — é um legado que se constrói com esforço.

Nota do Autor

A história aqui apresentada é mais do que um relato de jornadas e desafios; é uma celebração do papel vital desempenhado pelas mulheres durante o período da emigração italiana. Longe dos holofotes da narrativa tradicional, essas mulheres carregaram nos ombros e no coração o peso das famílias, da terra e da cultura. Enquanto seus maridos e filhos enfrentavam os campos inóspitos e as duras condições de trabalho, as mulheres eram as guardiãs das tradições e da língua materna. Foi na cozinha, no quintal, nas canções de ninar e nas preces noturnas que a língua vêneta encontrou abrigo e continuou a ecoar, geração após geração. Elas preservaram os saberes ancestrais e costuraram com coragem e dedicação a identidade das comunidades. 
A força dessas mulheres não estava apenas em sua capacidade de suportar as dificuldades da vida cotidiana, mas em sua visão de futuro. Ao transmitir valores, histórias e costumes às crianças, moldaram o caráter das famílias e garantiram que a herança cultural vêneta permanecesse viva e vibrante, mesmo em terras tão distantes quanto o Brasil.
Esta narrativa, parte do livro Vozes Silenciosas: A Luta das Mulheres no Passado é um tributo a elas – às mães, filhas e avós – que, com mãos calejadas e corações resilientes, transformaram sacrifício em legado e desafio em história. Que suas vozes sejam sempre lembradas como fundamentais na construção da ponte entre o passado e o futuro, entre a Itália e o Novo Mundo.

Dr. Luiz C. B. Piazzetta

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Fragmentos de Amor: As Histórias de Dona Clara


 

Fragmentos de Amor 

As Histórias de Dona Clara


Em um tranquilo lar para idosos, cercado por árvores frondosas e jardins floridos, uma velha senhora chamada Dona Clara passava suas tardes sentada em uma poltrona confortável, de tecido azul desbotado. O ambiente ao seu redor era acolhedor, com o suave cheiro de flores que entrava pelas janelas abertas e o canto dos pássaros que se aninhavam nos galhos das árvores. Seus cabelos brancos, finos como algodão, emolduravam seu rosto sereno, e seus olhos azuis brilhavam com a luz de memórias passadas, mas também com uma sombra de tristeza.

Hoje, ela decidiu folhear um álbum de fotografias antigas que guardava com carinho. A capa de couro desgastada do álbum refletia os anos vividos, e ao abrir a primeira folha, Dona Clara encontrou uma foto de seu casamento. Nela, ela usava um vestido branco simples, mas elegante, com detalhes em renda que pareciam ter sido feitos à mão. O sorriso radiante de seu marido, Antônio, iluminava a imagem como um farol em meio à escuridão do tempo. Ela podia quase ouvir as risadas e o tilintar das taças de champagne daquele dia especial. Lembranças do salão decorado com flores frescas e da música suave que preenchia o ar dançavam em sua mente. “Ah, Antônio”, murmurou ela, sentindo uma onda de nostalgia. “Quantas danças nós tivemos naquela noite!”

Seguindo em frente nas páginas amareladas pelo tempo, Dona Clara encontrou fotos dos filhos brincando no quintal da antiga casa. A imagem deles correndo atrás de um cachorro que parecia tão feliz quanto eles a fez rir baixinho. Os rostos sorridentes eram como raios de sol em um dia nublado; a alegria pura e inocente da infância transbordava em cada clique. Contudo, enquanto revivia essas memórias felizes, uma mágoa profunda a envolvia: fazia meses que seus filhos e netos não a visitavam. A ausência deles pesava em seu coração como uma nuvem escura sobre um dia ensolarado.

Ela se lembrou das histórias que contava à noite, quando os pequenos se aninhavam ao seu redor, com os olhos brilhando de expectativa e as bochechas coradas pela emoção. Cada risada e cada abraço eram tesouros que ela guardava no coração como pérolas preciosas. Mas agora, o silêncio do lar parecia ecoar sua solidão; as visitas que antes eram frequentes tornaram-se raras e distantes.

Enquanto folheava as páginas do álbum, Dona Clara percebeu que as fotografias não eram apenas imagens; eram fragmentos de amor e conexão. Cada rosto trazia consigo uma história única e uma emoção palpável. Ela se lembrou das dificuldades enfrentadas ao longo da vida: as noites insones cuidando dos filhos doentes, as lágrimas derramadas nas despedidas e as alegrias simples que tornavam tudo suportável. “Se ao menos eu pudesse compartilhar essas memórias com eles agora”, pensou, sentindo-se um pouco solitária em meio àquelas recordações vibrantes. Mas logo sua mente se iluminou com a ideia de que essas histórias poderiam ser contadas novamente.

Inspirada por essa reflexão e pela necessidade de se conectar mais uma vez com sua família, Dona Clara decidiu que iria escrever suas memórias para seus filhos e netos. Com um sorriso nos lábios e um brilho nos olhos que refletiam a determinação renovada — mas também um toque de tristeza — ela começou a planejar como organizaria suas histórias em um livro. As palavras dançavam em sua mente como folhas ao vento; cada memória era uma página em branco esperando para ser preenchida com amor e sabedoria.

“Essas memórias não podem ficar apenas nas páginas do álbum”, disse para si mesma enquanto acariciava a capa do livro com ternura. “Elas precisam viver.” A ideia de deixar um legado para sua família encheu seu coração de alegria e esperança, mas também um desejo profundo de reencontrar aqueles que tanto amava.

Com o coração aquecido pela nova missão que se apresentava diante dela — embora ainda marcado pela mágoa da ausência dos filhos — Dona Clara fechou o álbum e olhou pela janela do lar. As folhas das árvores dançavam ao vento como se estivessem celebrando sua decisão; o sol filtrava-se através dos galhos, criando padrões luminosos no chão coberto de grama verdejante. Naquele momento mágico, a velha senhora branca não era apenas uma guardiã de memórias; ela estava prestes a se tornar uma contadora de histórias, unindo passado e presente através da magia das palavras.

E assim, naquela tarde ensolarada, Dona Clara sorriu para o futuro que se desenrolava diante dela, cheia de esperança e determinação para compartilhar sua rica história de vida com aqueles que mais amava — mesmo na ausência deles.





quinta-feira, 8 de março de 2018

O Casamento na Zona Colonial do Rio Grande do Sul


Casamento em Erechim RS


O casamento era um dos momentos coletivos mais importante na zona colonial do Rio Grande do Sul. Através dele se mantiveram os valores da terra de origem e se conservaram os usos, os costumes e as tradições familiares trazidas do Vêneto pelo pioneiros. Foi ele o fator principal que permitiu aos imigrantes, principalmente os homens, de se fixarem à terra e criarem aqui uma nova sociedade estável, sempre tendo por exemplo aquela da qual vieram. Casar e constituir uma família era o desejo comum encontrado em toda a zona rural vêneta. O namoro, período ritual de preparativos graduais para o recíproco conhecimento dos jovens e também das duas famílias envolvidas, era o primeiro passo necessário que, depois de um período variável, chegava ao noivado, fase que antecedia o casamento, que devia então durar por toda a vida. 

O filò nas estrebarias, os trabalhos em comum na colheita das plantações, importantes costumes coletivos trazidos das terras de origem, e depois mais tarde nas missas, foram as formas encontradas para continuar, aqui no Rio Grande do Sul, propiciando momentos de encontro entre os jovens de diversas famílias vizinhas e início dos namoros.
Os jovens eram considerados noivos somente depois da aprovação dos pais e o rapaz podia então frequentar a casa da noiva, com visitas aos domingos a tarde.




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS