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quinta-feira, 11 de setembro de 2025

La Léngua che ga Passà el Mar



 La Léngua che ga Passà el Mar

El Talian, eredità, resistensa e identità


El Talian el ze nassù ´ntel Rio Grande do Sul, con le vose dei imigranti che ga traversà el mar da l’Itàlia. Da 1875 in po’, mila e mila de famèie del Véneto, de Trento, del Friul, de la Lombardia e del Piemonte i ga lassà la so tera par rivar in Brasil. I portava con lori solo i ricordi, la fede, i costumi de casa e el so vècio parlar de ogni zorno. ´Ntel Rio Grande do Sul, in tere come Caxias, Garibaldi e Bento, sti parlar i se ga mescolà tra lori. El vèneto el zera el fondamento de tuto, ma se ga impastà anca con altri dialeti e con qualchi parola de portugués. Cussì el ze vegnù fora sto parlar novo, ligà a l’Itàlia ma piantà ben fondo ´ntel Brasil, che la zente lo ciama con afeto Talian.

El Talian el ga fiorì tra i orti e i vignai, drento le cusine con el fogon a legna, su le panche de la cesa e ´nte le fiere de pais. Par ani e ani lu el zè stà la prima léngua dei putei: la léngua de le cansonete cantà laorando, de le orassion la sera e de le stòrie che i veci contava ai nepote. Dopo ze rivà anca i tempi scuri.´Ntel governo de Vargas, dal 1937 al 1945, no se podéa pì parlar Talian fora de casa: se podéa anca vegnir castigà con preson. Ma drento le case, con le porte serà, la léngua la ze restà viva, passà de mama a fiol, de nono a nepote, come segno de amore e de resistensa. Con el tempo, la fadiga de la zente la ze stà ricognossù. ´Ntel 2009 el Talian el ze stà declarà patrimònio culturae del Brasil, e ´ntel 2014 el comun de Serafina Correa la ga fata léngua cooficia. Da queo zorno, tabele, scrite e festi la mostra sto parlar come parte de la vita, no solo come roba de ieri. Anca incò se pol sentir el Talian in pì de sento comune, no solo ´ntel Rio Grande do Sul ma anca in Santa Catarina e Paraná. El vive ´nte le messe, ´ntei programi de ràdio, ´ntei grupi che canta, bala e fa teatro. El Talian no el ze solo ´na nova forma de parlar: lu el ze memòria e apartenensa. Lu el ze l’eco de le coline vènete portà fin sora le montagne brasilian, la vose de chi che ga laorà la tera rossa con le man e ga trovà là la so nova pàtria. ´Na lengua no la ze solo par ciacolar: la ze un toco del cuor, dove le radise resta vive e ndove se ciapa forsa par vardar lontan.

I vèneti d´Itàlia i dise che’l Talian el ze na variassion del so parlar. In parte i ga rason, parchè la gran parte dei imigranti che i ga rivà ´ntel Rio Grande do Sul la zera vèneti. Ma el Talian no el ze ´na còpia. Lu el ga ciapà anca qualchi parola da altri dialeti, anca se pochi. In sostansa el ze quasi tuto de radise vènete, ma con na pitadeta de altri gusti. E cussì, chi che parla vèneto in Itàlia e chi che parla Talian in Brasil se capisse sensa fadiga: le do léngue le ze sorele e se completa ´na con l’altra.


Dr. Piazzetta

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

A Língua que Cruzou o Oceano

 


A Língua que Cruzou o Oceano 

O Talian como herança, resistência e identidade no Brasil


O Talian nasceu no Rio Grande do Sul do encontro de vozes que atravessaram o Atlântico com os imigrantes italianos, sobretudo a partir de 1875, quando milhares de famílias deixaram suas vilas no Vêneto, em Trento, no Friuli, na Lombardia e no Piemonte em busca de um futuro no Brasil. Esses homens e mulheres traziam nas malas pouco além da memória de suas aldeias, da fé que os sustentava, dos costumes herdados e dos dialetos que moldavam seu cotidiano. Foi na Serra Gaúcha, em localidades como Caxias do Sul, Garibaldi e Bento Gonçalves, que essas falas diversas começaram a se entrelaçar.

Embora o veneto tenha se imposto como base principal dessa comunicação, outros dialetos logo se misturaram a ele, formando uma fala híbrida que também recebeu a marca do português. Assim surgiu um idioma novo, profundamente ligado à Itália, mas já enraizado no Brasil, chamado de forma carinhosa e popular de Talian.

Essa língua floresceu entre roçados e parreirais, nas cozinhas aquecidas pelos fogões a lenha, nos bancos das igrejas e nas feiras comunitárias. Durante muitas décadas foi a primeira língua das crianças descendentes de imigrantes italianos: a língua das cantigas improvisadas no trabalho, das rezas ao entardecer e das histórias contadas de avós para netos.

O caminho do Talian, no entanto, não esteve livre de provações. No período do Estado Novo, entre 1937 e 1945, quando o governo de Getúlio Vargas buscava impor a uniformidade cultural pelo uso exclusivo do português, falar o Talian em público passou a ser motivo de sanções severas, inclusive motivo para prisão do infrator. Ainda assim, a língua sobreviveu. Dentro das casas, atrás de portas fechadas, continuava a ser transmitida como gesto de afeto e como resistência à homogeneização cultural.

A persistência dessas comunidades acabou sendo oficialmente reconhecida no século XXI. Em 2009, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional declarou o Talian patrimônio cultural do Brasil. Poucos anos depois, em 2014, o município de Serafina Corrêa, no Rio Grande do Sul, deu um passo simbólico ao adotá-lo como língua cooficial. Desde então, placas, documentos e iniciativas culturais passaram a refletir essa herança que não pertence apenas ao passado, mas que se projeta como parte viva da identidade atual.

Hoje, o Talian ainda ecoa em mais de uma centena de municípios, não apenas no Rio Grande do Sul, mas também em Santa Catarina, Paraná, e até em regiões distantes. Ele se manifesta em missas celebradas na língua, em programas de rádio que preservam a sonoridade dos antepassados, em grupos de dança, canto e teatro que mantêm vivo o imaginário da imigração. Com gramática própria já consolidada, o Talian conta hoje com diversas publicações, entre elas dicionários, obras didáticas e centenas de outros livros e artigos que reforçam sua vitalidade como língua.

Mais do que um simples dialeto de origem italiana, o Talian é uma língua de memória e pertencimento. É o eco das colinas vênetas transportado para as montanhas do Sul do Brasil, a voz dos que lavraram a terra vermelha com as próprias mãos e nela encontraram uma nova pátria. Ele revela que a língua é mais que instrumento de comunicação: é um território afetivo, onde se preservam raízes e se constroem horizontes de uma identidade mestiça, ao mesmo tempo italiana e brasileira.

De modo geral, os vênetos na Itália costumam afirmar que o Talian nada mais é do que uma variação de seu próprio dialeto — em outras palavras, que o Talian seria o próprio vêneto transplantado. Em parte, têm razão: como a maioria dos imigrantes italianos instalados no Rio Grande do Sul era de origem vêneta, é natural que o veneto se tornasse a base predominante desse idioma. Ainda assim, o Talian não se limita a uma mera reprodução. Recebeu contribuições de outros dialetos trazidos por imigrantes de regiões vizinhas, embora em número menor. No essencial, é quase todo ele de origem veneta, mas enriquecido por essas sutis influências. O resultado é que tanto os falantes do veneto na Itália quanto os do Talian no Brasil se compreendem sem dificuldade, pois as duas formas de falar se aproximam e se complementam.