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segunda-feira, 25 de agosto de 2025

As Revoltas dos Pequenos Agricultores Vênetos



As Revoltas dos Pequenos 

Agricultores Vênetos 


Durante o processo de formação do estado italiano, a Igreja Católica enfrentou uma perda significativa de influência política e territorial. A unificação da Itália, liderada por figuras como Giuseppe Garibaldi, Camillo di Cavour e Giuseppe Mazzini, culminou na tomada de Roma em 1870 pelas tropas revolucionárias, o que decretou o fim do poder temporal do Papa. Essa ruptura marcou o início de um longo conflito entre a Igreja e o Estado italiano, conhecido como a "Questão Romana", que só foi resolvido em 1929 com a assinatura dos Pactos de Latrão.

A perda de terras e a diminuição do controle sobre instituições sociais, como escolas e hospitais, foram acompanhadas pela introdução de políticas laicas. Grupos anticlericais, apoiados por iluministas e liberais, contestavam a influência do clero, particularmente nas áreas rurais, onde a Igreja desempenhava papel central na vida comunitária. O novo governo adotou medidas para implementar um sistema educacional baseado em ideais progressistas e nacionalistas, enfraquecendo a presença religiosa no ensino e nos serviços públicos.

O Impacto nas Comunidades Rurais

Nas zonas rurais, como as do norte da Itália, o impacto dessas mudanças foi particularmente sentido. Os camponeses dependiam da Igreja para orientação espiritual, mediação de conflitos e apoio em tempos de crise. A introdução de novos impostos, como a taxa de moagem de grãos, agravou a pobreza das famílias camponesas, gerando uma onda de insatisfação. Esse descontentamento encontrou eco nos discursos de muitos sacerdotes, que criticavam abertamente as políticas do Estado.

Além disso, os iluministas e liberais viam a ligação entre o clero e os camponeses como um obstáculo ao progresso. Os sacerdotes eram frequentemente acusados de manter o tradicionalismo e fomentar conflitos locais. No entanto, sua proximidade com os paroquianos permitiu-lhes agir como mediadores naturais em disputas com as autoridades e os proprietários de terras, em um período de intensa transformação social.

A Grande Emigração e o Papel da Igreja

Entre as décadas de 1860 e 1870, a Grande Emigração começou a ganhar força. Estima-se que, entre 1876 e 1920, cerca de 14 milhões de italianos emigraram, com uma parcela significativa estabelecendo-se nas Américas. No Vêneto, os padres tiveram um papel decisivo nesse movimento, especialmente em comunidades rurais onde a pobreza era mais aguda.

Os sacerdotes não apenas incentivavam a emigração como solução para a falta de terras e recursos, mas também ajudavam a organizá-la. Em muitos casos, foram responsáveis por facilitar contatos com empresas de navegação e negociar condições de transporte. Para as famílias camponesas, o incentivo religioso reforçava a ideia de que a partida para o Novo Mundo era uma espécie de "missão divina" para criar uma nova comunidade livre das opressões do Estado.

O Brasil como Destino

O Brasil tornou-se um dos principais destinos para os emigrantes italianos, particularmente no sul do país, onde o governo brasileiro oferecia terras e assistência inicial. As autoridades brasileiras viam na imigração uma solução para a falta de mão de obra e um meio de "branquear" a população, de acordo com as ideias racistas predominantes da época.

Ao desembarcar, os italianos eram encaminhados para hospedarias como a Ilha das Flores, onde passavam por triagem de saúde. Após a liberação, enfrentavam longas jornadas em navios menores até as colônias agrícolas no sul. Essas colônias, como Dona Isabel (Bento Gonçalves), Conde D’Eu (Garibaldi) e Caxias (Caxias do Sul), exigiam dos imigrantes uma adaptação rápida ao trabalho árduo de desmatamento, construção de moradias e plantio.

Os padres continuaram a desempenhar papel central nas colônias, ajudando a manter a coesão social e religiosa. Eles organizavam missas, festas religiosas e escolas paroquiais, preservando a identidade cultural italiana enquanto os colonos se integravam à nova realidade brasileira.

A Questão Social e Cultural

A adaptação dos italianos ao Brasil não foi isenta de desafios. Conflitos entre colonos e proprietários de terras ou autoridades locais eram comuns, especialmente nos primeiros anos. A influência dos padres nesses contextos foi crucial para evitar que as tensões escalassem. Além disso, a introdução de práticas comunitárias, como o mutirão, ajudou os colonos a superar dificuldades iniciais e a desenvolver infraestrutura básica, como estradas e pontes.

A forte ligação entre os imigrantes italianos e a Igreja Católica também garantiu a continuidade de tradições culturais, como as festas religiosas, que se tornaram um marco das colônias italianas no Brasil. Mesmo enfrentando a secularização e o distanciamento forçado da Igreja na Itália, os emigrantes mantiveram a religiosidade como um pilar de suas comunidades.